quinta-feira, 28 de abril de 2016
As mães e o desejo. Os desejos das mães ou as mães dos desejos?!
Antes de tudo um aviso. Este é um texto em andamento. Está apenas no início, mas como tenho de andar pelo mundo, antes de andar com ele, resolvi publicá-lo mesmo assim, mas avisando, quem porventura se interessar, que ele terá continuidade, exceto, se um ataque de Caetano, me fizer perguntar: ou não?! (ver Desejo é castração?! Segundo quem?! Freud?! Nietzsche?!, que antecede este)
As mães. A de Édipo o abandona como quem aborta, mas ele volta se casa com ela e ela se suicida e ele se castra. A de Prometeu é cúmplice dele e ele dela e ele rouba a centelha do Céu para dar ao húmus da Terra tal qual um alcoviteiro atrai a fértil centelha do Céu para fecundar a produção independente do húmus da Terra ou ainda tal qual em 1919, em Sobral, Brasil, ficou provado que os raios solares se desviam da sua trajetória em linha reta atraídos pela gravidade (gravidez?!) da Terra. Prometeu, no entanto, é acorrentado numa rocha sobre o abismo, depois lançado nas profundezas da Terra de encontro ao Hades (mundo dos mortos na Grécia Antiga) e só virá a ser liberto das correntes e do Hades por Herácles, o filho da centelha do Céu (o raio Zeus) e duma humana da Terra triplamente fecundada pela centelha do Céu, a primeira vez devido ao roubo de Prometeu, a segunda e a terceira devido à atração exercida pelas humanas da Terra sobre as centelhas do Céu (os raios de Zeus). Que significa esta libertação? Que o reconhecimento do direito de roubar ou atrair centelhas do Céu não fica restrito apenas ao filho querido do Céu, Herácles, mas passa a ser lei que torna Prometeu, o agente que rouba e/ou atrai, presença permanente e livre para, de maneira contínua, dar forma ao húmus da Terra e atrair a centelha do Céu como conteúdo da forma húmus ou humana. Prometeu Acorrentado e lançado nas profundezas da Terra, no Hades, é o cúmplice de sua mãe, forçado por Zeus, o deus dos raios/centelhas celestes, a permanecer no seu interior tal qual o pai de Zeus, Cronos, aquele que come os próprios filhos, foi forçado a ficar, mas não porque coma os próprios filhos e sim por dar nascimento aos filhos da Terra e do Céu, quer dizer, do próprio Zeus, ainda que este desejasse esta raça de filhos humanos, ou seja, desejasse não ser dobrado nem desviado em seus atos por esta raça humana da Terra. Prometeu é este ato de dobrar e desviar os raios/as centelhas ou as atividades de Zeus de seu curso pré-estabelecido, é este ato que demonstra que o raio ou a centelha não é pura energia que permanece no seu curso mas também é massa que se desvia atraída pela massa do húmus e da Terra; porém, considerando de forma inversa que o raio ou a centelha precisamente por também massa permanece no seu curso, então, Prometeu é a energia que dobra e desvia a massa do raio ou da centelha de seu curso, ou seja, a energia que nega o peso de pura queda em linha reta de sua massa. Prometeu é a equação da relatividade da Antiguidade Grega igualando massa e energia do mesmo modo que Einstein formulou a equação da relatividade na física contemporânea igualando massa e energia. Mas, esta equação, da massa que se transforma em energia e da energia que se transforma em massa, é a afirmação do dobrar-se a si mesmo e/ou sobre si mesmo, logo, também é afirmação do conscientizar-se de si e, por isso mesmo, é conscientizar-se de que o si mesmo não é só e pura consciência, mas, antes, também inconsciente.
Vemos Prometeu muito mais como cúmplice de sua mãe e, em geral, como uma presença abstrata dela ou uma energia que instruída por ela capta a massa e/ou a energia do pai de que ela necessita para sua produção independente de filhos ou seres humanos. Vemos também ela muito mais como mártir que enfrenta o pai que não quer a produção independente de filhos e preferia abortar do que ter semeado de modo furtivo o conteúdo da forma humana. A mãe deseja e seu filho Prometeu ou esta presença abstrata da mãe, o desejo ou singularidade abstrata, está inteiramente de acordo com ela e age sobre o pai como atividade inconsciente desse pai e/ou em desacordo com a consciência desse pai ao atrair o sêmen ou centelha do Céu/Zeus para o óvulo ou húmus da Terra.
Dizem que a mulher é castrada e o homem não, quer dizer, não se consegue pensar a sexualidade senão como ausência do pênis na mulher e presença do pênis no homem, mas, será que a teoria da relatividade e Prometeu demonstram que a gravidade e a massa são energia, logo, que a sexualidade feminina não é a ausência de pênis e sim, como na teoria de campo da gravidade, a presença de um campo que altera o espaço e o tempo afirmando sua sexualidade como poderosa atração que atua no masculino como desejo inconsciente? Quem sente a castração? O masculino quando é "roubado". E quem "rouba" o masculino? O campo do feminino que altera o espaço-tempo e incorpora o que "rouba" do masculino. Também não é algo semelhante que é atribuído à teoria do valor? A força humana de trabalho é expropriada durante sua jornada de trabalho nas máquinas, que são os meios de produção, do trabalho excedente ou não-pago que se transforma em produção independente da força de trabalho apropriada pela burguesia que é dona do campo ou dos meios de produção que continuamente alteram o espaço-tempo da jornada de trabalho e incorporam a energia humana excedente da força de trabalho.
Podemos fazer uso disso de modos diversos. Em todo caso, o poder do desejo, o poder de dobrar e desviar atribuído a Prometeu é um poder derivado do poder e inteiramente de acordo com o poder de sua mãe, donde se pode concluir que o desejo é um poder feminino, mas só devido a isso seria um poder da castração?! O feminino é o castrado? Isso não é um conceito demasiadamente masculino?
No caso da exploração da força humana de trabalho pela burguesia podemos ver tanto Prometeu Acorrentado, que precisa se libertar/nascer como desejo próprio e não empurrado pelo pai para as profundezas da mãe, quanto podemos ver Zeus dobrado pela atração irresistível do húmus da Terra tendo relações com mulheres humanas e ainda podemos ver nas forças humanas de trabalho o irresistível e inconsciente desejo incestuoso de Édipo pela mãe. Prometeu se liberta ou é libertado pelo filho de Zeus, logo, pelo filho das mulheres humanas, Herácles, e este feito de Herácles que também é o de dobrar a consciência de seu pai Zeus para aceitar a libertação de Prometeu é semelhante ao que faz Édipo em relação a seu pai, Laio, ainda que com diferenças, posto que mata seu pai inconscientemente, decifra o enigma do espaço-tempo humano (criança, adulto, idoso) e casa inconscientemente com sua mãe e, finalmente, tomando consciência se castra e se expulsa/liberta do campo do desejo inconsciente pela mãe/do campo inconsciente do desejo pela mãe. Se liberta daquela presença em si que é o inconsciente campo do desejo da mãe e, curiosamente, só se torna consciente de si com a realização dessa perda de si, daí que se conclua que só se torna sujeito consciente e senhor/dono de seu desejo quando pela castração deixa de ser objeto do desejo do poderoso campo feminino de sua mãe que altera o seu espaço-tempo e/ou sua história. Porém, será esta a única conclusão? As forças de trabalho querem se libertar da atração irresistível das máquinas que como campo alteram seu espaço-tempo e, para tanto, se organizam para destruir o Estado da burguesia ou da mãe e recuperar de volta suas energias humanas das quais ela se apropriou como se fora Cronos, aquele que come seus próprios filhos, quer dizer, de modo a libertar a prole humana e possibilitar que as máquinas ou meios de produção se libertem da exclusiva gravidade (gravidez) e possam afirmar a sua própria presença abstrata, ou seja, se libertem libertando Prometeu, ao mesmo tempo, de estar incorporado na mãe e se tornando e sendo admitido igualmente como presença abstrata no próprio masculino, logo, com o masculino tomando consciência de si não meramente como pênis e sim de que a presença do pênis é a presença do feminino como desejo inconsciente. Noutras palavras, o masculino e o feminino só serão capazes de usar sua equação prometeica da relatividade, quer dizer, da igualdade entre energia e massa, quando admitirem que a massa feminina possa andar livre por aí como energia, mesmo sem ostentar um pênis, e a energia masculina possa repousar livremente em qualquer lugar como massa, sem que, por isso, precise se castrar/perder o pênis. Portanto, a descoberta da equação da relatividade é ela mesma parte de um processo de construção da igualização entre massa e energia tal qual a descoberta da consciência de si é parte de um processo de construção do autoconhecimento de si e de igualização entre consciência de si e inconsciente.
segunda-feira, 25 de abril de 2016
Desejo é castração?! Segundo quem?! Freud?! Nietzsche?!
O inventor da psicanálise, que tanto trouxe à tona o inconsciente,
começou inventando a psicanálise precisamente por preferir que o
"paciente" fizesse uso da sua própria consciência e não mais que
fosse tratado por meio do uso que a consciência do "agente terapêutico"
fazia do seu inconsciente por meio do hipnotismo. ver o antecedente: Estamos numa democracia?)
Muito anos depois de a psicanálise ser um
movimento visivelmente bem-sucedido o inventor da psicanálise voltou a promover
o uso da consciência tanto na obra "O Futuro De Uma Ilusão" quanto em
"O Mal-Estar Na Civilização".
Não se pode confundir Freud com Nietzsche
na defesa da potência do instinto de modo a abrir mão da consciência e optar
até mesmo por jogar fora a consciência para poder vivenciar a potência do instinto
sem as censuras e as críticas do superego, porque, para Freud, este estado de
transe é o mesmo estado hipnótico que efetivamente promove o superego, ou seja,
o paciente faz a passagem (seria a transferência?!) da sua consciência para uma
superconsciência de modo que todas suas ações instintivas estão entregues aos
cuidados dela, ou seja, são inteiramente determinadas, disciplinadas e
obedientes a este superego para as mãos do qual ele passou (transferiu?!) sua
consciência e, assim, reduziu sua potência instintiva ou seu inconsciente a uma
mera máquina inteiramente submissa e obediente ao comando do super mestre,
super tutor, super ego ou super homem que possui a consciência do paciente e ainda
a sua própria consciência de agente terapêutico ou catártico. Pelo contrário,
Freud vê aí nesse abandono da consciência algo que podemos comparar com um
aborto ou com a atividade do deus Cronos da mitologia grega que comia seus
próprios filhos. Freud ainda é fiel à proposta iluminista de Kant de saída do
humano da sua menoridade por meio do uso de sua consciência ou razão. Ou seja,
para Freud esta entrega à potência do instinto que coloca o paciente em estado
de transe ou em estado hipnótico não só é precisamente entrega ao superego como
ainda é entrega à castração. Desse modo, o seu método psicanalítico que recorre
à ação da consciência do paciente para acessar e trazer à tona sua potência
inconsciente é um método que visa a aproximação do inconsciente por meio do
autoconhecimento, por meio do se apropriar do seu próprio inconsciente e, por
isso mesmo, por ser seu próprio inconsciente e não de um outro visa a liberação
de sua potência inconsciente por meio de sua própria consciência, ou seja, se
trata duma atividade de fecundação, gestação, nascimento e desenvolvimento da potência inconsciente
na própria consciência, logo, é um método que visa a responsabilidade do
indivíduo por si mesmo, que visa a capacidade do indivíduo de ser livre e de
criar sua própria vida e é nesse sentido que o uso da própria consciência do
paciente é uma assimilação e um usufruir da própria potência inconsciente do
indivíduo e, nesse sentido, como o contrário da castração, é a afirmação e o
desenvolvimento da potência do indivíduo.
