terça-feira, 31 de março de 2015

"Na atualidade: a minha liberdade somente começa quando começa também a luta contra a tua liberdade!?"






A minha liberdade somente começa quando começa também a tua.
Leonardo Boff – IHU On Line - 02/03/2015




Esta veio nas Pérolas de Sérgio Domingues. E eu lembro que já escrevi algumas vezes defendendo a liberdade de cada um que começa com a liberdade do outro. Porém, agora, lendo esta defesa desta mesma ideia me veio à mente uma crítica (logo também uma autocrítica): se o princípio burguês é que "a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro", então, "onde começa a liberdade de cada um termina a liberdade de cada outro", logo, onde um é livre o outro não é e onde o outro é livre o um não é. Mas, se "a minha liberdade somente começa quando começa a tua também" aplicado nas condições burguesas significa: no mínimo, concorrência, e, no máximo, luta de classes!!! Certo!? Não?!



A liberdade de cada um, nas condições capitalistas, que começa com a liberdade do outro é chamada de livre-concorrência e corresponde ao dia a dia da competição dos capitalistas entre si. Mas, se a liberdade de cada um que começa com a liberdade do outro nas condições capitalistas não é mais livre-concorrência dos burgueses entre si, com cada um competindo com o outro de modo que sua liberdade termine ou suprima a do outro, então, esta competição ou livre-concorrência entre burgueses se torna luta dos capitalistas com outras classes não-capitalistas, a saber, luta com os proprietários fundiários e com os proprietários de suas próprias forças humanas de trabalho, portanto, se apresenta como luta de classes. A luta de classes com os proprietários fundiários se tornou similar à concorrência entre burgueses depois que a burguesia conquistou o poder que se concentrava nas mãos dos proprietários fundiários. Já a luta de classes com os proprietários de suas próprias forças humanas de trabalho não se suaviza muito facilmente porque estes proprietários de si mesmos tendem a fazer o mesmo que os burgueses fizeram no passado em relação aos fundiários: tomar o poder!!! As suavizações alcançadas com as livre-organização e livre-expressão sindical e partidária, ainda que proporcionem estabilidade economicista e reformista, permanecem tendo em seu seio aquela mesma tendência instável do passado capitalista:tomar o poder das mãos dos capitalistas!!! Então, se a reforma agrária foi a solução encontrada pelos capitalistas para tomar o poder dos fundiários e, ao mesmo tempo, entrar em acordo com eles. Hoje, quando ela é reivindicada pelos donos exclusivos de si mesmos, os capitalistas não a querem porque se encontram muito bem acordados com os fundiários, mas, mesmo assim, admitem que ela possa ser empreendida perifericamente para aliviar tensões e trazer donos exclusivos de si mesmos para o lado dos capitalistas e fundiários. Hoje, uma outra reforma, a urbana, também é admitida, ou seja, assim como quem é sem-terra pode vir a se tornar com terra quem é sem-teto pode vir a se tornar com teto, quer dizer, proprietário de coisas e não mais tão somente de si. Hoje, se admite, inclusive, que os donos de suas próprias forças humanas de trabalho venham a ser donos de meios de produção através das aplicações dos fundos de pensões, quer dizer, através das participações acionárias dos fundos de pensões ou do vir a ser sócios dos capitalistas via fundos de pensões e, assim, participar da co-gestão do capitalismo com os capitalistas. Aquilo que, no entanto, não se admite e nem mesmo se encontra no horizonte dos donos exclusivos de si próprios, os trabalhadores operários, é a socialização dos meios de produção (incluindo aí a terra), ou seja, um outro sistema no qual a atual interdependência dos trabalhadores na atividade de produção em lugar de ser vivida como elos das correntes que os aprisionam na atividade de produção passe a ser vivida como associação dos indivíduos livres que se realizam na atividade de produção, inclusive, reduzindo a jornada e se liberando da atividade de produção. Porém, esta última afirmação da liberdade de uns, os donos exclusivos de si mesmos, implica a negação dos donos de si mesmos e exclusivos dos meios de produção, incluindo a terra, logo, implica a negação da liberdade dos capitalistas e dos fundiários de modo a que a liberdade de cada um como proprietário social comece com o fim da liberdade de cada outro como proprietário particular,  donde se conclui que a liberdade de cada um só começa com a liberdade de cada outro quando todos usam da mesma liberdade social, da mesma propriedade social.


Em todo caso, "a minha liberdade somente começa quando começa também a tua" é a minha liberdade num outro sistema social e não a minha liberdade no atual sistema que ao começar "quando começa também a tua" é livre-concorrência ou é luta de classes, mas não é a livre-cooperação nem é a liberdade social da sociedade sem classes. Portanto, é um sonho e uma luta na atualidade contra "a minha liberdade terminar onde começa a liberdade de outro", logo, também é uma luta da "minha liberdade que começa onde a do outro termina", melhor, é uma luta da minha liberdade que começa lutando contra a liberdade do outro porque a liberdade deste outro termina com a minha liberdade, então, talvez, seja o seguinte, na atualidade: "a luta da minha liberdade somente começa quando começa a luta contra a tua liberdade".


