sábado, 29 de agosto de 2015

A consciência humana de si é a morada da divindade?!




O cosmo a cada pesquisa aumenta mais e, no entanto, permanecemos científica e oficialmente solitários em todo o universo mapeado e em mapeamento. Até o momento não podemos viajar à vontade devido a diversos problemas, mas, mesmo que pudéssemos resolver vários problemas, ainda teríamos de resolver um problema físico fundamental que é o da velocidade limite, a da luz, que, se conseguíssemos viajar nessa velocidade sem nos desfazermos em energia, mesmo assim, nos interditaria viajar e conhecer o universo na sua totalidade, exceto se conseguíssemos resolver um outro problema físico de ordem vital e nos tornássemos muito mais longevos do que o bíblico Matusalém ou eternos/imortais.


O céu, o cosmo ou o universo, em geral, sempre foi tido como a morada dos deuses ou de Deus e todas as pesquisas, até agora, demonstram que sua vastidão só está à altura e à disposição de um conhecimento completo por quem tenha qualidades similares àquelas que são atribuídas ao divino. E é um ambiente tão vasto que, mesmo que se consiga percorrê-lo, o tempo a fazê-lo pode ser inteiramente perdido se o percurso percorrido for por todas as partes onde não se encontra nenhuma morada de seres inteligentes, ainda que não sejam humanos e também nem mesmo sejam divinos.


Se supusermos verdadeira a crença no céu como morada dos deuses ou de Deus, logo, que eles eram extraterrestres ou que Ele era extraterrestre, então, podemos igualmente supor que os deuses estão mortos ou que Deus está morto, quer dizer, isto na linha de supor que os deuses eram astronautas ou que Deus era astronauta. Mas, mortos ou morto, por qual motivo? E é aí que entra em cena algo muito mais importante do que nosso encontro com um outro ser inteligente e que é o nosso encontro conosco mesmos, nosso encontro com nosso próprio ser inteligente, com nossa própria consciência de nós mesmos. Porque o mais provável, na suposição de astronautas extraterrestres que estão mortos, logo que desapareceram, é que eles mesmos tenham se destruído, posto que costumamos observar esta mesma tendência e este mesmo risco conosco mesmos.


Precisamos, então, antes de tudo, garantir que nossa espécie conseguirá superar tanto as condições que criam tendências autodestrutivas quanto as tendências que criam condições de autodestruição da espécie. A inteligência de nossa espécie pode simplesmente desaparecer junto com o desaparecimento da nossa espécie por desprezar a inteligência de conhecer a sua própria inteligência, a inteligência de conhecer a si mesma, a inteligência de conhecer sua própria espécie, ou seja, por desprezar tanto as condições que criam tendências auto-criativas quanto as tendências que criam condições de auto-criação.


Se conseguimos resolver este problema básico de autoconhecimento e de auto-criação, então, conseguimos garantir nossa continuidade na Terra, no nosso sistema solar, na nossa galáxia e daí por diante, ou seja, podemos não só vir a ser astronautas mas também vir a ter encontros com outros astronautas extraterrestres mais avançados, que evitariam os encontros por sermos autodestrutivos e levarmos autodestruição por toda parte.


Antes de tudo precisamos nos ocupar com nossa continuidade na Terra e/ou com a continuidade da nossa Terra. Se conseguimos fazer isso, então, muito provavelmente, faremos o mesmo com outros planetas do nosso sistema solar e de outros sistemas solares de nossa galáxia. Nada de raças e lutas raciais, nada de classes e luta de classes, mas apenas a garantia da espécie humana se desenvolvendo numa sociedade humana sem racismo nem diferenças de classes. Então, a viagem que poderemos garantir é a da espécie humana e da sociedade humana pelo universo na velocidade de realização da espécie e da sociedade humanas, quer dizer, no tempo de duração eternizadora/imortalizadora da história humana.


Pode ser que nessa viagem venhamos a encontrar os meios de nos tornarmos energia e de nos eternizar/imortalizar. Pode ser, inclusive, que, nessa viagem, venhamos a encontrar efetivamente com uma promessa de futuro, presente nas religiões, que foi deixada pelos deuses astronautas ou pelo Deus astronauta: a ressurreição dos mortos. Quer dizer, pode ser que venha a ser verdadeira a promessa de futuro presente nas religiões, como um presente, e que ensina que é pelo autoconhecimento que chegamos à auto-criação, logo, porque não também à ressurreição da espécie?!


A consciência de si que se liberta da consciência alheia ou religiosa é aquela que religa o ser a si mesmo, logo, é aquela que realiza a religação e, portanto, faz o religare da religião.  



terça-feira, 25 de agosto de 2015

Silêncio ensurdecedor...




Fernando Henrique e Dilma Rousseff estão dialogando através da imprensa. Ele pediu que ela fizesse um "mea culpa" e ela nomeou os seus atos, durante as eleições, de erros de avaliação e nomeou os seus atos, posteriores às eleições, de correção de seus erros de avaliação, ou seja, ela assumiu, como é correto fazer e corresponde ao fardo do cargo, inteira responsabilidade por seus atos. Nada além disso. E, com isso, explicou como mudou duma posição conservadora das leis trabalhistas e que não as muda "nem que a vaca tussa" - pois, como se sabe, vaca não tosse - para uma posição em que todos, se sentindo como a criança que, ao olhar a nova roupa do rei, disse: "o rei está nu!", repetem que "a vaca tossiu!". E, agora, ela diz que vai precisar mudar muita coisa e, em especial, a Previdência Social, afinal, argumenta, ninguém quer viver nas condições atuais da Grécia.


As "reformas" que a Dilma propõe agora seriam comparáveis às "reformas de base" do Jango, mas com um sentido inteiramente diverso. Se as "reformas de base" do Jango batiam de frente com "o mercado", o qual, por sua vez, era apoiado pelos militares e pelo Legislativo, agora, as "reformas" da Dilma estão de acordo com "o mercado" e é uma parte do Legislativo que bate de frente com elas e com "o mercado" e os militares?!... Vão bem, obrigado!... São profissionais da estratégia e, atualmente, não existe nenhum risco estratégico para o Brasil, como existia nas circunstâncias da Guerra Fria que circundavam o Jango. Comunismo de Estado ou Comunismo Real é algo que se conserva e resiste a mudar apenas no que pode ser chamado de um museu vivo duma dinastia e que é a Coréia do Norte. A China e o Vietnã mudam continuamente, como, aliás, ocorre no mundo capitalista desde a revolução industrial, por sinal adotada pela China e Vietnã, e onde "a incessante revolução dos instrumentos de produção dissolve tudo que é sólido no ar". Mas, aqui nas Américas, o que importa é Cuba e resta alguma dúvida de que ela está mudando a passos largos para se integrar no sistema das nações livres das Américas?! Se existe um risco estratégico na atualidade ele está representado pelo terrorismo fundamentalista de um Estado Islâmico e de outros grupos similares.


Ora, "Dilminha paz e amor", como a presidente se referiu a si mesma na entrevista, lembrando e homenageando Lula, estrategicamente quer a legitimidade da democracia, a legitimidade de seu mandato democrático e a legitimidade dos mandatários democráticos, seus eleitores. A estes Getúlio honrou o mandato recebido com seu suicídio e é a estes que Dilma honrará o mandato recebido com... O quê? Eu suponho que seja com o amadurecimento democrático, com a superação das crises institucionais golpistas e antidemocráticas como as que levaram Getúlio Vargas ao suicídio e João Goulart a ser deposto, enfim, suponho que seja reverenciando a Era Vargas para que com a realização da Era Vargas se consiga a superação da Era Vargas e a entrada na Era da Liberdade, como, no seu testamento político, Vargas queria que o povo brasileiro entrasse depois de sua morte.


Ontem, completaram 61 anos do suicídio de Vargas e o silêncio a respeito é ensurdecedor.



segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Ato de grandeza: Suicídio de Vargas pela Liberdade do Povo no Governo! Pela Democracia!




Depois da renúncia de Jânio Quadros os ministros militares não aceitaram que João Goulart o vice-presidente tomasse posse. Brizola fez uma mobilização pela legalidade. O  Congresso inventou a solução parlamentarista, inteiramente anômala, e, com Tancredo Neves, de primeiro-ministro, João Goulart assumiu como presidente da república do Brasil.


Em 2014, não houve nenhuma renúncia e sim eleições que reelegeram a presidente Dilma Rousseff, ainda que com uma diferença pequena de votos, mas que não deixou de ser significativa para consagrar o resultado, o qual, aliás, foi imediatamente aceito pelo segundo colocado, Aécio Neves, por sinal parente de Tancredo Neves.


O primeiro embate significativo foi promovido pelo presidente da Câmara, Henrique Alves, antes do término do seu mandato. Ele conseguiu a reprovação de uma Medida Provisória que facilitava o Diálogo entre o Executivo e a Sociedade Civil, mas que o Legislativo, entendendo que o deixava inteiramente de fora, sentiu como um golpe no seu poder. Certamente que alguns parlamentares mais afeitos às memórias históricas se lembraram das propostas de Brizola para que João Goulart governasse diretamente com o povo e sem o Legislativo. Ora, o golpe sofrido por João Goulart, o Jango, só ocorreu depois que ele cedeu às pressões de Brizola e aceitou fazer um discurso no Rio de Janeiro, defronte à Estação Ferroviária da Central do Brasil, ao lado do Ministério da Guerra (que tinha o papel que hoje tem o Ministério da Defesa), que foi interpretado como tendo assumido fazer um governo diretamente com o povo e sem o Legislativo. Mesmo que a Medida Provisória da presidente Dilma remeta para algo parecido com as propostas daquele período seria muito estranho considerar que ela estava dando um golpe, já que sua aprovação dependia  inteiramente do Legislativo, o qual, através da mobilização de Henrique Alves, reprovou a Medida Provisória. No entanto, a mobilização para a reprovação da Medida Provisória se configurou como um levante em prol de um golpe preventivo na presidente Dilma e foi a partir daí que os perdedores começaram uma espécie de terceiro turno das eleições presidenciais por meio do impeachment, a convocação de novas eleições, a instituição de um semi-presidencialismo ou de um parlamentarismo etc.


