segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sem democracia-emancipação política não existe passagem para o comunismo-emancipação humana {5}


SEM DEMOCRACIA OBRIGATÓRIA OU EMANCIPAÇÃO POLÍTICA NÃO EXISTE PASSAGEM PARA O SOCIALISMO E O COMUNISMO OU PARA A EMANCIPAÇÃO HUMANA




O primeiro texto abaixo foi publicado na Assembléia Popular e o segundo foi uma resposta ao mesmo que, até agora, não foi publicada na Assembléia Popular. Eu o posto aqui, porque não existe moderação. É preciso reconhecer, ainda que com atraso (14:09 de 01/10/2014): ontem, às 21:50 o moderador, informando ter havido um problema técnico, publicou o segundo texto, a resposta, na Assembléia Popular.


SEM SAÚDE, EDUCAÇÃO, MORADIA, TRANSPORTE:
NÃO VAI TER VOTO!

Mais uma eleição chegando e, como em tantas outras, os políticos renovam
suas promessas de saúde,educação, moradia,transporte e, pasmem,
segurança. Mas o que a população vê a cada governo eleito é o desmonte da
saúde e o fechamento de várias escolas. O transporte continua um caos com
aumentos absurdos das passagens, que beneficia apenas os empresários
deste ramo. A população de rua aumenta assustadoramente por falta de
moradia e cerca de 35 mil famílias foram expulsas de suas casas por
causa da Copa do Mundo,aqui no estado. O que prevalece é o conchavo dos
governos com as grandes empreiteiras que dominam o mercado imobiliário.

Em junho de 2013,uma série de protestos tomou as ruas do Brasil,pois os
trabalhadores não aguentavam mais tanto descaso com as nossas
necessidades. Desde então, os governos vêm reprimindo com violência e
criminalizando,com apoio da grande mídia golpista, aqueles que
justamente protestam contra a roubalheira e corrupção que levam ao
sofrimento e morte do nosso povo.

O SUS – Sistema Único de Saúde – fruto da luta de movimentos sociais e
profissionais,nunca funcionou plenamente,pois cada governo de turno se
empenha em desmontá-lo pelo sucateamento e privatização,favorecendo os
planos de saúde. Somente 3,7% do PIB(riqueza total produzida no país)são
investidos em saúde,mas a maior parte da população só tem acesso ao
atendimento público.Essa política perversa tem causado muitas mortes no
SUS.

No Rio de Janeiro,Cabral fechou hospitais e demoliu o IASERJ,causando a
morte dos 15 pacientes graves. Pezão, seu herdeiro,segue a mesma
política. Dilma quer privatizar os hospitais universitários com a
EBSERH(Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).Clínicas da família,
UPAs e emergências hospitalares estão sendo geridas por
O.S.(Organizações Sociais)que nada mais são que empresas que administram
as unidades de saúde com dinheiro público,que por não ser devidamente
investido e por causa da corrupção,leva à precarização desses serviços.
Não podemos esquecer os escândalos de superfaturamento na compra de
ambulâncias,desperdício de medicamentos,desvio de verba,falta de
equipamentos,materiais e de pessoal etc.
Em outubro,vamos dar uma resposta aos parasitas que se escondem atrás
das coligações partidárias eleitoreiras,que já estão ou querem assumir o
poder.ELEIÇÃO É FARSA:o povo vota,mas quem elege são as grandes empresas
que financiam várias campanhas eleitorais para garantirem seus
privilégios.Além disso,a urna eletrônicanão é garantia de eleição
limpa,já que pode ser facilmente fraudada.

NÃO VOTE! LUTE POR SEUS DIREITOS!

PELO FIM DO VOTO OBRIGATÓRIO!

POR UM SUS 100% PÚBLICO E DE QUALIDADE!

PROTESTAR NÃO É CRIME! VEM PRA RUA!

MUDI –MOVIMENTO DE MORADORES E USUÁRIOS EM DEFESA DO IASERJ/SUS
e-mail: mudiaserj@... e facebook

FIST-FRENTE INTERNACIONALISTA DOS SEM TETO
e-mail: fist17@... e facebook



PELO FIM DA DEMOCRACIA OBRIGATÓRIA?!?!


Qual a defesa dos trabalhadores se a democracia for facultativa?! Se a democracia não está correspondendo ao que queremos, então nós descartamos a democracia?! Para se defender da lei da oferta e da procura, da lei do mercado, os trabalhadores precisam apenas Lutar por seus Direitos?! Mas, sem democracia, sem estado de direito, existem ou são reconhecidos os Direitos do Trabalhadores?! Por quem?! Pela Sociedade Civil Capitalista?!


Ora, os trabalhadores só limitaram a jornada de trabalho quando conquistaram a lei da redução da jornada de trabalho, por exemplo, quando ficou estabelecida por lei a jornada de dez horas de trabalho por dia. E a conquista dessa lei se deveu ao voto naqueles que por ela lutaram e nela votaram no legislativo. Os trabalhadores não precisaram chegar ao executivo para conquistar a lei. Eles precisaram sim foi de eleger representantes e de conseguir aliados para conquistar a lei da jornada de trabalho de dez horas por dia.


Marx dizia que a lei da jornada de trabalho de dez horas tinha um significado muito superior ao que supõe a vã filosofia e que era o fato dela ser claramente a vitória de um princípio sobre outro princípio, a vitória do princípio da previsão social da economia operária sobre o princípio da incerteza da economia política da classe média. A jornada de trabalho obrigatoriamente limitada versus a jornada de trabalho anarquicamente ilimitada. A obrigatoriedade social versus o capricho da livre-iniciativa. O caráter obrigatório, previsível e social versus o caráter facultativo, incerto e antissocial. A economia política da classe média é dominante na Sociedade Civil Capitalista duma maneira natural de modo que a lei da oferta e da procura se encontra nela como uma lei natural, uma lei que funciona por si mesma e que não deve ser impedida no seu livre fluxo. Já a economia operária sai da condição de dominada na Sociedade Civil Capitalista duma maneira artificial de modo que a lei da redução da jornada de trabalho se encontra nela como uma lei social, uma lei que funciona por meio da intervenção do Estado(ou da emancipação política) impedindo o fluxo da vontade livre e sem limites (a desmedida, diriam os gregos antigos, ou também se diz: a loucura) dos capitalistas.


E a vitória desse princípio da previsão social da economia operária é também a vitória da emancipação política, quer dizer, da democracia que é a ferramenta, instrumento ou meio que os trabalhadores usam para mudar o mundo da Sociedade Civil Capitalista . Sem a democracia, sem a emancipação política, sem o Estado de direito os trabalhadores não tem direitos numa Sociedade Civil cuja lei natural os considera livres apenas para o dever de trabalhar. E se não encontram trabalho o que a lei natural da oferta e da procura lhes proporciona? A incerteza! Podem sobreviver sem trabalhar? Como? Mendigando? Se prostituindo? Roubando? Como?!?!


Não se trata exclusivamente de obter o governo dos trabalhadores, mas sim do caminho para chegar lá. Se trata de eleger aqueles que defenderão a redução da jornada de trabalho, os sindicatos livres, a previdência social quando não há emprego, quando há doença e, principalmente, quando não se quer mais viver apenas no dever de trabalhar, quando se quer viver no direito de não trabalhar mais e mesmo no direito puro e simples de não trabalhar. Ou seja, se trata de desenvolver o princípio da previsão social da prole social e humana, do proletariado que não se reduz mais ao mero e exclusivo dever de trabalhar imposto pela lei facultativa da oferta e da procura.


VOTE SIM!


PELO VOTO OBRIGATÓRIO!


PELA DEMOCRACIA OBRIGATÓRIA!


PELA EMANCIPAÇÃO OU LIBERTAÇÃO POLÍTICA!


VOTE NA SUA LUTA!


VOTE NA LUTA PELOS SEUS DIREITOS!


VOTE NO RECONHECIMENTO DOS SEUS DIREITOS!


VOTE EM CANDIDATOS A DEPUTADOS ESTADUAIS E FEDERAIS COMPROMETIDOS


COM O SEU PROGRAMA!!


COMPROMETA UM CANDIDATO A SENADOR COM SEU PROGRAMA E VOTE NELE!


COMPROMETA CANDIDATOS COM O SEU PROGRAMA E VOTE NELES VOTANDO EM


SEU PROGRAMA!


LUTE E VOTE NOS SEUS DIREITOS, NO SEU PROGRAMA DE PREVISÃO SOCIAL!!!

domingo, 28 de setembro de 2014

A teoria na prática é outra?!?! {4}



Anteontem fui aceito num grupo fechado do Facebook, assim que entrei percebi que o meu feed de notícias ficou cheio das mensagens trocadas entre os membros do grupo. Tentei entrar em contato com os administradores do grupo e, não encontrando onde fazer isso, recorri à confecção duma mensagem ali mesmo no feed de notícias para quem me admitiu no grupo. Perguntei se não havia um meio técnico de resolver o problema porque não queria que as pessoas de fora do grupo tivessem acesso àquelas mensagens do grupo fechado. (Posteriormente fui informado que só as pessoas do grupo fechado viam aquele monte de mensagens do grupo).


