quinta-feira, 28 de abril de 2016

As mães e o desejo. Os desejos das mães ou as mães dos desejos?!


Antes de tudo um aviso. Este é um texto em andamento. Está apenas no início, mas como tenho de andar pelo mundo, antes de andar com ele, resolvi publicá-lo mesmo assim, mas avisando, quem porventura se interessar, que ele terá continuidade, exceto, se um ataque de Caetano, me fizer perguntar: ou não?! (ver Desejo é castração?! Segundo quem?! Freud?! Nietzsche?!, que antecede este)

As mães. A de Édipo o abandona como quem aborta, mas ele volta se casa com ela e ela se suicida e ele se castra. A de Prometeu é cúmplice dele e ele dela e ele rouba a centelha do Céu para dar ao húmus da Terra tal qual um alcoviteiro atrai a fértil centelha do Céu para fecundar a produção independente do húmus da Terra ou ainda tal qual em 1919, em Sobral, Brasil, ficou provado que os raios solares se desviam da sua trajetória em linha reta atraídos pela gravidade (gravidez?!) da Terra. Prometeu, no entanto, é acorrentado numa rocha sobre o abismo, depois lançado nas profundezas da Terra de encontro ao Hades (mundo dos mortos na Grécia Antiga) e só virá a ser liberto das correntes e do Hades por Herácles, o filho da centelha do Céu (o raio Zeus) e duma humana da Terra triplamente fecundada pela centelha do Céu, a primeira vez devido ao roubo de Prometeu, a segunda e a terceira devido à atração exercida pelas humanas da Terra sobre as centelhas do Céu (os raios de Zeus). Que significa esta libertação? Que o reconhecimento do direito de roubar ou atrair centelhas do Céu não fica restrito apenas ao filho querido do Céu, Herácles, mas passa a ser lei que torna Prometeu, o agente que rouba e/ou atrai, presença permanente e livre para, de maneira contínua, dar forma ao húmus da Terra e atrair a centelha do Céu como conteúdo da forma húmus ou humana. Prometeu Acorrentado e lançado nas profundezas da Terra, no Hades, é o cúmplice de sua mãe, forçado por Zeus, o deus dos raios/centelhas celestes, a permanecer no seu interior tal qual o pai de Zeus, Cronos, aquele que come os próprios filhos, foi forçado a ficar, mas não porque coma os próprios filhos e sim por dar nascimento aos filhos da Terra e do Céu, quer dizer, do próprio Zeus, ainda que este desejasse esta raça de filhos humanos, ou seja, desejasse não ser dobrado nem desviado em seus atos por esta raça humana da Terra. Prometeu é este ato de dobrar e desviar os raios/as centelhas ou as atividades de Zeus de seu curso pré-estabelecido, é este ato que demonstra que o raio ou a centelha não é pura energia que permanece no seu curso mas também é massa que se desvia atraída pela massa do húmus e da Terra; porém, considerando de forma inversa que o raio ou a centelha precisamente por também massa permanece no seu curso, então, Prometeu é a energia que dobra e desvia a massa do raio ou da centelha de seu curso, ou seja, a energia que nega o peso de pura queda em linha reta de sua massa. Prometeu é a equação da relatividade da Antiguidade Grega igualando massa e energia do mesmo modo que Einstein formulou a equação da relatividade na física contemporânea igualando massa e energia. Mas, esta equação, da massa que se transforma em energia e da energia que se transforma em massa, é a afirmação do dobrar-se a si mesmo e/ou sobre si mesmo, logo, também é afirmação do conscientizar-se de si e, por isso mesmo, é conscientizar-se de que o si mesmo não é só e pura consciência, mas, antes, também inconsciente.


Vemos Prometeu muito mais como cúmplice de sua mãe e, em geral, como uma presença abstrata dela ou uma energia que instruída por ela capta a massa e/ou a energia do pai de que ela necessita para sua produção independente de filhos ou seres humanos. Vemos também ela muito mais como mártir que enfrenta o pai que não quer a produção independente de filhos e preferia abortar do que ter semeado de modo furtivo o conteúdo da forma humana. A mãe deseja e seu filho Prometeu ou esta presença abstrata da mãe, o desejo ou singularidade abstrata, está inteiramente de acordo com ela e age sobre o pai como atividade inconsciente desse pai e/ou em desacordo com a consciência desse pai ao atrair o sêmen ou centelha do Céu/Zeus para o óvulo ou húmus da Terra.


Dizem que a mulher é castrada e o homem não, quer dizer, não se consegue pensar a sexualidade senão como ausência do pênis na mulher e presença do pênis no homem, mas, será que a teoria da relatividade e Prometeu demonstram que a gravidade e a massa são energia, logo, que a sexualidade feminina não é a ausência de pênis e sim, como na teoria de campo da gravidade, a presença de um campo que altera o espaço e o tempo afirmando sua sexualidade como poderosa atração que atua no masculino como desejo inconsciente? Quem sente a castração? O masculino quando é "roubado". E quem "rouba" o masculino? O campo do feminino que altera o espaço-tempo e incorpora o que "rouba" do masculino. Também não é algo semelhante que é atribuído à teoria do valor? A força humana de trabalho é expropriada durante sua jornada de trabalho nas máquinas, que são os meios de produção, do trabalho excedente ou não-pago que se transforma em produção independente da força de trabalho apropriada pela burguesia que é dona do campo ou dos meios de produção que continuamente alteram o espaço-tempo da jornada de trabalho e incorporam a energia humana excedente da força de trabalho.


Podemos fazer uso disso de modos diversos. Em todo caso, o poder do desejo, o poder de dobrar e desviar atribuído a Prometeu é um poder derivado do poder e inteiramente de acordo com o poder de sua mãe, donde se pode concluir que o desejo é um poder feminino, mas só devido a isso seria um poder da castração?! O feminino é o castrado? Isso não é um conceito demasiadamente masculino?


No caso da exploração da força humana de trabalho pela burguesia podemos ver tanto Prometeu Acorrentado, que precisa se libertar/nascer como desejo próprio e não empurrado pelo pai para as profundezas da mãe, quanto podemos ver Zeus dobrado pela atração irresistível do húmus da Terra tendo relações com mulheres humanas e ainda podemos ver nas forças humanas de trabalho o irresistível e inconsciente desejo incestuoso de Édipo pela mãe. Prometeu se liberta ou é libertado pelo filho de Zeus, logo, pelo filho das mulheres humanas, Herácles, e este feito de Herácles que também é o de dobrar a consciência de seu pai Zeus para aceitar a libertação de Prometeu é semelhante ao que faz Édipo em relação a seu pai, Laio, ainda que com diferenças, posto que mata seu pai inconscientemente, decifra o enigma do espaço-tempo humano (criança, adulto, idoso) e casa inconscientemente com sua mãe e, finalmente, tomando consciência se castra e se expulsa/liberta do campo do desejo inconsciente pela mãe/do campo inconsciente do desejo pela mãe. Se liberta daquela presença em si que é o inconsciente campo do desejo da mãe e, curiosamente, só se torna consciente de si com a realização dessa perda de si, daí que se conclua que só se torna sujeito consciente e senhor/dono de seu desejo quando pela castração deixa de ser objeto do desejo do poderoso campo feminino de sua mãe que altera o seu espaço-tempo e/ou sua história. Porém, será esta a única conclusão? As forças de trabalho querem se libertar da atração irresistível das máquinas que como campo alteram seu espaço-tempo e, para tanto, se organizam para destruir o Estado da burguesia ou da mãe e recuperar de volta suas energias humanas das quais ela se apropriou como se fora Cronos, aquele que come seus próprios filhos, quer dizer, de modo a libertar a prole humana e possibilitar que as máquinas ou meios de produção se libertem da exclusiva gravidade (gravidez) e possam afirmar a sua própria presença abstrata, ou seja, se libertem libertando Prometeu, ao mesmo tempo, de estar incorporado na mãe e se tornando e sendo admitido igualmente como presença abstrata no próprio masculino, logo, com o masculino tomando consciência de si não meramente como pênis e sim de que a presença do pênis é a presença do feminino como desejo inconsciente. Noutras palavras, o masculino e o feminino só serão capazes de usar sua equação prometeica da relatividade, quer dizer, da igualdade entre energia e massa, quando admitirem que a massa feminina possa andar livre por aí como energia, mesmo sem ostentar um pênis, e a energia masculina possa repousar livremente em qualquer lugar como massa, sem que, por isso, precise se castrar/perder o pênis. Portanto, a descoberta da equação da relatividade é ela mesma parte de um processo de construção da igualização entre massa e energia tal qual a descoberta da consciência de si é parte de um processo de construção do autoconhecimento de si e de igualização entre consciência de si e inconsciente.



segunda-feira, 25 de abril de 2016

Desejo é castração?! Segundo quem?! Freud?! Nietzsche?!



O inventor da psicanálise, que tanto trouxe à tona o inconsciente, começou inventando a psicanálise precisamente por preferir que o "paciente" fizesse uso da sua própria consciência e não mais que fosse tratado por meio do uso que a consciência do "agente terapêutico" fazia do seu inconsciente por meio do hipnotismo. ver o antecedente: Estamos numa democracia?)


Muito anos depois de a psicanálise ser um movimento visivelmente bem-sucedido o inventor da psicanálise voltou a promover o uso da consciência tanto na obra "O Futuro De Uma Ilusão" quanto em "O Mal-Estar Na Civilização".



