terça-feira, 29 de setembro de 2015

Tempo livre & tempo de trabalho na atualidade, em especial, na internet




Como é evidente ainda vivemos num mundo medido pelo tempo de trabalho. Aliás, o mestre Marx dizia que, mesmo quando a produção passa a efetivamente ser medida pelo tempo livre, para o capital o que importa é manter o tempo de trabalho como medida da produção.


Como o capital faz essa manutenção do tempo de trabalho como medida da produção quando a produção se tornou, de forma cada vez mais veloz, medida pelo tempo livre? Aumentando o mercado e a quantidade de trabalhadores que vendem a produção, quer dizer, que conseguem acesso aos produtos se tornando vendedores dos produtos, ou seja, é por meio do tempo de trabalho de venda dos produtos que conseguem acesso ao uso dos produtos. Esses trabalhadores não são produtores diretos dos produtos nem do lucro e da mais-valia, mas são realizadores da venda dos produtos, logo, realizadores do lucro e da mais-valia dos produtos, portanto, podem ser considerados como produtores indiretos dos produtos, do lucro e da mais-valia. Além disso, em sua grande maioria eles são parte do chamado mercado informal e realizam um trabalho informal, logo, participam da sonegação fiscal, da redução do Estado, da ampliação do mercado e do aumento da corrupção. O Estado fica cada vez mais paralisado ao se deparar com massas cada vez maiores de trabalhadores informais, quer dizer, com massas cada vez maiores de praticantes da sonegação ou do crime. O desrespeito ao Estado e a aceitação da sonegação fiscal se torna algo cada vez mais aceito tanto pelas massas informais quanto pelo funcionalismo do Estado. Ambos se sentem impotentes para participar da formalidade do mercado e do trabalho. É nesse momento que o capital lança sua proposta de reforma da formalidade do mercado e do trabalho sob o nome de Neoliberalismo. Redução do Estado ao Mínimo e aumento do Mercado ao Máximo são as propostas que o Neoliberalismo faz para ajustar a formalidade que pode e deve ser cobrada pelo Estado e liberar a informalidade/isenção que pode e deve ser praticada pelo Mercado.

 O jornal impresso precisa ser pago diariamente; o rádio basta ter o aparelho e pagar por sua fonte de energia, o mesmo ocorre com a tv; já o telefone é o aparelho, que é comprado ou alugado, mais o pagamento pelos serviços de conexão feitos pela companhia telefônica; o computador é o aparelho, que é comprado ou alugado, mais o pagamento dos serviços de conexão feitos pelo provedor; o celular é o aparelho, que é comprado, mais o pagamento dos serviços de conexão da operadora; a tv paga é uma exceção. Educação, saúde, segurança e, em alguns casos, transporte públicos são inteiramente gratuitos, ou seja, já foram devidamente pagos pelos impostos. Os programas de rádio e tv são gratuitos (são pagos por anunciantes e por patrocinadores); é possível navegar e fazer os mais diversos usos da internet de forma inteiramente gratuita (são pagos por quem?!); telefone e celular dependendo da conexão (local, distante, interurbano, internacional) aumenta ou diminui a tarifa.


Rádio, tv e internet possuem um caráter público similar ao da educação, saúde e segurança públicas, mas os primeiros são operados por produtores privados e os segundos, de um modo geral, são operados por produtores estatais. O ouvinte e o telespectador parecem estar numa conexão de consumo mais passiva, já o internauta parece estar numa conexão de consumo mais ativa, ou seja, os primeiros se limitam à condição de receptores e o segundo avança na condição de emissor. Esta condição de emissor dentro da internet num momento que se expande como nunca a atividade de venda das mercadorias como atividade de manutenção do tempo de trabalho como medida da produção pode ser demasiadamente adequada para fazer do emissor-internauta um vendedor das mercadorias do capital.


Um blog pode ser veículo para difusão de mercadorias. Um blog pode até ser pago por difundir mercadorias. Ainda não é o meu caso, até onde sei não faço difusão de mercadorias e muito menos sou pago para escrever no meu blog.



segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Jornal e jornada de trabalho; internet e rede de liberdade




A época de expansão do usuário consumidor do tempo livre é a mesma época de expansão do Neoliberalismo e se na época do Liberalismo a novidade era a expansão do trabalhador consumido pelo tempo de trabalho, então, agora, na época do Neoliberalismo a novidade é a expansão do usuário consumidor do tempo livre.


Estamos na época em que "gente é pra brilhar, não pra morrer de fome". Estamos numa época em que todos somos estrelas e todos somos servidos pelas mais diversas mercadorias para melhor podermos brilhar no palco. Não estamos mais naquela época em que quase todos somos famintos e quase todos nos entregamos a produzir as mais diversas mercadorias em troca de refeições que saciem nossa fome.


O mercado atual não visa nos dar só comida porque atualmente "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte". Nem nós nem o mercado atual somos liberais nem trocamos mercadorias por tempo de trabalho, porque nós e o mercado atual somos neoliberais e trocamos mercadorias por tempo livre. Nós não vivemos mais no mundo e na cultura do trabalho livre e vivemos sim no mundo e na cultura da liberdade livre. Não se trata mais da época da cultura das massas trabalhadoras e sim da época da cultura das massas livres. Não vivemos na época das massas trabalhadoras e sim na época das massas culturais, logo, não na época do trabalho de massas e sim na época da cultura de massas.


Se, na época das massas trabalhadoras ou do trabalho de massas, o jornal, este produtor de cultura, era um organizador coletivo, imagine então, agora que a época é das massas culturais ou da cultura de massas e que, portanto, o conjunto dos meios de comunicação, estes produtores de cultura, são os organizadores coletivos, como se tornou complexa a organização coletiva da cultura de massas. O jornal e a jornada de trabalho tinham uma relação intrínseca, mas agora que o principal é o tempo livre a relação mais intrínseca com o tempo livre vem se manifestando pelo uso das redes sociais da internet via computadores e celulares.



Hegemonia total do Neoliberalismo e o simples acaso do Socialismo Racional




"Vamos sair e acabar com a ditadura porque alcançamos nossos objetivos", foi algo assim que um participante da ditadura declarou na época que os militares passaram o poder para os civis no Brasil.


Sempre fiquei curioso para saber quais eram tais objetivos. Hoje, lembro que 1979, o ano da Anistia no Brasil, foi o mesmo ano do Neoliberalismo no mundo e também da Revolução Islâmica dos Aiatolás no Irã e da Revolução Socialdemocrata dos Sandinistas na Nicarágua, ou seja, estava fechado o caminho para as revoluções orientadas pela ideologia do dito Comunismo Real da chamada Cortina de Ferro. Estavam no ar outras possibilidades. Uma revolução religiosa era um fenômeno inteiramente novo e uma revolução socialdemocrata com alternância no poder também era um fenômeno inteiramente inesperado. Finalmente, a Anistia mostrava que aqueles movimentos, de Abertura Lenta, Gradual e Segura que haviam começado com Geisel, o qual, por sua vez, havia prometido que com seu sucessor Figueiredo culminaria no fim da Ditadura, pareciam ser movimentos verdadeiros.