Este feito da psicanálise, de fazer a aproximação do inconsciente da consciência, remete para aquele mesmo procedimento proposto por Marx de dissolver o Estado na Comunidade dos Indivíduos Conscientes de suas Próprias Forças. Em ambos os casos se trata de libertação da tutela, seja da consciência do agente terapêutico, seja do superego, seja do Estado, seja da classe dominante, seja da classe dominada, precisamente por se tratar de conquistar a libertação da potência inconsciente por meio do livre uso da própria consciência, pelo uso da consciência do próprio indivíduo como agente terapêutico, pelo uso da consciência individual da própria potência inconsciente, pelo uso da própria consciência de si como potência social, pelo uso da consciência da potência inconsciente como afirmação da atividade de si próprio que não é nem dominante nem tampouco é dominada, mas é sim autônoma, independente, livre.
“Somente quando o homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e se converte, como homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais; somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas “forces propres” (próprias forças) como forças sociais e quando, portanto, já não separa de si a força social sob a forma de força política, somente então se processa a emancipação humana”. Karl Marx, "Questão Judaica")
Desejo não é falta nem é excesso, não é procura/demanda nem é oferta. Desejo é presença, afirmação de presença, afirmação de previsão, afirmação de justa medida, afirmação de limite, afirmação de consciência de si... afirmação de energia no sentido de evidência, manifestação, presença... não é nem a oferta ou o excesso nem a a procura ou a falta, porque não é a cisão estamental em atividades diferenciadas, onde um concentra o excesso e a capacidade da potência instinto e o outro concentra a falta e a necessidade da potência do instinto, mas é sim a unidade comum presente em ambos antes e independente da cisão, logo, é a singularidade comum ou a comum singularidade, a comum unidade, talvez, o conatus ou co-natus, melhor, talvez, o que esta palavra latina sugere para quem usa o português, ou seja, o conato ou o nascido junto, o que nasce junto, logo, o que nasce da massa e que é a energia como demonstra Einstein com sua equação da Energia sendo igual à Massa no Quadrado da Velocidade da Luz, velocidade da luz que é a velocidade limite no vazio, logo, a relação é a da presença da potência (energia ou massa) na ausência (vazio). Mas, não se deve confundir vazio com falta, necessidade, procura porque o vazio não sente carência e está completo sendo vazio, logo, é só a partir da presença, só a partir de algo pleno, quer dizer, de algo que não é vazio nem é o vazio, que se pode sentir a carência e também o excesso, esta sensibilidade é a presença de algo e esta presença só se afirma diferente duma massa caindo em linha reta no vazio infinito quando se afirma como presença, quando se evidencia presente, quando se manifesta presente, quando por um pequeno desvio da massa caindo em linha reta no vazio se afirma presença da energia, da potência ou presença de si mesma, logo, quando a presença se volta ou se curva sobre si mesma e, desse modo, se desvia da queda no vazio para ir ao encontro de si originando o no encontro de si consigo a consciência de si e do mundo.
Este feito da psicanálise, de fazer a aproximação do inconsciente da consciência, remete para aquele mesmo procedimento proposto por Marx de dissolver o Estado na Comunidade dos Indivíduos Conscientes de suas Próprias Forças. Em ambos os casos se trata de libertação da tutela, seja da consciência do agente terapêutico, seja do superego, seja do Estado, seja da classe dominante, seja da classe dominada, precisamente por se tratar de conquistar a libertação da potência inconsciente por meio do livre uso da própria consciência, pelo uso da consciência do próprio indivíduo como agente terapêutico, pelo uso da consciência individual da própria potência inconsciente, pelo uso da própria consciência de si como potência social, pelo uso da consciência da potência inconsciente como afirmação da atividade de si próprio que não é nem dominante nem tampouco é dominada, mas é sim autônoma, independente, livre.
“Somente quando o homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e se converte, como homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais; somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas “forces propres” (próprias forças) como forças sociais e quando, portanto, já não separa de si a força social sob a forma de força política, somente então se processa a emancipação humana”. Karl Marx, "Questão Judaica")
Desejo não é falta nem é excesso, não é procura/demanda nem é oferta. Desejo é presença, afirmação de presença, afirmação de previsão, afirmação de justa medida, afirmação de limite, afirmação de consciência de si... afirmação de energia no sentido de evidência, manifestação, presença... não é nem a oferta ou o excesso nem a a procura ou a falta, porque não é a cisão estamental em atividades diferenciadas, onde um concentra o excesso e a capacidade da potência instinto e o outro concentra a falta e a necessidade da potência do instinto, mas é sim a unidade comum presente em ambos antes e independente da cisão, logo, é a singularidade comum ou a comum singularidade, a comum unidade, talvez, o conatus ou co-natus, melhor, talvez, o que esta palavra latina sugere para quem usa o português, ou seja, o conato ou o nascido junto, o que nasce junto, logo, o que nasce da massa e que é a energia como demonstra Einstein com sua equação da Energia sendo igual à Massa no Quadrado da Velocidade da Luz, velocidade da luz que é a velocidade limite no vazio, logo, a relação é a da presença da potência (energia ou massa) na ausência (vazio). Mas, não se deve confundir vazio com falta, necessidade, procura porque o vazio não sente carência e está completo sendo vazio, logo, é só a partir da presença, só a partir de algo pleno, quer dizer, de algo que não é vazio nem é o vazio, que se pode sentir a carência e também o excesso, esta sensibilidade é a presença de algo e esta presença só se afirma diferente duma massa caindo em linha reta no vazio infinito quando se afirma como presença, quando se evidencia presente, quando se manifesta presente, quando por um pequeno desvio da massa caindo em linha reta no vazio se afirma presença da energia, da potência ou presença de si mesma, logo, quando a presença se volta ou se curva sobre si mesma e, desse modo, se desvia da queda no vazio para ir ao encontro de si originando o no encontro de si consigo a consciência de si e do mundo.
domingo, 24 de abril de 2016
Estamos numa democracia?
0 problema “atual” (ver http://eduardodalencastro.blogspot.com.br/2016/04/valor-universal-ou-valor-relativo.html) foi logo analisado por Marx na “Questão
Judaica”, ou seja, a tomada do poder do Estado que abole a propriedade privada
tem por finalidade e objetivo o retorno da propriedade privada numa Sociedade
Civil capitalista mais desenvolvida, então, é um equívoco das classes
dominadas achar que se apropriando do poder do Estado e abolindo a propriedade
privada irá efetivamente rumar para uma Sociedade Socialista ou Comunista e, por
isso, ele retoma, na “Ideologia Alemã”, essa observação crítica, feita na “Questão
Judaica”, condenando a implantação do Socialismo/Comunismo por decreto por não
levar nem ao Socialismo nem ao Comunismo e sim por fazer retornar a Sociedade
Civil Capitalista em condições muito mais desenvolvidas e sólidas. Ou seja, o
que ele diz é que a tomada do poder do Estado pelas classes dominadas não
realiza a passagem completa destas para a condição de classes dominantes no
sentido de tornar realidade uma Sociedade Sem Classes, mas sim, ao contrário, realiza
a passagem das classes dominadas para a condição de classes dominantes no
sentido de tornar aqueles que se apropriaram do Estado membros das classes
dominantes e, portanto, restauradores da propriedade privada e da Sociedade de
Classes Capitalista com maior vitalidade e desenvoltura.
Este processo de mudança por decreto do Socialismo e do
Comunismo de Estado é o processo clássico da Revolução Burguesa na França,
portanto, é característico da Ditadura Revolucionária Burguesa
que, na França, se afirmou no período conhecido como do Terror. Quando critica o
Comunismo ou Socialismo de Estado - o mesmo que, no século XX, veio a ser
hegemônico com a implantação da URSS -, Marx critica a Ditadura Revolucionária
Burguesa praticada pela Revolução Burguesa Francesa, ou seja, não está
criticando a Ditadura Revolucionária do Proletariado
porque a implantação do Comunismo ou do Socialismo por decreto não
é
uma medida
do Socialismo
ou
Comunismo
Proletário, exceto como apoio à revolução burguesa enquanto precedente sine
qua non da revolução proletária, mas é preciso cuidar para conseguir
fazer a passagem de uma para a outra, por isso que a luta pela direção do
processo revolucionário se coloca desde o início para garantir que haverá
alternância no exercício do poder. No entanto, o problema é mais profundo,
posto que é necessário que Marx explique que é afinal esta tal de Ditadura
Revolucionária do Proletariado? Que ditadura é esta que contraria aquela que
foi implantada com sucesso na URSS e se tornou modelo difundido e efetivado em
boa parte do mundo?
E Marx dirá na “Questão Judaica” que ele se opõe a essa
emancipação política quando e porque vai além da emancipação política muito bem
expressa por uma passagem de Rousseau que ele cita: “Aquele que se propõe a
tarefa de instituir um povo deve sentir-se capaz de transformar, por assim
dizer, a natureza humana, de transformar cada indivíduo que é por si mesmo um
todo perfeito, solitário, em parte de um todo maior, do qual o indivíduo receba
até certo ponto sua vida e seu ser, de substituir a existência física e
independente por uma existência parcial e moral. Deve despojar o homem de suas
próprias forças, a fim de lhe entregar outras que lhe são estranhas e das que
só possa fazer uso com a ajuda de outros homens” / {"Celui
qui ose entreprendre d'instituer un peuple doit se sentir en état de changer
pour ainsi dire Ia nature humaine, de transformer partie d'un grand tout dont
cet individu reçoive en quelque sorte sa vie et son être, de substituer une
existence partielle et morale à 1'existence physique et indépendante. Il faut
qu'il ôte à 1'homme ses forces propres pour lui en donner qui lui soient
étrangères et dont il ne puisse faire usage sans les secours d'autrul" (25) (Contrat Social, livro II, Londres, 1782, p.