Certamente, como é mais do que sabido por todos, a presidente não veio apenas do PDT de Leonel Brizola para o PT de Lula, mas antes disso, foi militante da luta armada contra o golpe militar, ou seja, mais próxima das posições de levante do povo contra o golpe iniciadas com o movimento pela legalidade de Brizola e também, posteriormente, das posições contrárias de Brizola a um Legislativo capaz de inventar a anomalia do parlamentarismo em plena vigência do presidencialismo para satisfazer os golpistas, logo, mais próxima das posições populistas de Brizola de governo do Executivo diretamente com o povo e sem o Legislativo. No entanto, Jango também veio a defender um governo por um Executivo populista, mas, ao contrário do que se pensa, com a aprovação do Legislativo. Ora, o que fez Dilma Rousseff? Deu um golpe?! Não!!! Submeteu ao Legislativo uma Medida Provisória, sujeita a alterações do Legislativo, onde de forma transparente defende suas posições a favor de um Executivo populista, desde que aprovado pelo Legislativo.


Porém, com isso, o que veio à tona, como recordação, afinal, como se repete num programa de rádio, "saudade não tem idade", foi todo o ambiente golpista iniciado com a renúncia de Jânio Quadros.


Certamente que esse processo começou lá atrás quando a mobilização das ruas conseguiu fazer voltar atrás os aumentos das passagens dados pelos governantes municipais e quando também a mobilização das ruas ultrapassou as reivindicações por tarifa zero ou passagens mais baratas e avançou para tudo. O Movimento Pelo Passe Livre saiu de cena. Parte dos manifestantes já eram componentes dos domingueiros atuais que passaram basicamente a defender o impeachment da presidente Dilma. Aécio Neves - articulado com sua base do PSDB e a dissidência do PMDB, que tem por liderança Eduardo Cunha, o braço direito de Henrique Alves que, com a saída deste, se tornou seu substituto natural e foi eleito presidente da Câmara - passou a fazer a mesma pregação pelo impeachment, pelo semi-presidencialismo, por uma saída parlamentarista, por novas eleições, pela renúncia da presidente, enfim, importa mais fazer levante para um ataque preventivo, mesmo na ausência de quaisquer provas contra a presidente, porque a ideia de retirar o mandato da presidente poderá ser viável mesmo com uma prova fraca ou uma mera suspeição documental, já que o essencial de um ataque preventivo é a prevenção, mesmo na ausência de provas, já que, em geral, é só depois do ataque preventivo consumado que fica provado que nada existia, porém aí a verdade já não importa mais porque se obteve a vitória sobre o adversário preventivamente atacado. Tanto o ataque preventivo usado por Bush e companhia no Iraque quanto a campanha para o ataque preventivo baseada na repetição de algo até à exaustão para que seja considerado como algo inteiramente normal e aceitável são considerados, originalmente, como instrumentos característicos dos nazistas. Mas, eles vem sendo muito usados desde então e, como se vê, cada vez mais.


Hoje é o dia do maior espectro político da história da república do Brasil, hoje é o dia  do maior ato de grandeza política da história da república do Brasil, hoje é o dia do suicídio de Getúlio Vargas. E foi ele quem esteve por trás do surgimento de Jango, de Brizola e, como se vê, mesmo de Dilma Rousseff. Bem como foi contra ele que se levantaram todas as forças que desde 45 prepararam e deram vários golpes até conseguir dar o golpe de 64, mas, como também se vê, no atual processo de "saudade não tem idade" até mesmo aqueles que, recentemente, declararam o fim da Era Vargas estão ressuscitando soluções e instrumentos que foram desenvolvidos nessa época como aconselhar a renúncia de um presidente, a instituição anômala e elitista de um parlamentarismo, enfim, todas aquelas medidas que tradicionalmente foram usadas pelos golpistas contrários a Era Vargas.


Ao que parece é preciso mais do que nunca ressuscitar a Era Vargas e sem nenhum receio da mesma, sem nenhum receio do populismo ou do governo do Executivo com o povo ou Sociedade Civil e isso é preciso mais do que nunca para que efetivamente se supere a Era Vargas, já que, na verdade, não há o que temer de quem quer respeitar a democracia, a legitimidade do seu mandato democrático e, em especial, a legitimidade do mandatário democrático que é o povo ou a Sociedade Civil. E, como se sabe, Getúlio Vargas cometeu suicídio defendendo a legitimidade da democracia, a legitimidade do seu mandato democrático e a legitimidade do povo ou da Sociedade Civil ser o mandatário democrático. Aliás, foi em torno disso, da legitimidade do mandato democrático de Jango, da legitimidade da democracia e da legitimidade do povo ser o mandatário da democracia, que girou todo o processo que culminou no golpe de 64 e que, agora, em conjunto, gira em torno da presidente Dilma Rousseff.


Não há o que temer com o retorno da Era Vargas porque é apenas o amadurecimento da democracia que pode ser um retorno da Era Vargas e, como o próprio Vargas, assumiu com o suicídio, ele saiu da vida para entrar na história como escravo do povo para que o povo nunca mais voltasse a ser escravo na vida e na história, ou seja, a superação da Era Vargas é feita pela liberdade do povo brasileiro, ou seja, pelo amadurecimento da democracia, do mandato democrático e, especialmente, do mandatário democrático que é o próprio povo ou a Sociedade Civil do Brasil.



sábado, 22 de agosto de 2015

A liberdade do tempo ou o tempo da liberdade?!




Os animais são seres vivos que não experimentam de forma completa a liberdade do espírito ou do trabalho em si mesmos e são os humanos que experimentam a liberdade do espírito ou do trabalho em si mesmos quando são criados e se desenvolvem entre humanos, já que os meninos-lobos, crianças que foram criadas por lobos desde pequenas, não conseguem experimentar de forma completa a liberdade do espírito ou do trabalho em si mesmos.


Os humanos são seres vivos que experimentam de forma completa a liberdade do espírito ou do trabalho, quer dizer, a liberdade da consciência de si, melhor, a liberdade do mundo dos mortos dentro de si. A liberdade do espírito, a liberdade do trabalho, a liberdade da consciência de si é a liberdade do espectro, a liberdade do morto, a liberdade do negativo que se transforma em energia prática e sai como vontade voltada contra a realidade mundana da natureza, da vida. Os seres humanos são seres animais vivos que se diferenciam dos demais seres animais vivos por experimentarem de forma completa a liberdade do mundo dos mortos, a liberdade do mundo dos negativos, a liberdade do mundo dos imaginários, a liberdade do mundo dos conceitos, a liberdade do mundo dos artificialmente criados ou dos trabalhos.


Todos os seres vivos experimentam morrer, mas dentre os seres animais vivos são apenas os humanos, pelo menos no mundo terrestre, que experimentam a liberdade de morrer dentro de si, de morrer imaginariamente, que experimentam a liberdade de portar o tempo dentro de si, quer dizer, a liberdade de portar o morto ou o passado presente dentro de si e, desse modo, experimentam a capacidade de se transformar em energia prática que sai como vontade presente voltada contra a realidade mundana para se realizar como mundo futuro.


O tempo de trabalho humano, o trabalho do tempo humano, o trabalho humano do tempo, o tempo humano de trabalho. Consideremos tempo de trabalho humano e tempo humano de trabalho como sinônimos e também consideremos como sinônimos trabalho do tempo humano e trabalho humano do tempo por considerarmos tempo de trabalho versus trabalho do tempo. Assim, um primeiro trabalho do tempo é constituir a experiência da liberdade de morrer dentro de si e a partir daí surge um primeiro tempo de trabalho de mudar o mundo fora de si. E, uma vez conquistada a mudança do mundo fora de si, ocorre um segundo trabalho do tempo que é constituir a liberdade de viver fora de si e, consequentemente, surge um segundo tempo de trabalho de mudar o mundo dentro de si.


O trabalho do tempo e o tempo de trabalho possuem correspondências com a liberdade do tempo e o tempo da liberdade. E que querem os humanos?! A liberdade do tempo ou o tempo da liberdade?!



"Mortos-Vivos ou Vivos-Mortos?! E vice-versa?!




A morte imortal impera categoricamente na natureza de modo que toda a natureza é mortal e que tudo que morre não é a morte e sim a vida. A filosofia acredita ser imortal, logo, acredita ser a morte e/ou ser parte do mundo da morte ou será do mundo dos mortos? Qual a diferença? Ser do mundo da morte imortal é nunca morrer e ser do mundo dos mortos é sempre morrer, melhor, sempre estar morta. A morte imortal nunca morre e nunca vive mas sempre mata. E o mundo dos mortos? Eles estão sempre mortos, sempre viveram antes de morrer e nunca vivem imortalmente. Essa diferença é importante porque "o ser que é e não pode não ser", quer dizer, o ser metafísico autêntico é a morte imortal que apenas é morte e nunca deixa de ser morte porque nunca morre. Já o morto é aquele que foi e não é mais, logo, ele é parte integrante do "ser que é e pode não ser", quer dizer, seu ser físico autêntico é a vida mortal que só é vida porque sempre morre.


"Constitui uma lei psicológica que o espírito teórico, que se tornou livre em si mesmo, se transforme em energia prática e saia como vontade do reino das sombras do Amênti (reino dos mortos no Antigo Egito) e se volte contra a realidade mundana que existe sem ele." (Passagem da tese de doutorado de Marx).


Kant dizia que a saída da menoridade é a coragem de fazer uso público da razão, já Marx diz que uma vez alcançada a maioridade ou a liberdade íntimas tem início uma lei que transforma o íntimo em energia prática que sai do íntimo como vontade de maioridade e de liberdade voltada contra o mundo que existe sem a maioridade e a liberdade íntimas. Em ambos os casos se trata de desenvolver um trabalho. Tanto no uso público da razão quanto no uso da energia prática voltada contra a realidade mundana aquilo que se encontra em curso e em desenvolvimento é o trabalho, a atividade de transformação ou a prática-crítica, quer dizer, é a atividade prática de desenvolvimento da crítica que transforma a realidade mundana.


Mas foi Hegel quem ensinou Marx que a liberdade em si mesmo, a liberdade íntima do espírito ou da psiquê está constituída como reino dos mortos, logo, como reino dos espectros. Assim, o espectro do comunismo que rondava a Europa era a liberdade e a maioridade íntimas ou presentes na consciência europeia, quer dizer, era o movimento real visível a olho nu da energia prática dos trabalhadores voltada contra a realidade mundana que existe sem eles.


Hoje, quais são os espectros que rondam o mundo? De imediato se diz que é o espectro do terrorismo fundamentalista, quer dizer, do Estado que nega qualquer liberdade da Sociedade Civil. Mas também se diz que o movimento real visível a olho nu do liberalismo globalizante é o espectro que se tornou livre em si mesmo e que não só ronda o mundo como o transforma com sua energia prática.