O que ocorreu de mais marcante no mundo em 79 foi o lançamento do chamado Neoliberalismo pela Margareth Tatcher. E o que tinha demais nisso?! Aquilo que mais deixava os defensores do capitalismo exaltados e satisfeitos com o Neoliberalismo era que dali em diante a sociedade civil de mercado não poderia mais ser inteiramente substituída pela sociedade política de Estado, ou seja, o poder econômico capitalista tinha se tornado tamanho que não havia mais como seu adversário afirmar a sua via do Comunismo de Estado do Socialismo Real, exceto como um fenômeno que fosse parte integrante do Socialismo de Mercado e não mais do dito Socialismo Real ou de Estado. Os países libertos do colonialismo logo abandonaram as vias para o Comunismo ou Socialismo de Estado e se inseriram como países independentes no mercado mundial neoliberal. A URSS desmoronou alguns anos depois e atualmente Cuba está escapando do boqueio dos EUA ao mesmo tempo que está mudando para algo, talvez similar à China, como um Socialismo de Mercado.


No Brasil, a reorganização partidária e a conquista do poder político pelo PT não resultou em nenhum socialismo democrático, como era defendido pelo PT. Pelo contrário, resultou em mais desenvolvimento capitalista nada democrático ou oligárquico e em escandalosos casos de corrupção de membros do governo, do PT e de seus aliados. São todos prisioneiros do mercado capitalista, da avidez pelo dinheiro, da organização e da moral mafiosas. Esta é grande inovação do Neoliberalismo, tornar impossível a via do Socialismo ou Comunismo de Estado, portanto, a chamada via Real ou Realista está inviabilizada.


Marx criticava essa via por dividir a sociedade em duas partes e colocar uma acima da outra e dizia que o resultado dessa via numa sociedade pouco desenvolvida era o desenvolvimento de mercado ou "neoliberal". E como alternativa ele propunha que a via para o Comunismo precisava ser efetivada ao mesmo tempo em vários países desenvolvidos por meio da dissolução do Estado na Sociedade Comum e não pelo tal do Comunismo de Estado.


Será que a consequência do Neoliberalismo é o reavivamento da crítica de Marx e da sua via do Socialismo ou Comunismo Social, quer dizer, Racional ou Racionalista?!



domingo, 27 de setembro de 2015

Como a dramaturgia do acaso contribui para o advento do reino da liberdade?!/Impeachment? Sim!!!... LIBERDADE!!!

                                                                                                                                                 13/03/2016


Sabe o que está me preocupando? Isso:


O PT surgiu como partido que uniu os mais diversos grupos de esquerda, desde os baseados em Marx e numa linguagem dita do século XIX passando pelos sociais-democratas, os leninistas e, até mesmo, pelos stalinistas (José Dirceu) e maoístas, pelos diferentes grupos trotskystas. Esta unidade da diversidade representada pelo PT no momento do seu surgimento fez dele a organização partidária de tipo clássico da esquerda, ou seja, ele era efetivamente o partido dos trabalhadores com o qual a esquerda dos mais diversos matizes sempre sonhou. Era um partido de massas e não de quadros, mas que não deixava de abrigar os mais diversos quadros de esquerda, enfim, era um partido de todos de esquerda por ser antes de tudo um partido dos trabalhadores. Era a primeira vez, dizia toda a esquerda, que um partido surge efetivamente dos trabalhadores. Isso não ocorreu com o PC (PCB, PC do B) nem com o PTB nem com o PS (PSB), enfim, com nenhum outro partido de esquerda no Brasil. O PT era um evento significativo no Brasil e também na história mundial dos partidos dos trabalhadores.


E como ele surgiu? Num momento histórico que, no Brasil, se fazia a "abertura lenta, gradual e segura", quer dizer, a passagem para o fim da ditadura e início da democracia sem traumas, quer dizer, a entrega do poder político dos militares ditatoriais para os civis democráticos. E este era um desejo exclusivo dos militares? Não, porque fazia parte das mudanças em dominó promovidas pelos EUA que trouxeram a ditadura e que agora promoviam "o retorno" da democracia. Estas mudanças se referenciavam na derrota na Guerra do Vietnam mas que teve a vantagem da aproximação com a China; no processo de descolonização generalizada do mundo que se combinava com o fim das ditaduras na Espanha, em Portugal e na Grécia; na guerra de guerrilhas contra os comunistas no Afeganistão; na vitoriosa greve de 1978 no ABC paulista; na revolução religiosa do islamismo xiita no Irã e na revolução politica do sandinismo social-democrata na Nicarágua, ou seja, revoluções não-comunistas nem ateístas; na anistia em 1979 e na liberdade de organização partidária que desencadeou o movimento pró-PT; finalmente, a constituição do PT em 1980. No entanto, em 1979 também ocorreu algo que vinha sendo preparado já fazia tempos, por exemplo, com a mudança de nome do câmbio ou mercado negro para câmbio ou mercado paralelo, com a mudança de mercado ilegal de sonegadores fiscais para mercado informal, com a mudança de mercado de trabalho ilegal para mercado de trabalho informal, enfim, 1979 foi o ano de lançamento oficial do neoliberalismo que vinha sendo desenvolvido e preparado fazia anos.


É aí que se encontra o problema principal que me preocupa e que, até agora, só consigo perceber tal qual ele se apresenta, ou seja, se trata do mercado. Na época do Estado do Bem-Estar Social, lá nos idos anos 30-40-50, existia nos EUA, e se espalhava pelo mundo a partir dele, o problema da delinquência juvenil, ou seja, no momento que se construía o Estado do Bem-Estar Social também se desenvolvia aquilo que Freud já tinha percebido no final do século XIX e, em especial, nos anos 20 do século XX e que era o "Mal-Estar na Civilização". O delinquente não é aquele que resolve todos os seus problemas tendo como iniciativa o bem-estar providenciado pelo Estado, mas, ao contrário, ele quer o seu bem-estar às custas do Estado e do patrimônio ou propriedade dos outros, mais ainda, ele não só se apropria expropriando os outros mas negociando ou transformando em mercadoria aquilo que roubou. Sua atividade mina o Estado do Bem-Estar Social em construção e também é responsável pela explosão de profissões voltadas para o cuidado das mais diversas formas de manifestação dessa Mal-Estar que tem no delinquente uma de suas figuras máximas. Assistentes sociais, sociólogos, cientistas sociais, cientistas políticos, psicólogos, psiquiatras,advogados, behaviorismo, psicanálise etc., enfim,  uma expansão sem precedentes ocorre nas ditas profissões ou ciências sociais, logo, também um mercado para esses profissionais e também um aperfeiçoamento dos serviços sociais do Estado do Bem-Estar Social.