E foi aí que lembrei da relação disso com a emancipação política, com a separação entre cidadania e liberdade política ou pertencimento ao Estado e civilidade e liberdade religiosa ou pertencimento à Sociedade Civil. Com a emancipação política o Estado se libertou da religião, do monopólio da religião e a Sociedade civil conquistou a liberdade religiosa, o Estado se libertou da servidão, do monopólio da servidão (passou a bradar a sua soberania, sua autonomia, sua autodeterminação, sua condição de Nação) e a Sociedade Civil conquistou a livre iniciativa e o trabalho livre, a propriedade privada e o trabalho assalariado, com a emancipação política o Estado conquistou a cidadania e a Sociedade Civil conquistou os direitos humanos civis. O Estado garante a cidadania de todos os membros da Nação¹. Os direitos civis humanos de não sofrer discriminação de religião, de classe, de raça ou cor, de sexo se baseiam nos direitos civis de cada ser humano à vida e à liberdade desde o nascimento².


Foi aí que percebi que não só a propriedade pode ser de caráter privado mas também a associação pode ser de caráter privado. Argumentei a respeito da separação entre política e religião como sendo a separação entre o público e o privado. Em seguida, argumentei e também percebi que não só a associação religiosa é de caráter privado, mas toda a liberdade de associação é de caráter privado. Enfim, liberdade religiosa supõe liberdade de associação e liberdade de propriedade, ou seja, supõe o caráter privado da propriedade comum e da propriedade individual (mas também supõe a propriedade privada do que é comum e a propriedade comum do que é individual?! A propriedade capitalista e a propriedade da miséria).


O caráter público próprio da cidadania é o do Estado-Nação e o caráter privado próprio da civilidade humana é o da Sociedade Civil. A cidadania é o caráter público dos diferentes Estados-Nações e a civilidade humana é o caráter privado das diversas Sociedades Civis. Com a emancipação política se consolida a emancipação do Estado-Nação e também se consolida a emancipação civil da Sociedade Civil. Mas a multiplicação de Estados-Nações também é a multiplicação de Sociedades Civis. Mais do que isso, ocorre a percepção de que os Estados-Nações são soberanos, autodeterminados, exclusivos, mas que as Sociedades Civis para além de suas fronteiras não são muito diferentes e, na verdade, são quase idênticas à Sociedade Civil no interior de suas fronteiras. Ocorre a percepção de que os Estados-Nações são Nacionais, mas suas Sociedades Civis são Internacionais, então surge a percepção de que num continente ou região podem existir diferentes Estados-Nações que se situam numa mesma Sociedade Civil. Fica claro que o próximo passo do desenvolvimento é a emancipação da civilidade humana ou da Sociedade Civil da emancipação política ou do Estado-Nação. Também fica claro que enquanto isso não ocorre “a guerra de todos contra todos” fica inteiramente justificada como guerra entre si dos Estados-Nações.


Socialismo e comunismo surgiram como passos naturais do desenvolvimento e passagem da emancipação política para a emancipação humana, da emancipação pública da cidadania para a emancipação privada da civilidade humana.


O fim da discriminação religiosa começa pela liberdade religiosa, pela aceitação da religião do outro e pode perfeitamente parar aí de modo que “a liberdade religiosa de cada um termina onde começa a liberdade religiosa de cada outro”, mas também pode se desenvolver para a aceitação do outro e não mais tão só da religião do outro, de modo que “a liberdade religiosa de cada um começa onde começa a liberdade religiosa de cada outro”, ou seja, a liberdade religiosa cria caminhos, passagens e pontes que conduzem a diversidade religiosa à unidade religiosa, a diversidade de associações religiosas conduzindo à unidade de associação religiosa. O fim da discriminação racial ou de cor também pode começar pela aceitação “da liberdade da cor da natureza livre de cada um que termina onde começa a liberdade da cor da natureza livre de cada outro”, mas pode perfeitamente continuar de modo que “a liberdade da cor da natureza livre de cada um começa com a liberdade da cor da natureza livre de cada outro”, no primeiro caso a liberdade se confunde com a manutenção da cor da natureza livremente estabelecida como etnia específica, já no segundo caso a transformação da cor da natureza livre estabelece misturas que se desviam duma etnia específica. A liberdade sexual de pessoas de cores diferentes foi afirmada neste segundo caso. No entanto, se “a liberdade sexual de cada um termina onde começa a de cada outro” existe a manutenção duma certa divisão sexual do trabalho ou, o que é, talvez, pior, uma manutenção duma diferença de salário apesar do exercício dum mesmo trabalho. Se “a liberdade sexual de cada um começa com a liberdade sexual de cada outro”, então ocorre uma unissexualização do trabalho e do salário e ainda uma livre expressão e desenvolvimento da homossexualidade. – Parece que estamos nesse período de desenvolvimento da “liberdade sexual de cada um que começa com a liberdade sexual de cada outro” -. Se “a liberdade de classe de cada um termina onde começa a liberdade de classe de cada outro”, então existe a manutenção duma certa divisão social do trabalho e, o que, certamente, é pior, a manutenção duma certa divisão social dos sem trabalho, de um lado, aqueles que sem trabalho próprio se beneficiam do trabalho dos demais, do outro lado, aqueles que sem trabalho próprio se danam sem o trabalho dos demais. Mas e se “a liberdade de classe de cada um começa onde começa a liberdade de classe de cada outro”? Então, ocorre a transformação da divisão social do trabalho de modo que se dissolve o monopólio da propriedade dos meios de trabalho ou produção e também se dissolve o monopólio da propriedade da força humana de trabalho ou de produção, ou seja, “a liberdade de propriedade, de trabalho e de não-trabalho de cada um começa onde começa a liberdade de propriedade, de trabalho e de não-trabalho de cada outro”. No primeiro caso, prevalece a dissociação dos indivíduos em dissociados ou indivíduos naturais em classes sociais. No segundo caso, prevalece a associação dos indivíduos em associados ou indivíduos naturais em humanidade socializada (indivíduos naturais humanos-sociais).


Os direitos humanos ou civis não só estão sujeitos a lutas humanas ou civis ou de classes mas sua realização efetiva implica na dissolução das discriminações ou diferenças religiosas, raciais ou de cor, sexuais, de classes ou sociais. Eles são um programa que parte da existência das diferenças religiosas, raciais ou de cor, sexuais, de classes ou sociais para a negação do sofrimento que tais existências causam de modo que abre caminho para a afirmação da unidade ou essência comum das religiões, raças, sexos, classes, quer dizer, abre caminho para a dissolução da existência das diferenças e discriminações. Realizar efetivamente aquilo que está presente nos direitos humanos, civis ou sociais, quer dizer, o seu humanismo ou luta humana, o seu civismo ou luta civil, a sua socialização ou luta de classes é dissolvê-lo na emancipação humana, na emancipação civil, na emancipação social, mas para efetivar esta realização também é preciso se libertar e dissolver o Estado, também é preciso ultrapassar, superar, suprimir, destruir e dissolver a emancipação política ou o Estado-Nação.


Isso significa que, ao contrário do que se supõe, é o caráter público pertencente à emancipação política do Estado-Nação aquele que é o alvo do caráter privado da emancipação humana, civil ou social da Sociedade Civil. A conquista da emancipação política do Estado-Nação, do seu poder absoluto sob a forma de dissolução da liberdade religiosa e instituição pelo Estado do culto ao Ser Supremo, dissolução da propriedade privada e instituição da propriedade do Estado tem como resultante desse processo a consolidação da emancipação política do Estado-Nação e da Sociedade Civil capitalista.


A conquista da emancipação humana, civil ou social da Sociedade Civil capitalista se faz dissolvendo o Estado-Nação, dissolvendo o caráter público e monopolista da cidadania, dissolvendo o caráter privado e monopolista da civilidade e elevando o caráter privado e social pluralista da civilidade. Esta conquista pode se manifestar como extinção da cidadania política e libertação da cidadania social, desde que se compreenda que conquista da cidadania social é quebra e queda da cidadania política da Nação na cidadania social da Civilidade. O Estado-Nação afirma o caráter público da cidadania política, ou seja, afirma o Eu de cada Nação, nesse sentido, afirma o Eu de cada Propriedade Capitalista, por isso que a resultante de todo processo de emancipação política do Estado-Nação é sempre a Sociedade Civil capitalista. A Civilidade Pluralista afirma o caráter privado da cidadania social, ou seja, afirma o Nós de cada Civilidade, nesse sentido, afirma o Nós de cada Propriedade Pluralista, por isso que a resultante do processo de emancipação da Civilidade Pluralista tende a ser (uma vez que, até hoje ainda não ocorreu) a Sociedade Socializada, o Comunismo ou a saída da história das nacionalidades humanas e a entrada na história da civilização humana.


O Eu de Stirner é inteiramente concorde com “a guerra de todos contra todos” porque é assim que vive a cidadania pública de cada Estado-Nação, em permanente risco de guerra de cada Estado-Nação com outro Estado-Nação. A Inter-Nação (lugar dos doentes, loucos, marginalizados, excluídos, alienados ou explorados), a Associação Internacional, a Prole Humana ou o Proletariado de Marx & Engels (Epicuro já falava dos Intermundos) é inteiramente concorde com uma comum unidade mundial da civilidade social, este algo que se situa entre uma Nação e outra, que tem “pé dentro, pé fora”, que, por isso, ante o Estado é inteiramente suspeito de ser uma ameaça à Nação, este algo existe como realidade privada de toda Sociedade Civil presente nas diferentes Nações e, portanto, nos diversos Estados.