67). Extraído de https://www.marxists.org/portugues/marx/1843/questaojudaica.htm#t25
}.
Mas ele coloca o ponto de vista da
emancipação política de Rousseau para contrapor a ele o ponto de vista da
emancipação humana que ele próprio defende:
“Toda emancipação é a recondução
do mundo humano, das relações, ao próprio homem.
“A emancipação política é a
redução do homem, de um lado, a membro da sociedade burguesa, a indivíduo
egoísta independente e, de outro, a cidadão do Estado, a pessoa moral.
“Somente quando o homem individual
real recupera em si o cidadão abstrato e se converte, como homem individual, em
ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais;
somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas “forces propres” (próprias forças) como forças sociais e quando, portanto, já não
separa de si a força social sob a forma de força política, somente então se
processa a emancipação humana”.
É aí que começa para Marx o novo
conceito da democracia da maioria como a ditadura revolucionária do
proletariado, onde a questão não é mais tomar o poder do Estado para tratar de
instituir um povo e de transformar a natureza humana, quer dizer, não se trata
mais de cindir a natureza humana de modo que fique dependente do poder do
Estado e se trata sim de dissolver o poder do Estado nas mãos das próprias
forças humanas de modo que é a natureza humana e o próprio povo quem transforma
a si mesmo em unidade liberta da cisão promovida pelo Estado e pela Sociedade
Civil cindida em classes.
“Ditadura Revolucionária do
Proletariado” é um termo que esconde o principal feito da emancipação ou
libertação humana/social/proletária/dos trabalhadores que é a efetivação real
da Democracia porque agora é o próprio povo quem institui a si mesmo e também é
a própria natureza humana quem transforma si mesma porque agora acabou o poder
do Estado acima do cidadão e também acabou o poder do indivíduo egoísta na
Sociedade Civil separado dos demais, seja na classe que defende sua existência
como explorador, seja na classe que defende sua existência como explorado,
porque o poder do indivíduo se tornou ainda mais egoísta ou nem um pouco egoísta, já que, usufruindo
de suas próprias forças, nem explora as forças alheias nem é explorado por
forças alheias.
A Ditadura Revolucionária do
Proletariado é a instituição da Democracia da Comunidade, quer
dizer, da Democracia mais Completa e Ampla por ser a Democracia exercida pelas
próprias forças da Comunidade e não por forças separadas da Comunidade no poder
do Estado nem no poder de Classe.
Então, é possível concluir que os
depoimentos dos experimentados militantes de esquerda da luta armada estão
todos relacionados à concepção do Socialismo ou Comunismo por decreto que Marx
tão claramente mostrou ser a da Ditadura Revolucionária Burguesa e não à
concepção da Ditadura Revolucionária do Proletariado defendida pelo próprio
Marx como a realização efetiva da Democracia da Maioria, da Democracia da
Comunidade, da Democracia do Próprio Povo. (ver: http://www.folhapolitica.org/2013/05/nao-lutavamos-pela-democracia-mas-pela.html
)
Mas,
então, porque Marx não foi mais claro e não defendeu apenas a Democracia da
Comunidade? Porque inventou essa história de defender uma Ditadura
Revolucionária do Proletariado? Porque a Democracia Existente era a Democracia
da Classe Dominante, a Democracia do Estado (por oposição à Democracia da
Comunidade), ou seja, porque a Democracia Existente era uma Ditadura não só nos
seus momentos excepcionais de afirmação do poder unilateral do Estado, mas
também nos seus momentos normais de afirmação do poder de classe da Sociedade
Civil Capitalista, porque, portanto, a Democracia Existente era uma Ditadura do
Capitalismo/uma Ditadura da Sociedade de Classes Capitalista. Porém, ele admitia
que mesmo essa Democracia Existente poderia vir a se transformar numa
Democracia da Comunidade por meio de eleições democráticas, ou seja, admitia a
possibilidade duma transformação pacífica da Sociedade Civil Capitalista de
Classes numa Comunidade Humana Trabalhadora Sem Classes. (ver: https://www.marxists.org/francais/rubel/works/1962/rubel_19620700.htm#fn23
)
Nesse caso, então, como fica a
situação da Dilma que parece se situar ainda no Socialismo ou Comunismo por
decreto? Ora, a Dilma não fez nenhum decreto do tipo dos que pretendem
implantar o Socialismo e o Comunismo por decreto, no sentido de que estes antes
de tudo se assenhorearam do poder do Estado como ditadores, mas ela foi eleita
e seu decreto 8.243 só pode ser efetivo de acordo com:
A PRESIDENTA DA
REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art.
84, caput, incisos IV e VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em
vista o disposto no art. 3º, caput, inciso I, e no art. 17 da Lei
nº 10.683, de 28 de maio de 2003,
Então que diz o art. 84:
Art.
84. Compete privativamente ao Presidente da República:
I -
nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II -
exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da
administração federal;
III -
iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta
Constituição;
IV -
sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e
regulamentos para sua fiel execução;
V -
vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI –
dispor, mediante decreto, sobre: (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
a)
organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; (Incluída
pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
O decreto 8.243
está inteiramente de acordo com a legislação decretada pelo Congresso Nacional
e sancionada pela Presidência da República, portanto, ele está inteiramente
dentro do espectro democrático e, desse modo, a presidente Dilma não está
agindo de forma ditatorial e em ruptura com a Constituição e a Democracia existentes
no país. Nesse sentido, por mais que tenhamos discordâncias e críticas
endereçadas a quem imagina possível implantar um Poder Popular por meio de
decreto, tal como era o pensamento e o costume dos Déspotas Esclarecidos, ainda
assim temos de reconhecer que a prática de decretos da presidente Dilma segue
estritamente a legislação constitucional e, por isso, se aproxima muito mais do
que todas as demais práticas, incluindo aí as da luta armada de esquerda, da
possibilidade de experimentar um desenvolvimento da prática democrática da
própria comunidade de modo a vir efetivar aquilo que Marx admitia viável a
passagem para o Socialismo e/ou o Comunismo por meio de eleições, quer dizer, a
possibilidade de uma via exclusivamente democrática de passagem do capitalismo
para o comunismo, o que simplesmente significa também uma passagem pacífica da
ditadura burguesa do Estado para a ditadura proletária da Comunidade.
Mas aí já
estamos muito longe da “atualidade”, certo? Nela o que importa é sinalizar que
os experimentados militantes da luta armada não conseguiram ser suficientemente
críticos da Guerra Fria, posto que adotavam o tal do Comunismo Real de Estado da
URSS tal e qual, menos ainda, ser suficientemente críticos, para compreender a
proposta de Marx de Democracia da Comunidade via Ditadura Revolucionária do
Proletariado.
Porém, aí
eles não estão sozinhos, porque, para nós, que somos pessoas tão distanciadas, no tempo, de Marx, fica muito difícil compreender porque ele usa tanto o conceito
de Ditadura Revolucionária do Proletariado e não de forma direta o seu próprio
conceito de Democracia da Maioria, de Democracia da Comunidade, de Associação
dos Indivíduos Livres etc.?! Porém, por outro lado, fica tudo muito claro
quando, olhando para nossa época, percebemos aquilo que ele apontava na
Revolução Francesa e no Socialismo de Estado ocorrendo na URSS e diversos
outros países, inclusive na nossa vizinha Cuba. Percebemos que sua posição
crítica é mais do que atual porque na atualidade ela está sendo demonstrada por
ficar presente na percepção de todo mundo. Então, o enigma de Marx criticar os
regimes do Comunismo de Estado como um feito do capitalismo e, ao mesmo tempo,
defender uma Ditadura Revolucionária do Proletariado sem nenhuma relação com os
regimes de Comunismo de Estado é o que merece ser estudado e compreendido por
nossa época e tanto por aqueles que se pretendem seus discípulos quanto por
aqueles que se consideram seus críticos. Os primeiros para compreender que não
foram seus discípulos quando adotaram aquilo que ele precisamente critica. E os
segundos para compreender que não foram seus críticos quando criticaram aquilo
que ele também criticou e que, nas suas obras, o seu próprio pensamento ainda
critica.
Vale
acrescentar aqui umas ideias expressas via Skype a respeito do que ocorre na “atualidade”,
só acrescento as minhas por ser responsável por elas, já a dos interlocutores
só acrescentaria se tivesse a autorização deles:
“A grande
questão aqui, desde ontem, tb no programa do Jô, é saber o que é golpe. Golpe
não precisa ser exclusivamente militar, a Wiki diz até que Yeltsin cometeu um
golpe dissolvendo a URSS, enfim, existe a noção de golpe não militar presente
no Wiki. Aí é o país dos golpes de estado, de mão etc., mas aqui, no popular,
existe uma significação para golpe que atende esta caracterização do golpe do
impeachment ou do conto do impeachment, quer dizer, é o golpe ou a vigarice no
sentido do ludibriar, do lograr, do lucrar ou obter vantagem de forma ilícita,
enfim, do cometer o crime sob a aparência de estar praticando a lei, o legal e
a ordem, o ordeiro. É preciso que alguém consiga levar isso até o Jô e mesmo
que se espalhe uma melhor compreensão da amplitude de um golpe político, o
qual, segundo a Wiki teria sido praticado inicialmente por quem estava no
poder: ‘Na teoria política, o conceito de golpe de Estado surge em 1639,
teorizado por Gabriel Naudé na obra Considerations politiques sur le coups
d'Etat; Naudé definia "golpe de Estado’ como um governante, em defesa do
interesse público, violar as leis e regras estabelecidas”.
“Bom, indo
ao assunto, ontem você se referiu a uma coisa que eu mantive de fora do texto,
mas da qual eu sempre falei como sendo a tese de Marx da dissolução do Estado
já que sua manutenção tem por resultado o retorno em condições mais
desenvolvidas da sociedade de classes do capitalismo. No entanto, ontem, você
se referiu a algo mais específico e desafiador, que é o próprio Estado, dizendo
que sempre são aqueles que estão nele que vão se situar nas classes dominantes
da sociedade civil, por exemplo, com a dissolução da URSS são os burocratas das
empresas estatais que se tornam os empresários e executivos e funcionários
administrativos com altos salários das empresas privadas. Essa questão, sendo
desenvolvida, é a resposta que merece ser dada aos experimentados militantes da
esquerda armada que fundem ditadura com ditadura do proletariado como se um
mesmo conceito, o de ditadura, permanecesse com o mesmo sentido e a ele só se
acrescentasse uma mudança de significação com o conceito de proletariado, quer
dizer, de classe dominada que se torna dominante. Porém, Marx, querendo salvar
sua alma, como efetivamente declara na "Crítica ao Programa de
Gotha", concebe um Estado dissolvido, melhor, um resíduo ou quantum de
Estado, quer dizer, uma materialidade que se confunde inteiramente com a
comunidade social do proletariado, da classe proletária, da prole humana, ou
seja, ditadura do proletariado é a ditadura ou o poder de um Estado que é e se
confunde com a própria comunidade social da prole humana ou do proletariado. Se
o poder do Estado costumeiro e habitual é uma maquinaria mantida por diversos
funcionários que a ela acedem por meio de provas e de profissionalização de
suas carreiras com as sucessivas graduações dentro de uma hierarquia de modo
que a maquinaria do Estado se assemelha às diferentes maquinarias dos
industriais e dos empresários de bancos, supermercados, lojas etc. de modo que
quem aí exerce funções é assalariado do mesmo modo que os trabalhadores são
assalariados, então, o que diferencia o Estado do Governo? O Governo cabe a
quem é eleito e é tanto da Sociedade Civil quanto do Estado, ainda que muito
mais da Sociedade Civil, e que, durante um certo e determinado período, ficará
no Governo do Estado, quer dizer, terá o poder de Governar o Estado, mas não o
poder do Estado. Desse modo, fica similar a situação dos trabalhadores que na
Sociedade Civil trabalham/governam as maquinarias dos capitalistas com a dos
eleitos para governar a maquinaria do Estado... de quem? Ele é público, logo,
da sociedade, mas de qual sociedade? Da sociedade de classes que é na
atualidade a sociedade capitalista. Era isso? É por aí ?”