Não se pode confundir Freud com Nietzsche na defesa da potência do instinto de modo a abrir mão da consciência e optar até mesmo por jogar fora a consciência para poder vivenciar a potência do instinto sem as censuras e as críticas do superego, porque, para Freud, este estado de transe é o mesmo estado hipnótico que efetivamente promove o superego, ou seja, o paciente faz a passagem (seria a transferência?!) da sua consciência para uma superconsciência de modo que todas suas ações instintivas estão entregues aos cuidados dela, ou seja, são inteiramente determinadas, disciplinadas e obedientes a este superego para as mãos do qual ele passou (transferiu?!) sua consciência e, assim, reduziu sua potência instintiva ou seu inconsciente a uma mera máquina inteiramente submissa e obediente ao comando do super mestre, super tutor, super ego ou super homem que possui a consciência do paciente e ainda a sua própria consciência de agente terapêutico ou catártico. Pelo contrário, Freud vê aí nesse abandono da consciência algo que podemos comparar com um aborto ou com a atividade do deus Cronos da mitologia grega que comia seus próprios filhos. Freud ainda é fiel à proposta iluminista de Kant de saída do humano da sua menoridade por meio do uso de sua consciência ou razão. Ou seja, para Freud esta entrega à potência do instinto que coloca o paciente em estado de transe ou em estado hipnótico não só é precisamente entrega ao superego como ainda é entrega à castração. Desse modo, o seu método psicanalítico que recorre à ação da consciência do paciente para acessar e trazer à tona sua potência inconsciente é um método que visa a aproximação do inconsciente por meio do autoconhecimento, por meio do se apropriar do seu próprio inconsciente e, por isso mesmo, por ser seu próprio inconsciente e não de um outro visa a liberação de sua potência inconsciente por meio de sua própria consciência, ou seja, se trata duma atividade de fecundação, gestação, nascimento e desenvolvimento da potência inconsciente na própria consciência, logo, é um método que visa a responsabilidade do indivíduo por si mesmo, que visa a capacidade do indivíduo de ser livre e de criar sua própria vida e é nesse sentido que o uso da própria consciência do paciente é uma assimilação e um usufruir da própria potência inconsciente do indivíduo e, nesse sentido, como o contrário da castração, é a afirmação e o desenvolvimento da potência do indivíduo.


Este feito da psicanálise, de fazer a aproximação do inconsciente da consciência, remete para aquele mesmo procedimento proposto por Marx de dissolver o Estado na Comunidade dos Indivíduos Conscientes de suas Próprias  Forças. Em ambos os casos se trata de libertação da tutela, seja da consciência do agente terapêutico, seja do superego, seja do Estado, seja da classe dominante, seja da classe dominada, precisamente por se tratar de conquistar a libertação da potência inconsciente por meio do livre uso da própria consciência, pelo uso da consciência do próprio indivíduo como agente terapêutico, pelo uso da consciência individual da própria potência inconsciente, pelo uso da própria consciência de si como potência social, pelo uso da consciência da potência inconsciente como afirmação da atividade de si próprio que não é nem dominante nem tampouco é dominada, mas é sim autônoma, independente, livre.


“Somente quando o homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e se converte, como homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais; somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas “forces propres” (próprias forças) como forças sociais e quando, portanto, já não separa de si a força social sob a forma de força política, somente então se processa a emancipação humana”. Karl Marx, "Questão Judaica")


Desejo não é falta nem é excesso, não é procura/demanda nem é oferta. Desejo é presença, afirmação de presença, afirmação de previsão, afirmação de justa medida, afirmação de limite, afirmação de consciência de si... afirmação de energia no sentido de evidência, manifestação, presença... não é nem a oferta ou o excesso nem a a procura ou a falta, porque não é a cisão estamental em atividades diferenciadas, onde um concentra o excesso e a capacidade da potência instinto e o outro concentra a falta e a necessidade da potência do instinto, mas é sim a unidade comum presente em ambos antes e independente da cisão, logo, é a singularidade comum ou a comum singularidade, a comum unidade, talvez, o conatus ou co-natus, melhor, talvez, o que esta palavra latina sugere para quem usa o português, ou seja, o conato ou o nascido junto, o que nasce junto, logo, o que nasce da massa e que é a energia como demonstra Einstein com sua equação da Energia sendo igual à Massa no Quadrado da Velocidade da Luz, velocidade da luz que é a velocidade limite no vazio, logo, a relação é a da presença da potência (energia ou massa) na ausência (vazio). Mas, não se deve confundir vazio com falta, necessidade, procura porque o vazio não sente carência e está completo sendo vazio, logo, é só a partir da presença, só a partir de algo pleno, quer dizer, de algo que não é vazio nem é o vazio, que se pode sentir a carência e também o excesso, esta sensibilidade é a presença de algo e esta presença só se afirma diferente duma massa caindo em linha reta no vazio infinito quando se afirma como presença, quando se evidencia presente, quando se manifesta presente, quando por um pequeno desvio da massa caindo em linha reta no vazio se afirma presença da energia, da potência ou presença de si mesma, logo, quando a presença se volta ou se curva sobre si mesma e, desse modo, se desvia da queda no vazio para ir ao encontro de si originando o no encontro de si consigo a consciência de si e do mundo.









domingo, 24 de abril de 2016

Estamos numa democracia?




0 problema “atual” (ver http://eduardodalencastro.blogspot.com.br/2016/04/valor-universal-ou-valor-relativo.html) foi logo analisado por Marx na “Questão Judaica”, ou seja, a tomada do poder do Estado que abole a propriedade privada tem por finalidade e objetivo o retorno da propriedade privada numa Sociedade Civil capitalista mais desenvolvida, então, é um equívoco das classes dominadas achar que se apropriando do poder do Estado e abolindo a propriedade privada irá efetivamente rumar para uma Sociedade Socialista ou Comunista e, por isso, ele retoma, na “Ideologia Alemã”, essa observação crítica, feita na “Questão Judaica”, condenando a implantação do Socialismo/Comunismo por decreto por não levar nem ao Socialismo nem ao Comunismo e sim por fazer retornar a Sociedade Civil Capitalista em condições muito mais desenvolvidas e sólidas. Ou seja, o que ele diz é que a tomada do poder do Estado pelas classes dominadas não realiza a passagem completa destas para a condição de classes dominantes no sentido de tornar realidade uma Sociedade Sem Classes, mas sim, ao contrário, realiza a passagem das classes dominadas para a condição de classes dominantes no sentido de tornar aqueles que se apropriaram do Estado membros das classes dominantes e, portanto, restauradores da propriedade privada e da Sociedade de Classes Capitalista com maior vitalidade e desenvoltura. 


Este processo de mudança por decreto do Socialismo e do Comunismo de Estado é o processo clássico da Revolução Burguesa na França, portanto, é característico da Ditadura Revolucionária Burguesa que, na França, se afirmou no período conhecido como do Terror. Quando critica o Comunismo ou Socialismo de Estado - o mesmo que, no século XX, veio a ser hegemônico com a implantação da URSS -, Marx critica a Ditadura Revolucionária Burguesa praticada pela Revolução Burguesa Francesa, ou seja, não está criticando a Ditadura Revolucionária do Proletariado porque a implantação do Comunismo ou do Socialismo por decreto não é uma medida do Socialismo ou Comunismo Proletário, exceto como apoio à revolução burguesa enquanto precedente sine qua non da revolução proletária, mas é preciso cuidar para conseguir fazer a passagem de uma para a outra, por isso que a luta pela direção do processo revolucionário se coloca desde o início para garantir que haverá alternância no exercício do poder. No entanto, o problema é mais profundo, posto que é necessário que Marx explique que é afinal esta tal de Ditadura Revolucionária do Proletariado? Que ditadura é esta que contraria aquela que foi implantada com sucesso na URSS e se tornou modelo difundido e efetivado em boa parte do mundo?


E Marx dirá na “Questão Judaica” que ele se opõe a essa emancipação política quando e porque vai além da emancipação política muito bem expressa por uma passagem de Rousseau que ele cita: “Aquele que se propõe a tarefa de instituir um povo deve sentir-se capaz de transformar, por assim dizer, a natureza humana, de transformar cada indivíduo que é por si mesmo um todo perfeito, solitário, em parte de um todo maior, do qual o indivíduo receba até certo ponto sua vida e seu ser, de substituir a existência física e independente por uma existência parcial e moral. Deve despojar o homem de suas próprias forças, a fim de lhe entregar outras que lhe são estranhas e das que só possa fazer uso com a ajuda de outros homens” / {"Celui qui ose entreprendre d'instituer un peuple doit se sentir en état de changer pour ainsi dire Ia nature humaine, de transformer partie d'un grand tout dont cet individu reçoive en quelque sorte sa vie et son être, de substituer une existence partielle et morale à 1'existence physique et indépendante. Il faut qu'il ôte à 1'homme ses forces propres pour lui en donner qui lui soient étrangères et dont il ne puisse faire usage sans les secours d'autrul" (25) (Contrat Social, livro II, Londres, 1782, p. 67). Extraído de https://www.marxists.org/portugues/marx/1843/questaojudaica.htm#t25 }.


Mas ele coloca o ponto de vista da emancipação política de Rousseau para contrapor a ele o ponto de vista da emancipação humana que ele próprio defende:


“Toda emancipação é a recondução do mundo humano, das relações, ao próprio homem.


“A emancipação política é a redução do homem, de um lado, a membro da sociedade burguesa, a indivíduo egoísta independente e, de outro, a cidadão do Estado, a pessoa moral.


“Somente quando o homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e se converte, como homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais; somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas “forces propres” (próprias forças) como forças sociais e quando, portanto, já não separa de si a força social sob a forma de força política, somente então se processa a emancipação humana”.


É aí que começa para Marx o novo conceito da democracia da maioria como a ditadura revolucionária do proletariado, onde a questão não é mais tomar o poder do Estado para tratar de instituir um povo e de transformar a natureza humana, quer dizer, não se trata mais de cindir a natureza humana de modo que fique dependente do poder do Estado e se trata sim de dissolver o poder do Estado nas mãos das próprias forças humanas de modo que é a natureza humana e o próprio povo quem transforma a si mesmo em unidade liberta da cisão promovida pelo Estado e pela Sociedade Civil cindida em classes.


“Ditadura Revolucionária do Proletariado” é um termo que esconde o principal feito da emancipação ou libertação humana/social/proletária/dos trabalhadores que é a efetivação real da Democracia porque agora é o próprio povo quem institui a si mesmo e também é a própria natureza humana quem transforma si mesma porque agora acabou o poder do Estado acima do cidadão e também acabou o poder do indivíduo egoísta na Sociedade Civil separado dos demais, seja na classe que defende sua existência como explorador, seja na classe que defende sua existência como explorado, porque o poder do indivíduo se tornou ainda mais egoísta ou nem um pouco egoísta, já que, usufruindo de suas próprias forças, nem explora as forças alheias nem é explorado por forças alheias.