A liberdade está aprisionada em condições e não é incondicional, logo, a liberdade é prisioneira e não é livre. Para ser livre não pode ser limitada por condições e, portanto, precisa usufruir do incondicional. Ora, classes são condições, logo, sem classes só pode ser sem condições. De modo que a condição incondicional da liberdade ou a liberdade livre é própria da sociedade sem classes. E sociedade sem classes também é sociedade sem estado e não pode ser confundida com a sociedade com estadão, aliás, uma sociedade com estadão longe de ser uma sociedade determinada pela infraestrutura material é uma sociedade determinada pela superestrutura ideológica (espiritual), ou seja, antes de ser uma sociedade que aplica e desenvolve princípios de Marx é uma sociedade que aplica e desenvolve princípios de Hegel, antes de ser materialista uma sociedade com estadão é idealista.


E o problema que foi apresentado: tomar o poder não é exato porque isso é insuficiente para realizar a liberdade incondicional: é preciso ainda destruir a máquina do estado.







quarta-feira, 25 de março de 2015

Pra quê serve a história?!




A atual crise da União Européia tendo por protagonistas a Alemanha e a Grécia, que corre o risco de sair da "Europa", lembra o que já ocorreu com o Império Romano que se dividiu em do Ocidente e do Oriente, sendo que o chamado berço da cultura dita Ocidental, a Grécia, ficou no Império Romano do Oriente, aliás, por isso também que o Cristianismo no Ocidente ficou sendo da Igreja Católica Apostólica Romana e no Oriente ficou sendo da Igreja Ortodoxa Grega.


Que sentido tem a criação da União Européia? Primeiro, seria a primeira efetivação do modelo das Nações Unidas, já que a URSS ficou sendo muito mais uma espécie de continuidade do Império Russo do que a introdução inovadora dum modelo como o das Nações Unidas.


Precisa de migrantes? Com certeza, ainda que a UE já tenha fechado a maioria das possibilidades de aquisição de dupla nacionalidade pelos estrangeiros descendentes de europeus. Que sentido faz o esforço da UE de se expandir pela Eurásia admitindo a entrada, por exemplo, da Ucrânia, ao mesmo tempo que ameaça de desligar e expulsar precisamente a Grécia que culturalmente representa a origem da cultura européia?


O Cristianismo com o qual o Ocidente atualmente conta o tempo da história nasceu no Oriente Médio, o qual, na atualidade é a principal fonte dos conflitos que permanecem dividindo o mundo em dois, especialmente, em Oriente e Ocidente. O berço do Cristianismo, a Palestina, está dividido em três religiões, a Judaica, a Cristã e a Islâmica. Sendo que os judeus conquistaram o Estado de Israel nas terras da Palestina no período de saída dos ocupantes britânicos. O que, para os palestinos, teve a significação duma substituição das forças de ocupação e, por isso, eles queriam o seu Estado original e não reconheceram o Estado de Israel. Com o passar do tempo e com os sofrimentos da Ocupação parte significativa dos palestinos aceitaram reconhecer o Estado de Israel, desde que Israel reconheça o Estado da Palestina. Israel, no entanto, teria feito de tudo para não reconhecer o Estado da Palestina, inclusive, fomentando o crescimento dos palestino contrários ao reconhecimento do Estado de Israel. E, se os palestinos, dispostos a reconhecer Israel desde que este reconheça a Palestina, são basicamente uma nacionalidade e, por isso, laicos, já os palestinos dispostos a expulsar Israel são basicamente uma religião e, por isso, teocráticos. Ora, é precisamente o islamismo teocrático e fundamentalista que se espalhou por todo o Oriente Médio e, além dele, pelo mundo, pondo em risco todos os esforços do Ocidente Cristão de universalização das Nações Unidas.


O nazismo queria iniciar uma nova periodização da história com uma nova contagem da história de modo que o mundo não seria mais contado Depois de Cristo e sim Depois do Terceiro Reich. Os fundamentalistas islâmicos, fomentados como inimigos, inicialmente por Israel, dão apoio aos revisionistas nazistas que afirmam que não existiu o Holocausto durante a Segunda Guerra e, além disso, também se mostram dispostos a dar origem a uma nova contagem da história que, para uns, seria Depois do Novo Califado e para outros, Depois do Novo Islã dos Imãs.


Ora, se as Primaveras Árabes, as Revoluções Coloridas, o movimento dos Indignados, do Podemos e, aí, é preciso incluir o do Syriza da Grécia, são todos processos que favorecem a democracia, os direitos humanos, o laicismo, enfim, a expansão do modelo das Nações Unidas, então não faz o menor sentido a Alemanha e o status quo da UE ameaçar a Grécia de expulsão bem como não faz o menor sentido os EUA continuarem apoiando Israel que simplesmente se recusa a reconhecer o laico Estado da Palestina.


Pra quê serve a história? Para acharmos que ela apenas se repete e é eterno retorno ou para acharmos que ela se repete como farsa e é continuidade progressiva?!

Risco de Dissolução da União Européia




Europa. O que mais caracteriza a Europa na história, seja local ou mundial, é a cultura. É o diferencial cultural nascido na Grécia Antiga: a filosofia. Até o mais consistente Império Europeu, o Império Romano, reconhecia e se subordinava à superioridade e excelência da filosofia da Antiga Grécia.