O Estado-Nação extrai de todos que se encontram no espaço delimitado por ele aquilo que ele estabelece como sendo sua cidadania pública (certidão de nascimento, carteira de identidade, título de eleitor, atestado de reservista, carteira de trabalho, título de propriedade etc.). No entanto, a mesma realidade civil existe nos diferentes Estados-Nações, o que torna os membros da Sociedade Civil suspeitos de ameaçar a Segurança Nacional de cada Estado-Nação, mas a Sociedade Civil é uma realidade Inter-Nações, é Internacional, logo, mais ampla que o Estado-Nação que visa segurá-la dentro do leito de Procusto ou das relações sociais que impõe não permitindo que se libertem para desenvolver suas próprias forças produtivas. A Segurança Nacional do Estado-Nação versus os Direitos Humanos da Sociedade Civil é algo que se repete por todo lado, seja nos EUA da Guerra Fria ou da Guerra ao Terror, seja na antiga URSS, na Coreia do Norte etc.


O Socialismo ou Comunismo até hoje só apareceu de passagem. Primeiro na Comuna de Paris de 1871, depois nos Sovietes de 1917. Aquilo que prevaleceu até hoje foi a emancipação política do Estado-Nação dito Socialista ou Comunista, mas nunca a emancipação social da Sociedade Civil capitalista para a dita Sociedade Socialista ou Comunista. Com Marx não se trata daquilo que tão tardiamente aprendemos com Gramsci, ou seja, da conquista do Estado Ampliado, mas, ao contrário, da Associação Ampliada e da destruição do Estado. Todas as Ampliações são dos direitos humanos civis, são das associações dos indivíduos livres de caráter privado e visando a destruição da obrigatoriedade da cidadania política de caráter público, mas, curiosamente, é a partir da conquista da cidadania política de caráter público que as associações dos indivíduos livres de caráter privado iniciam a destruição do Estado-Nação, da cidadania política em prol da criação da Sociedade Socializada ou da Civilidade Pluralista, da cidadania social.


O problema é que dentro dum sistema determinado cindido em Estado-Nação e Sociedade Civil, capital e trabalho assalariado existe um processo de desenvolvimento cindido em eterno retorno às suas relações sociais de produção e em livre transformação, mudança, mutação de suas forças produtivas sociais.


É melhor por em dúvida toda esta velha opinião formada sobre Marx para tentar realizar sua proposta de transformar o mundo, tentar efetivar sua proposta de ser uma metamorfose ambulante. Para, pelo menos, tentar uma inovação, já que com a velha opinião formada até agora não se sai do cinismo, do pragmatismo, da manipulação, da farsa, do egoísmo, enfim, da compreensão de que todas as formas de luta são válidas e não existem limites para que elas sejam desenvolvidas por todos os meios até alcançar sua finalidade. Esta compreensão da prática como uso da sordidez, do “trabalho sujo” não é precisamente responsável pelo retorno de toda “a velhacaria burguesa”?! Sair da prática reacionária com uma prática revolucionária que faz uso da prática reacionária é sair da prática reacionária?! É entrar e usar uma prática revolucionária ou é permanecer na prática reacionária e usando a prática reacionária?! Não é esta questão que tem sido jogada fora em nome duma pretensa verdade: “a teoria na prática é outra!”?! Mas, desse modo, não cabe agora, dando “razão” aos cínicos, precisamente perguntar se: “a teoria na prática é outra?!?!”


Ah, sim, antes que esqueça, acabei optando por sair do grupo porque a invasão e ocupação do meu feed de notícias era tamanha que eu não conseguia mais encontrar, melhor, tinha de perder muito tempo para encontrar as postagens dos amigos e conhecidos do Facebook. Talvez, já estejamos demasiadamente acostumados com a publicidade da TV e aceitemos esta situação do feed de notícias. Mas, talvez, também seja possível se desacostumar com isso e não aceitar esta situação no feed de notícias.

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1. O Estado-Nação advindo da emancipação política que conquista a cidadania não é como a Cidade-Estado dos antigos. Na Grécia Antiga as diversas Cidades-Estados eram gregas, quer dizer, a Nação Grega abrangia diversas Cidades-Estados, mas cada Cidade tinha a sua própria Cidadania. Na Grécia Antiga a Nação continha diversos Estados e na Modernidade Ocidental o Estado contém uma mesma Nação. A União Européia é a tentativa de construir um Estado que contém diversas Nações. Na Antiguidade o Império de Alexandre foi a primeira tentativa de instituição de um Estado abrangendo o domínio de mais de uma Nação, além de dominar todas as Cidades-Estados gregas ele também dominou Impérios do Oriente, como, por exemplo, o do Egito. No entanto, o Império Alexandrino se caracterizou por uma divisão em Reinos de modo que o Império retomou algo do Federalismo da Cidade-Estado e dos poderes regionais das diferentes Cidades-Estados e Impérios do Oriente. Será Roma, uma Cidade-Estado, que conseguirá construir um Império que impera sobre diferentes Cidades-Estados, Nações e Impérios afirmando a cidadania de Roma, logo, seu Império também era Império da Cidade-Estado e não do Estado-Nação.

2. A Nação está na base desse direito, mas quando o critério da nacionalidade é o sangue, aí existe a discriminação racial ou de cor nessa base e a perda do direito de não sofrer discriminação. Num tal Estado-Nação a emancipação política também ainda não está completa.






quinta-feira, 25 de setembro de 2014

"Não vamos desistir do Brasil!" {3}



Quando aconteceu o ataque às torres gêmeas apareceram as mais diversas teorias da conspiração e aí eu lembro do meu pai enfatizando que o importante era saber o que eles (Bin Laden e os seus) querem e que ninguém em todo aquele conjunto de teorias e explicações respondia a essa pergunta: o que eles querem?


A teoria conspiratória do pessoal da Executive Intelligence Review (não lembro mais o nome do seu líder, eles publicavam o Resumen Ejecutivo para a "Íbero América" = América Latina) dizia que se tratava dum golpe de Estado similar ao incêndio do Reichstag feito pelos nazistas assim que Hitler chegou ao poder, já que Bush também havia acabado de chegar ao poder depois dumas eleições bastante controversas e, por isso, suspeitas. E são muitos os elementos nos quais se apoiavam. No entanto, desse modo, Bin Laden e os seus ficam reduzidos à condição de marionetes ou meros agentes das conspirações dos poderosos dos EUA, melhor, a resposta à pergunta do meu pai - o que eles querem? - fica deslocada e dissolvida. Deslocada porque o eles querem agora não se refere mais a Bin Laden e os seus e sim aos poderosos conspiradores que manipulam os EUA e o mundo. Dissolvida porque como sujeitos, Bin Laden e os seus, ficam subsumidos na subjetividade dos conspiradores dos EUA e no domínio total exercido pela subjetividade de tais poderosos.


O que eles querem? Eles, meu pai destacava, são Bin Laden e os seus. Eles, então, querem o quê?


O que Bin Laden esperava que os Estados Unidos fizesse depois do ataque às torres gêmeas do world trade center? Qual era o objetivo visado? Qual era o alvo do ataque? A manifestação clara por parte do governo e da população dos Estados Unidos dum comportamento pacifista, sereno, equilibrado ou, mesmo favorecendo a guerra, a perturbação, o desequilíbrio, que manifestasse respeito pelas suas próprias regras democráticas e recorresse às regras democráticas da ONU e do direito internacional para efetivar as ações de combate aos terroristas que não respeitam as regras democráticas de nenhum país, nem os direitos humanos, nem o direito internacional, nem a ONU?! O golpe de Estado, o desrespeito à democracia, aos direitos humanos, ao direito internacional, à ONU, à soberania e à autodeterminação dos povos eram queridos por Bin Laden e os seus como comportamento adotado pelos EUA?!


A Primavera Árabe não foi então parte dum projeto de efetivamente apoiar a introdução e consolidação da democracia nos países árabes? Pode até ter sido, mas já dentro do problema dos EUA de ter de sair do Iraque, do Afeganistão e da desestabilização generalizada que aprofundou na região. A ascensão da Irmandade Muçulmana no Egito foi acompanhada da ascensão dos grupos identificados com Bin Laden na Líbia, na Síria e noutros países como o próprio Iraque. E, curiosamente, esses grupos se aproveitaram precisamente do apoio dado ao movimento da Primavera Árabe.