E o espectro do comunismo deixou de rondar o mundo e de ser movimento real visível a olho nu?! Sim, enquanto ele for entendido como movimento crítico-utópico ou doutrinário, quer dizer, do chamado "comunismo real". Não, se ele for entendido  como movimento crítico-prático ou real, quer dizer, da chamada energia prática da liberdade ou do espectro do "comunismo íntimo/imaginário". Hoje, em linhas gerais, são dois movimentos reais que são visíveis a olho nu, o dos que querem a imposição doutrinária ou fundamentalista da sua posição crítico-utópica ou do Estado Absolutista e o dos que querem a libertação prática ou íntima da sua posição crítico-prática ou da sociedade comum, quer dizer, da civilidade social. Atualizando Rosa Luxemburgo se pode dizer que a disjunção hoje é entre "Civilidade ou Barbárie". Já a disjunção mais perene é entre "Mortos-Vivos ou Vivos-Mortos", quer dizer, entre uso público da razão ou liberdade íntima versus não uso público da razão ou escravidão íntima.



Quanto mais morto mais real e vital?!?!




Porque o espectro do comunismo que rondou o mundo e nele se encarnou como um movimento real visível a olho nu nunca conseguiu alcançar sua finalidade ou satisfazer seu objetivo além das afirmações momentâneas ou conjunturais de uma estrutura (a comuna, o conselho, o soviete etc.) que, no entanto, não perdura exceto como momento especial? Porque a regra das suas afirmações históricas consiste em ser exceção? Porque sendo suas afirmações históricas em lugares reais e, por isso mesmo, não podendo ser consideradas utópicas ou existentes em lugares exclusivamente irreais ou imaginários, porque, portanto, que, apesar disso, suas afirmações em lugares reais e não-imaginários permanece confinada à vinda à tona da efetivação de sua finalidade ou da satisfação do seu objetivo exclusivamente como uma exceção? Ou seja, o parto existe e nascer nasce, mas porque, após organizar e expressar seus primeiros passos, simplesmente falece e não resiste à regra duma estrutura que a nega, ainda que a deixe existir na brevidade histórica do espaço e do tempo da exceção?


O argumento mais consistente e famoso é aquele que diz que para que a estrutura deixe de ser de exceção ela precisa ocorrer ao mesmo tempo nos lugares reais material e historicamente mais desenvolvidos porque se ocorrer em tempos diferentes ou ao mesmo tempo nos lugares reais material e historicamente menos desenvolvidos permanecerá sendo exceção, permanecerá sendo uma estrutura duma conjuntura de exceção e muito breve, porque logo a materialidade e a história dos lugares reais menos desenvolvidos se apresenta como regra duma estrutura perene.


O problema, segundo outro argumento igualmente consistente e famoso, é que nos lugares reais material e historicamente mais desenvolvidos o movimento real visível a olho nu que aparece não é o do espectro do comunismo e sim o do liberalismo, enquanto que nos lugares reais material e historicamente pouco desenvolvidos o movimento real visível a olho nu que aparece é o do espectro do comunismo e não do liberalismo.


 De acordo com o primeiro argumento para que o comunismo deixe de ser uma estrutura de exceção ele precisa ocorrer ao mesmo tempo em vários países desenvolvidos, então não é suficiente que ocorra em um país desenvolvido. Já, de acordo com o segundo argumento, em todo e qualquer país desenvolvido nunca aparecem nem o comunismo nem sua estrutura de exceção e sim apenas o liberalismo, porque a estrutura de exceção do comunismo aparece sempre em todo e qualquer país pouco desenvolvido.


O comunismo como regra estrutural, segundo o primeiro argumento, só pode ocorrer como movimento associado dos países desenvolvidos, de um modo que excede os limites do Estado-Nação e afirma a abrangência do desenvolvimento da Sociedade Civil desses países. Para o segundo argumento, o comunismo como regra estrutural só pode ocorrer como movimento inerente de qualquer país pouco desenvolvido, de um modo que o Estado-Nação tudo abrange nos seus limites  e, ao mesmo tempo, nega e limita o desenvolvimento da Sociedade Civil desses países.


Para um, o comunismo como regra estrutural resulta da conquista da maioridade social dos países desenvolvidos. Para o outro, o comunismo como regra estrutural resulta da maioridade política do país não-desenvolvido. Com a conquista da maioridade social a tutela é da própria sociedade sobre si mesma. Com a conquista da maioridade política a tutela é do Estado sobre a Sociedade. Daí se conclui que o primeiro argumento é o dos que defendem e acreditam na conquista da maioridade para todos e o segundo argumento é o dos que defendem e acreditam na conquista da maioridade apenas para os tutores. Comunismo dos maiores e libertos responsáveis por si mesmos e comunismo dos maiores e tutores responsáveis pelos menores.


Isto tudo, no entanto, nada resolve a respeito do assunto. Ainda mais na atualidade que o tal do liberalismo que estaria restrito aos países desenvolvidos se afirma por toda parte como globalização irresistível. Aliás, todo e qualquer movimento real visível a olho nu que lute por sua independência de classe nada mais faz do que afirmar o liberalismo, quer dizer, a independência de classe da Sociedade Civil frente à sua dependência e tutela políticas do Estado-Nação. O novo sindicalismo, que poderia ter se tornado independente do Estado e do trabalhismo ou ter tornado o trabalhismo independente do Estado, ao conquistar esses seus feitos querendo fazer do comunismo regra estrutural conseguiria de fato é fazer do liberalismo sua regra estrutural. Mas, por sua vez, o velho sindicalismo ou o trabalhismo dependente do Estado ao resistir com esses seus feitos ao liberalismo globalizante consegue de fato o quê? Dependência e tutela de classe que impossibilitam fazer do comunismo regra estrutural da maioridade social, mas que como regra estrutural do comunismo de tutela está continuamente em crise devido ao liberalismo globalizante da atualidade.


O espectro é o morto sob a forma de fantasma. Então, de certa forma, até agora, o comunismo como movimento real só se realizou efetivamente como espectro ou fantasma dum morto porque nunca conseguiu sair da estrutura de exceção conjuntural, momentânea, breve que morre logo para uma regra estrutural perene, sistêmica, longa que vive muito. Nunca conseguiu viver. Assim sendo, é como morto ainda mais morto que o comunismo como movimento real visível a olho nu poderá se realizar?! Como liberalismo?!?!



quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Qual é mesmo o conselho?! O gesto de grandeza?! O coração da razão?!




Quem está vendendo conselhos? Fernando Henrique Cardoso? Ok! Mas, quanto vale? Vale quanto custa. Quanto custa uma renúncia da presidência da república? É o quanto vale.


Quem já renunciou à presidência da república no Brasil? Jânio Quadros e Fernando Collor. A do primeiro foi uma renúncia aceita formalmente e a do segundo não foi formalmente aceita e não valeu, já que foi o impeachment que foi formalmente aceito e que valeu. Então, apenas Jânio Quadros renunciou à presidência da república do Brasil. E a renúncia dele foi algo que surpreendeu a todos, algo inesperado e uma decisão que, segundo ele, foi tomada para que o seu exercício do poder presidencial fosse preservado e não fosse usado indevidamente pelas forças que estavam sabotando a autenticidade de sua atividade presidencial. Então, a sua renúncia repentina e surpreendente era para evitar um golpe que estava em curso no interior do sistema de poder presidencial da república do Brasil. No entanto, ele nunca revelou que forças estavam minando o íntimo do sistema de poder presidencial e como, em seguida, os chefes militares se opuseram à posse do vice-presidente da república, o senhor João Goulart, então a sua renúncia trouxe à tona uma crise política que efetivamente sabotou o sistema de poder institucional da presidência da república do Brasil, posto que constitucionalmente o vice-presidente da república do Brasil deveria assumir a presidência que Jânio Quadros havia deixado vaga para ele. E como Jânio Quadros renunciou elogiando os chefes militares pareceu a todos que foi ele quem, com sua renúncia repentina e surpreendente, realmente minou o sistema de poder presidencial da república do Brasil.


Dilma Rousseff a quem Fernando Henrique Cardoso aconselha a renúncia evidentemente não se encontra numa situação similar à de Jânio Quadros, quer dizer, no sentido duma situação na qual ela surpreenderia a todos com um ato repentino e surpreendente. Mas, ela se encontra numa situação similar a algum outro presidente da república? Sim, responde Fernando Henrique Cardoso, ela se encontra numa condição parecida com a de Fernando Collor. - Aliás, acabo de aprender, lendo em http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/governo-collor-de-mello-1990-1992-presidente-renuncia.htm que Collor renunciou para não sofrer o impeachment -. Foi um gesto de grandeza essa renúncia do Collor para não sofrer o impeachment?! Ao que parece Fernando Henrique Cardoso não deixa claro se o gesto de Collor foi de grandeza, especialmente porque se refere a Ulysses Guimarães que, com a constituição em punho, teria dito que Collor pensava que era presidente, mas que já não era mais presidente. Faz essa referência argumentando que se ela não renunciar alguém virá até ela e repetirá Ulysses Guimarães. E, com isso, dá a entender que a renúncia de Collor foi desprovida de grandeza, já que Dilma só terá grandeza se fizer a renúncia agora, quer dizer, antes que alguém repita Ulysses para ela e que ela repita a falta de grandeza, para não dizer a pequenez, da renúncia de Collor.


Porém, contra o Collor havia o impeachment, votado pelos parlamentares, por estar embasado em provas de corrupção cometidas por seu tesoureiro, o Paulo César Farias, após a apuração de uma CPI. E contra Dilma? Não existe nada, nem mesmo uma CPI. Existe sim uma vontade política de submetê-la ao impeachment. Uma vontade expressa por manifestações e entre os grupos de manifestantes existem inclusive aqueles que claramente querem o golpe militar e não tão somente o golpe político via impeachment. Entre os que, aparentemente, querem apenas o golpe político via impeachment se encontram os políticos dos partidos de oposição e dissidentes dos partidos aliados do governo Dilma. Mas esta situação duma vontade política de manifestantes nas ruas expressarem o desejo do impeachment como um golpe político e, até mesmo, um golpe militar não é a mesma de Collor nem se parece com a de Collor. Os historiadores atuais dizem que o golpe de 64 foi um golpe civil-militar precisamente porque houve uma mobilização de manifestantes civis nas ruas defendendo a derrubada do governo João Goulart. Então, se existe uma situação parecida, nos ensinam os historiadores, que é a que antecedeu o golpe civil-militar de 64 que derrubou João Goulart.