Mas, os tempos mudam. Não só com o advento do Império Romano, nem tão só com o advento do Cristianismo com o qual, aliás, contamos a passagem do tempo histórico, 2015 Depois de Cristo, mas, principalmente, com o advento da modernidade e contemporaneidade européias, porque desde então a filosofia da Antiga Grécia teve na filosofia da Moderna e Contemporânea Alemanha uma companheira à altura. A desenvoltura da filosofia na Alemanha se tornou tamanha que ela não só passou a ser conhecida como a Nação Moderna e Contemporânea da filosofia como ainda se popularizou que "só é possível filosofar em alemão", ainda que pareça expressar uma xenofobia que não é nada filosófica, muitos tendem a se dobrar e reconhecer que a filosofia atual só se expressa de forma livre e desenvolta em alemão.


Claro que a Grécia teve em Esparta os seus famosos e hegemônicos guerreiros. A Alemanha nesse aspecto não ficou para trás e ameaçou o mundo com duas grandes guerras e na última assustou muito o mundo com o nazismo, portador de um tipo de mobilização nacional similar ao de Esparta e com a exploração genocida dos judeus muito similar à população dos Hilotas que anualmente sofriam genocídio com o ritual da Krypteia.


Mas, se foi a filosofia quem venceu na Grécia através dos guerreiros da Macedônia, também foi a filosofia quem venceu na Europa através da aliança dos guerreiros da Inglaterra, dos EUA e da URSS.


Porém, se foi o Império Romano o sucessor do Macedônio. Foi o Império dos EUA o sucessor do Império Britânico. Em ambos os casos é o Direito quem exerce a hegemonia. No primeiro caso, o famoso Direito Romano e, no segundo, os famosos Direitos Humanos (ainda que os EUA os desrespeite seguidamente, aliás, o mesmo se pode dizer do Império Romano).


Pois bem, agora estamos numa encruzilhada. Precisamente durante o processo de construção da União Européia, no qual vigora tanto a cultura característica da Europa Contemporânea sob a hegemonia econômica da Alemanha e a hegemonia política da França, a qual, aliás, é a representante dos Direitos Humanos na Europa desde a Revolução Francesa, quanto vigora também a cultura dos Direitos Humanos dos EUA desde o fim da Segunda Guerra Mundial, precisamente nesse processo de construção com essas características surge o risco de a Europa se descaracterizar por completo  ao lançar fora o seu grande marco cultural: a Grécia. Como se a Alemanha atual não quisesse antepassados culturais e quisesse fundar uma Nova Era, um Novo Reich. Nada pode soar mais nazista do que isso e, portanto, menos filosófico do que nunca, logo, o que está em risco é precisamente a dissolução da União Européia.


sexta-feira, 20 de março de 2015

O discípulo é mais rigoroso que o mestre!?

"A questão de saber se é preciso conceder ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão de teoria, porém uma questão prática. É na prática que o homem deve comprovar a verdade, isto é, a realidade efetiva e a força, o caráter terrestre de seu pensamento. A disputa referente à realidade ou à não-realidade efetiva do pensamento - que está isolada da prática - é uma questão puramente escolástica." (Extraído de "As 'Teses Sobre Feuerbach' de Karl Marx", de Georges Labica, - tese segunda -,publicado por Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1990, p. 31)


A prática é "uma verdade objetiva" porque "é na prática que o homem deve comprovar (...) a realidade ou a não-realidade efetiva do pensamento". "A escolástica está isolada da prática" porque para ela a verdade do pensamento não é objetiva já que ela se encontra ainda isolada na escola de pensamento ou no pensamento de escola, de aprendiz do pensamento e não de sua comprovação objetiva. A escolástica ainda se encontra isolada na verdade subjetiva do pensamento, isto é, na sua existência subjetiva ou teórica e sem nenhuma prova objetiva. De modo que "a disputa" dos escolásticos "referente à realidade ou à não-realidade efetiva do pensamento" é uma "disputa" referente à verdade subjetiva do pensamento, isto é, referente à existência subjetiva ou teórica duma corrente de pensamento escolástico ante outra corrente de pensamento escolástico, ou seja, uma disputa na qual cada uma das correntes recorre à comprovação da existência subjetiva ou teórica do pensamento que é verdadeiro para cada uma delas e, desse modo, a disputa permanece "isolada da prática", "da sua comprovação e verdade objetivas".


Mas, o método científico que recorre à prática para resolver a "disputa referente à realidade ou à não-realidade do pensamento" pode ser visto como uma consequência das disputas sem saída da escolástica, melhor, pode ser visto como a solução encontrada para sair de tais disputas e seu círculo vicioso de eterno retorno para o avançar no que passa a ser considerado como construção e desenvolvimento do conhecimento e da verdade científicas. Se a escolástica foi o desenvolvimento da verdade subjetiva e teórica do pensamento humano, então a ciência (ou o método científico) veio a ser o desenvolvimento da verdade objetiva e prática do pensamento humano.


E o que faz um discípulo de Hegel em relação ao pensamento humano? Ora, Hegel propõe que se faça a ciência, logo, que se desenvolva a verdade objetiva e prática do pensamento humano. Portanto, seus discípulos certamente estarão voltados para fazer ciência, para a prática e comprovação da verdade objetiva do pensamento humano.


Porém, segundo Hegel, a verdade objetiva do pensamento humano é uma prática que comprova que o idealismo ou o pensamento humano é absoluto, ou seja, tudo que existe na realidade efetiva é resultante do pensamento humano, incluindo aí toda a materialidade, toda a objetividade, toda a natureza e o próprio pensamento humano que resultam dum pensar absoluto, o qual, por sua vez, é absolutamente humano, melhor, dentre todos os seres, excetuando-se o ser absoluto - Deus (o absoluto pensar em si e para si) -, só é acessível ao ser humano.