A lei seca nos EUA proibiu a compra e venda de bebida alcoólica entre 1920 e 1933. O preço da proibição foi um enorme mercado ilegal protegido à bala pelos chamados gangsters (tradução: membros de quadrilhas ou quadrilheiros). Porém, as drogas, como a cocaína descoberta por Freud no início do século XX, acabaram sendo proibidas e o mercado ilegal e igualmente formado por quadrilhas apenas se desenvolve desde o início das proibições de usos de drogas para cá. Lá atrás, no século XIX,nas Guerras do Ópio a Inglaterra lutou contra a China para impor o direito de vender ópio para os chineses. Ver:




O mercado se desenvolve de todo jeito com base no sistema de necessidades humanas, onde as dependências químicas, fisiológicas e afetivas desempenham suas preponderâncias. Além disso, ninguém se considera livre se não puder dispor de sua própria força humana de trabalho, quer dizer, se for escravo de alguém ou se estiver preso na comunidade rural como o servo. Por isso, o capitalismo brada para todo lado que trouxe o trabalho livre e/ou o livre comércio de compra e venda da força humana de trabalho pela própria força humana de trabalho. Mas, essa liberdade foi e é suprimida quando não existia e quando não existe um limite para a exploração da força humana de trabalho durante a jornada de trabalho, seja devido à sua exploração extensa de 18, 16, 14, 12, 10 horas de trabalho, seja devido à sua exploração intensa em jornadas de 8, 6, 4 etc. horas de trabalho cujos esforços repetitivos acabam com a saúde dos trabalhadores.


O trabalho livre, no entanto, é visto como um grande avanço social e humano frente aos sistemas de trabalho escravo e servil, mas, ele é precisamente a vitória plena do mercado em geral frente ao mercado limitado aos senhores no sistema escravista e servil, ainda que, neste último, as fugas dos servos para constituir os burgos tenha permitido desenvolver o mercado marginal ou alternativo que já fazia com a sua produção comunitária independente dos senhores. O mais importante movimento de emancipação do capitalismo é o da emancipação dos trabalhadores ou do proletariado, não é o dos expropriadores ou lumpemproletariado, ou seja, é aquele que tem por base essa liberdade reconhecida legalmente que é a do trabalho livre e não a liberdade não reconhecida legalmente que é a de roubar. A legitimidade do movimento de emancipação dos trabalhadores ou do proletariado tem por base precisamente o trabalho livre, quer dizer, a mais sólida e efetiva afirmação do mercado que é o mercado de trabalho assalariado. Aliás, é notável que Freud rejeitando a hipnose, feita em geral nos hospitais psiquiátricos com pacientes internados, tenha desenvolvido a psicanálise nos consultórios com pacientes livres que pagam pelo serviço psíquico como quem paga por qualquer outro serviço prestado no mercado pelo trabalho livre.


No entanto, Marx, que assumiu a legitimidade do movimento de emancipação do trabalho livre, argumentando ser baseado na existência do mercado mundial de trabalho livre de modo que os trabalhadores no seu movimento de emancipação querem uma emancipação internacional ou mundial e não meramente nacional ou local, visa o fim do mercado por ser este baseado no sistema das necessidades humanas, quer dizer, em diferenciadas formas de dependência humana. E ele argumenta que o desenvolvimento da emancipação dos trabalhadores no mercado mundial supõe a passagem do sistema de mercado e/ou das necessidades humanas para o sistema de comunidade e/ou das liberdades/capacidades humanas, quer dizer, das diferenciadas formas de independência humana. Pois bem, é esta afirmação de Marx que eu acredito que não entendo e que, muito provavelmente, quase ninguém entende, ainda que todos acreditem.


Como se faz a passagem do reino e sistema da necessidade baseado no mercado para o reino e sistema da liberdade baseado na comunidade humana? Como se pensa isso a partir da dramaturgia do acaso na qual a criatividade dos atores predomina? Como o predomínio da criatividade dos atores passa a ser predomínio da comunidade das capacidades e liberdades dos atores e não mais das necessidades e dependências dos atores? Como a dramaturgia do acaso do Escobar contribui para esta realização efetiva?

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Impeachment? Sim!!!... LIBERDADE!!!


O impeachment da exploração do humano pelo humano? Sim!!! E liberdade da sociedade sem classes e sem estado.


Então, todo apoio às investigações das corrupções e outros crimes. Aprofundando as investigações até chegar não apenas à condenação mas também ao impeachment completo da exploração do humano pelo humano e, desse modo, libertar a sociedade sem classes e sem estado.



Escobar: Acaso e destino, atores e "reatores", revolucionários e reacionários



                                                                                                                                                 10/03/2016


O que Escobar nos faz pensar?! Na dramaturgia e, com ela, na condição de ator, muito mais do que na de autor. Por meio da dramaturgia o autor é o acaso, quer dizer, é uma determinação resultante da atividade ou atuação das próprias forças ou dos próprios atores presentes no drama, melhor, na dramaturgia. Uma dramaturgia na qual o autor é o determinismo, quer dizer, é uma determinação da atividade ou da atuação do drama independente da presença dos próprios atores ou de suas próprias forças.


Quando o autor é o acaso existe espaço-tempo para a co-incidência da mudança das circunstâncias com a mudança dos próprios atores ou com a autotransformação humana, quer dizer, existe efetivamente a prática revolucionária. Quando o autor é o determinismo não há mais coincidência do mudar as circunstâncias com o mudar a si mesmo ou autotransformar-se porque tanto as circunstâncias quanto a educação já estão (pré)determinadas, quer dizer, existem efetivamente como práticas reacionárias, melhor, como meras reações ou meras ações de forças iguais e em sentido contrário à força determinante do drama que é o determinismo.


Quando o autor é o acaso as forças, os atores giram em torno de si mesmos ou são revolucionários, mas quando o autor é o determinismo, então, as forças, os atores são meros efeitos ou reações da ação determinante do drama, giram em torno da determinação do drama fora de si. Então, quando o autor é o acaso a dramaturgia resulta da atividade dos atores e dos personagens, mas quando o autor é o determinismo a atividade dos atores e dos personagens resulta da atividade da dramaturgia. Quando o autor da dramaturgia é o acaso a história está aberta à criação e à liberdade dos atores e dos personagens. Quando o autor da dramaturgia é o determinismo a história está fechada no mecanicismo e na prisão dos atores e dos personagens.


Um mesmo problema dramático ou uma mesma dramaturgia se desenrola de modo inteiramente diverso quando o autor é o acaso e quando o autor é o determinismo. É isso que se pode verificar nas diferenças entre a tragédia de “Prometeu Acorrentado”, na qual o autor é o acaso, e a tragédia de “Édipo Rei”, na qual o autor é o determinismo. Na primeira, ainda é possível a luta, o “fogo”, o vir a ser da prática revolucionária que livremente determina e constrói a história, já na segunda, não há luta, não há “fogo”, não há vir a ser que não seja o da prática reacionária aprisionada e estabelecida pelo determinismo da história.