“http://www.msn.com/pt-br/noticias/crise-politica/serra-pressiona-psdb-a-participar-de-eventual-governo-temer/ar-BBsaD4S?li=AAggXC1&ocid=mailsignout
tá explicado o porquê da participação do Aluísio Nunes na revolta do Henrique
Eduardo Alves, participação que levou Aécio a mudar da posição de quem aceitou o
resultado das eleições para a de quem apóia a contestação feita pelo PSDB
insuflado/comandado por Aluísio Nunes, que se passava por braço direito de
Aécio. A coisa vem se articulando desde as eleições nas quais Serra foi o
candidato opositor de Dilma. Nessas eleições Serra se articulou com a direita
dentro da direita do Dem e com a direita em geral deslocando assim a disputa da
Dilma com ele para o centro e para a prudência com bandeiras à direita como as contrárias ao aborto e às relações homoafetivas, então Dilma se retraiu e se manteve o mais
respeitosa possível para com os contrários ao aborto e às relações homoafetivas
e, após as eleições, o erro do PT e do Governo Dilma foi trocar a Comissão dos
DH com o pastor Marcos Feliciano porque aí deu força para a direita crescer e
foi para este partido que o Bolsonaro foi e ficou com os tais 8%. Além disso,
todas as forças "ocultas", como dizem, puderam ir se articulando
sistematicamente e isso sem que fosse percebido por nós o dedo de Serra por
detrás das cenas, nos bastidores fazendo a articulação de tudo e ativando
outros articuladores a fazer esta articulação de tudo também. Não é por outro
motivo que vive sendo repetido que Serra é o político mais preparado desse
país. O resultado foi que Dilma teve de ir mais para a esquerda nas últimas
eleições e entrar nelas de forma guerreira por estar perdendo os espaços para a
direita extrema e para o centro, por estar perdendo aliados como o PSB, que
ainda se situava à esquerda no seu leque de alianças e rompeu rumando para o
centro. Mais do que isso foi levada a assumir sua trajetória histórica do lado
do getulismo, do trabalhismo, de Brizola, da guerrilha, de Fidel e do
dogmatismo do modelo soviético com o seu decreto 8.243. Acho que é isso. O mais
é o que escrevi antes para a Olívia e que remete para o comentário de um
cientista político a favor de Temer que afirma que o problema em foco é o
estatismo da Dilma, quer dizer, o seu uso do poder do Estado na economia e não
mais tão somente o uso tão somente o uso do poder do Governo fazendo políticas
compensatórias, como bolsa família & cia, recomendadas por Milton Friedman para a manutenção do Estado Mínimo de modo que os eleitos usem apenas o poder
de Governo e não o poder de Estado de modo que sejam apenas governantes e nunca
estadistas.”
“Aqui, na
revista de fim de semana do Valor Econômico, tem duas entrevistas com "os
professores Brasílio Sallum Júnior e Luiz Felipe de Alencastro [que] refletem
sobre os desafios de um eventual governo comandado por Michel temer, o impacto
da associação de sua imagem à de Eduardo cunha, as mazelas da deterioração do sistema
político brasileiro e as brechas para a presidente Dilma Rousseff barrar o
impeachment. Por Malu Delgado, para o Valor, de São Paulo." Este tal de
Sallum do qual nunca tinha ouvido nem mesmo falar diz que "O impeachment
tratou basicamente - embora o discurso e a retórica sejam o do golpe à
democracia - da gestão econômica. A administração do Estado e sua relação com a
economia é o que está em jogo. Qual é a acusação que pesa contra a presidente,
não em termos de corrupção; ela ser promotora de um ativismo estatal, o Estado
ser usado de modo arbitrário sem levar em conta a lógica do mercado. Esse
pensamento, hoje, é hegemônico. Acho que vamos ter no próximo governo uma
inflexão na área de concessões. Isso é uma das chamadas bondades que o governo
temer pode fazer. A tendência é ter uma política econômica mais para o mercado
do que a da presidente Dilma. Não teremos, certamente, um governo neoliberal.
Não acredito que se chegue ao limite do que está lá na proposta do PMDB, a
Ponte para o Futuro. Aquilo seria um programa liberal demais para as
possibilidades do sistema político. E mesmo para o empresariado, que está muito
acostumado às benesses estatais. Não tenho dúvida de que as centrais sindicais
vão se opor, mas não sei se terão tanta força. Não acho que haverá obstáculos
suficientes para o exercício do poder e do governo. Estamos numa situação em
que a dificuldade básica dos assalariados é o desemprego. O ativismo sindical
pode se manifestar, mas não acredito que carregue muita gente atrás." Esta
é a última fala da entrevista dele. Ele é favorável a Temer, já o Luiz Felipe
de Alencastro é contrário a Temer, mas, no momento, não interessa porque acho
que ele não fala dessa questão do "ativismo estatal" ou do
"Estado ser usado de modo arbitrário", quer dizer, de acordo com a
vontade política de quem é presidente.
O homem do Banco Central no governo Lula o tal do Meirelles se não me
engano veio do PSDB e não do PMDB, em todo caso, ele foi para o PMDB e agora
está no PSD. Michel Temer jogava junto com o PSDB e com FHC. Pois bem, quem
aproximou Meirelles do governo foi Lula e também foi ele quem trouxe Temer para
a aliança com o PT. Estes homens estão apenas voltando às suas origens no
momento. O tal do Sallum diz que Temer é um político profissional e Dilma uma
amadora. Acho que Lula e muita gente diz a mesma coisa de Dilma. Sallum Júnior
respondendo à pergunta "O que o senhor entende por profissionalismo
político? - A capacidade de interpretar a situação política do jogo no qual ele
está inserido, a relação de forças ente os vários partidos, de grupos de
pressão, correntes de opinião que atuam no meio político. Temer está há
decênios na política. Isto não é sinônimo de um bom governo, mas é um requisito
mínimo para manejar a situação." Ora, este manejo da situação por meio do
qual se está sempre ganhando é aquele que Meirelles e Temer fizeram na aliança
com Lula e o PT, mas se tornou perigoso na hora que Dilma apareceu querendo
fazer um manejo que implicava em não mais estar sempre ganhando e sim tendo de
perder para a política da Dilma de usar o Estado de acordo com sua vontade
política. Por isso, diz o apoiador de Temer, o Brasílio Sallum Júnior, que
"o impeachment tratou basicamente - embora o discurso e a retórica sejam o
do golpe à democracia [do qual acusama Dilma] - da gestão econômica."
Logo, a política econômica de Dilma contraria esse manejo político desses senhores
de ganhar sempre, então, eles estão sofrendo um golpe, uma perda de espaço na
sua atuação e manejo democráticos, por isso, como precisam ser sempre
vencedores ou dominantes, eles tratam de articular o manejo político que
golpeie quem os está golpeando, eles estão apenas reagindo à ação dela, são
apenas reacionários e nada mais.”
Mas, afinal, quem está efetivamente preservando democraticamente a sua ditadura, o seu ganhar sempre?! É esse o significado de "a ideologia (democrática) dominante ser a da classe (ditatorialmente) dominante"?! Isso é ser profissional?! Perder sempre é ser amador?! A democracia só pode ser exercida pelos políticos profissionais, então, a democracia tem dono e quem é amador, quer dizer, quem não é proprietário não pode exercer a democracia e precisa ser posto para fora pelos seus proprietários profissionais, mas isto não é precisamente a ausência efetivamente de democracia, de participação do povo no seu governo, já que democracia significaria poder do povo ou não significaria?!
sexta-feira, 22 de abril de 2016
Valor Universal Ou Valor Relativo?! Democracia Ou Ditadura?!
O problema é mais precisa e exatamente qual? No Brasil, em
1930, Getúlio Vargas acusou o governo de favorecer uma fraude eleitoral, contestando
o resultado das eleições presidenciais e partindo para a luta armada contra o governo,
numa aliança do Rio Grande do Sul e da Paraíba com Minas Gerais contra São Paulo
e o Governo Federal. Getúlio Vargas saiu vitorioso e a tomada do poder passou a
ser chamada e conhecida como Revolução de 30 e não de Golpe de 30. São Paulo
permaneceu o principal centro de oposição a Vargas e em 1932 desencadeou o que
passou a ser conhecido como a Revolução Constitucionalista de 32. E São Paulo novamente
perdeu. Em novembro de 1935 os comunistas do PCB tentaram tomar o poder em
Natal, Recife e no Rio de Janeiro (ver: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/RevoltaComunista)
e eles se basearam na Aliança Nacional Libertadora que foi criada em março de
1935, mas, já em 4 de abril, o governo Vargas sancionou a primeira Lei de
Segurança Nacional (ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Seguran%C3%A7a_Nacional)
que veio em seguida ao Acordo Comercial Brasil-Estados Unidos de 2 de fevereiro
(ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/1935_no_Brasil).