Um discípulo pode considerar que aí a filosofia de Hegel permanece prisioneira da escolástica e resolver que é preciso colocar à prova a verdade objetiva de sua filosofia, que é preciso comprovar na prática o idealismo absoluto. Mas, só por assumir este feito, esta prática tal discípulo já não considera o idealismo absoluto, mas antes o considera uma forma de escolástica, uma forma de verdade subjetiva do pensamento isolada da prática, portanto, tal discípulo vai tratar de comprovar na prática a verdade objetiva do hegelianismo, vai tratar de desenvolver aquilo que do hegelianismo se comprova na prática como realidade efetiva duma verdade objetiva e não duma verdade subjetiva tal qual a afirmação de ser o real: idealismo absoluto. Ao contrário, tal discípulo que parte para a prática, para a comprovação da verdade objetiva, quer dizer, real do pensamento humano (no caso o idealismo absoluto) só por adotar tal posição eleva a ciência e a prática, como comprovações da verdade objetiva (real), a algo além da absoluta verdade subjetiva do pensamento, quer dizer, eleva o pensamento humano ao absoluto da verdade objetiva (real), ao absoluto da prática. O que significa dizer que eleva o pensamento humano à sua comprovação real de verdade objetiva, logo, de verdade material e, com isso, é a saída do pensamento humano da sua condição de verdade subjetiva e a sua entrada na condição de verdade objetiva que faz com que tal discípulo afirme a sua ciência como prática do materialismo histórico/dialético ou como prática da verdade objetiva do pensamento humano e não mais como retenção na escolástica como teoria do idealismo absoluto histórico/dialético ou como teoria da verdade subjetiva do pensamento humano.


Trata-se, então, dum aprofundamento do método científico desenvolvido pelo hegelianismo de modo que ele passa a ser aplicado ao próprio hegelianismo, como se Hegel tivesse se esquecido de aplicá-lo ao seu próprio pensamento e, por isso, tivesse permanecido na escolástica ou tivesse limitado seu pensamento à verdade subjetiva da teoria absoluta ou da ideia absoluta.  Já o discípulo aparece como alguém que lembra de aplicar o método científico desenvolvido pelo hegelianismo ao próprio pensamento hegeliano e, por isso, avança a ciência ou aumenta as fronteiras do pensamento como verdade objetiva da prática relativa ou do real dialético/histórico.


O rigor do discípulo, então, é equivalente ao daquele que se considera "mais realista do que o rei!?".






quinta-feira, 19 de março de 2015

Prática & universalidade




No primeiro capítulo da Fenomenologia do Espírito de Hegel, A Certeza Sensível - ou o Isto e o Visar, a leitura nos faz vivenciar aquela pureza dos primeiros filósofos gregos para os quais existe a certeza sensível de que a coisa sensível é, mas, em seguida, surgem contradições que os levam a afirmar que só uma determinada coisa é. E aí cada um afirma a coisa determinada que é de acordo com sua certeza. Até que um deles afirma que a coisa que é com certeza não é sensível e tem início uma sucessão de coisas insensíveis, de acordo com a filosofia de cada um deles, que são afirmadas como sendo com certeza. Tudo isso é vivenciado na simples leitura do primeiro capítulo da Fenomenologia de um modo inteiramente diferenciado e afastado duma história da filosofia, porém, o que chama a atenção é que a simples leitura é a vivência duma experiência filosófica da consciência.


Eu fiquei tão enredado na experiência da leitura que resolvi ler copiando para ver se conseguia me desenredar, mas, com isso, creio, vivenciei uma outra experiência filosófica da consciência que é precisamente a dos copistas que irão dar origem aos escolásticos. Mas tendo chegado aqui só pude concluir/deduzir que a experiência está no cerne da Fenomenologia, o que, aliás, é confirmado pelo seu subtítulo, Ciência da experiência da consciência, portanto, tendo a crer que a famosa "prática" seja uma consequência lógica da filosofia hegeliana muito mais destacada do que de qualquer outra filosofia, logo, o movimento de sair da filosofia para entrar na "prática" é um movimento genuína e autenticamente hegeliano. Se assim é, então é possível aprender muito mais a respeito da experiência e/ou da prática com Hegel do que "imagina nossa vã filosofia".


Muito provavelmente é possível aprender e compreender Marx aprendendo e compreendendo Hegel do que se limitando a ler e aprender exclusivamente com Marx. Afinal, Marx se filia a Hegel e a filia, no sentido de amor presente na palavra filosofia que significa amor ao saber, indica que o saber, a sofia, está em Hegel e foi apreendido com Hegel.


A simples leitura, seguida da atividade de copista e, por sua vez, da atividade de escolástico, à qual se segue a atividade universal do método científico mostra um caminhar do simples sentir, da simples sensação, do simples sensível passando pelo aprendizado da disciplina da cópia e da escola para o fazer de acordo com regras universais e/ou de acordo com aquilo que pode ser comprovado por todos, como, por exemplo, a produção industrial.


Nesse caminhar do universal por mais belo que pareça se dissolve por completo a singularidade?! Existe alguma chance para a existência do que não é sistema, estrutura, universalidade?! A emancipação que se conquista desenvolvendo a experiência da consciência ou a prática é a emancipação do universal de modo que a singularidade, a individualidade se dissolvem e aquilo que se emancipa é equivalente a um robô?! A liberdade é ser robô (lembrando que robot é uma palavra russa para trabalho), é ser trabalho (servo mecanismo/bateria)?!