Lembrei da tal teoria de Mackinder (ver https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl#q=mackinder ; http://pt.wikipedia.org/wiki/Halford_John_Mackinder ; http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Geographical_Pivot_of_History ; etc.) que teria afirmado que quem dominasse uma região entre a Europa e a Ásia dominaria o mundo. Ora, tal região é a que permanece instável e em guerras sucessivas e é também a região que estabelece desde muito tempo as fronteiras entre Ocidente e Oriente. O cristianismo quase conseguiu isso, mas seu primeiro cisma reestabeleceu as fronteiras entre Ocidente e Oriente, entre cristianismo ocidental católico romano e cristianismo oriental ortodoxo grego. Mas, a região não se reduz ao Oriente Médio e engloba Iraque, Irã, Ucrânia, ou seja, é uma região interior e entre a Europa e a Ásia. E, aí, é muito curioso, mas uma religião nascida aí e que é fonte do cristianismo e do maometanismo é vista e se comporta como um verdadeiro alienígena na região, já aqueles que conseguem ser vistos e se comportar como verdadeiros nativos são os árabes e muçulmanos. Lembrei também que Lawrence da Arábia é um precursor dessas incursões ocidentais que financiam, armam e treinam nativos árabes. Bin Laden foi um desses e o Isis ou Estado Islâmico é um outro, mas existem ainda outros mais. No entanto, o que ocorre agora, melhor, na hora dos ataques a Bin Laden e todos os demais? Eles são inaceitáveis, eles são as subjetividades que, em lugar de ser apenas manipuladas, ousam querer manipular, ousam fazer lavagem cerebral nos ocidentais, eles são efetivamente o terror e para eles só existe a linguagem do terror, quer dizer, da ausência de democracia, de direitos humanos, de direito internacional, de soberania dos Estados e da ONU e de autodeterminação dos povos. Mas, qual a resposta à pergunta que não quer calar, à pergunta do meu pai: o que eles querem?


Se aquilo que eles querem é precisamente a resposta dada pelos Estados Unidos com suas guerras ao terror, seus ataques desrespeitando todas as regras democráticas e do direito internacional e da autodeterminação dos povos, então o que eles querem é que seu próprio inimigo, os EUA e também seus aliados europeus, se comportem de maneira terrorista e negadora de todos os seus valores e regras para que o seu próprio fundamentalismo se afirme de forma absoluta e inteiramente justificada inclusive por seus próprios inimigos.


A política externa brasileira estará cada vez mais entrando em contradição com esta política externa dos EUA pura e simplesmente por não fazer o jogo do fundamentalismo e desistir de seus valores democráticos e de suas regras de direitos humanos e de direito internacional. Logo Obama, o primeiro presidente negro dos EUA, está entrando para a história como "mais um que desiste dos EUA". E, agora, nesse mesmo período a nossa política externa está entrando numa nova fase de sua confirmação porque está adotando o lema do Eduardo Campos: "Não vamos desistir do Brasil!"

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Max Stirner e Karl Marx, Dilma Roussef e Marina Silva {2}


A quem pertence a superioridade crítica: Max Stirner ou Karl Marx?



Acabei de ler “O Único e sua Propriedade”. A surpresa que tive foi recompensada, ainda que no caminho tenha lido “força de trabalho” e “mais-valia” e esses conceitos não podem ser de Max Stirner tampouco eram de Marx na época que o livro foi publicado, porque Marx só virá a utilizá-los posteriormente. Ou seja, me parece que há a contribuição de alguém mais, seja do editor, do tradutor ou seja lá de quem for. Na impossibilidade de ler o original resta a possibilidade de ler “A Ideologia Alemã”, onde grande parte é dedicada à crítica e, portanto, à leitura de “O Único e sua Propriedade”.


Qual foi a minha surpresa? Max Stirner tal qual Karl Marx também parte da singularidade. Marx se assume como partidário do conceito e, desse modo, a singularidade abstrata é a singularidade conceitual, quer dizer, abstrata. Stirner se assume como partidário do não-conceito e, desse modo, a singularidade do próprio é a singularidade positiva, quer dizer, concreta. Na verdade, é no limite ou torcendo (distorcendo) o sentido que se pode dizer que a singularidade do próprio é positiva, concreta, já que, lá pelas tantas, Stirner declara que parte do corpo e não do conceito (não existe, no caso, portanto, nem torção nem distorção).


A singularidade é antes de tudo diferente de tudo e igual apenas a si mesma. Na linguagem hegeliana, a linguagem conceitual, ela, a singularidade, é “antes de tudo diferente de tudo” porque ela se abstrai de tudo e, assim, difere de tudo, mas, desse modo, é “igual apenas a si mesma” porque é apenas abstrata. Mas, por outro lado, a abstração é aquilo que é igual, que é redutível a um mesmo, a um quantum. Logo, aquilo que é sem outra qualidade que não seja a mesmice e, nesse sentido, se mostra uma abstração ou perda da singularidade, melhor, da qualidade daquilo que difere de tudo, da qualidade que é exclusiva de si mesma, ou seja, da qualidade própria da singularidade. Aí estão presentes as duas acepções da singularidade, a abstrata e a própria. Marx, em “O Capital”, vai apresentar as duas acepções sob a forma de valor de troca (e valor) e de valor de uso. Stirner, em “O Único e sua Propriedade”, também vai apresentar as duas acepções, mas se Marx enfatiza a acepção abstrata presente no valor de troca que se revela exclusiva da quantidade e, por isso, do valor, já Stirner enfatiza a acepção própria presente no valor de uso que se revela exclusiva da qualidade e, por isso, do único, melhor, da sua propriedade.


Para Stirner só importa o indivíduo, o eu, mas exclusivamente na sua qualidade própria, ou seja, como único, logo, diferente de um outro eu por afirmar ou ser exclusivamente a singularidade do próprio ou do eu egoísta ou do único e sua propriedade. O indivíduo como outro eu, como eu altruísta, como abstração da singularidade, como humano ou espécie é visto novamente como abstração, quer dizer, conformação duma igualdade, duma não-unicidade, duma abstração. Stirner faz um corte (epistemológico?! Prático?!) com a abstração e se atém exclusivamente à qualidade, quer dizer, ao uso, ao valor de uso, por isso, apenas à apropriação da qualidade, ao egoísmo da propriedade. A relação com as abstrações, como, por exemplo, com a religião, com Deus ou com a moral, com o homem, quer dizer, com o humano ou com a humanidade é uma relação de uso, uma relação egoísta, quer dizer, sem nenhuma religiosidade, divindade, moralidade ou humanidade. Stirner defende o egoísta, o único e sua propriedade, quer dizer, a exclusividade do valor de uso na sua integralidade, inteireza, ou seja, parte da singularidade do próprio e chega à sua unicidade concluindo que a afirmação do único é o seu uso, que a afirmação da vida é o seu consumo, que a sua causa (a causa do único, da singularidade, da qualidade, da propriedade) é a causa de nada por se ater ao uso de si próprio, ao consumo de si próprio.


Os egoístas se limitam a usar as abstrações, sejam elas quais forem. Nesse sentido, os cínicos, os pragmáticos, os espiões, os farsantes, os corruptos, enfim, o eterno retorno do que não muda no mundo seria eterno retorno da interpretação egoísta do mundo, pelo menos, para as interpretações religiosas, divinas, morais, humanas que são abstratas, altruístas e limitadoras da singularidade própria, da individualidade e precisamente por fazerem delas (da singularidade, da individualidade) abstrações, as quais, por sua vez, visam o eterno retorno dum mundo mudado, não egoísta, igualizado, equivalente tal qual a mercadoria.


Os egoístas são os materialistas e os altruístas são os metafísicos. Porém, Stirner, o egoísta, o que se limita a usar as abstrações, não considera a associação do egoísta como uso de abstração e sim como uso ou consumo de sua qualidade, até porque a associação é algo mutável tal qual o egoísmo que muda de uso/consumo, quer dizer, de associação. Marx é defensor da emancipação humana, da emancipação dos trabalhadores, quer dizer, da abstração humana, da abstração trabalhador. Aliás, ele mesmo, na “Crítica do Programa de Gotha”, assume que para afirmar a individualidade, a diferença individual, melhor, o próprio indivíduo, o direito teria de deixar de ser igual, de ser uma redução a apenas um aspecto, o de trabalhador, quer dizer, teria de deixar de ser uma abstração para que as diferenças naturais dos indivíduos pudessem ter vez. Também é aí que ele assume que a força humana de trabalho é uma simples força natural, ou seja, não é um poder sobrenatural, um poder do trabalho humano abstrato, um poder do capital. Mais: que é ao capital que interessa a concepção do trabalho como um poder sobrenatural, um poder sobre a natureza duma contínua luta contra a natureza, afinal, é desse modo que o capital justifica que o acesso das forças humanas de trabalho – quer dizer, das simples forças humanas naturais – à natureza e às suas forças naturais tenha que ser necessariamente feito por meio da venda ou troca das forças de trabalho com o capital que monopoliza as fontes naturais.


O Marx da “Crítica ao Programa de Gotha” é muito citado como fonte da diferenciação entre as duas fases da sociedade comunista, mas é aí também que aparece um grande quê stirneriano, melhor, destacador do valor de uso e, por aí, também duma visão naturalista, ou melhor, atualizando, ecológica.




Dilma Roussef e Marina Silva: quem é superior criticamente?




A turma da Guerra Fria, do socialismo realmente existente, da militância pragmática e da militância ideológica acaba assumindo o egoísmo manipulador, farsante e, até mesmo, corrupto. A turma da Paz, da religião, do “Outro Mundo é Possível”, da militância utópica e da militância ética acaba assumindo o altruísmo manipulado, trágico e, até mesmo, ingênuo. A primeira usa a segunda, que é usada pela segunda ou por qualquer outra, mas, o que é mais significativo: a segunda também é usada por ela mesma, por sua crença abstrata ou altruísta.