O problema maior da dramaturgia, no modo de produção vigente, é que o autor é o determinismo, ou seja, que o problema dramático está colocado e se desenrolando como “Édipo”, motivo pelo qual se fala do “Complexo de Édipo”. Logo, para que se consiga o que Escobar nos faz pensar, quer dizer, pensar muito mais na condição de ator duma dramaturgia que tem por autor o acaso, fica claro que é preciso colocar e desenrolar o problema dramático como “Prometeu” porque sua atividade é capaz de elaborar e realizar o “acaso” duma saída, prática revolucionária ou “Cura” do “determinismo”, da prática reacionária ou do “Doentio anacronismo” do “Complexo de Édipo”.



O filme da filha do Escobar sobre o pai Escobar é feito de luta da filha por saber da história do pai Escobar e de luta do pai Escobar por saber da filha. Ela quer aquilo que se encontra na memória do pai e o pai não quer ser reduzido à memória na memória da filha, mas quer sim, de algum modo, ser presente com a filha presente, ser ator com a filha atriz. E ele parece ter conseguido que o desejo de documentar a memória ou a ficção se tenha tornado também desejo de documentar o presente ou a “realidade” por meio dos manifestos “faz de conta” e roteiros que propõe e dos “faz de conta” dela de que aceitou e que ainda vai filmar, quando já está filmando. Certamente devem existir filmagens com os “roteiros” dele que não foram usadas na edição do filme. Certamente ambos ganharam com o filme a atividade de ator, de atriz ou de autodidatas, quer dizer, a dramaturgia do filme acabou tendo por autor o “acaso” e também o maior presente que o pai ausente Escobar pôde dar para a filha que foi o reconhecimento da atividade autodidata da filha na luta para compreender a entrega do pai Escobar à atividade autodidata durante toda sua vida. História aberta em livre realização.



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Existe algum risco estratégico dos espectros?!


Existe algum risco estratégico dos espectros?! O temido espectro do comunismo de Estado rondando o Brasil expresso por manifestantes verde amarelos é um temor infundado porque este espectro simplesmente não tem vez e disso, aliás, os militares da ditadura sabem desde a anistia de 79, que também foi o ano do neoliberalismo de Margareth Tatcher, da revolução iraniana dos aiatolás, da revolução sandinista socialdemocrata, enfim, foi o ano inaugural do fim, do término ou da extinção de qualquer revolução comunista de Estado. Mais 10 anos e, em 1989, acontecia a Queda do Muro de Berlim, mais 3 anos e, em 1991, vinha abaixo a URSS. [13 é o número do PT].


O espectro da Sociedade Civil dos indivíduos ou homens singulares rondando o Brasil, quer dizer, do movimento real da natureza humana individual ou da propriedade privada humanista plenamente identificado e defendido pelos manifestantes verde amarelos está de algum modo ameaçado ou não existe efetivamente no Brasil?! De modo algum, o movimento real da natureza humana individual ou da propriedade privada humanista é inteiramente hegemônico e praticado por todos os partidos e por todas as classes no Brasil, porque ele abarca estrategicamente todos os componentes não só do país mas quase que de todo o globo e isso é muito visível, por exemplo, no movimento de Cuba que é do espectro do dito comunismo de Estado para o espectro da Sociedade Civil dos homens singulares ou de assunção do movimento real da natureza humana individual ou proprietária privada.


O que resta a Dilma fazer?! Defender intransigentemente os direitos do movimento da natureza humana individual ou da propriedade privada à sua Sociedade Civil dos indivíduos singulares, ou seja, só resta a Dilma defender intransigentemente os manifestantes verde amarelos.


Existe qualquer possibilidade de Dilma, Lula, o PT ou a CUT saírem de algum modo do âmbito estratégico do espectro da Sociedade Civil dos indivíduos singulares?! Não, não existe nenhuma possibilidade, mas nem mesmo a mais mínima possibilidade tática.


O único espectro que ronda o mundo é o do terrorismo fundamentalista e este, graças a Deus, ainda não ronda o Brasil, apesar de alguns terroristas tradicionais e de crescente fundamentalismo religioso cristão.



A prática revolucionária de Escobar da dramaturgia do acaso

                                                                                                                                                 12/03/2016



A dramaturgia do determinismo ou da ação que vem de fora e toma os (re) atores como efeitos dela, quer dizer, como ações iguais e contrárias à ação determinista determinante vinda de fora, da queda em linha reta no vazio versus a dramaturgia do acaso ou da ação proveniente de dentro e tomada pelo ator como causa própria, quer dizer, como ação diferenciada/desigual e favorável a si mesma na fuga à ação determinista determinante de fora, da queda em linha reta no vazio.


Na dramaturgia do determinismo as reações iguais e contrárias à ação determinante de queda em linha reta no vazio são imediatas. No entanto, elas parecem supor um absurdo, já que se os atores estão em queda em linha reta no vazio eles teriam como se apoiar no próprio vazio para reagir, quer dizer, para efetuar uma ação em linha reta igual e contrária à de queda no vazio?! Mais do que isso, como seria possível que na queda em linha reta no vazio de todos os atores um ator pudesse se chocar com o outro, posto que a velocidade da queda em linha reta seria igual para todos já que estão no vazio e não existe sequer a resistência do ar/vento, de modo que um se atrase enquanto o outro se adianta na queda?! E se os atores decidissem, cada qual a seu bel-prazer, a direção e sentido da queda em linha reta no vazio, de modo que cada qual, caindo em sua linha reta própria, pudesse vir a se chocar com os demais que estão em suas linhas retas próprias, mas aí eles não estariam realizando uma queda caótica no vazio em lugar de uma queda em linha reta no vazio e, além disso, em lugar do movimento de inércia, devido à massa dos atores, já não se estaria diante de um outro movimento devido à energia dos atores?!


Na dramaturgia do acaso os atores estão em movimento inercial de queda em linha reta no vazio devido às suas massas ou plenos por oposição ao vazio ou a ausência de massa, mas a velocidade deles é igual para todos e como a energia existe em resultado duma relação entre a velocidade e a massa (confirmada na atualidade pela fórmula famosa de Einstein: E=MC²), então, os atores afirmam e expressam sua energia como movimento de desvio da queda em linha reta ou como movimento curvilíneo em torno de si e o resultado disso é o encontro dos atores entre si, de modo que se diz que o espaço é curvo devido à presença das massas dos atores ou que a curvatura do espaço é decorrente das alterações e perturbações causadas pela presença da massa de cada  ator.