À guisa de explicação




A novidade de Hegel é o tempo. E o tempo acaba com a certeza sensível de algo que é aqui e agora porque assim que expressei isso já deixou de ser de modo que o presente é uma sucessão de algo que é aqui e agora, quer dizer, de algo outro que o algo original. A certeza sensível afirma que algo é como quem afirma uma foto mas aquilo que permanece sendo é uma sucessão de fotos porque como diz a canção "o tempo não pára". Esta figura focada e atenta para a sucessão de algo no aqui e agora é chamada de percepção e vai constituir o segundo capítulo da Fenomenologia do Espírito. A certeza sensível que acreditava que o sensível é pura e simplesmente e descobriu que isso é apenas uma foto e que o sensível presente só permanece na condição de ser enquanto sucessão de fotos, melhor, passando para a condição de não-ser e vindo à condição de ser, quer dizer, descobriu que a verdade deve estar com a percepção que está focada e atenta na sucessão de fotogramas, no filme que vivencia durante a percepção da coisa sensível que sucessivamente é, deixa de ser e vem a ser. É possível chegar à singularidade com a percepção? Esta é a pergunta que orienta o segundo capítulo da Fenomenologia do Espírito chamado de Percepção.


No tempo o presente é como uma ponte entre o passado e o futuro e o presente vive do seu aniquilamento, então quando Nietzsche diz que o homem é uma ponte estendida entre o animal e o super-homem e que a grandeza do homem é querer seu próprio aniquilamento ele parece estar fazendo uma identidade entre presente e homem/humanidade. Pelo menos é este o resultado a que chegamos com a saída da certeza sensível e a entrada na percepção como ensina Hegel.


A certeza sensível se viu às voltas com a diferença entre o isto sensível tal qual ele efetivamente é e a opinião que ela tinha de como este isto sensível era. A percepção anuncia no seu título que ficará às voltas com a diferença entre a coisa e a ilusão, talvez porque com o passado entre em cena a memória e com ela a possibilidade de falha, de ilusão.


quarta-feira, 18 de março de 2015

Ciência da experiência da consciência




Oi!


Tudo bem?


Quando a gente lê o primeiro capítulo da Fenomenologia do Espírito de Hegel a gente aprende que a linguagem só tem espaço para o universal, para a universalidade e que ela interdita todo e qualquer espaço e tempo para o singular, para a singularidade.


Quando dizemos eu, mesmo que apenas um de nós diga eu, o eu é sempre de cada um de nós, melhor, de qualquer um de nós, ou seja, não conseguimos dizer a singularidade e sim só o universal. O mesmo vale para qualquer coisa, melhor, qualquer palavra, como noite, dia, casa, árvore, este, esta, isto.


Aquilo que eu quando tinha uns 14 anos questionava na astrologia quando diziam fazer meu mapa astral é o mesmo que Hegel nos ensina, só que de maneira mais ampla. Eu dizia que naquela hora daquele dia daquele mês daquele ano e naquele lugar eu não era o único a ter nascido e, portanto, que outros tinham um mapa igual ao meu e, assim, não havia nada no mapa que não fosse da ordem da estatística, da ordem da quantidade, exceto, é claro, se todos os nascidos comigo fossem idênticos a mim ou, pelo menos, tivessem um comportamento tão idêntico que mais se assemelhariam a robôs produzidos em série do que a pessoas nascidas em série (a série de nascidos num mesmo espaço-tempo).


Por mais que nos comuniquemos tudo que comunicamos é universal porque a linguagem só nos dá acesso ao universal e nos interdita o acesso ao singular.


É possível outro ou algum acesso ao singular? A pergunta faz sentido e é ela que continua presente no segundo capítulo. Mas, ler o primeiro capítulo já é um grande feito dada a dificuldade que sentimos.


Já fiz a experiência de ler os 3 primeiros capítulos e em todos eu vivenciei o "eterno retorno", ou seja, ler e reler e assim por diante num círculo sem fim. E a cada vez ficava mais convencido de só ter lido, no sentido de compreendido por completo, o primeiro capítulo, ainda que mesmo aí ficasse em dúvida. A outra experiência concomitante com a do "eterno retorno" é a do "inconsciente", ou seja, descobrimos que não temos consciência da linguagem que usamos e que através dela deixamos as provas, os indícios, as manifestações da nossa inconsciência, do nosso inconsciente.


Resolvi ler o primeiro capítulo copiando o que foi escrito em português, espanhol e francês para ver se me colocando na posição de copista apreendo melhor e por completo o assunto, quer dizer, para ver se me torno um escolástico - os primeiros filósofos "medievais" após o período dos meros copistas -. De todo modo, algo muito importante me parece presente na leitura da Fenomenologia do Espírito de Hegel que é seu subtítulo: A Ciência da Experiência da Consciência. A qual me parece ser a experiência da história universal da filosofia. Depois dos copistas e escolásticos surgem os filósofos que fazem o método científico, melhor, que fazem da experiência um método, logo, tudo indica que a continuidade da leitura da Fenomenologia de Hegel vai nos fazer experienciar conscientemente os filósofos e as filosofias que fazem da experiência um método da consciência.