A Ditadura Revolucionária do Proletariado é a instituição da Democracia da Comunidade, quer dizer, da Democracia mais Completa e Ampla por ser a Democracia exercida pelas próprias forças da Comunidade e não por forças separadas da Comunidade no poder do Estado nem no poder de Classe.


Então, é possível concluir que os depoimentos dos experimentados militantes de esquerda da luta armada estão todos relacionados à concepção do Socialismo ou Comunismo por decreto que Marx tão claramente mostrou ser a da Ditadura Revolucionária Burguesa e não à concepção da Ditadura Revolucionária do Proletariado defendida pelo próprio Marx como a realização efetiva da Democracia da Maioria, da Democracia da Comunidade, da Democracia do Próprio Povo. (ver: http://www.folhapolitica.org/2013/05/nao-lutavamos-pela-democracia-mas-pela.html )

Mas, então, porque Marx não foi mais claro e não defendeu apenas a Democracia da Comunidade? Porque inventou essa história de defender uma Ditadura Revolucionária do Proletariado? Porque a Democracia Existente era a Democracia da Classe Dominante, a Democracia do Estado (por oposição à Democracia da Comunidade), ou seja, porque a Democracia Existente era uma Ditadura não só nos seus momentos excepcionais de afirmação do poder unilateral do Estado, mas também nos seus momentos normais de afirmação do poder de classe da Sociedade Civil Capitalista, porque, portanto, a Democracia Existente era uma Ditadura do Capitalismo/uma Ditadura da Sociedade de Classes Capitalista. Porém, ele admitia que mesmo essa Democracia Existente poderia vir a se transformar numa Democracia da Comunidade por meio de eleições democráticas, ou seja, admitia a possibilidade duma transformação pacífica da Sociedade Civil Capitalista de Classes numa Comunidade Humana Trabalhadora Sem Classes. (ver: https://www.marxists.org/francais/rubel/works/1962/rubel_19620700.htm#fn23 )


Nesse caso, então, como fica a situação da Dilma que parece se situar ainda no Socialismo ou Comunismo por decreto? Ora, a Dilma não fez nenhum decreto do tipo dos que pretendem implantar o Socialismo e o Comunismo por decreto, no sentido de que estes antes de tudo se assenhorearam do poder do Estado como ditadores, mas ela foi eleita e seu decreto 8.243 só pode ser efetivo de acordo com:      


A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, caput, incisos IV e VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 3º, caput, inciso I, e no art. 17 da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003,

Então que diz o art. 84:


Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal;
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI – dispor, mediante decreto, sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)


O decreto 8.243 está inteiramente de acordo com a legislação decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pela Presidência da República, portanto, ele está inteiramente dentro do espectro democrático e, desse modo, a presidente Dilma não está agindo de forma ditatorial e em ruptura com a Constituição e a Democracia existentes no país. Nesse sentido, por mais que tenhamos discordâncias e críticas endereçadas a quem imagina possível implantar um Poder Popular por meio de decreto, tal como era o pensamento e o costume dos Déspotas Esclarecidos, ainda assim temos de reconhecer que a prática de decretos da presidente Dilma segue estritamente a legislação constitucional e, por isso, se aproxima muito mais do que todas as demais práticas, incluindo aí as da luta armada de esquerda, da possibilidade de experimentar um desenvolvimento da prática democrática da própria comunidade de modo a vir efetivar aquilo que Marx admitia viável a passagem para o Socialismo e/ou o Comunismo por meio de eleições, quer dizer, a possibilidade de uma via exclusivamente democrática de passagem do capitalismo para o comunismo, o que simplesmente significa também uma passagem pacífica da ditadura burguesa do Estado para a ditadura proletária da Comunidade.


Mas aí já estamos muito longe da “atualidade”, certo? Nela o que importa é sinalizar que os experimentados militantes da luta armada não conseguiram ser suficientemente críticos da Guerra Fria, posto que adotavam o tal do Comunismo Real de Estado da URSS tal e qual, menos ainda, ser suficientemente críticos, para compreender a proposta de Marx de Democracia da Comunidade via Ditadura Revolucionária do Proletariado.


Porém, aí eles não estão sozinhos, porque, para nós, que somos pessoas tão distanciadas, no tempo, de Marx, fica muito difícil compreender porque ele usa tanto o conceito de Ditadura Revolucionária do Proletariado e não de forma direta o seu próprio conceito de Democracia da Maioria, de Democracia da Comunidade, de Associação dos Indivíduos Livres etc.?! Porém, por outro lado, fica tudo muito claro quando, olhando para nossa época, percebemos aquilo que ele apontava na Revolução Francesa e no Socialismo de Estado ocorrendo na URSS e diversos outros países, inclusive na nossa vizinha Cuba. Percebemos que sua posição crítica é mais do que atual porque na atualidade ela está sendo demonstrada por ficar presente na percepção de todo mundo. Então, o enigma de Marx criticar os regimes do Comunismo de Estado como um feito do capitalismo e, ao mesmo tempo, defender uma Ditadura Revolucionária do Proletariado sem nenhuma relação com os regimes de Comunismo de Estado é o que merece ser estudado e compreendido por nossa época e tanto por aqueles que se pretendem seus discípulos quanto por aqueles que se consideram seus críticos. Os primeiros para compreender que não foram seus discípulos quando adotaram aquilo que ele precisamente critica. E os segundos para compreender que não foram seus críticos quando criticaram aquilo que ele também criticou e que, nas suas obras, o seu próprio pensamento ainda critica.


Vale acrescentar aqui umas ideias expressas via Skype a respeito do que ocorre na “atualidade”, só acrescento as minhas por ser responsável por elas, já a dos interlocutores só acrescentaria se tivesse a autorização deles:


“A grande questão aqui, desde ontem, tb no programa do Jô, é saber o que é golpe. Golpe não precisa ser exclusivamente militar, a Wiki diz até que Yeltsin cometeu um golpe dissolvendo a URSS, enfim, existe a noção de golpe não militar presente no Wiki. Aí é o país dos golpes de estado, de mão etc., mas aqui, no popular, existe uma significação para golpe que atende esta caracterização do golpe do impeachment ou do conto do impeachment, quer dizer, é o golpe ou a vigarice no sentido do ludibriar, do lograr, do lucrar ou obter vantagem de forma ilícita, enfim, do cometer o crime sob a aparência de estar praticando a lei, o legal e a ordem, o ordeiro. É preciso que alguém consiga levar isso até o Jô e mesmo que se espalhe uma melhor compreensão da amplitude de um golpe político, o qual, segundo a Wiki teria sido praticado inicialmente por quem estava no poder: ‘Na teoria política, o conceito de golpe de Estado surge em 1639, teorizado por Gabriel Naudé na obra Considerations politiques sur le coups d'Etat; Naudé definia "golpe de Estado’ como um governante, em defesa do interesse público, violar as leis e regras estabelecidas”.


“Bom, indo ao assunto, ontem você se referiu a uma coisa que eu mantive de fora do texto, mas da qual eu sempre falei como sendo a tese de Marx da dissolução do Estado já que sua manutenção tem por resultado o retorno em condições mais desenvolvidas da sociedade de classes do capitalismo. No entanto, ontem, você se referiu a algo mais específico e desafiador, que é o próprio Estado, dizendo que sempre são aqueles que estão nele que vão se situar nas classes dominantes da sociedade civil, por exemplo, com a dissolução da URSS são os burocratas das empresas estatais que se tornam os empresários e executivos e funcionários administrativos com altos salários das empresas privadas. Essa questão, sendo desenvolvida, é a resposta que merece ser dada aos experimentados militantes da esquerda armada que fundem ditadura com ditadura do proletariado como se um mesmo conceito, o de ditadura, permanecesse com o mesmo sentido e a ele só se acrescentasse uma mudança de significação com o conceito de proletariado, quer dizer, de classe dominada que se torna dominante. Porém, Marx, querendo salvar sua alma, como efetivamente declara na "Crítica ao Programa de Gotha", concebe um Estado dissolvido, melhor, um resíduo ou quantum de Estado, quer dizer, uma materialidade que se confunde inteiramente com a comunidade social do proletariado, da classe proletária, da prole humana, ou seja, ditadura do proletariado é a ditadura ou o poder de um Estado que é e se confunde com a própria comunidade social da prole humana ou do proletariado. Se o poder do Estado costumeiro e habitual é uma maquinaria mantida por diversos funcionários que a ela acedem por meio de provas e de profissionalização de suas carreiras com as sucessivas graduações dentro de uma hierarquia de modo que a maquinaria do Estado se assemelha às diferentes maquinarias dos industriais e dos empresários de bancos, supermercados, lojas etc. de modo que quem aí exerce funções é assalariado do mesmo modo que os trabalhadores são assalariados, então, o que diferencia o Estado do Governo? O Governo cabe a quem é eleito e é tanto da Sociedade Civil quanto do Estado, ainda que muito mais da Sociedade Civil, e que, durante um certo e determinado período, ficará no Governo do Estado, quer dizer, terá o poder de Governar o Estado, mas não o poder do Estado. Desse modo, fica similar a situação dos trabalhadores que na Sociedade Civil trabalham/governam as maquinarias dos capitalistas com a dos eleitos para governar a maquinaria do Estado... de quem? Ele é público, logo, da sociedade, mas de qual sociedade? Da sociedade de classes que é na atualidade a sociedade capitalista. Era isso? É por aí ?”