Na dramaturgia do acaso, a energia é a singularidade abstrata que torna possível a passagem do movimento de queda em linha reta dos atores no vazio para o movimento de encontro, atração, choque, repulsão dos atores entre si. Esta individualidade, a energia ou a singularidade abstrata do Clinâmen (https://pt.wikipedia.org/wiki/Clin%C3%A2men), está na base da dramaturgia do acaso como atividade que realiza a convergência entre o movimento externo de queda em linha reta dos atores, causado pela ausência de resistência do vazio, e o movimento externo de repulsão entre os atores, causado pela presença da resistência dos plenos entre si. A dramaturgia do acaso não é nem pode ser a dramaturgia do determinismo que é concebida como uma ação externa, por exemplo, a de um taco em bolas de bilhar. A dramaturgia do acaso é resultante da ação interna que foge da queda com um pequeno movimento de declinação e, com ele, realiza o encontro dos atores com os atores, quer dizer, a efetivação das possibilidades da dramaturgia do acaso.


Escobar afirmou o Clinâmen desde os 9 anos de idade, como diz no filme “Os dias com ele”. Ele fez da sua vida esta afirmação da atividade autodidata da individualidade humana, da energia humana ou da singularidade abstrata humana. Mostrou todo o tempo que a dramaturgia do acaso, quer dizer, aquela que faz coincidir ou convergir as mudanças das circunstâncias com as mudanças dos próprios atores é chamada de prática revolucionária por ser a prática da energia que gira em torno de si, por ser a prática do movimento curvilíneo, por ser a prática da curvatura do espaço que faz o campo unificado, quer dizer, uma dramaturgia do acaso. O socialismo não vem de fora nem o movimento de dentro é meramente sindicalista. O socialismo, a associação, a convergência, o campo unificado e também o sindicalismo são todos provenientes do desvio ou do movimento curvilíneo, em torno de si ou revolucionário de cada um dos atores. Mas, se daí resulta, ao acaso, uma dramaturgia determinista em classes, de modo que uma classe situada acima, como se fora um taco, determina de fora o movimento da classe situada abaixo, como se fora bola de bilhar, então, não é suficiente se situar acima, como se fora um taco contrário, para determinar de fora o movimento da classe situada abaixo, como se fora bola de bilhar, rumo ao socialismo; porque o principal não é o movimento vindo de fora como taco nem o movimento recebido de fora como bolha de bilhar, mas sim o movimento vindo de dentro como energia, singularidade abstrata, individualidade de cada um dos atores. Nem o determinismo vindo de fora nem o mecanicismo recebido de fora, mas diante do determinismo do vazio vindo de fora o acaso da energia do pleno vinda de dentro e a vitalidade da convergência ao acaso com os demais atores vinda de dentro desta energia do pleno.


Então, diante da sociedade de classes o socialismo se apresenta como uma sociedade sem classes que, ao acaso, surge como ideia de libertação na(s) classe(s) dominante(s) e como necessidade material de libertação na(s) classe(s) dominada(s), ou seja, não só surge nas classes antagônicas ao acaso, de modo que em cada uma delas efetiva uma declinação da classe existente, mas também se apresenta na classe dominante apenas como liberdade da ideia/energia/abstração da libertação e na classe dominada como necessidade da materialidade/massividade/concreção da libertação; noutras palavras, parece que surge como o movimento de declinação ou desvio na classe dominante e como o movimento resultante do desvio ou de repulsão na classe dominada, daí que uma simplificação estabeleça que a ideia do socialismo vem de fora, mas, com isso, também esqueça que a materialidade/materialização do socialismo vem de dentro do movimento da classe dominada, portanto, não faz muito sentido atribuir o predomínio à ideia do socialismo que surge na classe dominante até porque ele só se realiza efetivamente quando predomina a materialidade do socialismo que surge na classe dominada. Em todo caso, o partido do socialismo é composto duma linha oblíqua ou curva que converge ideia prática surgida na classe dominante com prática material surgida na classe dominada. É tal qual a declinação uma organização da composição transversal que converge e coincide o vertical com o horizontal.


O nome Convergência Socialista, adotado por uma corrente que veio a ser denominada posteriormente Partido Socialista Unificado, teria alguma relação com a concepção da dramaturgia do acaso?! Só posso dizer que ignoro ou que assumo minha ignorância total a respeito dessa corrente, do motivo pelo qual adotou o nome Convergência Socialista e, posteriormente, a denominação de PSTU.



O principal aqui é que na queda vertical em linha reta do ator o acaso faz surgir o desvio em linha curva e que os desvios em linhas curvas dos atores fazem surgir os encontros dos atores entre si na dramaturgia que tem por autor o acaso, quer dizer, o conjunto das relações (sociais) dos próprios atores entre si. A autoria do acaso só é possível quando cada ator é prática revolucionária e também quando é luta por estabelecer cada um como prática revolucionária, energia vital, própria, singularidade, individualidade. Daí que o ensinamento do Escobar seja o cerne do ensinamento autodidata, revolucionário.


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                                                                                                                                        27/09/2015

Não temos memória do nascimento, pelo menos, memória consciente, mas basta olharmos os diferentes filmes de nascimento de bebês para percebermos que eles choram e expressam emoções, basta vermos um bebê num carrinho, num colo para vermos que eles expressam curiosidade, olham para tudo e para todo lado, se movimentam e expressam aprovação por algo e desaprovação por outra coisa, quer dizer, expressam uma memória inconsciente, instintiva, expressam uma vontade inconsciente, desejante.


Toda a atividade sensorial dos bebês também é uma atividade expressiva por meio da qual a representação dos bebês vai se tornando memória consciente e refletida em nós, vontade consciente e desejada em nós.


A atividade sensorial expressiva da representação inconsciente dos bebês são a atividade sensorial impressiva da representação consciente dos bebês em nós do mesmo modo que a navegação de um usuário de computador vai ficando rastreável no histórico do computador. Nessa relação o bebê é atividade sensorial da representação inconsciente dos bebês e nós atividade sensorial da representação consciente dos bebês. Aqui se pode dizer que a consciência vem de fora, melhor, ela é uma representação do ser bebê inconsciente que vai se construindo no nosso ser consciente. Nosso ser consciente é uma espécie de arquivo da representação do bebê de modo que o advento da consciência do bebê equivale ao acesso do usuário do computador ao histórico, ao arquivo que rastreia as diferentes ações do usuário tal qual o bebê com o advento da sua consciência rastreia na consciência dos pais, familiares etc. a memória de suas diferentes representações.