Espero conseguir ler, continuar a ler. E compreendendo. Caso contrário, não vale a pena.


sábado, 7 de março de 2015

Todo o verdadeiro problema é o da história subjetiva, social, afetiva, humana etc. não ser o da exploração do humano pelo humano






"Esse texto me parece mais explícito, fora o último parágrafo um pouco mais complicado, mais se pode entender a problemática."

[Se refere ao último parágrafo do texto publicado no blog sob o título de "Eterno retorno da exploração humana ou vir a ser da história sem exploração humana?"]


Graças a sua observação na mensagem de e-mail fiquei consciente de algo muito evidente que eu simplesmente pareço não perceber de propósito. É evidente que consciência de si é próprio dum sujeito consciente de sua subjetividade (de si), logo, o seu objeto é a sua subjetividade ou seu si próprio. Se o objeto do sujeito é o próprio sujeito, então é evidente que é aí na consciência de si que nasce, como muito bem mostra e destaca Hegel, a dialética do senhor e do escravo e, acrescento, do mestre e do discípulo, sendo que é esta última aquela que é destacada por Marx na sua terceira tese sobre Feuerbach a respeito da doutrina da mudança das circunstâncias e da educação. Quanto ao sujeito mudar o objeto circunstâncias a compreensão disso parece fácil, mas quanto ao sujeito educador mudar o seu próprio objeto que é sua própria subjetividade sendo educado é que a compreensão se torna mais difícil porque a necessidade de ser educado do educador é a necessidade de ser objeto do sujeito, logo, aí retorna a dialética do senhor e do escravo, do mestre e do discípulo, bem como a do saber positivo do mestre erudito (ciência dos instrumentos de trabalho) e a do saber filosófico do mestre autodidata (ciência da força humana ou das forças humanas de trabalho). A consciência ser mais do discípulo do que do mestre traz de volta a divisão entre senhor e escravo e a consciência ser mais do erudito traz à tona a formação ampla e exaustiva nas mais diversas disciplinas, quer dizer que também traz à tona a formação nas mais diversas escravizações. A consciência ser mais do si próprio do que do mestre e/ou do discípulo traz de volta a unidade do si próprio de mudar a ambiência objetiva e a ambiência subjetiva, de mudar o objeto e a si próprio, e a consciência ser mais do autodidata traz à tona a formação restrita e sustentada numa mesma liberdade, quer dizer que também à tona a formação numa mesma libertação.


Marx achava muito importante a presença das crianças nas conversas de adultos porque achava que estes podiam aprender muito com as crianças, ou seja, "o educador (adulto) precisava ser educado (pelos educandos que são as crianças)". Portanto, a relação afetiva que ele mais estimava era a infantil cheia de autêntica curiosidade, ingenuidade, inocência e questionamentos próprios da atividade filosófica e/ou autodidata.


sexta-feira, 6 de março de 2015

Eterno retorno e prática revolucionária




Os donos de si mesmos ou de suas forças humanas de trabalho também são os donos de suas próprias naturezas humanas e [da energia] do trabalho exercido por suas naturezas humanas. Nesse sentido, o super-homem de Nietzsche também se posiciona como dono da natureza humana que decididamente explora, enquanto que os donos de suas próprias forças humanas se posicionam como decididos desenvolvedores de suas forças humanas. Ambos agem sobre a natureza humana. Um retira dela as forças para a realização do super-homem. Já as próprias forças da natureza humana aumentam suas próprias forças realizando o autodesenvolvimento da natureza humana. Novamente retorna o tema da terceira tese de Marx sobre Feuerbach. O eterno retorno das forças divididas da doutrina materialista da mudança das circunstâncias e da educação que esquece que são os humanos que mudam as circunstâncias e que o educador precisa ser educado. A prática revolucionária das forças multiplicadas dos humanos que mudam as circunstâncias e dos humanos que mudam a si mesmos. Eterno retorno é algo que gira e volta. Prática revolucionária é algo que gira e volta. O eterno retorno é giro em torno do mesmo e volta do mesmo-outro. A prática revolucionária é giro em torno de si e volta de si mesmo-outro. Por mais próximos e semelhantes que pareçam partem de posições antagônicas e visam resultados antagônicos.


- Que coisa significativa!!!


- Que coisa insignificante!!!

quinta-feira, 5 de março de 2015

Eterno retorno da exploração humana ou vir a ser da história sem exploração humana?




Dizem que tipos é coisa de Max Weber, nunca de Marx, mas não é o que percebo. Lá nos textos econômicos da maturidade ele diz que a sociedade que ele analisa, a capitalista, é composta de três tipos, ele diz, de três classes - as quais, aliás, são três tipos de propriedade - que são a dos proprietários fundiários, a dos proprietários de meios de produção (instrumentos de trabalho) e a classe dos proprietários de suas próprias forças humanas de trabalho. Ora, na sua análise filosófica [da juventude] ele parte dos três tipos de consciência de si (estoica, cética e epicurista) do momento filosófico considerado como o do surgimento da consciência de si, o qual, se caracteriza por ser um período que sucede uma filosofia da totalidade, na antiga Grécia, são os sucessores de Aristóteles e, na Alemanha de Marx, são os sucessores de Hegel, logo, o próprio Marx se insere aí num dos tipos de consciência de si sucessora da filosofia total ou absoluta de Hegel. E tais tipos de consciência de si se caracterizam pelo tipo de posição filosófica que assumem: a da universalidade, a da particularidade e a da singularidade. A universalidade do saber-poder total ou absoluto da Natureza é a posição assumida por um dos tipos de consciência de si, o estoico, e também é a posição assumida pelo proprietário fundiário - Deus ou o divino costuma ser cultivado por esta posição. A particularidade do saber-poder positivo dos instrumentos de trabalho é a posição assumida pelo tipo cético de consciência de si e também pelos proprietários capitalistas ou dos meios de produção - o sobrenatural, o sobre-humano ou o super-homem costuma ser cultivado por esta posição . A singularidade do saber-poder filosófico das forças humanas de trabalho é a posição assumida pelos epicuristas e também pelos proprietários proletários ou de suas próprias forças humanas de trabalho - o natural, o humano ou a humanidade costuma ser cultivado por esta posição.