“http://www.msn.com/pt-br/noticias/crise-politica/serra-pressiona-psdb-a-participar-de-eventual-governo-temer/ar-BBsaD4S?li=AAggXC1&ocid=mailsignout tá explicado o porquê da participação do Aluísio Nunes na revolta do Henrique Eduardo Alves, participação que levou Aécio a mudar da posição de quem aceitou o resultado das eleições para a de quem apóia a contestação feita pelo PSDB insuflado/comandado por Aluísio Nunes, que se passava por braço direito de Aécio. A coisa vem se articulando desde as eleições nas quais Serra foi o candidato opositor de Dilma. Nessas eleições Serra se articulou com a direita dentro da direita do Dem e com a direita em geral deslocando assim a disputa da Dilma com ele para o centro e para a prudência com bandeiras à direita como  as contrárias ao aborto e às relações homoafetivas, então Dilma se retraiu e se manteve o mais respeitosa possível para com os contrários ao aborto e às relações homoafetivas e, após as eleições, o erro do PT e do Governo Dilma foi trocar a Comissão dos DH com o pastor Marcos Feliciano porque aí deu força para a direita crescer e foi para este partido que o Bolsonaro foi e ficou com os tais 8%. Além disso, todas as forças "ocultas", como dizem, puderam ir se articulando sistematicamente e isso sem que fosse percebido por nós o dedo de Serra por detrás das cenas, nos bastidores fazendo a articulação de tudo e ativando outros articuladores a fazer esta articulação de tudo também. Não é por outro motivo que vive sendo repetido que Serra é o político mais preparado desse país. O resultado foi que Dilma teve de ir mais para a esquerda nas últimas eleições e entrar nelas de forma guerreira por estar perdendo os espaços para a direita extrema e para o centro, por estar perdendo aliados como o PSB, que ainda se situava à esquerda no seu leque de alianças e rompeu rumando para o centro. Mais do que isso foi levada a assumir sua trajetória histórica do lado do getulismo, do trabalhismo, de Brizola, da guerrilha, de Fidel e do dogmatismo do modelo soviético com o seu decreto 8.243. Acho que é isso. O mais é o que escrevi antes para a Olívia e que remete para o comentário de um cientista político a favor de Temer que afirma que o problema em foco é o estatismo da Dilma, quer dizer, o seu uso do poder do Estado na economia e não mais tão somente o uso tão somente o uso do poder do Governo fazendo políticas compensatórias, como bolsa família & cia, recomendadas por Milton Friedman para a manutenção do Estado Mínimo de modo que os eleitos usem apenas o poder de Governo e não o poder de Estado de modo que sejam apenas governantes e nunca estadistas.”



“Aqui, na revista de fim de semana do Valor Econômico, tem duas entrevistas com "os professores Brasílio Sallum Júnior e Luiz Felipe de Alencastro [que] refletem sobre os desafios de um eventual governo comandado por Michel temer, o impacto da associação de sua imagem à de Eduardo cunha, as mazelas da deterioração do sistema político brasileiro e as brechas para a presidente Dilma Rousseff barrar o impeachment. Por Malu Delgado, para o Valor, de São Paulo." Este tal de Sallum do qual nunca tinha ouvido nem mesmo falar diz que "O impeachment tratou basicamente - embora o discurso e a retórica sejam o do golpe à democracia - da gestão econômica. A administração do Estado e sua relação com a economia é o que está em jogo. Qual é a acusação que pesa contra a presidente, não em termos de corrupção; ela ser promotora de um ativismo estatal, o Estado ser usado de modo arbitrário sem levar em conta a lógica do mercado. Esse pensamento, hoje, é hegemônico. Acho que vamos ter no próximo governo uma inflexão na área de concessões. Isso é uma das chamadas bondades que o governo temer pode fazer. A tendência é ter uma política econômica mais para o mercado do que a da presidente Dilma. Não teremos, certamente, um governo neoliberal. Não acredito que se chegue ao limite do que está lá na proposta do PMDB, a Ponte para o Futuro. Aquilo seria um programa liberal demais para as possibilidades do sistema político. E mesmo para o empresariado, que está muito acostumado às benesses estatais. Não tenho dúvida de que as centrais sindicais vão se opor, mas não sei se terão tanta força. Não acho que haverá obstáculos suficientes para o exercício do poder e do governo. Estamos numa situação em que a dificuldade básica dos assalariados é o desemprego. O ativismo sindical pode se manifestar, mas não acredito que carregue muita gente atrás." Esta é a última fala da entrevista dele. Ele é favorável a Temer, já o Luiz Felipe de Alencastro é contrário a Temer, mas, no momento, não interessa porque acho que ele não fala dessa questão do "ativismo estatal" ou do "Estado ser usado de modo arbitrário", quer dizer, de acordo com a vontade política de quem é presidente. 
O homem do Banco Central no governo Lula o tal do Meirelles se não me engano veio do PSDB e não do PMDB, em todo caso, ele foi para o PMDB e agora está no PSD. Michel Temer jogava junto com o PSDB e com FHC. Pois bem, quem aproximou Meirelles do governo foi Lula e também foi ele quem trouxe Temer para a aliança com o PT. Estes homens estão apenas voltando às suas origens no momento. O tal do Sallum diz que Temer é um político profissional e Dilma uma amadora. Acho que Lula e muita gente diz a mesma coisa de Dilma. Sallum Júnior respondendo à pergunta "O que o senhor entende por profissionalismo político? - A capacidade de interpretar a situação política do jogo no qual ele está inserido, a relação de forças ente os vários partidos, de grupos de pressão, correntes de opinião que atuam no meio político. Temer está há decênios na política. Isto não é sinônimo de um bom governo, mas é um requisito mínimo para manejar a situação." Ora, este manejo da situação por meio do qual se está sempre ganhando é aquele que Meirelles e Temer fizeram na aliança com Lula e o PT, mas se tornou perigoso na hora que Dilma apareceu querendo fazer um manejo que implicava em não mais estar sempre ganhando e sim tendo de perder para a política da Dilma de usar o Estado de acordo com sua vontade política. Por isso, diz o apoiador de Temer, o Brasílio Sallum Júnior, que "o impeachment tratou basicamente - embora o discurso e a retórica sejam o do golpe à democracia [do qual acusama Dilma] - da gestão econômica." Logo, a política econômica de Dilma contraria esse manejo político desses senhores de ganhar sempre, então, eles estão sofrendo um golpe, uma perda de espaço na sua atuação e manejo democráticos, por isso, como precisam ser sempre vencedores ou dominantes, eles tratam de articular o manejo político que golpeie quem os está golpeando, eles estão apenas reagindo à ação dela, são apenas reacionários e nada mais.”


Mas, afinal, quem está efetivamente preservando democraticamente a sua ditadura, o seu ganhar sempre?! É esse o significado de "a ideologia (democrática) dominante ser a da classe (ditatorialmente) dominante"?!  Isso é ser profissional?! Perder sempre é ser amador?! A democracia só pode ser exercida pelos políticos profissionais, então, a democracia tem dono e quem é amador, quer dizer, quem não é proprietário não pode exercer a democracia e precisa ser posto para fora pelos seus proprietários profissionais, mas isto não é precisamente a ausência efetivamente de democracia, de participação do povo no seu governo, já que democracia significaria poder do povo ou não significaria?!



sexta-feira, 22 de abril de 2016

Valor Universal Ou Valor Relativo?! Democracia Ou Ditadura?!




O problema é mais precisa e exatamente qual? No Brasil, em 1930, Getúlio Vargas acusou o governo de favorecer uma fraude eleitoral, contestando o resultado das eleições presidenciais e partindo para a luta armada contra o governo, numa aliança do Rio Grande do Sul e da Paraíba com Minas Gerais contra São Paulo e o Governo Federal. Getúlio Vargas saiu vitorioso e a tomada do poder passou a ser chamada e conhecida como Revolução de 30 e não de Golpe de 30. São Paulo permaneceu o principal centro de oposição a Vargas e em 1932 desencadeou o que passou a ser conhecido como a Revolução Constitucionalista de 32. E São Paulo novamente perdeu. Em novembro de 1935 os comunistas do PCB tentaram tomar o poder em Natal, Recife e no Rio de Janeiro (ver: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/RevoltaComunista) e eles se basearam na Aliança Nacional Libertadora que foi criada em março de 1935, mas, já em 4 de abril, o governo Vargas sancionou a primeira Lei de Segurança Nacional (ver:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Seguran%C3%A7a_Nacional) que veio em seguida ao Acordo Comercial Brasil-Estados Unidos de 2 de fevereiro (ver:  https://pt.wikipedia.org/wiki/1935_no_Brasil). Em 1937 vem, finalmente, o que entrou para a história como o Golpe do Estado Novo (ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1937) e é curioso que Olímpio Mourão Filho, que será o golpista desencadeador do Golpe de 64, seja o golpista do Estado Novo, junto com Eurico Gaspar Dutra, que será sucessor de Vargas, colocará o PCB na ilegalidade e também participará, como apoiador, do Golpe de 64, e ainda a participação decisiva de Pedro Aurélio de Góes Monteiro (ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Aur%C3%A9lio_de_G%C3%B3is_Monteiro) considerado o formulador da Doutrina de Segurança Nacional desde 1934. Pelo afastamento que esses três militares golpistas tiveram de Getúlio Vargas é de se supor que Vargas, já antes do tiro no coração, não queria mais o retorno da ditadura e sim a permanência da democracia. E se para Vargas o tiro em Rubens Vaz foi um tiro que acertou nas costas de Vargas, então, entre os seus, havia quem queria o retorno da ditadura.  (ver A tragédia/castração é uma farsa?! Ou o trauma/orgasmo é uma revelação?!; Mecânica de Demócrito a Newton e Relatividade de Epicuro a Einstein; Mãe Natureza: Amor ou Vida Mortal-e-Mortalidade vital?!; e, Impeachment desde sua invenção pelos trágicos gregos: Sófocles, Ésquilo e Eurípedes)


O poder, este é o problema. Poder do Governo e poder do Estado. Quem tem o poder do Estado assume o poder do Governo por meio de fraude eleitoral. Essa teria sido a praxe da República Velha até a Revolução de 30, onde o poder do Governo e o poder do Estado são assumidos por quem os toma por meio da luta armada. Quando Vargas retorna por meio de eleições ele não quer mais o retorno da ditadura porque quer que o poder do Governo se exerça sobre o poder do Estado de forma legítima, sem fraude eleitoral e sem poder armado. E ele se suicida porque entre os seus existem aqueles que seguem um Getúlio Vargas que ele não reconhece como sendo o autêntico Getúlio Vargas, mas, ainda assim, ele reconhece que, no passado, deu margem para que entre os seus existissem aqueles apoiadores dum Getúlio Vargas que foi farsante, por isso, ao que tudo indica, percebeu e optou por retirar da vida o farsante para que o autêntico Getúlio Vargas pudesse entrar na história, ou seja, para deixar claro e estabelecido que é pela liberdade e pela democracia que sempre esteve disposto a sacrificar sua vida.