Em 1937 vem, finalmente, o que entrou para a história como o Golpe do Estado
Novo (ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1937)
e é curioso que Olímpio Mourão Filho, que será o golpista desencadeador do
Golpe de 64, seja o golpista do Estado Novo, junto com Eurico Gaspar Dutra, que
será sucessor de Vargas, colocará o PCB na ilegalidade e também participará, como
apoiador, do Golpe de 64, e ainda a participação decisiva de Pedro Aurélio de Góes
Monteiro (ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Aur%C3%A9lio_de_G%C3%B3is_Monteiro)
considerado o formulador da Doutrina de Segurança Nacional desde 1934. Pelo
afastamento que esses três militares golpistas tiveram de Getúlio Vargas é de
se supor que Vargas, já antes do tiro no coração, não queria mais o retorno da
ditadura e sim a permanência da democracia. E se para Vargas o tiro em Rubens
Vaz foi um tiro que acertou nas costas de Vargas, então, entre os seus, havia
quem queria o retorno da ditadura. (ver A tragédia/castração é uma farsa?! Ou o trauma/orgasmo é uma revelação?!; Mecânica de Demócrito a Newton e Relatividade de Epicuro a Einstein; Mãe Natureza: Amor ou Vida Mortal-e-Mortalidade vital?!; e, Impeachment desde sua invenção pelos trágicos gregos: Sófocles, Ésquilo e Eurípedes)
O poder, este é o problema. Poder do Governo e poder do
Estado. Quem tem o poder do Estado assume o poder do Governo por meio de fraude
eleitoral. Essa teria sido a praxe da República Velha até a Revolução de 30,
onde o poder do Governo e o poder do Estado são assumidos por quem os toma por
meio da luta armada. Quando Vargas retorna por meio de eleições ele não quer
mais o retorno da ditadura porque quer que o poder do Governo se exerça sobre o
poder do Estado de forma legítima, sem fraude eleitoral e sem poder armado. E
ele se suicida porque entre os seus existem aqueles que seguem um Getúlio
Vargas que ele não reconhece como sendo o autêntico Getúlio Vargas, mas, ainda
assim, ele reconhece que, no passado, deu margem para que entre os seus
existissem aqueles apoiadores dum Getúlio Vargas que foi farsante, por isso, ao
que tudo indica, percebeu e optou por retirar da vida o farsante para que o
autêntico Getúlio Vargas pudesse entrar na história, ou seja, para deixar claro
e estabelecido que é pela liberdade e pela democracia que sempre esteve
disposto a sacrificar sua vida.
Porém, seus sucessores getulistas, na época democrática,
enfrentaram, cada vez mais, uma distância entre o seu poder do Governo ou da
intenção e o poder do Estado ou do gesto, ou seja, cada vez mais, estavam sem a
capacidade de exercer efetivamente seu Governo porque o Estado não era governado
por eles e os deixava à margem do poder do Estado, em especial, por meio dos
funcionários do Estado organizados na Forças Armadas que se articulavam com os
opositores do Governo, em especial, os do partido da UDN, mas também se
articulavam com os do PSD. Além disso, os membros da Forças Armadas usavam estruturas
de informação e espionagem, que iam criando, e estavam dispostos a exercer
direta e completamente o poder do Estado assumindo o poder do Governo.
Porém, para dar o Golpe era preciso estabelecer em defesa de
que ele estava sendo dado e foi preciso esperar que os getulistas passassem da
posição de defensores da legalidade para a de transgressores da legalidade para
que o Golpe se afirmasse como legítimo defensor das instituições democráticas
que se apodera do Governo fechando essas mesmas instituições democráticas que
defende.
Brizola e outros getulistas querem se apoderar do poder do Estado
porque percebem que estão fadados a viver no inferno das intenções ou do poder
do Governo, mas sem efetivar nenhum gesto dessas intenções ou à margem do
exercício do poder do Estado. E eles acabam fazendo o serviço, requerido pelos
golpistas no poder do Estado que querem o poder do Governo, que é levar o
presidente Jango a manifestar apoio à tomada pelos getulistas e pelo povo do
poder do Estado de modo que as intenções do poder do Governo saiam do inferno e
entrem como gestos efetivos no mundo real. Na conjuntura da Guerra Fria e para
a Doutrina da Lei de Segurança Nacional estava caracterizado o movimento de
subversão comunista golpeando e se apoderando do poder do Estado, logo, as
condições para uma legitimação do Golpe de Estado que tanto prepararam e
desejaram.
Só algum tempo depois do Golpe de 64 é que veio a luta
armada contra o Regime Militar e Dilma Rousseff fez parte disso e quem fez esta
luta armada era tanto quem tinha lutado, apoiado e simpatizado com a Rede da
Legalidade liderada por Brizola quanto quem tinha lutado, apoiado e simpatizado
com as Reformas Na Lei Ou Na Marra defendidas por Brizola, quer dizer, muito
mais Na Marra porque Brizola propunha o rompimento com o PSD e com o Congresso
(Câmara e Senado) e a aliança do Governo com o Povo e os Trabalhadores
(partidos populares, sindicatos e associações).
Ora, é aí que se encontra o
problema que permanece ainda hoje “atual”. Logo após as eleições de 2014 (ver
no blog de 29/11/14 a postagem "Esta presidenta quer o diálogo!"- do
discurso da vitória de Dilma - e
"Teoria Marxista", de Cristiane Rubão {9/c}) entrou em cena uma luta
de vida ou morte do Congresso e da oposição contra o Governo Dilma e pelo leque,
melhor, espectro das forças oposicionistas que se juntaram contra Dilma, indo
do centro até à extrema-direita, ficou claro que a proposta dela, expressa no
projeto sob o nome de Decreto 8.243 de 23 de maio de 2014 (ver: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Decreto/D8243.htm),
trouxe de volta a ideia de Brizola de Governo em aliança com o Povo e os
Trabalhadores e sem o Congresso, quer dizer, trouxe de volta aquilo que juntou
o centro, PSD, com a extrema-direita, UDN, em 64 em apoio ao Golpe Militar.
Então, todo o processo político
que se desencadeia durante as eleições e que explode logo após as eleições tem
por origem este problema que permaneceu central durante toda a Guerra Fria, ou
seja, quem tem o poder do Estado? As forças conservadoras do status quo ou as
forças reformistas transformadoras da realidade existente? O poder do Estado
pode sair das mãos das classes dominantes ou não pode sair das mãos das classes
dominantes? O poder do Estado caindo nas mãos das classes dominadas condena à
morte as classes dominantes ou avança para estabelecer melhores e mais
aperfeiçoadas relações democráticas de convivência pacífica entre as classes?
Enfim, o poder do Estado na Democracia é efetivamente exclusivo das forças
conservadoras das classes dominantes ou as forças reformistas das classes
dominadas também podem exercer o poder do Estado na Democracia? Enfim, só
existe a Democracia das classes dominantes porque desde que surgiu no mundo ela
foi um poder do Estado dos senhores sobre os escravos tal qual foi na Antiga
Grécia? O problema que persiste é o de saber se o poder do Estado da Democracia
só compatível com as classes dominantes e, assim, pertence a elas ou se o poder
do Estado da Democracia também é compatível com as classes dominadas e pode ser
exercido por elas? Então, no final das contas, tudo consiste em saber se este é
um problema efetivamente anacrônico ou permanece um problema atual, ou seja, a
atualidade admite ou não que as forças reformistas transformadoras da realidade
existente exerçam efetivamente o poder do Estado da Democracia, logo, se trata
também de saber no limite se efetivamente vivemos num mundo contínua
transformação, mudança e mutação ou se, ao contrário, vivemos num mundo em
contínua conservação, permanência e imutabilidade?
Tudo leva a crer, e para isto
basta olhar ao redor e ver o que acontece no mundo desde a Queda do Muro, que o
poder do Estado da Democracia é compatível com as forças reformistas
transformadoras da realidade existente porque por toda parte os países que se
apoderaram do poder do Estado sob o modelo do Estado Comunista estão
dissolvendo seu Estadão numa Sociedade Civil Democrática. Então, o Brasil está
na atualidade em condições de solucionar este problema de modo a superar
tragédias inexoráveis e traumáticos males necessários porque está em condições
de vir a afirmar que não existe mais a inexorabilidade das tragédias nem a
necessidade dos males traumáticos tal como dizia Epicuro “viver na necessidade não
é uma necessidade porque é permitido domar a necessidade” e a inexorabilidade,
logo, podemos nos libertar das tragédias e dos males porque não são inexoráveis
nem necessários.
É efetivamente isto que nos ensina
o mundo atual em permanente mutação ou não é? Temos ou não a chance de superar
em nosso país as tragédias e os males de Getúlio Vargas, de Jango, da Ditadura
Militar, da Anistia, do Impeachment de Collor, do Mensalão, da Lava-Jato, do
Réu Cunha presidindo a Câmara, da Presidente Dilma sendo submetida a
Impeachment porque defendeu um Governo direto com a Sociedade Civil sem passar
pela Câmara e o Senado?!
domingo, 10 de abril de 2016
A tragédia/castração é uma farsa?! O trauma/orgasmo é uma revelação?!
O espírito teórico que se torna livre em si mesmo se
transforma em energia prática que sai do mundo dos mortos como vontade voltada
contra o mundo que existe sem ele. Os corpos, as forças, os átomos, os
espíritos teóricos ou as massas estão em queda em linha reta no vazio na mesma
velocidade, que é a velocidade máxima e limite que possuem em queda no vazio,
mas esta velocidade máxima e limite transforma as massas inerciais teóricas ou
os espíritos teóricos livres em energias luminosas práticas que saem do mundo
dos mortos e vão ao encontro umas das outras de modo que as diferenças relativas
das massas entre si se tornam um sistema gravitacional.
Marx indica claramente a divisão entre Demócrito e Epicuro,
que é uma divisão que continua entre Newton e Einstein, mas também entre Kant e
Hegel, como uma divisão entre os partidários da positividade e os partidários
do conceito. Para tomarmos Demócrito como ponto de partida parece que
precisamos suprir muito mais lacunas do que se tomarmos Kant como ponto de
partida, aliás, talvez, até venhamos a ser supridos em algumas de nossas
lacunas relativas a Demócrito. A divisão que Marx aponta com clareza entre o
ponto de vista positivo e o ponto de vista conceitual é uma divisão subjetiva
que se realiza objetivamente porque ela tem início na subjetividade que quer se
realizar objetivamente. Kant também parece ter clareza da divisão subjetiva
entre os dois pontos de vista, mas, na sua época, o ponto de vista conceitual
era o ponto de vista que tinha pendido para a metafísica e a crítica da
metafísica que podia ser feita era a que pendia para o ponto de vista positivo.