Eu, por enquanto, ainda que tenha percebido uma grande possibilidade de libertação em Stirner, permaneço me percebendo como crente na abstração, na singularidade abstrata e, por aí, um prisioneiro do altruísmo e da negação de si mesmo. É também por aí que compreendo porque opto por votar na Marina Silva e também porque permaneço com o Marx que Stirner critica de maneira que me deixa simplesmente desarmado por ter de admitir e concordar que ele está absolutamente certo, já que efetivamente Marx permanece sendo dos que lutam pela emancipação humana, dos trabalhadores, quer dizer, pela abstração, pelo altruísmo. É também por aí que compreendo porque vejo a opção por votar na Dilma como sendo a daqueles que são mais ousada, afoita e desenvoltamente críticos e mais bem armados com o egoísmo como o próprio Stirner e, por isso mesmo, capazes até de discordar de Stirner e de defender Marx de forma inteiramente egoísta, manipulada e sem qualquer respeito por supostas avaliações críticas, abstratas, altruístas porque, afinal, não existe nada de sagrado, já que não existe nenhuma verdade independente do egoísmo, logo, só o egoísmo e seu uso apropriado (sua propriedade) são verdadeiros.


Eu me sinto e me percebo atrasado e preso a Marx e mesmo quando este aproxima a força humana da natureza como uma simples força natural, mesmo aí, não sinto nem percebo o egoísmo propriamente dito e sim a religação da natureza e do humano, a religio ou a religião natural, quer dizer, ainda é o naturalismo humanista ou o humanismo naturalista de Marx que permaneço sentindo e percebendo. E é aí nesse atraso de Marx que sinto e percebo a atualidade de sua posição ecológica. E sinto e percebo que Marx está atrasado em relação ao que ele mesmo se propõe, ou seja, se propõe ir além da crítica moral, mas, a partir da crítica de Stirner fica claro que Marx ainda está preso à moralidade, logo, à religiosidade, à abstração.


Eu sinto e percebo que aqueles que se assumem como marxistas e optam por Dilma são os que vão além de Marx na senda aberta pelo egoísmo defendido por Stirner. Sinto e percebo que o meu marxismo está aquém de Stirner e do marxismo dos que vão além de Marx na senda do egoísmo aberto por Stirner. Sinto e percebo que permaneço preso à posição de Marx que não é suficientemente materialista como a de Stirner e que permanece sendo metafísica. Sinto e percebo que permaneço tal qual Marx preso ao altruísmo e à negação de si mesmo inerente à singularidade abstrata. Sinto e percebo que não tenho a capacidade libertária do egoísmo e da afirmação de si mesmo inerente à singularidade do próprio.


Eu fui “naturalmente” espirrado para fora do PT desde a substituição da militância altruísta e apaixonada pela militância egoísta e profissional que conseguiu eleger o “Lulinha paz e amor”. A minha identificação com a Marina é a identificação com aquelas “ilusões” abstratas do socialismo democrático que era defendido pelo PT até chegar a “Carta ao Povo Brasileiro”. Eu posso ser claramente acusado de ser reacionário, por querer “girar para trás a roda da história”.


O Marx que eu defendo está superado desde muito tempo pela crítica de Stirner, pela Dilma e os que votam nela, pelos dissidentes que não votam na Dilma mas que votam apenas no seu egoísmo, no seu umbigo, quer dizer, na sua posição crítica mais avançada que o altruísmo de Marx, que eu defendo, e do que o egoísmo pragmático dominante da Dilma e dos que votam nela.


Permaneço escravo, impotente, incapaz ou o próprio niilista, como diz Nietzsche. Mas, me recuso a votar no senhor, na potência, na capacidade ou no próprio criador super-humano, como defende Nietzsche. Mas aí, curiosa e estranhamente, sou eu quem opto por ser causa de nada, enquanto Nietzsche opta por ser causa super-humana.




sábado, 20 de setembro de 2014

Governo Dilma, qual é o diagnóstico?









Certamente que não é revolucionário, também não é reformista.





É o quê?




Se caracteriza por um esforço em seguir a política econômica do guru Delfim Neto? Fazer o retorno da inflação, do crescimento da dívida internacional para garantir que terá "milagre econômico", isto é, crescimento do desenvolvimentismo industrial? Se a política econômica visa o retorno da era Delfim, então é fácil perceber que não está conseguindo porque a época e as condições históricas são outras.





Tem gente que diz que se caracteriza por um retorno a Era Vargas e, mais especificamente, ao período João Goulart visando realizar o programa das reformas estruturais das quais o governo Goulart foi exclusivamente a publicidade, a propaganda ou, numa linguagem política mais pertinente, apenas a agitação. No entanto, aí aparece menos coincidências no sentido duma política realizadora de reformas e mais coincidências no sentido duma política que caracterizou a instabilidade da Era Vargas (incluindo JK) e impossibilitou toda e qualquer atividade afirmativa reformista de Jango. São os casos sistemáticos de corrupção que levaram ao suicídio de Vargas, que impediram a luta de JK pela reeleição e mantiveram a paralisação do governo Jango. Ainda que o principal componente da paralisação do governo Jango tenha sido a campanha sistemática contra a sua autoridade e legitimidade políticas, ou seja, o fenômeno da renúncia de Jânio, que é uma continuidade da campanha contra Vargas. Se Vargas com o suicídio reverteu a situação política a favor dos seus, ainda que nem tanto, já que estes, em lugar do retorno direto ao poder, se comprometeram a manter a aliança com JK e o PSD. Disso resultou a perda da FNM (Fábrica Nacional de Motores) e a instalação das montadoras como fio condutor da política industrial no país. A renúncia de Jânio correspondeu ao tiro no peito de Vargas, ou seja, serviu para retomar a campanha contra a autoridade e legitimidade políticas do PTB da Era Vargas, mas agora sob nova direção, a de Jango. O tiro no peito de Vargas em 24 de agosto de 1954 isolou a direita e sua campanha golpista, a renúncia de Jânio em 25 de agosto de 1961 deu autoridade e legitimidade para o retorno da campanha golpista sistemática da direita contra Jango e o PTB. A cunha divisória entre Jango e o PTB, como se sabe, foi o seu cunhado. Lá atrás, no governo JK, se tinha decidido pela aliança com o PSD e JK. E Leonel Brizola, o cunhado, queria e defendia uma política de autoridade e legitimidade políticas exclusivas do PTB. Ora, Jango, que conheceu Vargas, sabia que este se apoiava na aliança com o PSD desde a época em que sequer existia tal partido e sim a aliança com Minas para efetivar a Revolução de 30. Sabia também que no período de Dutra o risco da quebra da aliança e da passagem da hegemonia para São Paulo, contra cujo poder fora feita a Revolução de 30, era mais do que real e se condensava agora na UDN. Com esta avaliação política apreendida com seu mestre político, Getúlio, Jango cuidava de manter a aliança com o PSD para também cuidar de isolar a UDN e a direita golpista. Nada adiantou porque a direita golpista usou a política radicalizada da esquerda e do cunhado Brizola a favor da campanha sistemática de dissolução da autoridade e legitimidade políticas de Jango.





Que relação tem isso com o governo Dilma? As alianças do governo Dilma e, antes, do governo Lula, quer dizer, as alianças dos governos do PT se assemelham àquelas feitas por Vargas e por Jango? De modo algum. Tanto o PSDB quanto o PT começaram tendo como aliado preferencial os políticos oriundos do partido da situação da ditadura, a Arena, que se dividiu em dois partidos, o PFL (atual Democratas) e o PPB (atual PP), ao mesmo tempo que, também, trataram de manter a aliança com o PMDB (antigo MDB, partido da oposição da ditadura). Se houve uma mudança na política de alianças dos governos do PT, então foi apenas a de aumentar o prestígio da aliança com o PMDB sem prejuízo de manter a aliança com o atual PP, afinal, foi através da aliança com Maluf do PP que o PT chegou ao governo via campanha "Lulinha paz & amor" do publicitário Duda Mendonça, malufista "desde criancinha". Claro que teve a tal "Carta ao Povo Brasileiro" e que os dissidentes dentro do PT foram sendo sistematicamente espirrados para fora. Claro que os casos dos prefeitos assassinados foram "abafados" e ficaram "sem explicação real e convincente até hoje". Claro que aquilo que sempre foi a campanha golpista da direita se tornou a realidade corriqueira da democracia representativa: a corrupção sem limites. Mas, agora, os governos do PT (e do PSDB) fazem isto junto com a direita golpista e, desse modo, minam o golpismo da direita ao socializar e universalizar os benefícios e os malefícios da corrupção.




Lá atrás aqueles que fundaram o PT e o PSDB ficaram muito conhecidos por terem sido destacados opositores da ditadura. No entanto, na hora de governar só o fazem em aliança com destacados colaboradores da ditadura.