Porém, seus sucessores getulistas, na época democrática, enfrentaram, cada vez mais, uma distância entre o seu poder do Governo ou da intenção e o poder do Estado ou do gesto, ou seja, cada vez mais, estavam sem a capacidade de exercer efetivamente seu Governo porque o Estado não era governado por eles e os deixava à margem do poder do Estado, em especial, por meio dos funcionários do Estado organizados na Forças Armadas que se articulavam com os opositores do Governo, em especial, os do partido da UDN, mas também se articulavam com os do PSD. Além disso, os membros da Forças Armadas usavam estruturas de informação e espionagem, que iam criando, e estavam dispostos a exercer direta e completamente o poder do Estado assumindo o poder do Governo.


Porém, para dar o Golpe era preciso estabelecer em defesa de que ele estava sendo dado e foi preciso esperar que os getulistas passassem da posição de defensores da legalidade para a de transgressores da legalidade para que o Golpe se afirmasse como legítimo defensor das instituições democráticas que se apodera do Governo fechando essas mesmas instituições democráticas que defende.


Brizola e outros getulistas querem se apoderar do poder do Estado porque percebem que estão fadados a viver no inferno das intenções ou do poder do Governo, mas sem efetivar nenhum gesto dessas intenções ou à margem do exercício do poder do Estado. E eles acabam fazendo o serviço, requerido pelos golpistas no poder do Estado que querem o poder do Governo, que é levar o presidente Jango a manifestar apoio à tomada pelos getulistas e pelo povo do poder do Estado de modo que as intenções do poder do Governo saiam do inferno e entrem como gestos efetivos no mundo real. Na conjuntura da Guerra Fria e para a Doutrina da Lei de Segurança Nacional estava caracterizado o movimento de subversão comunista golpeando e se apoderando do poder do Estado, logo, as condições para uma legitimação do Golpe de Estado que tanto prepararam e desejaram.


Só algum tempo depois do Golpe de 64 é que veio a luta armada contra o Regime Militar e Dilma Rousseff fez parte disso e quem fez esta luta armada era tanto quem tinha lutado, apoiado e simpatizado com a Rede da Legalidade liderada por Brizola quanto quem tinha lutado, apoiado e simpatizado com as Reformas Na Lei Ou Na Marra defendidas por Brizola, quer dizer, muito mais Na Marra porque Brizola propunha o rompimento com o PSD e com o Congresso (Câmara e Senado) e a aliança do Governo com o Povo e os Trabalhadores (partidos populares, sindicatos e associações).


Ora, é aí que se encontra o problema que permanece ainda hoje “atual”. Logo após as eleições de 2014 (ver no blog de 29/11/14 a postagem "Esta presidenta quer o diálogo!"- do discurso da vitória de Dilma -  e "Teoria Marxista", de Cristiane Rubão {9/c}) entrou em cena uma luta de vida ou morte do Congresso e da oposição contra o Governo Dilma e pelo leque, melhor, espectro das forças oposicionistas que se juntaram contra Dilma, indo do centro até à extrema-direita, ficou claro que a proposta dela, expressa no projeto sob o nome de Decreto 8.243 de 23 de maio de 2014 (ver:  http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Decreto/D8243.htm), trouxe de volta a ideia de Brizola de Governo em aliança com o Povo e os Trabalhadores e sem o Congresso, quer dizer, trouxe de volta aquilo que juntou o centro, PSD, com a extrema-direita, UDN, em 64 em apoio ao Golpe Militar.


Então, todo o processo político que se desencadeia durante as eleições e que explode logo após as eleições tem por origem este problema que permaneceu central durante toda a Guerra Fria, ou seja, quem tem o poder do Estado? As forças conservadoras do status quo ou as forças reformistas transformadoras da realidade existente? O poder do Estado pode sair das mãos das classes dominantes ou não pode sair das mãos das classes dominantes? O poder do Estado caindo nas mãos das classes dominadas condena à morte as classes dominantes ou avança para estabelecer melhores e mais aperfeiçoadas relações democráticas de convivência pacífica entre as classes? Enfim, o poder do Estado na Democracia é efetivamente exclusivo das forças conservadoras das classes dominantes ou as forças reformistas das classes dominadas também podem exercer o poder do Estado na Democracia? Enfim, só existe a Democracia das classes dominantes porque desde que surgiu no mundo ela foi um poder do Estado dos senhores sobre os escravos tal qual foi na Antiga Grécia? O problema que persiste é o de saber se o poder do Estado da Democracia só compatível com as classes dominantes e, assim, pertence a elas ou se o poder do Estado da Democracia também é compatível com as classes dominadas e pode ser exercido por elas? Então, no final das contas, tudo consiste em saber se este é um problema efetivamente anacrônico ou permanece um problema atual, ou seja, a atualidade admite ou não que as forças reformistas transformadoras da realidade existente exerçam efetivamente o poder do Estado da Democracia, logo, se trata também de saber no limite se efetivamente vivemos num mundo contínua transformação, mudança e mutação ou se, ao contrário, vivemos num mundo em contínua conservação, permanência e imutabilidade?


Tudo leva a crer, e para isto basta olhar ao redor e ver o que acontece no mundo desde a Queda do Muro, que o poder do Estado da Democracia é compatível com as forças reformistas transformadoras da realidade existente porque por toda parte os países que se apoderaram do poder do Estado sob o modelo do Estado Comunista estão dissolvendo seu Estadão numa Sociedade Civil Democrática. Então, o Brasil está na atualidade em condições de solucionar este problema de modo a superar tragédias inexoráveis e traumáticos males necessários porque está em condições de vir a afirmar que não existe mais a inexorabilidade das tragédias nem a necessidade dos males traumáticos tal como dizia Epicuro “viver na necessidade não é uma necessidade porque é permitido domar a necessidade” e a inexorabilidade, logo, podemos nos libertar das tragédias e dos males porque não são inexoráveis nem necessários.


É efetivamente isto que nos ensina o mundo atual em permanente mutação ou não é? Temos ou não a chance de superar em nosso país as tragédias e os males de Getúlio Vargas, de Jango, da Ditadura Militar, da Anistia, do Impeachment de Collor, do Mensalão, da Lava-Jato, do Réu Cunha presidindo a Câmara, da Presidente Dilma sendo submetida a Impeachment porque defendeu um Governo direto com a Sociedade Civil sem passar pela Câmara e o Senado?!


Parte da esquerda também se coloca contra Dilma querendo exercer direta e imediatamente este poder Democrático das forças reformistas transformadoras da realidade sem fazer aliança com o Governo e indo contra ele, tanto quanto as forças conservadoras, só que em raia própria e, desse modo, admitindo que a Democracia é de classes, logo, só quando as classes dominadas conquistarem o poder do Estado será possível apoiar o poder do Governo. Toda a esquerda do voto nulo caminha por aí. A outra parte é a dos experimentados da esquerda que assumem dizer que a tese da esquerda armada é esta da Democracia de classes, logo, para esta tese a Democracia é sempre uma ditadura de classes, quer dizer, Democracia das classes dominantes versus Democracia das classes dominadas sendo incompatível uma Democracia das classes dominadas que não seja uma Ditadura das classes dominadas (ver: http://www.folhapolitica.org/2013/05/nao-lutavamos-pela-democracia-mas-pela.html). Ora, é precisamente a possibilidade da Democracia ser compatível com um mundo em transformação, quer dizer, é precisamente a possibilidade de a Democracia ser um Valor Universal, como dizia Antonio Gramsci, que se trata. Noutras palavras, a proposta da Dilma, que depende do Congresso para ser implantada, não é perfeitamente compatível com o desenvolvimento da Democracia, para além das limitações de classes, de modo que se torne efetivamente um Valor Universal?



domingo, 10 de abril de 2016

A tragédia/castração é uma farsa?! O trauma/orgasmo é uma revelação?!




O espírito teórico que se torna livre em si mesmo se transforma em energia prática que sai do mundo dos mortos como vontade voltada contra o mundo que existe sem ele. Os corpos, as forças, os átomos, os espíritos teóricos ou as massas estão em queda em linha reta no vazio na mesma velocidade, que é a velocidade máxima e limite que possuem em queda no vazio, mas esta velocidade máxima e limite transforma as massas inerciais teóricas ou os espíritos teóricos livres em energias luminosas práticas que saem do mundo dos mortos e vão ao encontro umas das outras de modo que as diferenças relativas das massas entre si se tornam um sistema gravitacional.


Marx indica claramente a divisão entre Demócrito e Epicuro, que é uma divisão que continua entre Newton e Einstein, mas também entre Kant e Hegel, como uma divisão entre os partidários da positividade e os partidários do conceito. Para tomarmos Demócrito como ponto de partida parece que precisamos suprir muito mais lacunas do que se tomarmos Kant como ponto de partida, aliás, talvez, até venhamos a ser supridos em algumas de nossas lacunas relativas a Demócrito. A divisão que Marx aponta com clareza entre o ponto de vista positivo e o ponto de vista conceitual é uma divisão subjetiva que se realiza objetivamente porque ela tem início na subjetividade que quer se realizar objetivamente. Kant também parece ter clareza da divisão subjetiva entre os dois pontos de vista, mas, na sua época, o ponto de vista conceitual era o ponto de vista que tinha pendido para a metafísica e a crítica da metafísica que podia ser feita era a que pendia para o ponto de vista positivo. Estamos falando de peso e da gravidade relativa, quer dizer, da relação entre os dois lados de uma balança de acordo com o maior peso e gravidade de um lado e o menor peso e gravidade do outro, ou seja, como se diz ordinariamente nas análises das conjunturas políticas, estamos falando das correlações de forças. A afirmação do ponto de vista metafísico é a afirmação de um ponto de vista inteiramente subjetivo e não objetivo, quer dizer, é a afirmação de um ponto de vista não-físico e que se situa além do ponto vista físico, ou seja, é a plena afirmação da ideia ou do conceito como sendo aquilo que é verdadeiro, como a verdade exclusiva. A afirmação do ponto de vista positivo de Kant parte da crítica da metafísica, quer dizer, da crítica da subjetividade, da ideia ou do conceito como verdade exclusiva. A primeira coisa que a crítica da metafísica faz é um corte na potência da subjetividade, da ideia ou do conceito e, desse modo, ela perde a verdade exclusiva porque com o corte na sua onipotência subjetiva, ideal ou conceitual ela adquire a carência da potência da objetividade, do real ou da positividade, ou seja, com o corte na onipotência da subjetividade ou do conceito a crítica leva a subjetividade ou o conceito à impotência ou carência da coisa em si objetiva, real, positiva. De agora em diante a crítica restringe a potência possível da subjetividade ao acesso à coisa positiva, real, objetiva para si, quer dizer, restringe a potência possível da subjetividade ou do conceito ao sonhar com a coisa para si ou ao sonho que são as formas a priori (para si) da sensibilidade, o espaço e o tempo. E, ao mesmo tempo, amplia a potência possível da coisa em si ou da positividade de se manifestar como transe, embriaguez, alucinação, dever, imperativo que faz a subjetividade agir positivamente na efetivação para si do que supõe ser a coisa em si. Melhor: Se a potência possível do conceito ou subjetividade é a percepção sensível para si, quer dizer, exclusiva da coisa para si e nunca da coisa em si, então, quando a subjetividade ou conceito se dá conta de que não pode acessar subjetiva nem conceitualmente a coisa em si porque a coisa em si é imperceptível e insensível para a subjetividade e para o conceito, então, o sujeito e o conceito cegos, surdos, mudos, imperceptíveis e insensíveis, mas, ainda assim, subjetividade e conceituar, se lançam a inventar na prática a coisa em si possível como coisa para si.