Estamos falando de peso e da gravidade relativa, quer dizer, da relação entre
os dois lados de uma balança de acordo com o maior peso e gravidade de um lado
e o menor peso e gravidade do outro, ou seja, como se diz ordinariamente nas
análises das conjunturas políticas, estamos falando das correlações de forças. A
afirmação do ponto de vista metafísico é a afirmação de um ponto de vista
inteiramente subjetivo e não objetivo, quer dizer, é a afirmação de um ponto de
vista não-físico e que se situa além do ponto vista físico, ou seja, é a plena
afirmação da ideia ou do conceito como sendo aquilo que é verdadeiro, como a
verdade exclusiva. A afirmação do ponto de vista positivo de Kant parte da
crítica da metafísica, quer dizer, da crítica da subjetividade, da ideia ou do
conceito como verdade exclusiva. A primeira coisa que a crítica da metafísica
faz é um corte na potência da subjetividade, da ideia ou do conceito e, desse
modo, ela perde a verdade exclusiva porque com o corte na sua onipotência
subjetiva, ideal ou conceitual ela adquire a carência da potência da
objetividade, do real ou da positividade, ou seja, com o corte na onipotência
da subjetividade ou do conceito a crítica leva a subjetividade ou o conceito à
impotência ou carência da coisa em si objetiva, real, positiva. De agora em
diante a crítica restringe a potência possível da subjetividade ao acesso à
coisa positiva, real, objetiva para si, quer dizer, restringe a potência
possível da subjetividade ou do conceito ao sonhar com a coisa para si ou ao sonho
que são as formas a priori (para si) da sensibilidade, o espaço e o tempo. E, ao
mesmo tempo, amplia a potência possível da coisa em si ou da positividade de se
manifestar como transe, embriaguez, alucinação, dever, imperativo que faz a
subjetividade agir positivamente na efetivação para si do que supõe ser a coisa
em si. Melhor: Se a potência possível do conceito ou subjetividade é a
percepção sensível para si, quer dizer, exclusiva da coisa para si e nunca da
coisa em si, então, quando a subjetividade ou conceito se dá conta de que não
pode acessar subjetiva nem conceitualmente a coisa em si porque a coisa em si é
imperceptível e insensível para a subjetividade e para o conceito, então, o
sujeito e o conceito cegos, surdos, mudos, imperceptíveis e insensíveis, mas,
ainda assim, subjetividade e conceituar, se lançam a inventar na prática a
coisa em si possível como coisa para si.
A crítica da metafísica com o seu corte da coisa em si, com
seu corte na carne, se submete à castração e, desse modo, não tendo mais a
coisa em si se limita a acessar a coisa para si. E a coisa para si que pode
perceber sensivelmente é aquilo que sua subjetividade pode conhecer, tem
potência e poder de conhecer, enquanto que a coisa para si que não pode
perceber sensivelmente é aquilo que sua subjetividade não pode conhecer, não
tem potência nem poder de conhecer mas pode praticar, tem potência e poder de
praticar, de desenvolver positiva e sensivelmente como se fosse
efetivamente a coisa em si invisível e incognoscível. O castrado tem consciência
de que seu conhecimento possível é conhecimento do sonho e de que sua
prática possível é prática da sua castração, quer dizer, é prática da ilusão
embriagadora para si de possuir a coisa em si.
A partir de Hegel volta a pesar e ter gravidade o ponto de
vista da subjetividade ou do conceito, da ideia e com a potência da
subjetividade, da ideia, do conceito de poder acessar e conhecer a coisa em si,
porque agora a coisa em si é o conceito, a ideia, a subjetividade e de um modo
objetivo, quer dizer, metafísico, porque tudo vem a ser alienação objetiva da
ideia, da subjetividade, do conceito.
Os discípulos de Hegel, que recusam a metafísica absoluta,
que recusam a ideia, o sujeito e o conceito absolutos, querem manter o conceito
aceitando a física relativa, aceitando a matéria, a energia, o sujeito e o
conceito relativos. Eles fazem um corte com a castração oposta à do ponto de
vista da positividade, porque, para eles, a onipotência do ponto de vista do
conceito corresponde a uma castração da realização positiva do conceito,
corresponde a restringir a subjetividade a viver fora do mundo, fora da vida, a
viver inteiramente ensimesmada e sem vir a ser, sem nascer, enfim, inteiramente
aprisionada no mundo dos mortos. Este corte dos discípulos de Hegel corresponde
a uma cesariana, a uma ruptura com a castração ou o aborto que impede o
nascimento, corresponde um compromisso com o nascimento da subjetividade e do
conceito na positividade, na existência de maneira que se torna possível não só
conhecer a coisa em si, mas também praticar a coisa em si porque a coisa em si
é o conceito que nasce e se realiza efetivamente na positividade, na
existência. Desse modo, a subjetividade e o conceito não só nascem na matéria,
mas também são eles mesmos a matéria nascida e conhecem e praticam a si mesmos
como matéria e coisa em si.
Mas, a partir de Schopenhauer o peso e a gravidade do ponto
de vista positivo ficam reforçados por meio da recusa do conhecimento da coisa
para si, por meio da recusa do conceito e da subjetividade para si. O ponto de
vista positivo de Schopenhauer só aceita prática como ponto de vista verdadeiramente
positivo e, desse modo, é a arte que ocupa o espaço e o tempo da embriagadora
criação de ilusão para si de possuir a coisa em si. Mais ainda o ápice dessa
prática artística se dá quando o ponto de vista positivo aceita o apaziguamento
budista da extirpação do desejo, quer dizer, quando o ponto de vista positivo
aceita que a obra prima da criação ilusória para si de possuir a coisa em si é a
prática da aceitação para si da castração como sendo a posse da coisa em si,
ainda que, evidentemente, no mínimo, seja a da perda de alguma coisa em si. E
Nietzsche, como discípulo de Schopenhauer, vai se voltar contra esse niilismo
da prática positiva da castração que Schopenhauer considera a obra prima desse
ponto vista da positividade. Nietzsche vai se ater à prática positiva como
embriagadora criação da ilusão para si de possuir a coisa em si, logo, mesmo
que se trate de uma ilusão, esta ilusão é resultante duma atividade criadora
embriagadora, esta embriagadora criação de ilusão para si parece estar possuída
efetivamente por uma coisa em si que representa a vontade de potência da coisa
em si, a vontade de poder possuída pela coisa em si incognoscível, insensível.
Carregar e cultuar a coisa em si como coisa possuída para si, quer dizer,
cultuar o dionisíaco, que carrega o pênis (ou será o falo?), durante seus
rituais ou orgias de castração, é aqui afirmar esta embriagadora criação de
ilusão para si de possuir e de ser possuído pela vontade de potência da coisa
em si incognoscível, esta embriagadora criação da ilusão de praticar o orgasmo,
mesmo e apesar da castração da coisa em si.
Apareceu aí algo sintomático. A tragédia da castração
apareceu naqueles que defendem a prática criadora da ilusão, que defendem a
moral do dever, que defendem a arte, que defendem a mentira. O trauma e orgasmo da
expulsão da coisa em si, do nascimento, da cesariana acompanhou aqueles que
defendem o conhecimento da coisa em si e a prática sexual de conhecimento da
coisa em si, a prática criadora da realidade da coisa em si, que defendem a lei
do prazer, que defendem a ciência, que defendem a verdade.
A tragédia/castração é uma farsa?! O trauma/orgasmo é uma revelação?!
Porém, parece que esquecemos das correlações de forças, não
é mesmo? Em parte, não esquecemos, porque só correlacionamos os pontos de vista
do conceito e da positividade, mas, por outro lado, as diferenças entre as
forças conceituais e as forças positivas foram vistas como diferenças entre
potências sexuais afirmadas e potências sexuais castradas. E, desse modo, a
presença da funcionalidade da potência sexual e a ausência da funcionalidade da
potência sexual estabelece uma diferença nas análises conjunturais das
correlações de forças, mas não só porque um dos lados pode crescer e se
multiplicar muito mais rápida e facilmente e sim porque um dos lados pode tanto
conhecer quanto praticar o processo de criação da própria coisa em si, ou seja,
um dos lados, com a presença da funcionalidade da potência sexual, parece
possuir um diferencial similar, em tudo e por tudo, à alavanca de Arquimedes.
Então, por mais que as potências sexuais castradas se configurem como a prática
positiva dos capitalistas, seu superdesenvolvimento como capital só é possível
por meio do domínio e exploração das potências sexuais afirmadas, configuradas
como a prática conceitual/criativa dos trabalhadores, basta a pura e simples
ruptura da prática conceitual criativa dos trabalhadores com a dominação e a
exploração de suas potências sexuais afirmadas para, ao mesmo tempo, socializar
e suprimir o superdesenvolvimento do capital, ainda que precisamente esta pura
e simples ruptura, emancipação ou libertação dos trabalhadores seja
precisamente o que é mais raro e difícil de acontecer porque a ideologia
dominante e exploradora influencia as consciências no sentido de perceber as
correlações de forças exclusivamente como correlações de forças positivas e não
como correlações de forças conceituais. E o que é ainda pior, não mais a
ideologia, mas sim a própria dominação e exploração das potências sexuais
afirmadas pelas potências sexuais castradas coloca sob poder destas últimas a
percepção e o acúmulo das forças conceituais criativas como capital, ou seja,
estas últimas percebem que podem se assenhorear da alavanca e se elevar acima
das potências sexuais afirmadas como super-homens que vem a ser sucumbindo as
forças humanas de trabalho/as potências sexuais afirmadas.
quarta-feira, 6 de abril de 2016
Mecânica de Demócrito a Newton e Relatividade de Epicuro a Einstein
Inércia ou morte imortal. Saída da inércia ou vida mortal.
Os físicos desenvolveram primeiro a mecânica como
explicação. Desse modo, o principal movimento é o de inércia e é um estado no
qual um corpo ou uma força permanece até seu movimento ser alterado pela ação
de outro corpo ou de outra força. Mas, de que movimento ou estado vem esta
outra força ou corpo? Da inércia? Mas, então como foi que um estado de inércia
se contrapôs a outro estado de inércia? Como foi que um estado de inércia
alterou outro estado de inércia? Um estado de inércia já estava alterado?
Então, como ele ficou alterado? Ambos os estados de inércia já estavam
previamente destinados à alteração um do outro porque estavam dispostos de
forma a se chocar um com o outro, mas aí, então, eram mesmo estados de inércia
ou, na verdade, já eram estados alterados? De todo modo, de acordo com a
mecânica, é a partir do estado alterado que se sai da inércia e o mundo vem a
ser. A tragédia de Édipo Rei representa bem esta concepção física da mecânica.
Os físicos introduziram depois a origem do estado alterado
no próprio movimento de inércia, de modo que ele se altera por si mesmo, logo,
não é mais propriamente um movimento mecânico. Na antiguidade este movimento
de saída do estado de inércia foi concebido como sendo um clinâmen, quer dizer,
um desvio ou declinação da queda em linha reta na mesma velocidade no vazio
devido ao peso do corpo ou da força. Já no século XX, Einstein concebeu que, na
queda em linha reta no vazio na mesma velocidade, a massa, devido à velocidade
(da luz) igual de queda para toda e qualquer massa, se transforma ou se altera de massa em energia, em
luz. Pronto, a energia foi roubada da massa e o mundo veio a existir, ou seja, agora,
é a tragédia de Prometeu Acorrentado que representa bem a concepção física da
relatividade.
Mãe Natureza: Amor ou Vida Mortal-e-Mortalidade vital?!