A Marina, uma das espirradas para fora pelo governo do PT, quer uma nova política de alianças, uma aliança programática, ou seja, não quer mais a política de alianças do pragmatismo (por sinal, outro componente da ditadura recente, posto que foi quem mais "inovou", praticando e, quem mais defendeu, introduzindo o pragmatismo na politica brasileira). Ela quer ver aqueles que foram destacados opositores da ditadura e que foram criadores e fundadores de partidos independentes, o PT e o PSDB, aplicarem suas propostas políticas programáticas e independentes de forma criativa e assim participarem da fundação duma nova política da democracia brasileira. Ela retoma a criatividade e os fundamentos dos mais destacados opositores da ditadura e, neste mesmo ato, ela retoma a continuidade do governo Jango (inclusive, se baseando na aliança para sua sustentabilidade de quadros do PT e do PSDB), não mais como o isolamento dum governo restrito à publicidade e propaganda dum programa de reformas, mas sim como a aplicação criadora dum programa de reformas com os melhores e mais fundamentados quadros do PT e do PSDB. O que significa que muitos daqueles que foram emudecidos dentro do PT e do PSDB bem como os que foram espirrados terão voz e vez na nova configuração política da democracia e do Brasil.





quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Ler... Disciplina e Liberdade [9]





Ler o si mesmo fora de si mesmo


Disciplina e Liberdade


Marx criticava os demais hegelianos de esquerda por querer sair da disciplina para a liberdade indo contra o mestre Hegel, acusando-o de acomodação. Ele também participava do movimento de saída da disciplina para a liberdade sem no entanto ir contra a filosofia do mestre Hegel, sem acusá-lo de acomodação, ou seja, compreendendo a filosofia do seu mestre Hegel de acordo com os critérios da própria filosofia hegeliana, segundo a qual, ela era com Hegel a expressão de uma época e com os jovens hegelianos de esquerda a expressão duma outra época, logo, cabia a estes últimos compreender a sua própria época que não existia na época do mestre Hegel e, portanto, não se encontrava presente na sua consciência filosófica por ser uma consciência exotérica, isto é, própria de outra época que é a época dos jovens hegelianos de esquerda.


Marx e os hegelianos de esquerda, mas também os de centro e os de direita faziam uso da imprensa e de livros reafirmando a invenção alemã da imprensa e da Reforma protestante de Lutero como fonte da filosofia alemã. Hegel dizia que a leitura dos jornais correspondia na época capitalista à prática das orações diárias da época feudal. Marx, além de leitor de jornais diários era o chefe de redação ou editor de um jornal muito bem sucedido, ou seja, além de corresponder a um crente fervoroso correspondia também a um pastor de grande sucesso.


Era na qualidade de discípulo-pastor da filosofia de Hegel, isto é, fazendo uso livre da filosofia de Hegel que se afirmava na prática criadora das orações diárias, quer dizer, das impressões dum jornal periódico. Ele defendia radicalmente a democracia presente na filosofia de Hegel e, em seguida, passou a defender a efetivação da filosofia do direito de Hegel por meio da prática do socialismo e comunismo do proletariado. E o mais avançado movimento do proletariado socialista e comunista ocorria na Monarquia Constitucional da Inglaterra. Ele não só se mudou para a Inglaterra como passou a participar do movimento do proletariado dentro desta Monarquia Constitucional a ponto de se tornar o redator do Manifesto da Associação Internacional dos Trabalhadores e também o Secretário-Geral da mesma. Curiosamente o movimento organizado do proletariado alemão não participava desta Associação Internacional dos Trabalhadores dirigida por Marx e, no entanto, ele percebeu que o resultado da Comuna de Paris de 1871 seria a aceitação internacional da característica da tendência teórica do proletariado alemão. O que significava a aceitação tanto da tendência teórica dele Marx, que, aliás, já era relativamente muito bem aceita na Internacional, quanto a aceitação da tendência teórica nacionalista do proletariado alemão que não participava da Associação Internacional dos Trabalhadores.


O resultado foi a composição das duas tendências naquilo que se tornou a Socialdemocracia alemã e que exerceu a hegemonia na Internacional Socialista ou Segunda Internacional. De todo modo, o período nacionalista de hegemonia do partido lassaliano que se configurou durante a unificação da Alemanha conduzida por Bismarck, chamado de o Napoleão prussiano, o dirigente da Monarquia Absolutista que deu início na mesma ao uso de adereços Constitucionalistas. Quando Bismarck foi substituído no exercício do poder pelo novo monarca, também ascendeu, à cena política nacional e internacional européia, o partido da Socialdemocracia alemã, aumentando ainda mais a pressão para o que os adereços duma Monarquia Constitucionalista se tornassem sua roupagem diária, quer dizer, sua substância. No entanto, a própria Socialdemocracia se reduziu a adereço da Monarquia Absolutista ao aprovar a Primeira Guerra Mundial e só depois dela, com a derrota da Revolução dos Espartaquistas, foi que teve fim a Monarquia e teve início a República, ainda que esta permanecesse sendo chamada de Império (Reich).


A saída da disciplina para a liberdade, quer dizer, da filosofia hegeliana para a prática se faz por meio da contradição, a qual, por sinal, é inerente à filosofia hegeliana. De um lado, se manifesta um discípulo ou disciplinado que parte para a liberdade a partir do acordo de discordar que faz com o sistema do mestre. Do outro lado, se apresenta o discípulo ou disciplinado que parte para a liberdade a partir do desacordo de concordar que faz com o sistema do mestre. Aquele que faz o acordo de discordar aceita partir para a liberdade aplicando a filosofia do mestre na sua totalidade e aceita a liberdade de aplicar a sua própria para além da do mestre. Aquele que faz o desacordo de concordar aceita partir para a liberdade discordando de aplicar a filosofia do mestre na sua totalidade e aceita a liberdade de aplicar apenas sua própria concordância com parte da filosofia do mestre, logo, permanece dentro e aquém da compreensão da totalidade do sistema do mestre.


O discípulo que consegue estabelecer uma relação madura e íntima com o mestre demonstrando serenidade, coragem e sabedoria é capaz de aceitar a consciência do mestre na sua totalidade e de aceitar aquilo que cabe ser desenvolvido por sua própria consciência até mesmo por não se encontrar ao alcance da consciência do mestre mas sim da sua própria consciência.


O discípulo que só consegue estabelecer uma relação infantil e ressentida com o mestre demonstrando angústia, ansiedade e ignorância (hostilidade) é incapaz de aceitar a consciência do mestre na sua totalidade e só aceita desenvolver aquela parte da consciência do mestre que se encontra ao alcance de sua própria consciência e aquém da consciência restante do mestre.


Cada discípulo que, indo além da consciência do mestre, consegue aplicar aquilo que é exclusivo de sua própria consciência estará afirmando a sua própria liberdade por ter aceito a afirmação da liberdade do mestre na sua totalidade.


Cada discípulo que, ficando aquém da consciência do mestre, consegue aplicar aquilo que é a parte da consciência do mestre com a qual sua própria consciência concorda estará afirmando a sua própria escravidão por ter aceito a escravidão do mestre exclusivamente à sua parcialidade.


Os que aplicam o sistema de Hegel na sua totalidade se libertam do mesmo e desenvolvem livres a si próprios e às suas próprias consciências e sistemas. Os que aplicam o sistema de Hegel na sua parcialidade ou num dos seus momentos se prendem ao mesmo e desenvolvem presos as partes do sistema de Hegel às quais se aprisionam suas próprias consciências sistematicamente.



Ler o si mesmo fora de si mesmo [8]



A ironia



É o que tenho feito até agora. Leio tudo a partir dum determinado livro de Marx e, mais especificamente, a partir duma Nota de um capítulo perdido deste livro. O Hegel que comparece aí não é o próprio Hegel e sim aquele lido por Marx e de acordo com a leitura que faço de Marx. E ao tentar “ler o si mesmo em si mesmo” é isto que tenho feito, noutras palavras, melhor, nas da Nota de Marx, tenho lido o si mesmo em si mesmo do ponto de vista da disciplina, quer dizer, do escravo da Nota dum livro dum determinado pensador. Logo, também não estou efetivamente a “ler o si mesmo em si mesmo”, mas estou sim a “ler o si mesmo fora de si mesmo”, no sentido de dentro da disciplina, prisão ou escravidão do espírito teórico.


Porém, se sair da disciplina para a liberdade do espírito teórico também pode ser “a atividade do si mesmo ler fora de si mesmo”, então, as leituras de Hegel que encontro na internet, apesar das diferenças entre elas, por vezes, surpreendentes, tendem todas a concordar que Hegel, na sua obra “Princípios da Filosofia do Direito”, onde expõe sua filosofia do direito, defendia que o melhor Estado era o da Monarquia Constitucional. A Revolução Francesa começou precisamente com uma Monarquia Constitucional. A acomodação da Monarquia Constitucional com a Monarquia Absolutista seria a acomodação da filosofia de Hegel com o poder absolutista da Alemanha, segundo seus discípulos que, desse modo, abandonam a Monarquia Constitucional e adotam a Democracia ou se tornam contrários à filosofia política de Hegel e a favor da prática política dos Estados Unidos. No entanto, a Monarquia Constitucional inaugura a Revolução Francesa aplicando na França a Declaração dos Direitos da Democracia dos Estados Unidos. Por outro lado, a Monarquia Constitucional estava e ainda está em vigor na Inglaterra, onde, desde então até hoje, a Democracia é uma característica marcante. Ou seja, na filosofia de Hegel a Democracia é parte integrante da Monarquia Constitucional. Adotando a Democracia e não a Monarquia Constitucional na luta contra a Monarquia Absolutista porque a Monarquia Constitucional seria um acordo com a Monarquia Absolutista enquanto que a Democracia seria uma negação absoluta da Monarquia, seja Absoluta, seja Constitucional, logo, uma afirmação absoluta da República, em consequência, a contraposição absoluta da Democracia, até então parte integrante da Monarquia Constitucional da filosofia dos jovens hegelianos, à Monarquia Absolutista pode significar precisamente a pressão absolutista para a aceitação da Democracia pela Monarquia Absolutista num acordo ou acomodação que efetive a Monarquia Constitucional, mas também pode significar ir além no grau de efetivação da negação absolutista da Monarquia Absolutista por meio da afirmação absolutista da República Democrática. No primeiro caso, se estará realizando precisamente a filosofia de Hegel tal e qual, já no segundo caso, se estará efetivando uma ação revolucionária e violenta comparável àquela realizada por Napoleão Bonaparte e que era aprovada e admirada por Hegel e sua filosofia. E, nesta última identificação do sistema de Hegel é o poder absolutista que se afirma, logo, está mais presente o acordo, a acomodação ou a identificação com o poder absolutista da Monarquia.