E como ocorre o advento da consciência do bebê? Os pais ficam alegres e felizes quando relatam que seu bebê falou a primeira palavra. E aí está a ocorrência do advento da consciência do bebê. É a língua dos pais que é falada pelo bebê, então a consciência do bebê nasce com a adoção pelo bebê da sua representação que está consciente na consciência dos pais como representação, como linguagem duma língua humana. O bebê chega à consciência fazendo adoção e uso da língua dos pais. Se for mudo? Não emitirá o som da palavra que aprendeu com a audição. E se for mudo e surdo? Não emitirá a linguagem que aprendeu com a visão, o tato e o paladar. E se for mudo, surdo e cego? Dificilmente aprenderá alguma linguagem apenas com o tato e o paladar. E se for mudo, surdo, cego e sem o sentido do tato dificilmente encontrará um meio de aprender a linguagem com o paladar. E se for mudo, surdo, cego, insensível de tato e de paladar? Sem os sentidos, sem a atividade sensorial expressiva da representação inconsciente do bebê ainda é possível a existência duma representação inconsciente do bebê? Se for possível, então esta será a mais perfeita representação do vazio, do abstrato, do espaço vazio, do espaço abstrato, e, ao mesmo tempo, a mais específica representação do pensamento e, nesse sentido, do tempo abstrato, quer dizer, do surgimento de uma sensação abstrata da continuidade da abstrata ausência de sensação. O bebê está vivo, respirando, se alimentando etc. mas sem os sentidos, as sensações ou a sensoriedade das suas atividades vitais, de modo que estas atividades existem apenas como movimentos insensoriais do bebê, mas tais movimentos insensoriais se expandem ou desenvolvem o bebê para todos os lados, quer dizer, o fazem crescer, melhor, o fazem sentir o puxão (expansão, desenvolvimento, crescimento) dos movimentos insensoriais como movimento do tempo, como passagem do tempo, como sensação de pensar.


Voltemos aos bebês sensorialmente normais

sábado, 26 de setembro de 2015

Usuário/consumidor do tempo livre e trabalhador/consumido do tempo de trabalho




Quem se constitui na maioria para o sistema? O usuário ou consumidor. E quem se constitui na minoria para o sistema? O trabalhador ou produtor.


Um gigantesco sistema trabalhando de forma quase que inteiramente automática e sem usuário ou consumidor é uma existência improvável, posto que o sistema efetivamente existente só funciona com a pluralidade de acessos dos usuários. É a existência real desses usuários ou consumidores que sustenta a sua gigantesca produção quase que inteiramente automática.


O que é imprescindível na mercadoria? Que ela seja um valor de uso. Se ela não for usável, se ela não tiver uso, então ela não é uma mercadoria. Mas, uma vez que ela é útil, então ela pode ser relacionada com outras igualmente úteis, ela pode entrar em relação com as utilidades de outras mercadorias. No entanto, as utilidades de cada uma delas são qualidades inerentes a cada uma delas e que as diferenciam inteiramente umas das outras. Então, quando elas relacionam as utilidades entre elas só encontram diferenças e, mesmo assim, elas se trocam entre si em diferentes quantidades que se equivalem como se fossem idênticas nas proporções destas diferentes quantidades. Estas proporções idênticas destas diferentes quantidades são proporções idênticas duma mesma quantidade presente nestas diferentes quantidades de utilidades ou qualidades diferentes. E esta mesma quantidade comum é uma quantidade abstrata e sem nenhuma outra qualidade que não seja a própria quantidade igual ou duma mesma coisa. E esta mesma coisa comum e sem nenhuma outra qualidade presente nas proporções idênticas que tornam equivalentes as utilidades ou qualidades inteiramente diferentes é o fato de serem produtos do trabalho, quer dizer, é o trabalho abstrato presente em qualquer uma dessas utilidades.


Quando a produção é automatizada sua produção de valores de uso é automática e o trabalho abstrato presente nos seus valores de uso é cada vez menos um trabalho abstrato humano e cada vez mais um trabalho abstrato automatizado. No entanto, a maquinaria automatizada produz seus valores de uso para os usuários humanos e não para os usuários automáticos, então sua produção visa ser escoada pelos usuários humanos, visa ser realizada pelo uso dos usuários humanos, então, para se aperfeiçoar sua produção precisa estar conectada ao usuário humano ou precisa que o usuário humano se conecte à sua produção automatizada, quer dizer, precisa imprescindivelmente que o usuário humano permaneça sendo pura e simplesmente usuário humano para que a produção automatizada continue existindo e se aperfeiçoando para os usuários humanos.


A conexão com a produção automatizada do usuário humano não é a mesma que é feita com a produção automatizada pelo trabalhador humano. O vínculo do trabalhador humano com a produção automatizada é um vínculo com a própria produção, com o próprio processo de produção antes de chegar ao produto ou até chegar ao produto. O vínculo do usuário humano com a produção automatizada é um vínculo com o próprio produto, com o próprio processo de consumo depois de chegar ao produto ou até chegar a uma nova produção.


A produção automatizada não é mais medida pelo tempo de trabalho que é um tempo automático, mas a sua produção automática irá se entregar a uma produção maior ou menor de acordo com o tempo do usuário/consumidor, quer dizer, de acordo com o tempo livre de consumo ou de uso. Não consigo encontrar outra resposta nem outra relação para aquilo que é chamado de tempo livre e que é considerado como uma medida da produção automatizada e em oposição àquilo que é chamado de tempo de trabalho e que é considerado como uma medida da produção ainda não inteiramente automatizada.


O tempo de trabalho humano é a medida da produção industrial ainda não inteiramente automatizada. Mas da produção industrial inteiramente automatizada a medida da sua produção é o tempo livre humano, quer dizer, é o tempo de uso ou de consumo humano do produto automatizado. Ora, agora a relação se torna outra porque a maquinaria automatizada produz e mede sua produção a partir da conexão/uso/consumo que o humano faz de sua maquinaria automatizada, ou seja, o seu trabalho ou produção depende do tempo de livre consumo/uso/conexão que o humano faz dela. Mais do que isso quanto mais o tempo livre do humano for um tempo livre de uso humano, quer dizer, quanto mais o próprio humano fizer uso do seu tempo livre como tempo livre, portanto, quanto mais afirmar e desenvolver sua liberdade, sua imaginação, então mais a maquinaria automatizada estará desenvolvendo sua produção para atender e satisfazer o tempo livre do usuário humano.


Antes a produção era medida pelo tempo de trabalho, pelo gasto de ser ou de energia humana de trabalho; agora a produção é medida pelo tempo livre, pelo gasto de pensar ou de energia humana livre.


A questão da passagem do reino da necessidade e do tempo de trabalho para o reino da liberdade e do tempo livre está hoje mais presente do que nunca esteve tão presente antes. Se não há trabalho porque não há mais o tempo de trabalho na produção industrial, então é preciso que quem caiu no tempo livre da produção industrial automatizada tenha a dignidade do tempo livre que mede esta produção, ou seja, precisa receber ou ser pago pelo seu tempo livre que mede/mensura a produção da maquinaria automatizada. E como se faz essa medição? Através da sua condição de usuário/consumidor.



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Usuário é o mesmo que consumidor?




O usuário de drogas é um consumidor. E o usuário de computador, da internet, de celular, enfim, do sistema automatizado é o quê?