Antes do golpe de 64 a manifestação e a atividade dos militares em movimentos francamente golpistas e favoráveis a um golpe foi algo bastante costumeiro e que correspondia ao uso dos costumes ou à moral e aos costumes da época precisamente porque a proclamação da república no Brasil foi um golpe militar, ainda que há muito existisse um movimento republicano na sociedade civil brasileira. Mas, foi especialmente a partir do fim da Segunda Guerra Mundial que teve início, com apoio logístico dos EUA, uma mobilização sistemática dos militares para intervir em defesa da democracia liberal na vida política da república. Nessa época, Getúlio Vargas teve, segundo Fernando Henrique Cardoso, a grandeza de renunciar por ser um ditador num país que lutou na Segunda Guerra Mundial contra a ditadura nazi-fascista. Ora, ele, Getúlio Vargas, havia feito a opção pelos Aliados e contra o Eixo, então, como podia manter um regime contra o qual havia levado o próprio país a lutar na Guerra?! Acabamos de achar um presidente que renunciou antes de Jânio Quadros e, ao que parece, com um gesto de tamanha grandeza que o fez voltar à presidência da república legitimado pela vontade política dos eleitores.


O suicídio de Getúlio Vargas é considerado o gesto da mais suprema grandeza na política da república brasileira. Mas, como é possível que o mesmo político que foi capaz de renunciar não só se recuse a renunciar mas cometa o suicídio para defender seu mandato político de presidente da república?! Quando foi capaz de renunciar seu mandato havia começado cerca de 15 anos antes num movimento civil-militar sob o argumento de ir contra eleições fraudulentas que deram a vitória a seu adversário da oligarquia paulista. Quando foi capaz de cometer suicídio seu mandato havia sido obtido em eleições limpas que o legitimaram. No primeiro caso, ele renunciou por admitir que, além de duvidoso, o seu mandato era ilegítimo. No segundo caso, ele defendeu a legitimidade de seu mandato, apesar de estar cercado de auxiliares que, mais que duvidosos, eram piores do que seus próprios inimigos, melhor, só estavam à altura dos seus piores inimigos. Seus auxiliares eram não só corruptos mas também assassinos, portanto, com a corrupção, serviam não ao seu governo e sim a seus opositores, e, com assassinatos, serviam aos opositores golpistas porque minavam e roubavam a legitimidade de seu governo. Ora, Getúlio Vargas fez questão de demonstrar que ele não era nenhum deles. Fez questão de demonstrar que não era corrupto, que não era golpista, que não era assassino e, mais do que tudo, fez questão de demonstrar que pela democracia e pela legitimidade do mandato democrático ele era capaz do supremo sacrifício.


A Dilma não se encontra na situação de ditadora como se encontrava Getúlio Vargas no término da Segunda Guerra Mundial, então sua renúncia não pode ser um gesto de grandeza como o do Getúlio Vargas que renuncia à ditadura em favor da democracia. No entanto, ela se encontra numa situação de presidente eleita legitimamente como se encontrava Getúlio Vargas quando foi cercado não só pelos seus opositores golpistas mas também por seus auxiliares corruptos, golpistas e assassinos. Claro que inexiste caso de atentados golpistas e assassinos por parte de seus "auxiliares ou apoiadores", mas existem os casos de corrupção envolvendo parte dos auxiliares do governo dela ou de seu predecessor, quer dizer, envolvendo dirigentes de empresas estatais e privadas, políticos e partidos da base do governo etc. Em tal situação o gesto de grandeza da Dilma Rousseff para demonstrar que é o tal coração valente que luta pela liberdade, pela legitimidade do mandato democrático, pela legitimidade da democracia seria, sem dúvida, o do supremo sacrifício.


Mas, se é verdade que o gesto da suprema grandeza é o suicídio de Dilma Rousseff, não é verdade que o único suicídio possível é aquele cometido por Getúlio Vargas. Porque, afinal de contas, João Goulart não cometeu um suicídio político para, nas suas palavras, "evitar um banho de sangue" do povo brasileiro pelos golpistas de 64?! E se realmente o gesto de grandeza de Dilma Rousseff  é o suicídio, então, supondo que não seja o suicídio real de Getúlio nem o suicídio político de João Goulart, qual é o suicídio que ela irá cometer?!


O filme "Coração Valente" nos dá algumas indicações. O herói escocês se sacrifica bradando liberdade e, desse modo, muda a posição do rei escocês que em lugar de se render aos ingleses parte para a guerra pela liberdade da Escócia da Inglaterra. Então, a disposição de Dilma Rousseff de cometer o sacrifício supremo visa levantar o povo para lutar pela liberdade, pela legitimidade do mandato democrático, pela legitimidade da democracia e contra o golpe, mas sem evitar a resistência, se acaso houver um golpe, por não considerar que haverá "um banho de sangue" já que, na atualidade, além do longo aprendizado com os sofrimentos impostos pela ditadura, não existe mais espaço e tempo, melhor, lastro ou base para o uso costumeiro e abusado da moral e dos costumes ditatoriais. A época é outra.


O "suicídio" de Dilma Rousseff é o gesto de grandeza de se manter firme na defesa de seu mandato legítimo mesmo no caso de que ele lhe seja retirado porque com seu firme brado pela liberdade ela voltará legitimada pelo povo por seu "Coração Valente".


Não estou dizendo que voltará a ser eleita, mas sim que voltará a ser reconhecida, ou seja, à maneira do herói escocês que morre gritando liberdade e, por morrer, não pode voltar, ela voltará como espectro que brada: LIBERDADE!!!


Noutras palavras, a herança de Vargas, o suicídio, ainda não se realizou efetivamente na história e Dilma é parte integrante dessa herança e o desafio que está posto para que enfrente é o da entrada na história da encarnação da liberdade, da democracia, do mandato democrático que Getúlio Vargas defendeu "saindo da vida para entrar na história". Dilma Rousseff assim como João Goulart são herdeiros dessa situação na qual Vargas saiu da vida para entrar na história e eles herdaram esse dever de entrar na história deixado por Vargas.


Talvez caiba a Dilma Rousseff o último ato dessa herança de Vargas que é o da encarnação na história da liberdade popular, da democracia legítima, da legitimidade do mandato democrático. Posto que, como dizia Vargas, "o povo do qual fui escravo, não mais será escravo!", ou seja, a liberdade histórica do povo brasileiro é a herança encarnada de Getúlio Vargas. Logo, o coração que ele abateu com um tiro no peito é o coração valente que ele deixou como herança para se encarnar na história.


E Dilma Rousseff, desde sua última campanha eleitoral, assumiu ser a encarnação do "Coração Valente"...



terça-feira, 18 de agosto de 2015

Qual o espectro?! Qual o movimento real?!




Luta de classes para chegar ao fim das classes?! Afirma o que existe, a luta de classes, para chegar via negação duma classe pela outra ao fim das classes?! Mas, a afirmação duma classe sobre a outra classe, que é como a classe que se afirma nega a outra classe e, desse modo, faz da outra a classe dos negados, a classe negada, ou seja, pela luta de classes o que se afirma é qual é a classe dominante e não o fim das classes, certo?! Aqui, nos meus pensamentos, e aí, entre os leitores - se é que os há -, vem a ideia de aprofundar a dominação de classe de modo a exterminar a classe negada, a classe dos negados, para que não mais exista nenhuma classe negada e, com isso, deixe de existir também a classe dominante que afirmou esta extinção da classe negada, melhor, dominada. A exterminação pura e simples parece que foi experimentada com os pelotões de fuzilamento, com as prisões em massa e com a apropriação pelo Estado de todas as propriedades que possam ser fonte ou originar a continuidade da(s) classe(s) negada(s). Os nazistas que queriam exterminar raças e não propriamente classes partiram para um extermínio mais direto que indo além dos pelotões de fuzilamento, prendiam em campos de concentração para exterminar os corpos em câmaras de gás, fabricando sabão, bolsas etc. ou, pura e simplesmente, exterminando os corpos em fornos crematórios. Porém, aqui, o que interessa é o experimento dos que buscaram o extermínio da classe negada e que visavam o extermínio das classes. Nesse experimento a classe dominante, que de tudo se apropria via Estado, traz para si a propriedade de tudo, traz para si as propriedades da(s) classe(s) dominada(s), mas, desse modo, ela mesma muda de classe ao passar à condição de proprietária exclusiva do Estado. E o Estado diferencia o proprietário do Estado do proprietário da Sociedade Civil. Esta "nova" classe dominante considera que só o Estado é proprietário e a Sociedade Civil é inteiramente desapropriada ou só é proprietária em alguns casos, em algumas exceções, que são concessões feitas pelo Estado. E aí são os trabalhadores que são funcionários do Estado e membros reconhecidos do partido do Estado aqueles que efetivamente são proprietários do Estado, já que aqueles que não são funcionários do Estado nem membros reconhecidos do partido no poder do Estado se encontram na condição de membros da Sociedade Civil sem direitos à condição de proprietária, exceto nos casos das concessões, mas com os deveres da condição de propriedade do Estado, ou seja, os trabalhadores da sociedade em geral são a classe dominada pela classe dominante dos trabalhadores do Estado "em geral".


Hegel foi dos fenômenos até o espírito. Tudo ficou sujeito ao desaparecimento e, ainda que permanecesse o que permanecia era uma alienação vazia de conteúdo, já que este ficava com o tempo, melhor, com o espírito, com a ideia.


Seu discípulo Feuerbach disse que esta abstração que restava como conteúdo não era a ideia, não era o espírito e era sim o homem, quer dizer, o humano, porque a abstração era propriedade ou qualidade exclusiva do ser humano.


Seu discípulo Marx disse que este conteúdo abstrato não era propriedade ou qualidade exclusiva do ser humano, no sentido de inerente à natureza do ser humano isolado, mas sim da humanidade, no sentido de inerente à sociedade dos seres humanos.


Se para Hegel bastava alcançar e ser a ideologia dominante, já para Feuerbach era suficiente o "homem" conquistar o poder do Estado para conquistar a Sociedade Civil dos homens ou indivíduos singulares e, enfim, para Marx era preciso ir além da emancipação política ou conquista do poder do Estado com a correspondente Sociedade Civil dos homens ou indivíduos singulares para alcançar a emancipação social ou a conquista da sociedade dos seres ou indivíduos humanos comuns, quer dizer, era preciso destruir a máquina do Estado e a Sociedade Civil correspondente por meio da conquista da Comunidade Humana ou da Humanidade Comum.