O absolutismo democrático ou a ditadura democrática se tornou o caráter da Revolução Bolchevique e das Revoluções das Colônias, das Semicolônias, dos Dependentes e Subdesenvolvidos. Em ambos os casos não é a Democracia dos EUA que se realiza e sim a Monarquia Constitucional e a República Imperial, o Império Republicano ou a Ditadura Democrática. E o resultado desse radicalismo ou revolucionarismo napoleônico estamos vendo agora é a sua dissolução e o surgimento de democracias no seu lugar. Curiosamente isto está acontecendo junto com a descolonização globalizada, ou seja, a democracia, que nasceu nos EUA quando este deixou de ser colônia da Inglaterra e que inspirou a Monarquia Constitucional da Revolução Francesa bem como o Império Napoleônico e, com ele, a Ditadura Democrática, a República Imperial ou o Império Republicano nos países do Socialismo e Comunismo Realmente Existentes, está agora se mostrando a expressão histórica da descolonização do mundo e também da hegemonia do Estado emancipado, aperfeiçoado ou acabado, isto é, aquele que levou a emancipação política a seu perfeito acabamento, que é a Democracia dos EUA.


A Monarquia Constitucional foi abandonada e venceu a Democracia dos EUA defendida pelos discípulos hegelianamente, isto é, por meio da Ditadura Democrática ou do Império Republicano inspirado no absolutismo revolucionário democrático de Napoleão Bonaparte, portanto, só depois de efetivar todos os momentos do sistema do mestre Hegel é que a Democracia dos EUA defendida pelos discípulos veio a se realizar efetivamente. E é aí que se coloca a distinção da posição de Marx porque ele considerava que era a partir da efetivação da democracia que a luta pelo socialismo e comunismo viria a ser uma realidade efetiva, viria a ser realizada efetivamente.


A conclusão atual pode ser a seguinte: a revolução ou emancipação política acabada dos EUA que desencadeou as revoluções que a partir da francesa deram a volta ao mundo do oeste/ocidente para o leste/oriente até que quase todas vieram a ser revoluções ou emancipações políticas acabadas como os EUA significam apenas que a emancipação política se globalizou e, desse modo, estabeleceu o fim da história das revoluções ou emancipações políticas por ter também estabelecido o início efetivamente real das revoluções ou emancipações humanas.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

LER O SI MESMO EM SI MESMO (REINTRODUÇÃO) [7]




REINTRODUÇÃO: REELABORANDO A INTRODUÇÃO



Fukuyama anuncia “O Fim da História” retornando a Hegel e retomando sua concepção de fim da história. O que significa isso? Ele está dizendo que todo o período após a morte de Hegel, durante o qual Marx, o discípulo que aceitou o fim da história de Hegel como fim da história do idealismo e continuidade da história do materialismo, foi assumido como o teórico que inspirou um conjunto de tentativas sistemáticas de saídas do fim da história de Hegel. E são estas tentativas que acabaram se dissolvendo e, desse modo, sendo consideradas como meros desvios inconsequentes e, ao mesmo tempo, inteiramente pertinentes à consolidação da afirmação do fim da história proposto e aceito por Hegel. Aliás, Marx mesmo tinha previsto que saídas precoces do fim da história teriam como consequência o retorno amadurecido ao fim da história e do fim da história.



O materialismo compreendido como a dialética da cisão do mundo ou do real dividido em dois contrários foi a sustentação do período caracterizado como Guerra Fria. E, basicamente, foi a descolonização globalizada do mundo, quer dizer, o fim das tentativas de saídas precoces do fim da história que resultou no retorno amadurecido ao fim da história e do fim da história, isto é, na dissolução do período da Guerra Fria e da cisão em dois mundos. Este materialismo está quebrado e toda sua sólida afirmação como poder positivo está sistematicamente se dissolvendo no ar.



Este materialismo repete o problema do idealismo que descrevemos acima. O idealismo não conseguia sair de si mesmo e se tornar poder positivo e este materialismo que leva a si mesmo ao poder positivo acaba se dissolvendo e conseguindo que o idealismo se torne poder positivo. Então, este materialismo, que agora está quebrado e em dissolução, foi o meio através do qual o idealismo deixou de ser apenas ideologia e se tornou poder positivo. Este materialismo foi apenas a solução da quebra do vir a ser do idealismo, da sua passagem de um pólo ao outro, logo, ele é apenas parte integrante do idealismo.



Com efeito, ainda que tenhamos descrito a Reforma como estando no cerne do procedimento do idealismo de Hegel e, portanto, como afirmação do idealismo como tal, isto é, como uma interpretação, não descrevemos por completo a dialética, aquilo que consiste no tema principal deste procedimento, ou seja, a essência temática da dialética ou do vir a ser que para Hegel são a Revolução Francesa e Napoleão, portanto, subestimamos o principal ou a evidência de ter Hegel, por meio da Revolução Francesa e das Guerras Napoleônicas, concebido o mundo dividido em dois reais.


Portanto, Hegel concebia sim no seu idealismo a cisão do mundo em dois reais que querem a supressão um do outro e fazia isto ao traduzir a Revolução Francesa na sua dialética idealista. Ele concebia perfeitamente bem, melhor, ele extraiu de modo perfeito o conceito racional da positividade real da Revolução Francesa. Foram as idéias do Iluminismo francês que se apossaram dos revolucionários franceses e estes, por sua vez, se apoderaram positivamente do poder político na França. Hegel concebia no seu idealismo aquilo que chamamos de materialismo dos dois reais que querem a supressão um do outro. E este seu conceito era e é o da emancipação política. A Revolução Francesa ou a Revolução Social Burguesa é a Revolução Social Política.


Marx demonstra isto com clareza na “Questão Judaica”, onde diferencia a revolução burguesa como emancipação política da revolução das “próprias forças sociais” como emancipação humana, ele aí ainda não usa as expressões “socialismo e comunismo” nem “proletariado” que usa na “Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” e ambas as obras foram publicadas simultaneamente na primeira e única edição dos “Anais Franco-Alemães”, logo, as duas obras afirmam a compreensão e o manejo que ele desenvolve das duas diferenças revolucionárias, a da emancipação política ou da revolução burguesa e a da emancipação humana (das “próprias forças sociais”) ou da revolução “socialista e comunista”/”proletária”.


Tudo que Marx expõe como emancipação política na “Questão Judaica” como crítica a Bruno Bauer é uma demonstração da compreensão mais profunda que ele tem de Hegel na sua disputa com Bauer. Inclusive o momento muito significativo da Revolução Francesa de “abolição da propriedade privada, da religião etc.”, o qual, por sua vez, é afirmado por meio da exceção à regra, isto é, por meio da adoção dos poderes absolutistas do “Ancien Régime” francês. E tanto o uso dos poderes da máquina de Estado absolutista quanto a abolição da propriedade privada, da religião etc. do chamado período do Terror servem de explicação para o combate da revolução à propriedade privada, à religião etc. da sociedade civil feudal depois do qual ocorre a restauração da propriedade privada, da liberdade religiosa etc. da sociedade civil burguesa. Bruno Bauer defende o momento da exceção, o momento do Terror, porque quer e defende a abolição da religião que identifica com a abolição da propriedade privada e com aquilo que chama de emancipação humana. Aliás, é por isso que considera o judeu sem capacidade de efetivar a emancipação política, já que, a seu ver, o judeu se encontra no Estado cristão e, portanto, teria de se tornar cristão e deixar de ser judeu para ter o mesmo direito (político) do cristão no Estado cristão e, por sua vez, ele defende que o cristão é aquele que está capacitado para efetivar a emancipação política abolindo o cristianismo do Estado e, desse modo, efetivando o Estado ateu/ateísta, isto é, aquele no qual a abolição da religião admite a capacidade da emancipação política dos ateus como sendo igualmente a capacidade da emancipação humana, já que os ateus são todos apenas criaturas humanas e não mais criaturas de Deus.