Outra coisa muito importante que Marx diz dos estoicos, céticos e epicuristas é que eles são as formas pelas quais a filosofia grega migra para Roma e também são as formas filosóficas que adquirem direito pleno de cidadania na modernidade e contemporaneidade europeias. E, nos diz ainda Marx, o que é surpreendente no ciclo das filosofias estoica, cética e epicurista é que foram buscar seus princípios não nas ricas filosofias da totalidade, como a de Platão e Aristóteles, mas sim em filosofias anteriores mais simplistas, quer dizer, nas filosofias da Natureza pré-socráticas e nos próprios socráticos - ainda que não em Platão que, apesar de se dizer um seguidor de Sócrates, ao que tudo indica, é visto como um pós-socrático por estas filosofias. - Aqui se pode apontar dois pontos em comum com Nietzsche que são: o voltar-se para os pré-socráticos e o afirmar o eterno retorno (sendo que o próprio eterno retorno é um tema filosófico original dos estoicos) das subjetividades ou dos tipos dessas filosofias.


A história até agora confirma o fim da história objetiva de Hegel com a continuidade da história subjetiva dos três tipos filosóficos destacados por Marx e/ou com o eterno retorno dos mesmos destacados por Nietzsche. Porém, o problema é que, até agora, a história subjetiva não foi além com sua potência subjetiva (os proprietários de suas próprias forças humanas de trabalho ou os epicuristas) do contexto de eterno retorno (dos proprietários de objetos naturais e/ou de trabalho ou dos estoicos e céticos ou dos remanescentes) do fim da história objetiva ou não foi além, à maneira de Nietzsche, com sua vontade de potência ou de poder do eterno retorno do vir a ser e a não-ser ou da criatividade e do niilismo [vir a ser e a não-ser corresponde a átomos e vazio e é curioso que o notável para Marx é que Demócrito permanece com os átomos e o vazio enquanto que Epicuro simplesmente suprime os átomos e o vazio na singularidade exclusiva ou absoluta da consciência de si humana, quer dizer, da subjetividade, da energia ou força humana]. Eterno retorno e fim da história objetiva ainda são a história que se repete e continua, mas e a ruptura feita pela continuação exclusiva da história subjetiva ou pelo fim da história objetiva e passagem irreversível para a história subjetiva que, segundo Marx, se faz com a comuna ou associação dos proprietários de suas próprias forças humanas de trabalho e que, segundo Nietzsche, se faz com o advento do super-homem? Sendo que a comuna, por associar todos nela mesma, não permite o retorno do fim da história objetiva, quer dizer, dos proprietários de objetos, enquanto que o super-homem, por se dissociar do homem e usá-lo constantemente como ponte para o super-homem, precisa recorrer ao contínuo sacrifício e retorno do homem e, portanto, precisa do retorno do proprietário do objeto, mesmo que tal objeto seja a natureza humana. Marx diz que é possível acabar com a exploração do homem pelo homem e Nietzsche diz que com o super-homem continua a exploração do homem não mais pelo homem, mas sim pelo super-homem.

terça-feira, 3 de março de 2015

Sindicatos, partidos e comunas




Todos a serviço da propriedade fundiária, todos centralizados pela máquina produtiva, todos socializados pela força humana de produção.


Se o meio de produção é a pura e simples propriedade fundiária, então independentemente das atividades desenvolvidas no seu interior, toda e qualquer atividade paga uma renda, uma contribuição e/ou um imposto pelo uso da mesma de modo que a propriedade fundiária é que dá a unidade e a identidade comum a todas elas. O sindicato pode ser visto como uma forma de propriedade fundiária de todas as diferenciadas atividades dos trabalhadores que lhes garante a valorização da unidade e identidade comum de trabalhadores no mercado de trabalho.


Se o meio de produção é a capacidade de produzir incorporada em instrumentos de trabalho de modo que o uso dessa capacidade permite àquele que dela dispõe efetivar uma produção muito superior à da sua simples circunscrição fundiária e, desse modo, afirmar uma produção independente da propriedade fundiária mas dependente da capacidade produtiva do meio de produção, quer dizer, dependente da propriedade produtiva do meio de produção e, consequentemente, elevando aqueles que dispõem de tais meios de produção acima não só da capacidade produtiva daqueles que não possuem tais meios mas também da circunscrição fundiária; então, esta capacidade de produção do meio ou máquina de produção é uma parte dentre as atividades de trabalho que se eleva acima das atividades de trabalho de tal modo que as demais partes precisam tomar parte nela. O partido (a parte) pode ser visto como um meio ou máquina de produção que visa tomar parte e conquistar o uso para si da parte ou da máquina altamente produtiva elevada acima das demais.