A Mãe Natureza que tudo dá. Dá a vida, o espaço e o tempo para viver, alimento, abrigo, livre ir e vir, enfim, tudo até a chegada da morte que ela também dá. Ela que tudo dá também tudo tira porque se é dela que tudo vem também é para ela que tudo volta. Ela nos dá todo bem e nos tira todo bem. E o que é para nós todo o mal? O bem do alimento que recebemos para viver pode ser também o bem da vida retirado do alimento para que vivamos, logo, o bem que nos alimenta também é a morte do que nos alimenta. A Mãe Natureza nos dá a vida junto com a morte, então algo morre para que vivamos e nós morremos para que algo viva. Sendo assim tudo que dá por um lado é tirado pelo outro lado, então, a Mãe Natureza tanto tudo dá e tudo tira, quanto nada dá e nada tira, porque tudo transforma. “Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” e tudo se transforma é “o vir a ser” que, pura e simplesmente, traduz a condição da Mãe Natureza, ou seja, “O Eterno Retorno” do “criado” e do “perdido”. Vida-e-Morte/Bem-e-Mal também traduz a condição da Mãe Natureza e, desse modo, o fruto, da vida e da morte bem como do bem e do mal, nunca esteve proibido porque sempre foi o fruto livremente estabelecido pela Mãe Natureza. Desse modo também toda a existência da Mãe Natureza é “toma lá, dá cá”, é troca, é unidade da diversidade, quer dizer, é unidade da vida e da morte, é o Tao do yin/yang, é unidade do trabalho vivo/morto, é a moeda, é o mercado, é a comum-unidade, logo, a comunidade da vida mortal/mortalidade vital. O paraíso é o inferno!!! E vice-versa!!!
A Mãe Natureza tudo dá porque dá a si mesma e, assim, ela é a vida que dá vida, mas a Mãe Natureza dando a si mesma tudo tira porque, assim, ela é a vida que, dando a si mesma para a morte, tudo tira, inclusive a si mesma. A vida da própria Mãe Natureza tem um começo e tem um fim com a morte da própria Mãe Natureza. Então, a própria Mãe Natureza tem vida mortal, quer dizer, sua Natureza vive através do morrer da sua Natureza, e também tem morte imortal, ou seja, sua vida mortal chega ao fim quando sua Natureza não tem mais como viver do morrer da sua Natureza e sua Natureza morre do morrer de sua Natureza, logo, sua Natureza entra na morte imortal da sua Natureza. O fim da vida mortal da Mãe Natureza é o fim do tudo se transforma, o fim do vir a ser, o fim do eterno retorno da Mãe Natureza porque também é a entrada no nada se cria e nada se perde, a entrada no não-ser, a entrada no eterno sem retorno da Mãe Natureza. Ora, mas a que Mãe Natureza nos referimos? A esta Mãe Natureza que compreende todo o Cosmo, todo o Universo, a esta Mãe Natureza que é o Todo. Então, nos referimos à dissolução da Mãe Natureza, do Cosmo, do Universo, do Todo em Nada. Mas, o que morre imortalmente permanece morrendo imortalmente, então, é preciso que, em outro lugar, para além do Nada, algo venha a viver mortalmente para que a morte permaneça imortalmente consumindo mortalmente a vida. Isso significa que outra Mãe Natureza, outro Cosmo, outro Universo, outro Todo surge ou nasce com tudo se transformando, tudo vindo a ser, tudo eternamente retornando?! Então, isso significa que existe uma infinidade de Mães Naturezas, de Cosmos, de Universos, de Todos de modo que a infinitude da morte imortal é a base, o fundamento e o princípio que sustenta a permanência da finitude da vida mortal, a permanência da finitude do vir a ser, a permanência da finitude do eterno retorno.
O problema então do mundo visível que é este da Mãe da Natureza que vemos e nos encontramos e que nele entramos e dele saímos com ela é que ela, a Mãe Natureza, vem do mundo invisível, ou seja, sai para o mundo visível como vida mortal ou finitude que justifica e explica a infinitude da morte imortal do mundo invisível.
O problema então do mundo visível que é este da Mãe da Natureza que vemos e nos encontramos e que nele entramos e dele saímos com ela é que ela, a Mãe Natureza, vem do mundo invisível, ou seja, sai para o mundo visível como vida mortal ou finitude que justifica e explica a infinitude da morte imortal do mundo invisível.
O que é verdadeiro? Que a Mãe Natureza dá vida, espaço e tempo, abrigo para o ser humano viver da destruição das outras espécies e dos recursos naturais de um modo imperialista que acelera o processo que ruma para a extinção da Mãe Natureza? Acabando com todas as outras espécies e todos os recursos naturais só resta ao ser humano viver da destruição de si mesmo e, assim, se igualar à Mãe Natureza que vive da destruição de si mesma?! Que o ser humano vive, antes de tudo, da destruição de si mesmo, ou seja, antes de destruir as outras espécies e todos os recursos naturais, ele está destruindo a si mesmo de modo que ele acumula uma enorme destruição de outras espécies e de todos os recursos naturais restringindo o acesso e destruindo parte considerável da sua própria espécie humana?! Se a resposta for positiva para a primeira possibilidade, a de que o ser humano é o destruidor imperialista, então a solução é combater o destruidor imperialista e contra o ser humano e a favor da Mãe Natureza tratar de destruir o destruidor imperialista, mas, nesse caso, esta resposta assume a outra possibilidade porque através dela o ser humano vive da destruição de si mesmo e se iguala à Mãe Natureza; finalmente, a última possibilidade, a de que a atividade destruidora do ser humano esteja voltada prioritariamente para si mesmo e, em seguida, para a Mãe Natureza, levanta a possibilidade de que controlando e desviando a atividade destruidora do ser humano de si mesmo para as outras espécies e recursos naturais da Mãe Natureza seja possível sair da prioridade da coleta e da caça para a prioridade do cultivo e da criação?! Mas, e o fogo?! O fogo não é por definição a vida mortal que consome a mortalidade vital até chegar ao fim, quer dizer, à morte imortal?! E o uso do fogo não é o instrumento privilegiado da espécie humana?! Não é por meio dele que ela se destaca das demais espécies e se torna agente que transforma todos os recursos naturais e as demais espécies em mortalidade vital para a vida mortal da sua própria espécie humana?! Não é por meio do uso do fogo que a espécie humana diante do Todo se assume como a Parte chamada de Pai Trabalho frente à outra Parte chamada de Mãe Natureza?! Não é por meio do uso do fogo que o Pai Trabalho se afirma como morte imortal para a Mãe Natureza que se afirma vida mortal?! Não é por meio do fogo que a espécie humana se assume como a atividade do Trabalho que tudo transforma da materialidade da Natureza que nada cria e nada perde?!
O Paraíso é o Inferno?! Não!!! O Inferno é o Paraíso?! Não!!! O quê então?!?!
terça-feira, 5 de abril de 2016
O Paraíso é o Inferno?! Não!!! O Inferno é o Paraíso?! Não!!! O quê então?!?!
A Mãe Natureza que tudo dá. Dá a vida, o espaço e o tempo
para viver, alimento, abrigo, livre ir e vir, enfim, tudo até a chegada da
morte que ela também dá. Ela que tudo dá também tudo tira porque se é dela que
tudo vem também é para ela que tudo volta. Ela nos dá todo bem e nos tira todo
bem. E o que é para nós todo o mal? O bem do alimento que recebemos para viver pode
ser também o bem retirado do alimento retirado da vida para que vivamos, logo,
do bem que nos alimenta também é a morte do que nos alimenta. A Mãe Natureza
nos dá a vida junto com a morte, então algo morre para que vivamos e nós
morremos para que algo viva. Sendo assim tudo que dá por um lado é tirado pelo
outro lado, então, a Mãe Natureza tanto tudo dá e tudo tira, quanto nada dá e
nada tira, porque tudo transforma. “Nada se cria, nada se perde, tudo se
transforma” e tudo se transforma é “o vir a ser” que, pura e simplesmente,
traduz a condição da Mãe Natureza, ou seja, “O Eterno Retorno” do “criado” e do
“perdido”. Vida-e-Morte/Bem-e-Mal também traduz a condição da Mãe Natureza e,
desse modo, o fruto, da vida e da morte bem como do bem e do mal, nunca esteve
proibido porque sempre foi o fruto livremente estabelecido pela Mãe Natureza.
Desse modo também toda a existência da Mãe Natureza é “toma lá, dá cá”, é
troca, é unidade da diversidade, quer dizer, é unidade da vida e da morte, é o
Tao do yin/yang, é unidade do trabalho vivo/morto, é a moeda, é o mercado, é a
comum-unidade, logo, a comunidade da vida mortal/mortalidade vital. O paraíso é
o inferno!!! E vice-versa!!!
A Mãe Natureza tudo dá porque dá a si mesma e, assim, ela é
a vida que dá vida, mas a Mãe Natureza dando a si mesma tudo tira porque,
assim, ela é a vida que, dando a si mesma para a morte, tudo tira, inclusive a
si mesma. A vida da própria Mãe Natureza tem um começo e tem um fim com a morte
da própria Mãe Natureza. Então, a própria Mãe Natureza tem vida mortal, quer
dizer, sua Natureza vive através do morrer da sua Natureza, e também tem morte
imortal, ou seja, sua vida mortal chega ao fim quando sua Natureza não tem mais
como viver do morrer da sua Natureza e sua Natureza morre do morrer de sua
Natureza, logo, sua Natureza entra na morte imortal da sua Natureza. O fim da
vida mortal da Mãe Natureza é o fim do tudo se transforma, o fim do vir a ser,
o fim do eterno retorno da Mãe Natureza porque também é a entrada no nada se
cria e nada se perde, a entrada no não-ser, a entrada no eterno sem retorno da
Mãe Natureza. Ora, mas a que Mãe Natureza nos referimos? A esta Mãe Natureza
que compreende todo o Cosmo, todo o Universo, a esta Mãe Natureza que é o Todo.
Então, nos referimos à dissolução da Mãe Natureza, do Cosmo, do Universo, do
Todo em Nada. Mas, o que morre imortalmente permanece morrendo imortalmente,
então, é preciso que, em outro lugar, para além do Nada, algo venha a viver
mortalmente para que a morte permaneça imortalmente consumindo mortalmente a
vida. Isso significa que outra Mãe Natureza, outro Cosmo, outro Universo, outro
Todo surge ou nasce com tudo se transformando, tudo vindo a ser, tudo
eternamente retornando?! Então, isso significa que existe uma infinidade de
Mães Naturezas, de Cosmos, de Universos, de Todos de modo que a infinitude da
morte imortal é a base, o fundamento e o princípio que sustenta a permanência
da finitude da vida mortal, a permanência da finitude do vir a ser, a
permanência da finitude do eterno retorno.