Através de Hegel a morte imortal fica com a ideia, com o espírito que, como consciência, se apropria da vida mortal. Através de Feuerbach a morte imortal fica com a natureza humana, o "homem", com o ser humano que, como consciência, se apropria da vida mortal. Através de Marx a morte imortal fica com a sociedade humana, com a humanidade social, com o ser humano comum ou a comunidade dos seres humanos que, como consciências, se apropriam de suas vidas mortais.


O espectro que ronda a Europa com Hegel é o do espírito absoluto cujo movimento real é o da ideia, da ideologia. Daí o poder absolutista do Estado, da ideia ou do espírito, quer dizer, da propriedade estamental do espírito ou ideia acima de tudo e de todos.


O espectro que ronda a Europa com Feuerbach é o do humanismo absoluto cujo movimento real é o da natureza humana. Daí o poder absolutista da Sociedade Civil, da natureza humana ou do humanismo, quer dizer, da propriedade privada do "homem" ou indivíduo isolado.


O espectro que ronda a Europa com Marx é o do comunismo cujo movimento real é o da sociedade humana. Daí o poder absolutista da comunidade trabalhadora, da sociedade humana ou do comunismo, quer dizer, da propriedade comum dos "homens" ou indivíduos socializados/indivíduos sociais.


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Nas manifestações verdes amarelas contra Dilma e o PT ainda se vê como espectro que ronda o Brasil  o daquele "comunismo de Estado" que é algo que está mais para uma adaptação de Hegel do para uma aplicação de Marx.


Mas, qual é o movimento real deste espectro visto pelos manifestantes verde-amarelos?! São o PT e a CUT?! Mas, de que modo o PT e a CUT querem implantar o tal espectro do "comunismo de Estado"?! Corrompendo tudo?! Ora, desse modo, é simplesmente impossível porque corrompem a si mesmos, portanto, praticam a autodestruição, se tornam seus próprios coveiros.


E os manifestantes querem que o Brasil seja rondado por qual espectro?! Ou seja, qual o movimento real dos manifestantes verde-amarelos?! No geral, eles são ordeiros e pacíficos, ainda que existam entre eles aqueles que são ordeiros e belicistas, que querem um golpe militar. Que querem os ordeiros e pacíficos?! Querem menos impostos, menos Estado e mais Sociedade Civil, mais propriedade privada, ou seja, estão mais para Feuerbach e seu movimento real da natureza humana e da propriedade privada humanista do que para o movimento real da ideia ou da propriedade estamental/estatal ideológica de Hegel.



domingo, 16 de agosto de 2015

A dramaturgia, quem pode com ela?!/Impeachment? Não!!!... LIBERDADE!!!


                                                                                                                                             15/03/2016



Esta monstruosidade, a dramaturgia, quem pode com ela?


O PT nasceu como a mais completa afirmação do Manifesto do Partido Comunista, de Marx & Engels, e dos Estatutos da Associação dos Trabalhadores, também escritos por Marx, ou seja, ele nasceu como o mais genuíno partido dos trabalhadores que toda a teoria de Marx pensou no século XIX, por isso, ele pareceu ser um acontecimento estrondoso no Brasil e no mundo. E era de tal monta o espectro ou o fantasma que ele representava que Lech Valessa, líder do movimento dos trabalhadores poloneses que lutavam contra o comunismo soviético, rejeitava a aproximação com o PT por ver nele um partido ainda mais clássico que o dos comunistas soviéticos. No entanto, ambos PT e Solidariedade, eram componentes do mesmo fenômeno histórico e que era o da afirmação dos trabalhadores pelos próprios trabalhadores, sem a interferência de doutrinas nem de reformistas sociais, ou seja, seus dirigentes eram mesmo os próprios trabalhadores e não os quadros doutrinários e revolucionários de socialistas, comunistas etc.


O PT parecia ter saído dos escritos de Marx e adquirido vida, mas com uma personalidade histórica ainda mais perfeita do que aquela descrita nos textos de Marx. O PT era efetivamente o partido dos trabalhadores que os textos de Marx tinham anunciado, ou seja, ele nasceu no interior do movimento dos trabalhadores e já nasceu se “forjando como partido” e foi só depois disso que ele veio a criar a sua central sindical, portanto, ele nasceu das greves dos trabalhadores por meio das quais os trabalhadores se afirmaram e organizaram em classe e, por conseguinte, em partido político. Tal qual Marx tinha escrito no Manifesto: a luta de classes conduzia os trabalhadores a se “organizar em classe e, portanto, em partido político” e o PT tinha feito exatamente isso, tinha afirmado literalmente essa passagem do Manifesto. O PT era fantástico, maravilhoso e atraía irresistivelmente toda a esquerda e de um modo ainda mais perfeito porque nasceu fazendo a tão famosa “unidade da diversidade”, que Marx tinha descrito no “Método da Economia Política”, e que, na verdade, era a aplicação mais completa que já existiu dos Estatutos da 1ª Internacional dos Trabalhadores, a de Marx, porque nele existia espaço e tempo para que todas as mais diversas correntes do movimento social dos trabalhadores pudessem se abrigar. O PT era um fenômeno social e político de importância mundial, internacional, ou seja, “nunca antes na história do Brasil e do mundo existiu um partido dos trabalhadores como o PT liderado pelo Lula”.


O socialismo democrático do PT era a maior das singularidades que já tinha vindo a ser no mundo, porque se diferenciava da socialdemocracia europeia e do social-burocratismo soviético. Em parte alguma do mundo já tinha vindo a ser uma tal singularidade. O socialismo democrático do PT era efetivamente o que de mais revolucionário já tinha vindo à existência no mundo. O mundo inteiro estava encantado e intrigado com a singularidade do socialismo democrático do PT e agentes da socialdemocracia europeia e do social-burocratismo soviético vinham ver de perto o PT e tentar desvendar o seu grande feito. Qual era o seu enigma? Se perguntavam todos.



O PT era a realização efetiva na história do mito do partido dos trabalhadores porque veio à existência precisamente quando o Neoliberalismo foi lançado no mundo, quando o socialismo real entrava em decadência e derrocada no mundo, quando o Brasil dava início àquilo que foi chamado de a “década perdida”, enfim, quando o Estado do Bem-Estar Social (o qual, geralmente, é visto como uma defesa dos interesses sociais dos trabalhadores pelo Estado e contra o mercado) foi enterrado pelo Neoliberalismo surgiu o PT, quando o dito Socialismo ou Comunismo Real de Estado entrava em decomposição surgiu o PT, quando o desenvolvimentismo entrava em colapso no Brasil surgiu o PT. Então, o PT, para além do mito e como agente real, surgiu como parte integrante e componente irresistível do Neoliberalismo.


O PT esperou a virada do século e só chegou ao poder quando o socialismo já não se colocava mais na pauta política e social em parte alguma. Agora, só existia mesmo o problema da democracia e do terrorismo do fundamentalismo religioso. Lula, o líder do PT, eleito presidente do Brasil chegou a ser chamado de “o cara” pelo Barack Obama dos EUA, o mais poderoso dos presidentes do mundo.


A política social do PT, reclame ele do FHC ou não, foi a das bolsas que se reuniram numa só, a que foi chamada de Bolsa Família. E esta política social foi proposta pelo chefe neoliberal dos chamados Chicago’s Boy, o Milton Friedman. Este economista argumentava que era preciso fornecer dinheiro para que os pobres e/ou os sem dinheiro pudessem consumir as mercadorias e, desse modo, ativar a economia. Esta se tornou a doutrina de Lula. Não só com o Bolsa Família, mas em tudo que signifique aumentar o consumo e manter a economia ativa por meio da maior circulação monetária.


Mercado máximo era o grito do Neoliberalismo e também foi o do Lula e do PT.


Tinha um crítico que dizia que no Brasil as ideias e as pessoas/classes estão fora de lugar. É isso que o PT em toda sua trajetória, desde sua origem até agora, demonstra: Mito, realizado por estar fora de lugar e Monstruosidade Real por ser inseparável do capitalismo neoliberal.


Marx, depois disso, só é autor de mitos ou sua crítica ainda tem vez? Se tiver vez, então como se combate o capitalismo e como os trabalhadores se libertam da produção do valor e/ou da mercadoria?! Eles efetivamente visam sair da condição de meras mercadorias?! Em caso positivo, como?! Forjando o Partido dos Trabalhadores?! O PT demonstrou que isso não passa de um mito, então como podem os trabalhadores se libertar?! O interesse de se libertar da produção do valor/mercadoria não é dos trabalhadores?! É de quem?! E como se organiza a luta para fazer esta libertação da mercadoria ou produção do valor?!


A dramaturgia fora de lugar é a do determinismo que, nos enganando, faz crer que praticamos a dramaturgia do acaso. Como saímos do mercado?! O Estadão soviético, que suprimiu o mercado, assim que desmoronou trouxe à tona o mercado e todas as instituições da sociedade civil anterior desde a Igreja Ortodoxa até a mais avançada instituição financeira, ou seja, o Estado não pode acabar com o mercado porque, como dizia Marx, ele é resultado ou efeito da sociedade civil e não causa nem determina a sociedade civil. A saída do mercado se faz por meio da sociedade, mas duma sociedade que se torna comunidade, quer dizer, faz dos produtos não mais mercadorias e sim produtos de uso comum ou equipamentos sociais e comuns dos usuários.


Como se faz isso?! Com qual dramaturgia?!                                                                                      


                                                                                                                                         
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Impeachment? Não!!!


Dilma foi responsável pelos Ministérios das Minas e Energia e da Casa Civil. Foi na área do primeiro que veio a ocorrer os problemas de corrupção (ao que parece relacionados à descoberta do pré-sal), também os problemas de energia hidrelétrica (ao que parece relacionados aos desmatamentos das matas ciliares legitimados pelo Novo Código Florestal). Foi na área do segundo que ocorreu o mensalão, ainda que não sob seu comando.