Não sei qual é a diferença entre trabalhador e usuário. Sei que existe. Alguém aí sabe?




A atividade substituta do trabalho parece ser a cultura, mas o trabalho é cultura e no seu desenvolvimento ele é cultura científica, erudita que se armazena no autômato e o faz funcionar ou faz funcionar a produção automatizada. Então, a cultura que substitui o trabalho é uma atividade artística, autodidata que se manifesta no usuário e o desenvolve ou se torna a medida da produção automatizada.


O conhecimento, a ciência ou a erudição podem ser interessantes para a cultura do trabalho, mas para a cultura do usuário da atualidade o mais interessante é a sabedoria, a arte ou o autodidatismo. Uso da força humana de trabalho e uso da força humana de uso/usuário.


Força humana de trabalho do trabalhador e força humana de uso do usuário. Qual a diferença entre trabalhador e usuário?

Qual a atividade substituta do trabalho?!




Tempo de trabalho versus tempo livre. Produção medida pelo tempo de trabalho versus produção medida pelo tempo livre. Tudo indica que estamos diante da produção resultante e medida pela atividade humana do puro e simples dever da necessidade ou atividade de trabalho de passagem para a produção resultante e medida pela atividade humana do puro e simples prazer da liberdade ou atividade cultural.


Segundo a antropologia cultural, são aquelas formações sociais ditas "primitivas" que são regidas pela cultura. Segundo Tocqueville, os índios norte-americanos são, surpreendentemente, portadores de valores muito parecidos com os dos aristocratas europeus, logo, antes de Nietzsche, já existiu quem fizesse uma leitura dos valores morais a partir da natureza cultural (ou da cultural natural). O que é mais importante destacar? A semelhança entre os valores dos índios com os dos aristocratas europeus ou as formações sociais das ditas "comunidades primitivas" serem regidas e/ou medidas pela cultura ou tempo livre?!


A prevalência da Nietzsche no pensamento atual é devida à prevalência dos ditos valores morais aristocráticos ou devida à prevalência da cultura na formação dos ditos valores morais?!


Conseguiremos elevar a potência de Marx e de Nietzsche se optarmos por desenvolver que é a prevalência da cultura na formação dos valores que explica a recorrência ao pensamento de Nietzsche na atualidade. Porque? Porque a relação dos primitivos é com o excesso ou abundância natural e a relação dos complexos é com o excesso ou abundância da produção automatizada, ou seja, o tempo livre ou a cultura social dos primitivos é uma atividade humana desenvolvida naturalmente, enquanto que o tempo livre ou a cultura social dos complexos é uma atividade humana desenvolvida artificialmente ou por meio do uso da produção automatizada, quer dizer, por meio duma natureza artificial reproduzida pelas máquinas humanas.


Inversamente, rebaixaremos a potência de Marx e de Nietzsche se optarmos por desenvolver que é a prevalência dos valores morais aristocráticos que explica a recorrência ao pensamento de Nietzsche na atualidade. Porque? Porque aí o excesso ou abundância natural dos primitivos se confunde com uma classe superior determinada pela natureza como portadora dos valores morais aristocráticos e, por usa vez, o excesso ou abundância artificial dos complexos se confunde com uma classe superior determinada pela ciência como portadora dos valores morais aristocráticos. A potência de Marx fica rebaixada porque é sempre a diferença de classe que se afirma, seja naturalmente, seja cientificamente. A potência de Nietzsche fica rebaixada porque num caso a diferença é devida ao instinto e no outro é devida à inteligência, ou seja, ora prepondera uma classe trágica e autenticamente aristocrática, ora prepondera uma classe farsante e falsamente aristocrática.


No entanto, é o instinto quem tem vez numa sociedade complexa medida pelo tempo livre porque a cultura, desenvolvida pelo excesso ou abundância artificial devida à inteligência, mesmo que seja muito doméstica ou domesticada, não é uma cultura da inteligência e sim uma cultura do prazer da liberdade ou do tempo livre, logo, uma cultura do desejo e/ou do instinto. Aliás, provavelmente é mais uma cultura do desejo do que do instinto por não se relacionar com a abundância natural e sim com uma abundância humana (já que toda a abundância artificial outra coisa não é senão abundância humana). Mesmo assim, existe aí quem prefira a promoção de guerras e, portanto, do entendimento da cultura como sendo resultante do instinto e não do desejo. Promoção do terror fundamentalista versus promoção das relações homoafetivas. Instinto versus desejo. Matar versus amar.


O principal, no entanto, é saber qual a atividade que vai ocupar o espaço vago deixado pelo trabalho, ou seja, a partir de qual atividade se passará a medir a produção? Esta atividade substituta do trabalho, que podemos chamar por enquanto de atividade substituta, será aquela por meio da qual os humanos medirão a produção e também a dignidade afirmada por quem a pratica e desenvolve. Ora, a dignidade afirmada e desenvolvida pelo trabalho é medida pelo tempo de trabalho, enquanto que a dignidade afirmada e desenvolvida por esta atividade substituta é medida pelo tempo livre. Então, o nome desta atividade substituta é liberdade?! Talvez seja, mas o importante é chegarmos a uma concepção ou participarmos do nascimento desta atividade com todas as características substitutas à altura da atividade de trabalho ou, mais precisamente, é chegarmos de forma clara e irrefutável à atividade substituta do trabalho que se mostra de forma clara e inequívoca como medida da produção automatizada. Melhor, se trata de chegarmos àquela atividade substituta do trabalho, cuja medida da produção, aparece como tempo livre. Ora, mas o que é a liberdade? O que é a atividade livre? Está posta em oposição ao trabalho, logo, pode ser considerada como sendo cultura, atividade de cultura?


No autômato ou automático está presente toda a cultura erudita que foi desenvolvida até agora, mas no  acesso ao autômato ou ao automático está presente toda a cultura autodidata que vai sendo desenvolvida por seu usuário a partir do seu uso. O autômato ou automático, quer dizer, a produção erudita é acessada pelo usuário autodidata, quer dizer, pelo tempo livre que desenvolve novos usos ou associações para a produção erudita, a qual, assim desenvolve sua produção erudita de forma autodidata, melhor, graças à cultura autodidata ou ao tempo livre autodidata de uso do tempo de trabalho erudito.


Se essa atividade substituta do trabalho ou da cultura erudita por sua capacidade de desenvolver a produção de liberdade ou de cultura autodidata merecer ser desenvolvida então ela precisará consumir a produção em troca de seu desenvolvimento. E a questão é saber se isso se dá através dum salário, duma renda universal ou de alguma outra forma, quer dizer, o problema é saber sob que forma se dá a satisfação das necessidades da atividade cultural autodidata?



quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Ser e/ou não ser?!