A crítica da metafísica com o seu corte da coisa em si, com seu corte na carne, se submete à castração e, desse modo, não tendo mais a coisa em si se limita a acessar a coisa para si. E a coisa para si que pode perceber sensivelmente é aquilo que sua subjetividade pode conhecer, tem potência e poder de conhecer, enquanto que a coisa para si que não pode perceber sensivelmente é aquilo que sua subjetividade não pode conhecer, não tem potência nem poder de conhecer mas pode praticar, tem potência e poder de praticar, de desenvolver positiva e sensivelmente como se fosse efetivamente a coisa em si invisível e incognoscível. O castrado tem consciência de que seu conhecimento possível é conhecimento do sonho e de que sua prática possível é prática da sua castração, quer dizer, é prática da ilusão embriagadora para si de possuir a coisa em si.


A partir de Hegel volta a pesar e ter gravidade o ponto de vista da subjetividade ou do conceito, da ideia e com a potência da subjetividade, da ideia, do conceito de poder acessar e conhecer a coisa em si, porque agora a coisa em si é o conceito, a ideia, a subjetividade e de um modo objetivo, quer dizer, metafísico, porque tudo vem a ser alienação objetiva da ideia, da subjetividade, do conceito.


Os discípulos de Hegel, que recusam a metafísica absoluta, que recusam a ideia, o sujeito e o conceito absolutos, querem manter o conceito aceitando a física relativa, aceitando a matéria, a energia, o sujeito e o conceito relativos. Eles fazem um corte com a castração oposta à do ponto de vista da positividade, porque, para eles, a onipotência do ponto de vista do conceito corresponde a uma castração da realização positiva do conceito, corresponde a restringir a subjetividade a viver fora do mundo, fora da vida, a viver inteiramente ensimesmada e sem vir a ser, sem nascer, enfim, inteiramente aprisionada no mundo dos mortos. Este corte dos discípulos de Hegel corresponde a uma cesariana, a uma ruptura com a castração ou o aborto que impede o nascimento, corresponde um compromisso com o nascimento da subjetividade e do conceito na positividade, na existência de maneira que se torna possível não só conhecer a coisa em si, mas também praticar a coisa em si porque a coisa em si é o conceito que nasce e se realiza efetivamente na positividade, na existência. Desse modo, a subjetividade e o conceito não só nascem na matéria, mas também são eles mesmos a matéria nascida e conhecem e praticam a si mesmos como matéria e coisa em si.


Mas, a partir de Schopenhauer o peso e a gravidade do ponto de vista positivo ficam reforçados por meio da recusa do conhecimento da coisa para si, por meio da recusa do conceito e da subjetividade para si. O ponto de vista positivo de Schopenhauer só aceita prática como ponto de vista verdadeiramente positivo e, desse modo, é a arte que ocupa o espaço e o tempo da embriagadora criação de ilusão para si de possuir a coisa em si. Mais ainda o ápice dessa prática artística se dá quando o ponto de vista positivo aceita o apaziguamento budista da extirpação do desejo, quer dizer, quando o ponto de vista positivo aceita que a obra prima da criação ilusória para si de possuir a coisa em si é a prática da aceitação para si da castração como sendo a posse da coisa em si, ainda que, evidentemente, no mínimo, seja a da perda de alguma coisa em si. E Nietzsche, como discípulo de Schopenhauer, vai se voltar contra esse niilismo da prática positiva da castração que Schopenhauer considera a obra prima desse ponto vista da positividade. Nietzsche vai se ater à prática positiva como embriagadora criação da ilusão para si de possuir a coisa em si, logo, mesmo que se trate de uma ilusão, esta ilusão é resultante duma atividade criadora embriagadora, esta embriagadora criação de ilusão para si parece estar possuída efetivamente por uma coisa em si que representa a vontade de potência da coisa em si, a vontade de poder possuída pela coisa em si incognoscível, insensível. Carregar e cultuar a coisa em si como coisa possuída para si, quer dizer, cultuar o dionisíaco, que carrega o pênis (ou será o falo?), durante seus rituais ou orgias de castração, é aqui afirmar esta embriagadora criação de ilusão para si de possuir e de ser possuído pela vontade de potência da coisa em si incognoscível, esta embriagadora criação da ilusão de praticar o orgasmo, mesmo e apesar da castração da coisa em si.



Apareceu aí algo sintomático. A tragédia da castração apareceu naqueles que defendem a prática criadora da ilusão, que defendem a moral do dever, que defendem a arte, que defendem a mentira. O trauma e orgasmo da expulsão da coisa em si, do nascimento, da cesariana acompanhou aqueles que defendem o conhecimento da coisa em si e a prática sexual de conhecimento da coisa em si, a prática criadora da realidade da coisa em si, que defendem a lei do prazer, que defendem a ciência, que defendem a verdade.


 A tragédia/castração é uma farsa?! O trauma/orgasmo é uma revelação?!


Porém, parece que esquecemos das correlações de forças, não é mesmo? Em parte, não esquecemos, porque só correlacionamos os pontos de vista do conceito e da positividade, mas, por outro lado, as diferenças entre as forças conceituais e as forças positivas foram vistas como diferenças entre potências sexuais afirmadas e potências sexuais castradas. E, desse modo, a presença da funcionalidade da potência sexual e a ausência da funcionalidade da potência sexual estabelece uma diferença nas análises conjunturais das correlações de forças, mas não só porque um dos lados pode crescer e se multiplicar muito mais rápida e facilmente e sim porque um dos lados pode tanto conhecer quanto praticar o processo de criação da própria coisa em si, ou seja, um dos lados, com a presença da funcionalidade da potência sexual, parece possuir um diferencial similar, em tudo e por tudo, à alavanca de Arquimedes. Então, por mais que as potências sexuais castradas se configurem como a prática positiva dos capitalistas, seu superdesenvolvimento como capital só é possível por meio do domínio e exploração das potências sexuais afirmadas, configuradas como a prática conceitual/criativa dos trabalhadores, basta a pura e simples ruptura da prática conceitual criativa dos trabalhadores com a dominação e a exploração de suas potências sexuais afirmadas para, ao mesmo tempo, socializar e suprimir o superdesenvolvimento do capital, ainda que precisamente esta pura e simples ruptura, emancipação ou libertação dos trabalhadores seja precisamente o que é mais raro e difícil de acontecer porque a ideologia dominante e exploradora influencia as consciências no sentido de perceber as correlações de forças exclusivamente como correlações de forças positivas e não como correlações de forças conceituais. E o que é ainda pior, não mais a ideologia, mas sim a própria dominação e exploração das potências sexuais afirmadas pelas potências sexuais castradas coloca sob poder destas últimas a percepção e o acúmulo das forças conceituais criativas como capital, ou seja, estas últimas percebem que podem se assenhorear da alavanca e se elevar acima das potências sexuais afirmadas como super-homens que vem a ser sucumbindo as forças humanas de trabalho/as potências sexuais afirmadas. 



quarta-feira, 6 de abril de 2016

Mecânica de Demócrito a Newton e Relatividade de Epicuro a Einstein




Inércia ou morte imortal. Saída da inércia ou vida mortal.


Os físicos desenvolveram primeiro a mecânica como explicação. Desse modo, o principal movimento é o de inércia e é um estado no qual um corpo ou uma força permanece até seu movimento ser alterado pela ação de outro corpo ou de outra força. Mas, de que movimento ou estado vem esta outra força ou corpo? Da inércia? Mas, então como foi que um estado de inércia se contrapôs a outro estado de inércia? Como foi que um estado de inércia alterou outro estado de inércia? Um estado de inércia já estava alterado? Então, como ele ficou alterado? Ambos os estados de inércia já estavam previamente destinados à alteração um do outro porque estavam dispostos de forma a se chocar um com o outro, mas aí, então, eram mesmo estados de inércia ou, na verdade, já eram estados alterados? De todo modo, de acordo com a mecânica, é a partir do estado alterado que se sai da inércia e o mundo vem a ser. A tragédia de Édipo Rei representa bem esta concepção física da mecânica.



Os físicos introduziram depois a origem do estado alterado no próprio movimento de inércia, de modo que ele se altera por si mesmo, logo, não é mais propriamente um movimento mecânico. Na antiguidade este movimento de saída do estado de inércia foi concebido como sendo um clinâmen, quer dizer, um desvio ou declinação da queda em linha reta na mesma velocidade no vazio devido ao peso do corpo ou da força. Já no século XX, Einstein concebeu que, na queda em linha reta no vazio na mesma velocidade, a massa, devido à velocidade (da luz) igual de queda para toda e qualquer massa, se transforma ou se altera de massa em energia, em luz. Pronto, a energia foi roubada da massa e o mundo veio a existir, ou seja, agora, é a tragédia de Prometeu Acorrentado que representa bem a concepção física da relatividade.



Mãe Natureza: Amor ou Vida Mortal-e-Mortalidade vital?!