Ainda que se procure até agora não há nada que possa justificar uma tal medida contra a Presidente Dilma Rousseff. Se pode não gostar e discordar dela, mas é preciso reconhecer que esse direito de pensar diferente vem sendo garantido por ela mais do que por qualquer outro governo brasileiro do nosso passado recente. A liberdade é o valor mais prezado pela Presidente Dilma e, até agora, ela não deixa a menor dúvida que aguenta as críticas precisamente porque respeita a liberdade de quem as faz. Os direitos democráticos de livre organização e livre expressão são o maior espetáculo do governo Dilma Rousseff. E, em especial, do segundo governo Dilma Rousseff que revela para o mundo inteiro aquilo que se encontra no cerne da Presidente e que foi denominado em sua campanha de "coração valente", ou seja, é o mesmo brado, do herói escocês interpretado por Mel Gibson  que define toda sua trajetória e posição políticas: LIBERDADE!!!


https://pt.wikipedia.org/wiki/Dilma_Rousseff#cite_note-40

http://pib.socioambiental.org/pt/noticias?id=33580



A dança da farsa autêntica com o autêntico farsante?! E vice-versa?!




As críticas ao sindicalismo atrelado ao Estado e ao imposto sindical estão presentes na tradição trabalhista de esquerda e a Dilma Rousseff é dessa tradição.


O novo sindicalismo, nascido com as greves do ABC e com Lula, criou o PT e a CUT combatendo o sindicalismo atrelado ao Estado e o imposto sindical, mas acabou retrocedendo no combate e aceitando a manutenção do imposto sindical e do atrelamento do sindicalismo ao Estado.


O curioso da história do sindicalismo no Brasil é seu nascimento sob predominante influência anarquista trazida pelos trabalhadores industriais que eram basicamente estrangeiros importados da Europa, ou seja, eram parte do excesso de contingente dos trabalhadores europeus do fim do século XIX e início do século XX.


Greves amplas e famosas desse sindicalismo caracteristicamente anarquista e europeu foram as de 1917. Aliás, os fundadores do PCB, em 1922, foram trabalhadores brasileiros que, até pouco antes, eram sindicalistas e anarquistas.


Enquanto se desenvolviam as divergências entre os comunistas e os anarquistas em relação ao sindicalismo e à organização apenas em movimento e à organização também em partido, surgiu a Revolução de 30 e com ela a formalização do trabalhismo duma estrutura sindical dita corporativa ou atrelada ao Estado, a qual, aliás, também foi importada da Europa, da Itália fascista.


E o sindicalismo autônomo, seja anarquista, seja comunista, simplesmente perdeu influência significativa e capacidade de exercer hegemonia sindical, ou seja, o sindicalismo real passou a ser o trabalhista, quer dizer, o sindicalismo tutelado pelo Estado que o criou.


Marx observava que a estrutura corporativista era característica da ausência de emancipação política, isto é, característica da situação na qual não existe separação entre Estado e Sociedade Civil de modo que os indivíduos são inteiramente dependentes das organizações corporativas porque apenas através delas existe o reconhecimento dos direitos políticos e civis, ou seja, destacava Marx, a Sociedade Civil corporativista é imediatamente política ou estatal/Estado. Assim, as reflexões de Gramsci podem ser compreendidas como tendo sido desenvolvidas para aquelas condições nas quais vigora a estrutura corporativista imediatamente política da Sociedade Civil que é imediatamente Estado e inseparável do Estado. Noutras palavras, condições nas quais vigora por toda parte a tutela do Estado e nas quais o tutor exerce por toda parte seu poder. A emancipação política nasceu nessas condições e para se libertar dessas condições.


A emancipação política que nasceu nessas condições do Estado e Sociedade Civil corporativos trouxe consigo o liberalismo, quer dizer, a separação entre Estado e Sociedade Civil de modo que os indivíduos passaram a poder agir livre e criativamente na Sociedade Civil e também passaram a ter reconhecidos seus direitos individuais de cidadão inteiramente independentes das corporações sociais civis de qualquer tipo.


Esta emancipação política trazida junto com o liberalismo foi muito apreciada por toda a filosofia clássica alemã e também por Marx, o qual, observava que a filosofia clássica alemã era inteiramente congruente com a realidade da Inglaterra e da França, países liberalmente desenvolvidos, e que era preciso realizar a filosofia clássica alemã na Alemanha, ou seja, a filosofia clássica alemã precisava se realizar na Alemanha saindo do mundo de sonhos da filosofia e entrando e se concretizando no mundo real da anacrônica Alemanha como contemporaneidade da realidade mundana ou como contemporaneidade real do mundo. E Marx foi se radicar na Inglaterra para com a filosofia clássica alemã conhecer e realizar diretamente a ciência da contemporaneidade real do mundo e também participar da ação da contemporaneidade da realidade mundana e exportá-la para o continente europeu e para a Alemanha. É curioso que a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), da qual Marx, na qualidade de secretário-geral, foi o principal dirigente, não tenha tido o sindicalismo alemão como associado, o qual, aliás, se contrapunha ao internacionalismo da AIT na qualidade de sindicalismo nacional e, por sua vez, também era imediatamente político, isto é, era a um só tempo sindicato e partido lassalleanos. Ferdinand Lassalle foi o fundador da Associação Geral dos Trabalhadores Alemães, fundada em 23 de maio de 1863, apenas um ano antes da AIT que foi fundada em setembro de 1864.


Sindicalismo internacional, quer dizer, da Sociedade Civil e independente do Estado-Nação, logo, significa sindicalismo separado do Estado ou politicamente emancipado, consequentemente, quando os trabalhadores formados num tal associativismo internacional vierem a se organizar em partidos políticos que lutam para exercer o poder político de e em cada Estado-Nação eles trarão os interesses emancipatórios da Sociedade Civil para o exercício da cidadania no poder do Estado, ou seja, exercerão o poder nacional do Estado visando a concretização dos poderes nacionais numa Sociedade Internacional na qual se dissolve o Estado-Nação, porque exercerão o poder nacional da Sociedade Civil sobre o Estado-Nação visando a concretização do poder da Sociedade Civil nacional e internacional bem como a dissolução do Estado-Nação do seu país e dos demais países. Esta, ao que indicam seus textos, foi a proposta de Marx de mudança de modo de produção capitalista para modo de produção comunista.


O que interessa ressaltar aqui é que o novo sindicalismo do PT e da CUT surgiu como emancipação política trazida junto com o liberalismo numa conjuntura de lançamento do chamado Neoliberalismo. E atraiu anarquistas, marxistas identificados com o Marx da I Internacional, marxistas identificados com II Internacional (socialdemocratas), marxistas identificados com a III Internacional (leninistas, stalinistas, maoístas), marxistas identificados com a IV Internacional (trotskystas, guevaristas, castristas), cristãos etc. Mas, em pouco tempo ele foi voltando a ser e querer o trabalhismo e isso ocorreu precisamente quanto mais viável se tornou sua chegada ao poder político do Estado-Nação e, inclusive, há quem considere que, em 89, Lula e a cúpula do PT deliberadamente perderam as eleições, no último debate da TV Globo, porque consideraram que com aquela base emancipacionista política não teriam condições de exercer o poder dum Estado que acabava de sair duma ditadura e que era tradicionalmente corporativista. Então, Lula e a cúpula do PT resolveram adiar a conquista do poder político da presidência da república de modo a ir modificando a sua base de sustentação política, quer dizer, de modo a ir profissionalizando e/ou criando uma estrutura partidária e sindical burocrática corporativa "profissional" ou "de ofício".


Dilma Rousseff é uma trabalhista de esquerda, quer dizer, daquelas que gostariam de um sindicalismo independente do Estado. Foi ela quem se aproximou do PT, mas dum PT (e duma CUT) que buscam o trabalhismo como forma de atrelamento ao Estado. Curiosamente, ela, a trabalhista, parece se situar à esquerda de Lula, o petista, que quer o retorno do trabalhismo. E isto porque ela quer avançar para o sindicalismo independente do Estado e Lula quer retroceder para o trabalhismo atrelado ao Estado.


A autenticidade parece estar na representante de esquerda da farsa trabalhista e a farsa parece estar no representante de direita da autenticidade do novo sindicalismo criador do PT e da CUT.



sábado, 15 de agosto de 2015

O problema é tutela/obscurantismo versus emancipação/esclarecimento?!




Movimentos sustentados pelo Estado são uma tradição do uso político da razão do governante ou do tutor, mas os movimentos sustentados por sua própria auto-organização social e civil são uma tradição do uso político da razão dos trabalhadores na luta por sua emancipação ou saída da menoridade.


O trabalhismo seria pertencente à primeira tradição, enquanto que o PT e a CUT seriam membros da segunda tradição. No entanto, o PT e a CUT resolveram se passar para a primeira tradição e, ao que parece, duma maneira tão sistemática e grandiosa que simplesmente trouxeram a Peste de Tebas para a Petrobrás, o governo e o país.



Todo o problema é o de tutela e obscurantismo versus emancipação e esclarecimento?!



Lula, PT e CUT versus Dilma e vice-versa?! Ou não versa-vice?!

Usos públicos da razão.


O trabalhismo foi muito mais o uso público da razão do governante do que dos trabalhadores.


O PT e a CUT nasceram muito mais como uso público da razão dos trabalhadores do que do governante.


O trabalhismo foi muito mais o uso público da razão do governante do Estado Providência, do Estado do Bem-Estar Social ou do Estado Máximo do que dos trabalhadores da Sociedade Civil Organizada.


O PT e a CUT nasceram muito mais como uso público da razão dos trabalhadores da Sociedade Civil Organizada Neoliberal, do Mercado Máximo ou da Globalização do que do governante do Estado Mínimo.


O trabalhismo foi muito mais o resultado do uso público da razão do governante desenvolvimentista que trouxe décadas ganhas de industrialização do que o PT e a CUT foram resultantes do uso público da razão dos trabalhadores da sociedade civil organizada com a expansão da década perdida neoliberal.


O PT e a CUT chegaram ao poder e imediatamente começaram a sentir a necessidade de reavivar o trabalhismo e, nesse sentido, até mesmo a escolha de Dilma Rousseff, oriunda do trabalhismo do PTD, pode ser percebido como parte desse esforço de reavivamento do trabalhismo.


O PT e a CUT abandonaram o uso público da razão dos trabalhadores para chegar ao poder e para exercer o poder e passaram a se esforçar para fazer uso público da razão do governante para permanecer e se consolidar no poder. Foi aí que o trabalhismo pareceu para o PT e a CUT como a ferramenta adequada e que poderia servir como uma luva para que pudessem fazer uso público da razão governante e abandonar o uso público da razão dos trabalhadores.