Marx mostra que o país da mais completa emancipação política, os Estados Unidos, é igualmente o país da mais ampla liberdade religiosa demonstrando que o fato do Estado ser laico e uma república/propriedade pública em nada impede que seus membros sejam religiosos e proprietários privados na Sociedade Civil. Portanto, demonstra que a emancipação política não se confunde com a abolição da religião, da propriedade privada etc., melhor, apenas se confunde com tais abolições enquanto se encontra combatendo uma determinada Sociedade Civil, a do feudalismo, porque a emancipação política é a emancipação característica da Sociedade Civil Burguesa.


A emancipação humana ou das “próprias forças sociais” é uma outra revolução e ela vai além da revolução política que é burguesa, porque a revolução das “próprias forças sociais” é humana, já que na “Questão Judaica” ele ainda não usa as expressões “proletária” e “proletariado”, porém, o sentido de as “próprias forças sociais” é precisamente aquele que aparecerá, em seguida, na “Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” como revolução “socialista e comunista” do “proletariado” ou da classe “proletária”. Nesta obra Marx defende a realização da filosofia do direito de Hegel mostrando que ela é a teoria/o racional da prática/do real da França e da Inglaterra (e dos Estados Unidos, se não esquecemos a “Questão Judaica”) e que na Alemanha sua realização é a efetivação da revolução de 1789, quer dizer, da emancipação política da revolução burguesa. Porém, a exceção da Alemanha não é apenas de corresponder na teoria à prática destes países de avançado desenvolvimento burguês, mas é também a exceção de ter uma burguesia incapaz de efetivar a emancipação política da revolução burguesa. É aí que ele percebe que, na Alemanha, é o proletariado a classe que, na Inglaterra e na França, está defendendo “o socialismo e o comunismo” como sua própria emancipação social ou humana, aquela que é capaz de efetivar a realização da filosofia do direito de Hegel, quer dizer, a realização efetiva da emancipação política própria da revolução burguesa. Ao contrário da França, onde a exceção que faz a abolição da propriedade privada, da religião etc. é conduzida pelos revolucionários burgueses que fazem uso da máquina de Estado absolutista herdada do feudalismo, na Alemanha a exceção que poderá fazer a abolição da propriedade privada, da religião etc. será conduzida pelos revolucionários proletários ou socialistas e comunistas - logo, por aqueles que querem tais abolições como regra – que ou farão uso da máquina de Estado absolutista prussiana ou farão uso de suas “próprias forças sociais” e, portanto, destruirão a máquina de Estado absolutista prussiana. Este ponto não fica claro porque o socialismo e o comunismo proletários são a exceção da Alemanha capaz de realizar efetivamente a revolução burguesa ou a filosofia do direito de Hegel, quer dizer, a outra exceção da Alemanha. Mais tarde, no “Manifesto do Partido Comunista” (e também na “Ideologia Alemã” que só foi publicada quase em meados do século XX e após sua morte no século XIX) Marx deixará claro que se esta revolução burguesa da Alemanha conduzida pelo proletariado se aliar a uma revolução proletária européia da Inglaterra ou da França, então esta revolução burguesa poderá vir a ser efetivamente proletária ou realização efetiva do socialismo e comunismo ou da emancipação humana.


Hegel teria feito uma acomodação da sua filosofia idealista revolucionária burguesa com o poder positivo do absolutismo prussiano reacionário feudal. Esta era a crítica geral dos hegelianos de esquerda. Bruno Bauer queria o Estado ateu e a negação da capacidade de emancipação política do judeu, só admitindo a capacidade para a emancipação política do cristão, ele queria o Estado absolutista ateu, ele era absolutista prussiano na sua propostas de emancipação política. Ludwig Feuerbach queria os indivíduos singulares e a Sociedade Civil Burguesa, nesse sentido, era democrático e admitia a liberdade religiosa inerente à Sociedade Civil Burguesa, portanto, admitia a emancipação política dos judeus, cristãos e ateus em geral. Max Stirner queria o indivíduo egoísta e sua propriedade, nesse sentido, admitia apenas a liberdade da mônada humana burguesa e a preservação da mesma por meio da anarquia de suas relações sociais como efetiva guerra de todos contra todos, defendia a emancipação política do saber absoluto do egoísta como fim anarquista e niilista da história.


Marx aprendeu com Hegel que a filosofia iluminista revolucionária burguesa francesa fez uma acomodação com o poder positivo do absolutismo do ancien régime, ou seja, que a emancipação política ou a revolução social burguesa é perfeitamente compatível com a máquina do Estado absolutista. Deduziu que Hegel considerava perfeitamente coerente fazer uma acomodação da sua filosofia com o absolutismo prussiano. A diferença era que os iluministas franceses tomaram o poder positivo da máquina do Estado absolutista das mãos dos absolutistas reacionários. E, portanto, seria preciso que seus discípulos hegelianos se lançassem na conquista do poder positivo do absolutismo prussiano arrancando-o das mãos dos reacionários absolutistas prussianos. A proposta de Bauer queria a emancipação política duma maneira que apenas dava vez aos absolutistas ateus porque na verdade se contrapunha à emancipação política geral. A proposta de Feuerbach era a que mais unia as forças na luta pela emancipação política geral mas recorrendo apenas ao desenvolvimento da Sociedade Civil Burguesa sem se ocupar com a conquista do poder político positivo. A proposta de Stirner era a que mais deixava claro que os discípulos não iriam mesmo arrancar o poder positivo da máquina do Estado absolutista das mãos dos absolutistas prussianos reacionários. Noutras palavras, a teoria burguesa não tinha condições de ser posta em prática pelos próprios burgueses.


Marx percebeu que só uma outra classe, a dos proletários, tinha condições de pôr em prática a teoria burguesa. Porque para os proletários não importava a religião de cada um e sim que pudessem se unir na defesa de seus interesses vitais, tampouco bastava ficar deliciado com a contemplação das diferenças entre os diferentes proletários e sim que tivessem poder político positivo para desenvolver suas “próprias forças (vitais) sociais” e menos ainda se limitar ao egoísmo da guerra de todos contra todos porque era ir inteiramente contra a defesa de seus próprios interesses vitais, de suas próprias forças sociais, quer dizer, seria ir contra seu próprio “egoísmo” que é ser “socialista e comunista”, “unidade da diversidade” e “fim da competição dos proletários entre si”. Além disso, percebeu que o interesse básico do proletariado era a sua emancipação social, isto é, a aquisição da emancipação de suas próprias forças sociais, logo, o que importava era a conquista da máquina social e não tão somente a conquista da máquina política que importava exclusivamente para a burguesia. Porém, a conquista da máquina social requeria não só a conquista da máquina do Estado mas também destruição da máquina do Estado porque esta agia no sentido de separar os proletários da conquista da máquina social. E, sendo a máquina social e a máquina política basicamente da Sociedade Civil Feudal e absolutismo feudal, então os dois avanços eram de interesse imediato dos proletários, ou seja, o desenvolvimento da Sociedade Civil Burguesa para que nela pudessem se desenvolver e a conquista do poder político positivo do absolutismo prussiano para poder desenvolver a Sociedade Civil Burguesa e, desse modo, vir a se apropriar da máquina social e a destruir a máquina do Estado.


A máquina do Estado é a garantia do desenvolvimento da Sociedade Civil Burguesa porque ela é a própria afirmação do idealismo, isto é, do espírito, melhor, do capital público que viabiliza e expressa a expansão do capital privado. A classe capitalista ou burguesa é a materialização do idealismo de Hegel, ou seja, nela vigora o espírito, a racionalidade ou o acúmulo abstrato da atividade sensível real das forças de trabalho proletárias. A conquista pelo proletariado da máquina do Estado sem que seja feita a sua destruição ou dissolução na máquina social apenas garante o desenvolvimento da Sociedade Civil Burguesa e ainda que a máquina social não se socializa entre os proletários se mantendo prisioneira da propriedade da máquina do Estado, quer dizer, da revolução política que é basicamente a revolução social burguesa.


O socialismo e o comunismo de Estado ou a abolição da propriedade privada, da religião etc. pelo Estado ou máquina de Estado absolutista tem como resultado o retorno da propriedade privada, da religião etc. – Esta é a observação crítica de Marx (presente, por exemplo, na “Questão Judaica”, na “Ideologia Alemã”, na “Guerra Civil na França” e “Crítica ao Programa de Gotha”) e, portanto, tudo aquilo que se realizou efetivamente com o materialismo, que cindiu o mundo em dois reais e que está em processo de continuada dissolução no mundo capitalista ou no fim da história tal qual, como ressalta Fukuyama, concebeu Hegel, foi a revolução burguesa, a emancipação política ou o idealismo hegeliano e não a revolução proletária, a emancipação humana ou o materialismo de Marx que vai além do fim da história do idealismo de Hegel.


O materialismo da cisão do mundo em dois reais contrários apreende apenas o vir a ser objetivo e, por isso, é inteiramente compatível com o idealismo objetivo que ainda não destrói nem transforma o outro pólo por completo, o que só se torna viável por meio do materialismo da cisão do mundo em dois reais contrários que apreende o vir a ser subjetivo que, por um lado, destrói e, por outro lado, transforma o outro pólo por completo, de modo que, em lugar de apenas se manter objetivamente o mesmo si mesmo vem a ser íntima, subjetiva e essencialmente outro si mesmo.