A Mãe Natureza que tudo dá. Dá a vida, o espaço e o tempo para viver, alimento, abrigo, livre ir e vir, enfim, tudo até a chegada da morte que ela também dá. Ela que tudo dá também tudo tira porque se é dela que tudo vem também é para ela que tudo volta. Ela nos dá todo bem e nos tira todo bem. E o que é para nós todo o mal? O bem do alimento que recebemos para viver pode ser também o bem da vida  retirado do alimento para que vivamos, logo, o bem que nos alimenta também é a morte do que nos alimenta. A Mãe Natureza nos dá a vida junto com a morte, então algo morre para que vivamos e nós morremos para que algo viva. Sendo assim tudo que dá por um lado é tirado pelo outro lado, então, a Mãe Natureza tanto tudo dá e tudo tira, quanto nada dá e nada tira, porque tudo transforma. “Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” e tudo se transforma é “o vir a ser” que, pura e simplesmente, traduz a condição da Mãe Natureza, ou seja, “O Eterno Retorno” do “criado” e do “perdido”. Vida-e-Morte/Bem-e-Mal também traduz a condição da Mãe Natureza e, desse modo, o fruto, da vida e da morte bem como do bem e do mal, nunca esteve proibido porque sempre foi o fruto livremente estabelecido pela Mãe Natureza. Desse modo também toda a existência da Mãe Natureza é “toma lá, dá cá”, é troca, é unidade da diversidade, quer dizer, é unidade da vida e da morte, é o Tao do yin/yang, é unidade do trabalho vivo/morto, é a moeda, é o mercado, é a comum-unidade, logo, a comunidade da vida mortal/mortalidade vital. O paraíso é o inferno!!! E vice-versa!!!


A Mãe Natureza tudo dá porque dá a si mesma e, assim, ela é a vida que dá vida, mas a Mãe Natureza dando a si mesma tudo tira porque, assim, ela é a vida que, dando a si mesma para a morte, tudo tira, inclusive a si mesma. A vida da própria Mãe Natureza tem um começo e tem um fim com a morte da própria Mãe Natureza. Então, a própria Mãe Natureza tem vida mortal, quer dizer, sua Natureza vive através do morrer da sua Natureza, e também tem morte imortal, ou seja, sua vida mortal chega ao fim quando sua Natureza não tem mais como viver do morrer da sua Natureza e sua Natureza morre do morrer de sua Natureza, logo, sua Natureza entra na morte imortal da sua Natureza. O fim da vida mortal da Mãe Natureza é o fim do tudo se transforma, o fim do vir a ser, o fim do eterno retorno da Mãe Natureza porque também é a entrada no nada se cria e nada se perde, a entrada no não-ser, a entrada no eterno sem retorno da Mãe Natureza. Ora, mas a que Mãe Natureza nos referimos? A esta Mãe Natureza que compreende todo o Cosmo, todo o Universo, a esta Mãe Natureza que é o Todo. Então, nos referimos à dissolução da Mãe Natureza, do Cosmo, do Universo, do Todo em Nada. Mas, o que morre imortalmente permanece morrendo imortalmente, então, é preciso que, em outro lugar, para além do Nada, algo venha a viver mortalmente para que a morte permaneça imortalmente consumindo mortalmente a vida. Isso significa que outra Mãe Natureza, outro Cosmo, outro Universo, outro Todo surge ou nasce com tudo se transformando, tudo vindo a ser, tudo eternamente retornando?! Então, isso significa que existe uma infinidade de Mães Naturezas, de Cosmos, de Universos, de Todos de modo que a infinitude da morte imortal é a base, o fundamento e o princípio que sustenta a permanência da finitude da vida mortal, a permanência da finitude do vir a ser, a permanência da finitude do eterno retorno.


O problema então do mundo visível que é este da Mãe da Natureza que vemos e nos encontramos e que nele entramos e dele saímos com ela é que ela, a Mãe Natureza, vem do mundo invisível, ou seja, sai para o mundo visível como vida mortal ou finitude que justifica e explica a infinitude da morte imortal do mundo invisível.


O que é verdadeiro? Que a Mãe Natureza dá vida, espaço e tempo, abrigo para o ser humano viver da destruição das outras espécies e dos recursos naturais de um modo imperialista que acelera o processo que ruma para a extinção da Mãe Natureza? Acabando com todas as outras espécies e todos os recursos naturais só resta ao ser humano viver da destruição de si mesmo e, assim, se igualar à Mãe Natureza que vive da destruição de si mesma?! Que o ser humano vive, antes de tudo, da destruição de si mesmo, ou seja, antes de destruir as outras espécies e todos os recursos naturais, ele está destruindo a si mesmo de modo que ele acumula uma enorme destruição de outras espécies e de todos os recursos naturais restringindo o acesso e destruindo parte considerável da sua própria espécie humana?! Se a resposta for positiva para a primeira possibilidade, a de que o ser humano é o destruidor imperialista, então a solução é combater o destruidor imperialista e contra o ser humano e a favor da Mãe Natureza tratar de destruir o destruidor imperialista, mas, nesse caso, esta resposta assume a outra possibilidade porque através dela o ser humano vive da destruição de si mesmo e se iguala à Mãe Natureza; finalmente, a última possibilidade, a de que a atividade destruidora do ser humano esteja voltada prioritariamente para si mesmo e, em seguida, para a Mãe Natureza, levanta a possibilidade de que controlando e desviando a atividade destruidora do ser humano de si mesmo para as outras espécies e recursos naturais da Mãe Natureza seja possível sair da prioridade da coleta e da caça para a prioridade do cultivo e da criação?! Mas, e o fogo?! O fogo não é por definição a vida mortal que consome a mortalidade vital até chegar ao fim, quer dizer, à morte imortal?! E o uso do fogo não é o instrumento privilegiado da espécie humana?! Não é por meio dele que ela se destaca das demais espécies e se torna agente que transforma todos os recursos naturais e as demais espécies em mortalidade vital para a vida mortal da sua própria espécie humana?! Não é por meio do uso do fogo que a espécie humana diante do Todo se assume como a Parte chamada de Pai Trabalho frente à outra Parte chamada de Mãe Natureza?! Não é por meio do uso do fogo que o Pai Trabalho se afirma como morte imortal para a Mãe Natureza que se afirma vida mortal?! Não é por meio do fogo que a espécie humana se assume como a atividade do Trabalho que tudo transforma da materialidade da Natureza que nada cria e nada perde?!


O Paraíso é o Inferno?! Não!!! O Inferno é o Paraíso?! Não!!! O quê então?!?!



terça-feira, 5 de abril de 2016

O Paraíso é o Inferno?! Não!!! O Inferno é o Paraíso?! Não!!! O quê então?!?!




A Mãe Natureza que tudo dá. Dá a vida, o espaço e o tempo para viver, alimento, abrigo, livre ir e vir, enfim, tudo até a chegada da morte que ela também dá. Ela que tudo dá também tudo tira porque se é dela que tudo vem também é para ela que tudo volta. Ela nos dá todo bem e nos tira todo bem. E o que é para nós todo o mal? O bem do alimento que recebemos para viver pode ser também o bem retirado do alimento retirado da vida para que vivamos, logo, do bem que nos alimenta também é a morte do que nos alimenta. A Mãe Natureza nos dá a vida junto com a morte, então algo morre para que vivamos e nós morremos para que algo viva. Sendo assim tudo que dá por um lado é tirado pelo outro lado, então, a Mãe Natureza tanto tudo dá e tudo tira, quanto nada dá e nada tira, porque tudo transforma. “Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” e tudo se transforma é “o vir a ser” que, pura e simplesmente, traduz a condição da Mãe Natureza, ou seja, “O Eterno Retorno” do “criado” e do “perdido”. Vida-e-Morte/Bem-e-Mal também traduz a condição da Mãe Natureza e, desse modo, o fruto, da vida e da morte bem como do bem e do mal, nunca esteve proibido porque sempre foi o fruto livremente estabelecido pela Mãe Natureza. Desse modo também toda a existência da Mãe Natureza é “toma lá, dá cá”, é troca, é unidade da diversidade, quer dizer, é unidade da vida e da morte, é o Tao do yin/yang, é unidade do trabalho vivo/morto, é a moeda, é o mercado, é a comum-unidade, logo, a comunidade da vida mortal/mortalidade vital. O paraíso é o inferno!!! E vice-versa!!!


A Mãe Natureza tudo dá porque dá a si mesma e, assim, ela é a vida que dá vida, mas a Mãe Natureza dando a si mesma tudo tira porque, assim, ela é a vida que, dando a si mesma para a morte, tudo tira, inclusive a si mesma. A vida da própria Mãe Natureza tem um começo e tem um fim com a morte da própria Mãe Natureza. Então, a própria Mãe Natureza tem vida mortal, quer dizer, sua Natureza vive através do morrer da sua Natureza, e também tem morte imortal, ou seja, sua vida mortal chega ao fim quando sua Natureza não tem mais como viver do morrer da sua Natureza e sua Natureza morre do morrer de sua Natureza, logo, sua Natureza entra na morte imortal da sua Natureza. O fim da vida mortal da Mãe Natureza é o fim do tudo se transforma, o fim do vir a ser, o fim do eterno retorno da Mãe Natureza porque também é a entrada no nada se cria e nada se perde, a entrada no não-ser, a entrada no eterno sem retorno da Mãe Natureza. Ora, mas a que Mãe Natureza nos referimos? A esta Mãe Natureza que compreende todo o Cosmo, todo o Universo, a esta Mãe Natureza que é o Todo. Então, nos referimos à dissolução da Mãe Natureza, do Cosmo, do Universo, do Todo em Nada. Mas, o que morre imortalmente permanece morrendo imortalmente, então, é preciso que, em outro lugar, para além do Nada, algo venha a viver mortalmente para que a morte permaneça imortalmente consumindo mortalmente a vida. Isso significa que outra Mãe Natureza, outro Cosmo, outro Universo, outro Todo surge ou nasce com tudo se transformando, tudo vindo a ser, tudo eternamente retornando?! Então, isso significa que existe uma infinidade de Mães Naturezas, de Cosmos, de Universos, de Todos de modo que a infinitude da morte imortal é a base, o fundamento e o princípio que sustenta a permanência da finitude da vida mortal, a permanência da finitude do vir a ser, a permanência da finitude do eterno retorno.