O problema então do mundo visível que é este da Mãe da Natureza que vemos e nos encontramos e que nele entramos e dele saímos com ela é que ela, a Mãe Natureza, vem do mundo invisível, ou seja, sai para o mundo visível como vida mortal ou finitude que justifica e explica a infinitude da morte imortal do mundo invisível.
O problema então do mundo visível que é este da Mãe da Natureza que vemos e nos encontramos e que nele entramos e dele saímos com ela é que ela, a Mãe Natureza, vem do mundo invisível, ou seja, sai para o mundo visível como vida mortal ou finitude que justifica e explica a infinitude da morte imortal do mundo invisível.
O que é verdadeiro? Que a Mãe Natureza dá vida, espaço e
tempo, abrigo para o ser humano viver da destruição das outras espécies e dos
recursos naturais de um modo imperialista que acelera o processo que ruma para
a extinção da Mãe Natureza? Acabando com todas as outras espécies e todos os
recursos naturais só resta ao ser humano viver da destruição de si mesmo e,
assim, se igualar à Mãe Natureza que vive da destruição de si mesma?! Que o ser
humano vive, antes de tudo, da destruição de si mesmo, ou seja, antes de
destruir as outras espécies e todos os recursos naturais, ele está destruindo a
si mesmo de modo que ele acumula uma enorme destruição de outras espécies e de
todos os recursos naturais restringindo o acesso e destruindo parte
considerável da sua própria espécie humana?! Se a resposta for positiva para a
primeira possibilidade, a de que o ser humano é o destruidor imperialista,
então a solução é combater o destruidor imperialista e contra o ser humano e a
favor da Mãe Natureza tratar de destruir o destruidor imperialista, mas, nesse
caso, esta resposta assume a outra possibilidade porque através dela o ser
humano vive da destruição de si mesmo e se iguala à Mãe Natureza; finalmente, a
última possibilidade, a de que a atividade destruidora do ser humano esteja
voltada prioritariamente para si mesmo e, em seguida, para a Mãe Natureza, levanta
a possibilidade de que controlando e desviando a atividade destruidora do ser
humano de si mesmo para as outras espécies e recursos naturais da Mãe Natureza
seja possível sair da prioridade da coleta e da caça para a prioridade do
cultivo e da criação?! Mas, e o fogo?! O fogo não é por definição a vida mortal
que consome a mortalidade vital até chegar ao fim, quer dizer, à morte
imortal?! E o uso do fogo não é o instrumento privilegiado da espécie humana?! Não
é por meio dele que ela se destaca das demais espécies e se torna agente que
transforma todos os recursos naturais e as demais espécies em mortalidade vital
para a vida mortal da sua própria espécie humana?! Não é por meio do uso do
fogo que a espécie humana diante do Todo se assume como a Parte chamada de Pai
Trabalho frente à outra Parte chamada de Mãe Natureza?! Não é por meio do uso
do fogo que o Pai Trabalho se afirma como morte imortal para a Mãe Natureza que
se afirma vida mortal?! Não é por meio do fogo que a espécie humana se assume
como a atividade do trabalho que tudo transforma da materialidade da natureza
que nada cria e nada perde?!
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Impeachment desde sua invenção pelos trágicos gregos: Sófocles, Ésquilo e Eurípedes
Como se dá um Impeachment legítimo? Desde a Antiguidade que,
na Grécia, foi feita a configuração do Impeachment legítimo na, atualmente,
muitíssimo famosa, tragédia de “Édipo Rei”.
O processo jurídico do Impeachment começa com a resposta do
Oráculo ao ser consultado a respeito do problema da Peste que atinge Tebas.
Quando o Oráculo responde que a Peste é consequência do ato de alguém que desonrou
e manchou Tebas com crime de sangue, então o Rei Édipo estabelece a penalidade
jurídica do ostracismo (banimento ou exílio) para o culpado pela conspurcação.
Em seguida, dá início a um processo de investigação jurídica empírica com busca
de testemunhas e provas para descobrir o culpado pela conspurcação e, ao mesmo
tempo, solicita nova consulta ao Oráculo para poder avançar na investigação
jurídica empírica. Édipo chega a suspeitar duma conspiração golpista do
mensageiro quando ouve a resposta de Creonte, seu tio, que enviou para
consultar o Oráculo. Mesmo assim, como estadista, permanece firme no rumo do
processo jurídico com a investigação empírica que está em suas mãos conduzir. E
é com este seu poder de condução investigativa que irá descobrir que ele
próprio, Édipo, é o culpado pela conspurcação de Tebas. Se descobre culpado e
responsável e aceita e aplica sobre si mesmo a pena que estabeleceu. Além disso,
se cega, ao se conscientizar que, por melhor que seja, sua percepção sensível,
sua luz sensível ofusca e obscurece, em lugar de iluminar e viabilizar, o seu
conhecimento de si mesmo, da sua subjetividade e considera que, se antes
tivesse recorrido à acuidade do espírito ou à luz da consciência de si, melhor,
do conhecimento de si mesmo, de sua própria subjetividade, então, talvez,
pudesse não ter sido tão irresponsável e dominado tão instintiva e
inconscientemente por suas ações sensíveis, quer dizer, talvez, como sujeito, tivesse podido dominar os seus
sentidos e não ficar reduzido à condição de mero objeto dominado e conduzido por seus sentidos. Freud que tornou famosíssimo
o chamado “Complexo de Édipo” interpreta que o ato de furar os olhos de Édipo é
um modo de amenizar e tornar artístico o ato real dele: Castrou-se!
Mas, a tragédia de “Prometeu Acorrentado” trata daquilo que
pode ser considerado um Impeachment ilegítimo e que, como gestação, prepara o
surgimento de um Impeachment legítimo. Se, na tragédia de Édipo, vemos aquilo
que, tomando de empréstimo uma expressão filosófica, é “um processo objetivo sem
sujeito”, já na tragédia de Prometeu vemos, ao contrário, o “processo do
sujeito com um objetivo”. O Oráculo que, na tragédia de Édipo, tudo prevê, mas,
ao mesmo tempo, só revela de forma enigmática, aparece na tragédia de Prometeu
revelando tudo de forma direta porque ele é o próprio Prometeu. E na tragédia o
Oráculo é aquele com a capacidade de fazer o seu próprio destino
precisamente por ser o sujeito da
tragédia. Porém, a tragédia de Prometeu é aquela que faz do sujeito da tragédia, o Oráculo, objeto e, por isso, é aquela que nos
permite aproximar do conhecimento do sujeito
presente na tragédia. No início da peça Prometeu é acorrentado, pelos
mensageiros de Zeus, a uma rocha sobre um abismo no Cáucaso e ele já declara
para Hermes: “saiba que eu não trocaria a minha miséria pela tua escravidão.
Amo mais estar ligado a esta rocha do que ser o mensageiro fiel de Zeus, teu
pai! ”. A peça continua com Prometeu contando, em segredo, a seus amigos tudo
que aconteceu e que ainda virá a acontecer com ele e com Zeus. Resumindo,
porque o melhor é ler e fruir a tragédia, Zeus corresponde a Laio, o pai de
Édipo, porque ele nos informa que será derrubado por seu filho, Herácles. Ora,
Prometeu criou a humanidade com o húmus da Terra e soube que Zeus queria a
destruição da raça humana, então, para que esta pudesse se defender de Zeus,
Prometeu roubou o fogo do Céu e o deu à humanidade e esta fazendo uso do fogo
criou um mundo próprio, se diferenciando dos demais animais ao estabelecer
territórios defendidos pelo fogo e por armas, habitações, meios de transporte
etc. produzidos com auxílio do fogo, enfim, ficou em condições de se defender
dos ataques dos raios de Zeus. Desse modo, passamos a suspeitar que Laio possa
ter tentado fazer algo parecido com o que tentou Zeus e, talvez, também possa
ter causado sofrimento a um benfeitor da humanidade como Zeus causou a
Prometeu. Édipo é aquele que, tal qual Herácles, o filho de Zeus, vai realizar
efetivamente as previsões do Oráculo, quer dizer, é aquele que liberta as
previsões do Oráculo para a realidade efetiva, logo, do mesmo modo que faz
Herácles libertando Prometeu e, assim, realizando efetivamente suas previsões
oraculares. O Impeachment de Laio foi sua morte pelo filho Édipo e o de Zeus é
o seu dobrar-se à vontade de seu filho Herácles libertando Prometeu. Édipo, sem
saber, e Herácles, com saber, estão defendendo o sujeito oracular e a raça humana. Golpe foi o que aconteceu a
Prometeu com os sofrimentos impostos por Zeus e Impeachment propriamente dito
foi o que Zeus veio a sofrer ao se dobrar à vontade de Herácles.
Os historiadores atuais parecem ter feito uma revisão
histórica do golpe de 64, de modo que um processo que antes era visto quase que
exclusivamente como militar passou a
ser visto como processo civil-militar. E isto é algo muito curioso e
sintomático do que acontece na atualidade onde existe a enorme suspeita de uma
tentativa de golpe civil por meio do
uso do instrumento jurídico do Impeachment. Ora, o que nos ensinam os trágicos
gregos que inventaram o Impeachment muito tempo antes de nossa época?
Sabemos que, depois do golpe de 64, muitos se insurgiram,
foram presos, torturados, mortos, exilados e soltos até que ficou combinado o
processo de Impeachment dos militares e de anistia aos insurgentes, aos presos,
aos mortos, aos exilados e soltos. Mas, isto foi um processo de Impeachment
proposto, combinado e conduzido pelos próprios
militares tal qual aquele feito por Édipo.
Nesse processo veio à tona o novo sindicalismo e o PT, nascidos no interior da
ditadura, e também a anistia, quer dizer, veio à tona a organização e liderança
dos trabalhadores tal qual na tragédia grega veio à tona Herácles e foram
libertos e anistiados os insurgentes tal qual foi liberto e anistiado o
insurgente Prometeu. Porém, terão os historiadores atuais percebido que o golpe
civil-militar que tinha por tônica o poder militar pode continuar se perpetuando, mas, agora, tendo por tônica
o poder civil? Que será que querem
agora? Um processo de Impeachment que, similar a uma farsa, foi retratado pela
tragédia “As Bacantes”, de Eurípedes? Lá o Rei foi ludibriado pelo Deus
Dionísio e vestido de mulher foi à festa das bacantes onde foi morto por sua
própria mãe em transe. Agora, é uma mulher que está investida da Presidência e
que, ludibriada pelas armadilhas dionisíacas dum indevido processo jurídico de
Impeachment, querem conduzir ao bacanal dos parlamentares para ser golpeada por
sua própria mãe, a democracia em transe, quer dizer, por estar possuída pelas forças
dionisíacas da corrupção e do poder, quer dizer, da época da passagem da tragédia para a farsa.
Assinar:
Postagens (Atom)