Se o meio de produção é a pura e simples propriedade da capacidade humana de produzir ou a propriedade da simples força humana de trabalho, então é a pura e simples associação das forças humanas de trabalho que dá unidade e identidade comum às diversas atividades das forças humanas de trabalho e não mais a pura e simples propriedade fundiária, logo, esta última não mais existe quando o que dá unidade e identidade comum às forças humanas de trabalho são as próprias forças humanas de trabalho ou os próprios trabalhadores e não mais o mercado de trabalho ou a propriedade fundiária nas quais se encontram os trabalhadores, consequentemente, não há mais predomínio nem do mercado de trabalho nem da propriedade fundiária. Por outro lado, se o meio de produção é a pura e simples propriedade da capacidade humana de produzir, então também é a pura e simples associação das forças humanas de trabalho que não só dá unidade e identidade comum aos trabalhadores mas também eleva todas as demais partes comuns da capacidade de produção ao associar, socializar ou dissolver a capacidade incorporada nos meios de produção nas mãos das puras e simples forças humanas de trabalho. A comuna pode ser vista como forma de associação e meio de produção dos simples proprietários da força humana de trabalho, logo, como comunidade dos simples proprietários da capacidade humana de produzir e como propriedade comum da necessidade humana da capacidade de produzir incorporada em instrumentos de trabalho, quer dizer, como associação que parte da capacidade de cada um para a necessidade de cada um, melhor, que parte da capacidade de produzir de cada uma para a necessidade produzida pela capacidade de produzir de cada um, porque a necessidade diferenciada é oriunda da diferença da capacidade de produzir, portanto, a associação ou comuna é a instituição do princípio "de cada um, segundo sua capacidade, a cada um, segundo sua necessidade".


domingo, 1 de março de 2015

Estoicos, céticos e epicuristas




Três tipos de propriedade, de classe, de filosofia, de revolução. E cada um dos tipos no seu desenvolvimento pode ter três tipos de comportamentos: um que é do seu próprio tipo e dois que são desvios dos ou para os outros tipos.


Se, por exemplo, no desenvolvimento do sindicalismo e do partido dos trabalhadores tais organizações institucionais forem consideradas como propriedades fundiárias dos trabalhadores, quer dizer, como terreno ou território exclusivo dos trabalhadores de modo que os trabalhadores que não estão no seu interior não são considerados trabalhadores, logo, só os trabalhadores que se manifestam de acordo ou em nome dos sindicatos e do partido são considerados trabalhadores.


Por outro lado, se, por exemplo, os sindicatos e partidos dos trabalhadores forem considerados como meios de produção, quer dizer, como instrumentos ou máquinas de produção exclusivas dos trabalhadores de modo que só através do desenvolvimento de suas organizações que se pode identificar e aceitar que se está diante de comportamentos típicos de trabalhadores, logo, só as organizações dessas máquinas podem se manifestar, melhor, só as manifestações organizadas por essas máquinas sindicais e partidárias são consideradas como sendo tipicamente dos trabalhadores.


Finalmente, se, por exemplo, os sindicatos e partidos de trabalhadores forem considerados como associações das forças humanas de trabalho, quer dizer, como sociedades exclusivas das associações das próprias forças humanas de trabalho ou exclusivas das associações dos si próprios dos trabalhadores de modo que só através das associações que os si próprios dos trabalhadores fazem ou que as próprias forças humanas de trabalho fazem, quer dizer, que se manifestam e se organizam como associações dos próprios trabalhadores, melhor, da forma típica das próprias forças humanas de trabalho se associarem, é que fica claro que as manifestações, as associações e as organizações feitas pelos próprios trabalhadores e independentes dos sindicatos e dos partidos são associações típicas dos trabalhadores que são proprietários exclusivos de si mesmos ou de suas próprias forças humanas de trabalho. É por isso que as comuna e os conselhos de trabalhadores são as formas típicas e mais autênticas das associações dos trabalhadores.


É evidente que, nos sindicatos e nos partidos organizados como propriedade fundiária e como máquina de produção, tende a ocorrer o privilégio, a hierarquia, a corrupção e as políticas que favorecem os proprietários fundiários e os proprietários dos meios de produção bem como que desviam os proprietários de suas próprias forças de trabalho para favorecer, agir como, desejar ser e se tornar proprietário fundiário e proprietário de máquina de produção ao mesmo tempo que desfavorece, age contra, deseja negar e nega os proprietários exclusivos de si mesmos ou de suas próprias forças humanas de trabalho que são os trabalhadores eles mesmos.


De um modo geral o sindicato e a central sindical tende a se organizar como propriedade fundiária e, por isso mesmo, o trabalhador acaba tendo conflitos de identidade com tais organizações. Os partidos, por sua vez, tendem a se organizar como máquinas de produção e, por isso, também, de igual modo, acabam despertando conflitos de identidade dos trabalhadores com tais organizações. As comunas, os conselhos e as formas de organização direta dos trabalhadores tendem a se organizar inteiramente de acordo com os próprios trabalhadores e, por isso, também, acabam tendo conflitos com os sindicatos e com os partidos que procuram deformá-las e suprimí-las.


A coincidência dos sindicatos, dos partidos e das comunas, conselhos ou formas diretas de associação dos trabalhadores tende a ser a aparição e a conjuntura da prática revolucionária.

Estoicos, céticos e epicuristas.