Porém, quem vem do trabalhismo está sofrendo o abandono do uso público da razão do governante e surpreendido pelo uso público da razão dos trabalhadores, portanto, se reaviva o trabalhismo, com o uso público da razão do governante, só faz tal ressuscitação aprendendo com o uso público da razão dos trabalhadores. Ou seja, só pode vivenciar de forma autêntica, esta procura do PT e da CUT da luva do trabalhismo para o uso público da razão governante, quem sofrendo com as derrotas do trabalhismo aprendeu com o uso público da razão dos trabalhadores. É por isso que Dilma Rousseff parece ter sido encomendada sob medida para solucionar o problema dos trabalhadores que querem o uso público da razão do governante trabalhista e o abandono do uso público da razão dos trabalhadores, já que ela considera que é aprendendo o uso público da razão dos trabalhadores que poderá recuperar e reativar o uso público da razão do governante trabalhista.


Só Dilma Rousseff cobra dos trabalhadores do PT e da CUT aquilo que eles próprios deveriam cobrar de si próprios faz muito tempo: o uso público da razão!!!



Por sua vez, são os trabalhadores do PT e da CUT que abandonam o suo público da razão e exigem que apenas Dilma Rousseff assuma o uso público da razão do governante trabalhista!!!



Quem fará o uso político da democrática e revolucionária razão?!




Getúlio Vargas teve o segurança pessoal Gregório Fortunato dando tiro em adversário e, depois dessa decepção, deu ele próprio tiro no seu coração.


João Goulart teve o político cunhado Leonel de Moura Brizola agitando e propagandeando o golpe político no adversário e no país e, depois dessa agitação, sofreu ele próprio o golpe político do adversário no país.


Dilma Rousseff tem a CUT fazendo o papel de Gregório Fortunato?! Tem o PT fazendo papel de Leonel de Moura Brizola (o incendiário da juventude e não o bombeiro da maturidade)?! Ou não é bem isso porque se Jango foi a criatura de Vargas, já Dilma é a criatura de Lula?! Ora, Lula não se suicidou mas tampouco seu Chefe da Casa Civil matou alguém, pelo contrário, optou pelo sacrifício de si próprio e, desse modo, foi José Dirceu quem agiu de forma política semelhante a Getúlio Vargas. Foi depois dessa atitude política suicida de José Dirceu que Lula adotou a política proposta por José Dirceu de aliança com o PMDB e é quase certo também que Lula, depois disso, percebeu que Dilma, por suas coincidências de trajetória política semelhantes com as da história de José Dirceu, era a escolhida porque nela ele podia confiar politicamente já que, sem pestanejar, assumiria tranquilamente o sacrifício de si própria. Se Lula armou alguma coisa, então não foi um atentado como o fez Gregório Fortunato e sim a sua sucessão na presidência da república através de Dilma Rousseff. No entanto, se o sacrifício de José Dirceu equivale ao de Getúlio Vargas, então o sacrifício de Dilma Rousseff equivale ao de João Goulart?! Se a armação da sucessão de Lula equivale ao atentado de Gregório Fortunato, então qual ato e de quem equivale ao papel incendiário de Leonel de Moura Brizola?!


Aécio Neves vem representando o papel de quem?! De Carlos Lacerda?! E o Eduardo Cunha representa o de quem?!


Muito mais importante é ver que uma completa transvaloração dos valores conseguiu fazer da armação de um atentado, como o da Toneleiros contra Carlos Lacerda, a armação duma sucessão eleitoral como foi a de Dilma ao Lula. Ou seja, muito mais importante é descobrir  qual é a transvaloração dos valores que conseguirá fazer da agitação e propaganda incendiárias de um golpe político revolucionário, como o Brizola fez contra os adversários do trabalhismo janguista, a serenidade e continuidade harmônicas de um desenvolvimento do uso público da razão e/ou do uso político da revolucionária razão?!



Candidata a Gregório Fortunato da Dilma?!




O discurso brucutu do representante da CUT em evento com a Dilma só serviu para abrilhantar ainda mais o uso público da razão da própria Dilma, ainda que também tenha revelado onde se encontra parte da base golpista que desestabiliza o governo de Dilma Rousseff.


A CUT é a candidata a Gregório Fortunato da Dilma?!

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A que se entrega o coração valente da pátria educadora?!



Ele condenou o responsável pela Peste de Tebas ao ostracismo. Investigou e descobriu que a Peste era consequência do parricídio e do incesto cometidos pelo criminoso. Finalmente, descobriu que ele próprio era o autor dos crimes e da Peste, então partiu para o ostracismo cumprindo a pena que havia estabelecido.


Getúlio Vargas não fez isso tampouco o fez Jango, ambos resistiram aos golpes até o cometimento do suicídio real e do suicídio político. O ato de Jânio Quadros é inteiramente diferente porque não há resistência nem autenticidade no seu ato de renúncia, o qual é consequência das forças alheias e não das próprias forças do suicida nas circunstâncias. O ato de Jânio Quadros entrou para a história como o de um golpista e farsante. Collor sofreu um impeachment e, apesar da tragédia familiar, posteriormente foi absolvido das acusações, ou seja, em momento algum assumiu qualquer responsabilidade, exceto ao tentar renunciar pouco antes de ser declarado seu impeachment pelo legislativo.


Um uso público da razão através do qual, aquele que condena o crime, investiga, descobre o criminoso e executa a condenação de si próprio pode parecer algo surpreendente mas é inseparável da obediência daquele que raciocina por si mesmo, inseparável da filosofia da razão prática que se realiza como dever, como disciplina.


O tal coração valente da Dilma é capaz de tamanha tragicidade tal qual foi capaz o "Coração Valente" do filme de Mel Gibson e do lendário herói escocês?! Condenar e executar a si próprio não arredando um milímetro do dever ou disciplina de bradar: "Liberdade!!!!!!!"?!


Garantir e promover a liberdade mesmo que signifique a condenação e execução de si própria?! É este o coração valente da Dilma e também é um uso público da razão através do qual Dilma Roussef vai além de Getúlio Vargas e de João Goulart no alcance da grandeza dum ato esclarecedor e educador como o de "Édipo-Rei"?!


Bradar e realizar a liberdade mesmo que implique no sacrifício de si mesma é a que se entrega e o que faz o coração valente duma pátria educadora?!


Se entrega à liberdade como dever e disciplina do uso público da razão?!







quinta-feira, 13 de agosto de 2015

"Toda nudez será castigada!"




Que relação existe entre os corruptos que devoram o dinheiro público, os empreendedores do agronegócio, o novo código florestal, o neoliberalismo e as heranças colonial e escravista brasileiras?


No "Bom dia Brasil" de hoje, 13/08/2015, tem matéria mostrando os "funcionários" duma prefeitura que não comparecem ao trabalho, recebem e usam seu tempo para desenvolver seus próprios agronegócios.


A formação do Brasil foi parecida com isso.


Os colonizadores eram funcionários pagos pela metrópole para desenvolver seus próprios negócios de exploração da coleta de pau brasil; os  escravocratas eram funcionários e senhores pagos e incentivados pela metrópole, por serem os únicos reconhecidos pela metrópole, para desenvolver seus próprios negócios escravistas; tanto os colonizadores quanto os escravocratas eram fiéis à metrópole principalmente porque através dela que seus negócios se realizavam no mercado internacional.


A Independência do Brasil ocorreu com a absorção da metrópole, ou seja, a Corte se transferiu para o Brasil e com ela a relação com o mercado internacional se tornou direta. Retroceder depois disso se tornou inaceitável para os escravocratas brasileiros que, assim, preferiram favorecer a Independência com a família real, a Corte e o status de metrópole que haviam conquistado.


O autor do Novo Código Florestal Brasileiro, atualmente Ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, se considera um nacionalista preocupado com as vantagens do Brasil no mercado internacional. A seu ver as críticas ao agronegócio são orquestradas pelos interesses estrangeiros que querem boicotar as vantagens do Brasil no mercado internacional. Mais, segundo ele, é inteiramente falso considerar que na estrutura fundiária brasileira o agronegócio seja exclusivo de grandes proprietários e que os proprietários médios e pequenos estejam excluídos do agronegócio. E esse conjunto de interesses estrangeiros mais o falso interesse de proprietários médios e pequenos que seriam críticos do agronegócio se constituem na articulação duma verdadeira conspiração que visa o boicote das vantagens do Brasil no mercado internacional. E, segundo ele, isto tudo se cristaliza num falso e conspirativo ambientalismo que quer deixar o Brasil para trás no processo de desenvolvimento econômico e social.


A crise de energia hidrelétrica e de escassez de água que o Brasil está vivendo, nesses pouquíssimos anos após a aprovação do Novo Código Florestal Brasileiro que, entre outras necessidades, praticamente desconhece a de proteção das matas ciliares dos rios, pode resultar dessa conspiração dos interesses estrangeiros com os falsos interesses de pequenos e médios proprietários fundiários do Brasil?!


Não existe aí algo da Peste de Tebas presente na tragédia grega "Édipo-Rei"?!


Em todo caso, algo é inegável, desde a Colônia extrativista, passando pela Colônia escravista e pela Independência Monárquica escravista, até chegar à República assalariada que a relação do Brasil é inteiramente voltada para a obtenção de vantagens no mercado internacional, ou seja, é guiada pela tese liberal das chamadas "vantagens comparativas".


Na fase atual, dita Neoliberal, o resultado disso só pode ser o vir à tona e/ou o ficar à mostra a estrutura brasileira na sua totalidade.



terça-feira, 11 de agosto de 2015

Libertação é a monstruosidade do uso público da razão?!




Nada a fazer exceto ir até o fim da vida e morrer, morrer, morrer. Fim da vida, da espontaneidade, quer dizer, da vontade que não obedece à reflexão, ao pensamento, à razão ou à morte. Fim também do espontaneísmo, do economicismo e, até mesmo, do terrorismo. Início do disciplinado, do sistematizado, do refletido, do morto. É a partir da vontade obediente à reflexão, ao pensamento, à razão ou à morte imortal que a filosofia se realiza e conquista a liberdade. É a partir do renascido, do Nosferatu, do morto vivo, do Frankenstein, do Drácula, do lobisomen ou do Prometeu Desacorrentado que se inicia a libertação da Humanidade da época pré-Humana ou que se inicia a libertação da Super-Humanidade da época Humana. Noutras palavras, é depois do capital e/ou do trabalho morto plenamente desenvolvidos que se faz a libertação do vivo do trabalho.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

"Sapere Aude!... E o vento levou?!..."