O problema então do mundo visível que é este da Mãe da Natureza que vemos e nos encontramos e que nele entramos e dele saímos com ela é que ela, a Mãe Natureza, vem do mundo invisível, ou seja, sai para o mundo visível como vida mortal ou finitude que justifica e explica a infinitude da morte imortal do mundo invisível.


O que é verdadeiro? Que a Mãe Natureza dá vida, espaço e tempo, abrigo para o ser humano viver da destruição das outras espécies e dos recursos naturais de um modo imperialista que acelera o processo que ruma para a extinção da Mãe Natureza? Acabando com todas as outras espécies e todos os recursos naturais só resta ao ser humano viver da destruição de si mesmo e, assim, se igualar à Mãe Natureza que vive da destruição de si mesma?! Que o ser humano vive, antes de tudo, da destruição de si mesmo, ou seja, antes de destruir as outras espécies e todos os recursos naturais, ele está destruindo a si mesmo de modo que ele acumula uma enorme destruição de outras espécies e de todos os recursos naturais restringindo o acesso e destruindo parte considerável da sua própria espécie humana?! Se a resposta for positiva para a primeira possibilidade, a de que o ser humano é o destruidor imperialista, então a solução é combater o destruidor imperialista e contra o ser humano e a favor da Mãe Natureza tratar de destruir o destruidor imperialista, mas, nesse caso, esta resposta assume a outra possibilidade porque através dela o ser humano vive da destruição de si mesmo e se iguala à Mãe Natureza; finalmente, a última possibilidade, a de que a atividade destruidora do ser humano esteja voltada prioritariamente para si mesmo e, em seguida, para a Mãe Natureza, levanta a possibilidade de que controlando e desviando a atividade destruidora do ser humano de si mesmo para as outras espécies e recursos naturais da Mãe Natureza seja possível sair da prioridade da coleta e da caça para a prioridade do cultivo e da criação?! Mas, e o fogo?! O fogo não é por definição a vida mortal que consome a mortalidade vital até chegar ao fim, quer dizer, à morte imortal?! E o uso do fogo não é o instrumento privilegiado da espécie humana?! Não é por meio dele que ela se destaca das demais espécies e se torna agente que transforma todos os recursos naturais e as demais espécies em mortalidade vital para a vida mortal da sua própria espécie humana?! Não é por meio do uso do fogo que a espécie humana diante do Todo se assume como a Parte chamada de Pai Trabalho frente à outra Parte chamada de Mãe Natureza?! Não é por meio do uso do fogo que o Pai Trabalho se afirma como morte imortal para a Mãe Natureza que se afirma vida mortal?! Não é por meio do fogo que a espécie humana se assume como a atividade do trabalho que tudo transforma da materialidade da natureza que nada cria e nada perde?!



segunda-feira, 4 de abril de 2016

Impeachment desde sua invenção pelos trágicos gregos: Sófocles, Ésquilo e Eurípedes




Como se dá um Impeachment legítimo? Desde a Antiguidade que, na Grécia, foi feita a configuração do Impeachment legítimo na, atualmente, muitíssimo famosa, tragédia de “Édipo Rei”.


O processo jurídico do Impeachment começa com a resposta do Oráculo ao ser consultado a respeito do problema da Peste que atinge Tebas. Quando o Oráculo responde que a Peste é consequência do ato de alguém que desonrou e manchou Tebas com crime de sangue, então o Rei Édipo estabelece a penalidade jurídica do ostracismo (banimento ou exílio) para o culpado pela conspurcação. Em seguida, dá início a um processo de investigação jurídica empírica com busca de testemunhas e provas para descobrir o culpado pela conspurcação e, ao mesmo tempo, solicita nova consulta ao Oráculo para poder avançar na investigação jurídica empírica. Édipo chega a suspeitar duma conspiração golpista do mensageiro quando ouve a resposta de Creonte, seu tio, que enviou para consultar o Oráculo. Mesmo assim, como estadista, permanece firme no rumo do processo jurídico com a investigação empírica que está em suas mãos conduzir. E é com este seu poder de condução investigativa que irá descobrir que ele próprio, Édipo, é o culpado pela conspurcação de Tebas. Se descobre culpado e responsável e aceita e aplica sobre si mesmo a pena que estabeleceu. Além disso, se cega, ao se conscientizar que, por melhor que seja, sua percepção sensível, sua luz sensível ofusca e obscurece, em lugar de iluminar e viabilizar, o seu conhecimento de si mesmo, da sua subjetividade e considera que, se antes tivesse recorrido à acuidade do espírito ou à luz da consciência de si, melhor, do conhecimento de si mesmo, de sua própria subjetividade, então, talvez, pudesse não ter sido tão irresponsável e dominado tão instintiva e inconscientemente por suas ações sensíveis, quer dizer, talvez, como sujeito, tivesse podido dominar os seus sentidos e não ficar reduzido à condição de mero objeto dominado e conduzido por seus sentidos. Freud que tornou famosíssimo o chamado “Complexo de Édipo” interpreta que o ato de furar os olhos de Édipo é um modo de amenizar e tornar artístico o ato real dele: Castrou-se!


Mas, a tragédia de “Prometeu Acorrentado” trata daquilo que pode ser considerado um Impeachment ilegítimo e que, como gestação, prepara o surgimento de um Impeachment legítimo. Se, na tragédia de Édipo, vemos aquilo que, tomando de empréstimo uma expressão filosófica, é “um processo objetivo sem sujeito”, já na tragédia de Prometeu vemos, ao contrário, o “processo do sujeito com um objetivo”. O Oráculo que, na tragédia de Édipo, tudo prevê, mas, ao mesmo tempo, só revela de forma enigmática, aparece na tragédia de Prometeu revelando tudo de forma direta porque ele é o próprio Prometeu. E na tragédia o Oráculo é aquele com a capacidade de fazer o seu próprio destino precisamente por ser o sujeito da tragédia. Porém, a tragédia de Prometeu é aquela que faz do sujeito da tragédia, o Oráculo, objeto e, por isso, é aquela que nos permite aproximar do conhecimento do sujeito presente na tragédia. No início da peça Prometeu é acorrentado, pelos mensageiros de Zeus, a uma rocha sobre um abismo no Cáucaso e ele já declara para Hermes: “saiba que eu não trocaria a minha miséria pela tua escravidão. Amo mais estar ligado a esta rocha do que ser o mensageiro fiel de Zeus, teu pai! ”. A peça continua com Prometeu contando, em segredo, a seus amigos tudo que aconteceu e que ainda virá a acontecer com ele e com Zeus. Resumindo, porque o melhor é ler e fruir a tragédia, Zeus corresponde a Laio, o pai de Édipo, porque ele nos informa que será derrubado por seu filho, Herácles. Ora, Prometeu criou a humanidade com o húmus da Terra e soube que Zeus queria a destruição da raça humana, então, para que esta pudesse se defender de Zeus, Prometeu roubou o fogo do Céu e o deu à humanidade e esta fazendo uso do fogo criou um mundo próprio, se diferenciando dos demais animais ao estabelecer territórios defendidos pelo fogo e por armas, habitações, meios de transporte etc. produzidos com auxílio do fogo, enfim, ficou em condições de se defender dos ataques dos raios de Zeus. Desse modo, passamos a suspeitar que Laio possa ter tentado fazer algo parecido com o que tentou Zeus e, talvez, também possa ter causado sofrimento a um benfeitor da humanidade como Zeus causou a Prometeu. Édipo é aquele que, tal qual Herácles, o filho de Zeus, vai realizar efetivamente as previsões do Oráculo, quer dizer, é aquele que liberta as previsões do Oráculo para a realidade efetiva, logo, do mesmo modo que faz Herácles libertando Prometeu e, assim, realizando efetivamente suas previsões oraculares. O Impeachment de Laio foi sua morte pelo filho Édipo e o de Zeus é o seu dobrar-se à vontade de seu filho Herácles libertando Prometeu. Édipo, sem saber, e Herácles, com saber, estão defendendo o sujeito oracular e a raça humana. Golpe foi o que aconteceu a Prometeu com os sofrimentos impostos por Zeus e Impeachment propriamente dito foi o que Zeus veio a sofrer ao se dobrar à vontade de Herácles.


Os historiadores atuais parecem ter feito uma revisão histórica do golpe de 64, de modo que um processo que antes era visto quase que exclusivamente como militar passou a ser visto como processo civil-militar. E isto é algo muito curioso e sintomático do que acontece na atualidade onde existe a enorme suspeita de uma tentativa de golpe civil por meio do uso do instrumento jurídico do Impeachment. Ora, o que nos ensinam os trágicos gregos que inventaram o Impeachment muito tempo antes de nossa época?



Sabemos que, depois do golpe de 64, muitos se insurgiram, foram presos, torturados, mortos, exilados e soltos até que ficou combinado o processo de Impeachment dos militares e de anistia aos insurgentes, aos presos, aos mortos, aos exilados e soltos. Mas, isto foi um processo de Impeachment proposto, combinado e conduzido pelos próprios militares tal qual aquele feito por Édipo. Nesse processo veio à tona o novo sindicalismo e o PT, nascidos no interior da ditadura, e também a anistia, quer dizer, veio à tona a organização e liderança dos trabalhadores tal qual na tragédia grega veio à tona Herácles e foram libertos e anistiados os insurgentes tal qual foi liberto e anistiado o insurgente Prometeu. Porém, terão os historiadores atuais percebido que o golpe civil-militar que tinha por tônica o poder militar pode continuar se perpetuando, mas, agora, tendo por tônica o poder civil? Que será que querem agora? Um processo de Impeachment que, similar a uma farsa, foi retratado pela tragédia “As Bacantes”, de Eurípedes? Lá o Rei foi ludibriado pelo Deus Dionísio e vestido de mulher foi à festa das bacantes onde foi morto por sua própria mãe em transe. Agora, é uma mulher que está investida da Presidência e que, ludibriada pelas armadilhas dionisíacas dum indevido processo jurídico de Impeachment, querem conduzir ao bacanal dos parlamentares para ser golpeada por sua própria mãe, a democracia em transe, quer dizer, por estar possuída pelas forças dionisíacas da corrupção e do poder, quer dizer, da época da passagem da tragédia para a farsa.