Comecei a escrever isso:


"O que importa para o Esclarecimento, para a saída da Menoridade Política ou para a conquista e desenvolvimento da Maioridade Política é fazer ou praticar o uso público da razão. A política do "quanto pior, melhor" com as chamadas "pautas bombas", "bombas fiscais" & cia é a do uso público do capricho, da manipulação, do egoísmo, do ressentimento, enfim, do Anti-Esclarecimento, da permanência na Menoridade Política ou da perda e dissolução da Maioridade Política."


e parei aí porque percebi a fragilidade, falta de fundamentação ou de informação para poder desenvolver o tal uso público da razão. 


Pensei que o ajuste fiscal do governo não é aceito especialmente pela base eleitoral da Dilma; que as mudanças nos prazos das leis trabalhistas de proteção contra o desemprego não são aceitas especialmente pela base eleitoral da Dilma; que a CUT e o MST vão se manifestar em apoio a Dilma mas contra o ajuste fiscal; que o PT é contra o ajuste fiscal mas a favor da Dilma, ainda que o PT esteja até cada vez mais desacreditado do que a Dilma.


O Eduardo Cunha parece até querer comprar delegados e juízes, além de funcionários públicos, mas também parece "representar" a oposição do PT ao ajuste fiscal da Dilma.


O governo, por sua vez, lançou um plano, aprovado pela CUT, pelo menos de acordo com um representante dela que falou para a Globo, no qual com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) banca parte do salário dos trabalhadores que terão seu salário reduzido junto com a redução da jornada de trabalho. Então, a CUT aceita fazer ajuste das condições de trabalho usando os recursos fiscais do FAT para não mexer nos recursos ou lucros dos empregadores.


Me falta informação porque sou mesmo desinformado, melhor, não faço um bom uso da razão para me informar, mas, em todo caso, tendo a acreditar que o governo mandou para os parlamentares as mudanças nos prazos das leis trabalhistas e também suas propostas de contenção salarial de delegados, juízes, funcionários públicos etc., negociou com os empregadores e com a CUT o plano de redução de jornada e redução de salário. Tendo a crer que o governo não negociou com os trabalhadores as mudanças nos prazos das leis trabalhistas nem as propostas de contenção salarial do setor público, mas negociou com os empregadores e com os trabalhadores o plano de redução tanto da jornada quanto do salário. Também tendo a crer que os trabalhadores e o setor público (delegados, poder judiciário, funcionários) não abriram espaço para negociar com o governo. A iniciativa do governo parece ter sido a de negociar com os parlamentares deixando os trabalhadores e o setor público por sua conta e risco se entenderem ou não com os parlamentares; e, parece ter sido também a de negociar com os empregadores e trazendo os trabalhadores para a aceitação de propostas substitutivas de outras já aprovadas por eles que foram, por exemplo, a do banco de horas em articulação com a isenção fiscal do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).


Os trabalhadores da CUT aceitam não mexer ou reduzir os lucros dos empregadores, aceitam mexer na política de contenção salarial do governo via parlamentares, aceitam não abir um espaço de negociação com o governo sobre os prazos das leis trabalhistas, a política de contenção salarial e a política de ajuste fiscal. Mas, não levantam a bandeira dos trabalhadores de lei geral de redução da jornada de trabalho, a bandeira de mudanças negociadas com os trabalhadores das leis trabalhistas, da política de contenção salarial e da política de ajuste fiscal. Pelo contrário, tudo indica que fazem uma política subalterna com os empregadores, com o governo e com os parlamentares. É aí, parece, que está o xis da questão. A postura dos trabalhadores da CUT é subalterna e, com isso, todo o Anti-Esclarecimento, toda a Menoridade Política, enfim, toda a corrupção tem "Vez, Voz e Voto". 


O uso público da razão dos trabalhadores da CUT é o que pode mudar a conjuntura para a conquista da Maioridade Política e do Esclarecimento, mas, para tanto, é preciso assumir uma política independente que defenda seus próprios interesses em leis gerais e transparentes sem posturas subalternas com os parlamentares, com os empregadores e com o governo.


Enquanto se limitar a ser correia de transmissão dos interesses dos empregadores, do governo e dos parlamentares será impossível o Esclarecimento, a saída da Menoridade Política ou a conquista da Maioridade Política por mais que Dilma se esforce por manter as liberdades sem as quais não é possível conquistar a Maioridade Política.  Porque apenas os próprios interessados na conquista da Maioridade Política podem fazer o seu próprio uso público da razão.


Cadê o "sapere aude" dos trabalhadores da CUT? Cadê o ousar saber que com uma lei geral da redução da jornada de trabalho os trabalhadores da CUT podem combater o desemprego com a transparência de representar a vontade geral? Cadê o ousar saber que com independência os trabalhadores da CUT podem defender e discutir suas posições em quaisquer ambientes, sejam eles dos empregadores, dos parlamentares, do governo, internacionais etc.? Cadê o ousar saber dos trabalhadores da CUT? Cadê o uso público da razão dos trabalhadores da CUT?


... E o vento levou?!...







sábado, 8 de agosto de 2015

Com o Esclarecimento de Kant Dilma fará do suicídio ou da morte uma saída?!




A solidão é verdadeiramente total e, desse modo, apenas o suicídio aparece como uma saída. Mas, como se pratica o suicídio? Com um tiro no peito, não reagindo ao golpe porque confirma a queda na solidão verdadeiramente total. Com o tiro no peito Getúlio usou o suicídio como saída da solidão verdadeiramente total e não reagindo ao golpe Jango usou o suicídio político como entrada na solidão verdadeiramente total.


E atualmente como agirá a Dilma? Eu não sei, só ela pode saber. Porém, a morte real do Getúlio e a morte política e social do Jango são ambas mortes e a morte está no cerne da filosofia de Hegel e, por aí, também no cerne da filosofia de Marx, o qual, aliás, concebe a conversão da filosofia em prática como a vontade saída do mundo dos mortos e voltada contra a realidade do mundo dos vivos que existe sem ela, então a filosofia parte da morte como vontade mortífera contra a realidade mundana dos vivos que existe sem ela porque ela quer existir na realidade mundana dos vivos e não quer mais o mundo dos mortos. O problema é que ela é do mundo da morte e quer entrar no mundo da vida de maneira mortífera, ou seja, trazendo o mundo da morte da teoria filosófica para o mundo da vida da prática mundana. Ainda que isso pareça assustador ou aterrorizante consiste em algo bastante prosaico porque o que Marx quer é sair com a filosofia do mundo da morte imortal e com ela entrar no mundo da vida mortal, logo, o que ele quer é o que já existe e é real; porém, o mais revelador é que ele quer converter a filosofia ou morte imortal em prática ou vida mortal, ou seja, o suicídio que ele quer é o da filosofia ou morte imortal que quer converter em prática ou vida mortal.


Mas, como ocorre essa conversão da morte imortal em vida mortal? O imortal não morre e o mortal morre, então a morte não morre e a vida morre, mas a morte vive? Tudo indica que não porque a vida morre e a morte não morre, então como converter a morte que não morre em vida que morre? Ele responde que é saindo como vontade do mundo da morte que não morre e se voltando contra o mundo da vida que morre. E o que quer e o que pode fazer a vontade da morte que não morre contra a vida que morre? Quer que a vida que morre morra por completo de modo que seja assimilada pela morte que não morre? Quer que a vida que morre não morra por completo porque a morte que não morre penetrou nela ou foi assimilada pela vida que morre? Se o que quer é exterminar de uma vez por todas a vida que morre de modo que só permaneça a morte que não morre, então não foi a filosofia que se converteu em prática e sim a prática que foi dissolvida e convertida em filosofia. Se o que quer é melhorar/aperfeiçoar a vida que morre de modo que viva mais e melhor porque a morte que não morre penetrou e fez moradia dentro dela, então foi a filosofia que se converteu em consciência prática e foi a consciência prática que concretizou e realizou a filosofia. A vida que morre acaba sempre na morte que não morre, então a morte que não morre pode ir contra a vida que morre acabando com ela, mas nisso não há nenhuma novidade porque esse ir contra também é o mesmo que ir a favor porque a vida que morre sempre acaba na morte que não morre. A morte que não morre pode ir contra acabar com a vida que morre ? Pode. Se a morte que não morre fizer moradia dentro da vida que morre como consciência, como espírito, como vontade ou prática que não morre porque retorna intacta tal qual a Comuna de Paris de 1871, os Sovietes de São Petersburgo de 1917 etc., ou seja, pode se se desenvolver como criação, como trabalho, quer dizer, como uso público e comum da razão ou morte que não morre.


Tudo indica que ela optou por agir racionalmente ou fazendo uso da morte que não morre de forma diferente da de Getúlio e da de Jango, tudo indica que não optou pelo suicídio real para sair da solidão política total nem optou pelo suicídio político para entrar na solidão social total, tudo indica que optou pelo suicídio como pela tragédia de uma farsa ou pela farsa de uma tragédia, ou seja, ela quer sair viva e vitoriosa da solidão política e social totais por meio de um suicídio do autoritarismo e do golpismo, quer dizer, por meio da saída da sociedade da menoridade política ou por meio da conquista da maioridade política da sociedade.


Mas, como ela fará isso? Como ela fará desse suicídio, imposto por uma solidão política total e por uma solidão social total, a vivência da tragédia duma farsa ou a vivência da farsa duma tragédia?


Parece que é fazendo uso público da razão. Mas, parece também que é mantendo a liberdade e não-interferência para que o próprio público faça uso público da razão. A morte que não morre, a razão, passando a ser usada pela maioria para alcançar a maioridade de converter a filosofia em prática. Não é mais uma entrada real na morte que não morre tal qual fez Getúlio. Também não é mais uma entrada racional na morte que não morre tal qual fez Jango com sua queda na solidão total. Mas, ao que parece, é a entrada racional na morte que não morre do próprio público, logo, é uma socialização da liberdade e da maioridade políticas, uma conquista da conversão da filosofia em prática e, o mais importante, uma dissolução da solidão total no uso da razão ou da morte que não morre, portanto, o mais importante é a transformação do uso inteiramente solitário da razão para o uso público e comum da razão, logo, o mais importante é a saída da razão do solitário mundo dos mortos da filosofia para o comunitário mundo dos vivos da prática.


PS.: Este texto continua e completa o anterior "Atualidade?!: História/Estória & Estória/História", cujo título mudou três vezes, antes foi "História/Estória & Estória/História" e também "História/Estória & Estória/História (texto incluindo o que faltava)".


PS1.: O título desse texto acaba de ser modificado depois do acréscimo do último parágrafo.