Não sei o que Michel Onfray cobra de Kant e de outros pensadores que acusa de não fazerem aquilo que dizem, por exemplo, Michel Foucault não teria praticado o "Cuidado de Si" que propõe e, nesse caso, acho até que ele só propôs o "Cuidado de Si" depois de ter cometido o "Descuidado de Si" contraindo a Aids. Como disse, eu não sei as acusações específicas feitas por Onfray aos diferentes pensadores, mas esse tipo de acusação me lembra a crítica de Marx aos jovens hegelianos que acusavam Hegel de acomodação e, por aí, de agir de má fé. A primeira parte da crítica de Marx é lembrar aos jovens hegelianos que foram eles que se tornaram discípulos de Hegel, que foram eles que se tornaram hegelianos e lembrar a eles que quando adotaram o hegelianismo o fizeram cheios de entusiasmo e sem nenhum espírito crítico, quer dizer, agiram de forma cômoda, logo, seus primeiros passos como discípulos hegelianos foram passos da/na prática da acomodação. A segunda parte da crítica de Marx aos jovens hegelianos é lembrar que os discípulos ou membros de um sistema de pensamento não tratam o seu mestre pensador com desconfiança, não desconfiam da consciência de si de seu mestre pensador, logo, não consideram que o mestre pensador age de má fé, mas, ao contrário, confiam plenamente na consciência do seu mestre pensador e na sua boa fé, de modo que confiam quando o próprio mestre diz que se acomodou aqui ou ali, nisso ou naquilo; e é aí que, como discípulos, precisam vir em auxílio do mestre pensador, porque vindo em auxílio dele estão vindo em auxílio deles próprios que são discípulos do mestre; e como podem ajudar o mestre ou o sistema hegeliano que adotaram? Confiando na consciência do mestre e na capacidade dos discípulos de conhecer profundamente a consciência do mestre, ou seja, os discípulos só poderão ajudar o mestre (e a si mesmos) desenvolvendo um conhecimento da consciência de si íntima e essencial do mestre de modo a poder entender a razão de o mestre ter deixado de fora do seu sistema ou ter deixado como consciência externa e inessencial esta ou aquela acomodação; noutras palavras, os discípulos ao trazerem à tona a consciência íntima e essencial do mestre ao mesmo tempo trarão à tona a insuficiência ou o desenvolvimento insuficiente do princípio do qual o mestre parte e, desse modo, poderão se dedicar ao desenvolvimento suficiente ou da suficiência/sustentabilidade do princípio do qual partiram.


É evidente que Marx percebeu na atividade sensivelmente humana, na prática o desenvolvimento suficiente do trabalho que considera como sendo o princípio do qual parte o seu mestre Hegel. É evidente que Marx percebeu que o trabalho como princípio de que parte Hegel não foi desenvolvido suficientemente, melhor, que seu lado ativo foi desenvolvido apenas de forma abstrata e insensível; noutras palavras, Hegel adota o ponto de vista do mestre do trabalho que possui todas as qualificações do trabalho, todas as capacitações do trabalho, incluindo todos os meios e materiais de trabalho, já Marx adota o ponto de vista do aprendiz do trabalho que possui apenas a qualificação íntima e essencial do trabalho que é a energia humana, a prática.


Este trabalho também é aquilo que está presente no uso público da razão de Kant, também é por meio dele que se visa a saída da menoridade ou a entrada na maioridade.


O sistema hegeliano se propõe efetivar o saber absoluto do espírito absoluto construindo sua obra absoluta através da apropriação de toda a energia humana possível pelo próprio sistema do saber absoluto do espírito absoluto, ou seja, é o conhecimento absoluto que torna efetivo o sistema hegeliano. Ora, é precisamente isso que ocorre com a automação completa da produção. E, no entanto, para existir e se justificar o sistema automatizado precisa de acessos de energias humanas que escoem a sua produção e permitam que o sistema automatizado continue produzindo para as energias humanas sua produção.


Até recentemente a energia humana tinha trabalho e acessava a produção participando de sua produção, mas atualmente em alguns lugares a automatização é completa e não existe mais emprego da energia humana na produção, ainda que exista acesso à cultura automatizada proporcionada pelo sistema automatizado e, aliás, é através dela e desses acessos das energias humanas que a produção automatizada faz alterações na produção que atendam às necessidades inovadas das energias humanas.


A grande questão atual é saber se essas energias humanas por seus simples acessos à cultura automatizada devem receber salários de acordo com eles (os acessos) ou a produção automatizada deve estabelecer uma renda universal para todos independente de ter ou não acesso à cultura automatizada. A grande questão é saber se as energias humanas atuais são capazes de sair da menoridade e de entrar na maioridade, então nem mesmo receber salário ou receber renda universal pode diferenciar a condição das energias humanas atuais: São capazes ou não são capazes de entrar na maioridade?!



segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A difícil relação com o cordão umbilical do capital ou do capital com o cordão umbilical?!




Em todos estes textos o assunto a respeito da morte e da vida é o mesmo. O morto e o vivo são o mesmo. Quando parece que se define o morto e, por oposição, parece que se define o vivo não é difícil verificar que a definição usada para um é a mesma que é usada para outro, logo, a definição mais precisa a que parece se ter chegado é à de vida mortal, já que esta é tanto viva quanto é morta.


Senhor e escravo, mestre e discípulo, maioridade e menoridade são todos partes, participantes e/ou partidos de um mesmo assunto ou problema que é o da tutela exercida por quem tem poder (senhor), tem conhecimento (mestre), tem responsabilidade (maior) sobre quem não tem poder (escravo), não tem conhecimento (discípulo), não tem responsabilidade (menor). Se pode ver variações e até progressões e, mesmo, alguma inversão nesses pares, por exemplo, o menor tem direitos e não é um escravo, mas também não é um discípulo, quer dizer, sua aquisição de responsabilidade não é feita exclusivamente pelo aprendizado duma disciplina como no caso de um discípulo de um mestre (seja de uma escola filosófica, seja de uma corporação de ofício), mas sim pelo seu desenvolvimento da capacidade de responder por si mesmo, de responder por seus atos, obras e pensamentos, ou seja, é a capacidade de fazer uso de sua própria razão, como muito bem o disse Kant e explicitou que era especialmente a capacidade de fazer uso público da razão. Os menores são irresponsáveis e sua menoridade lhes garante o direito à sua irresponsabilidade e as exceções são aqueles que conseguem a emancipação da menoridade (aos 12, 13, 14, 15, 16, 17 anos) antes de chegar às idades estabelecidas para a maioridade (18 e 21 anos), já as outras exceções são aqueles que não conseguem sair da irresponsabilidade e são os interditos, mas existe ainda o caso daqueles que só respondem a sua maioridade como criminosos, desonestos, portadores de má fé enquanto outros respondem a sua maioridade como dignos, honestos, portadores de boa fé e isso significa que usufruir da maioridade é usufruir duma arte de representar, quer dizer, é fazer e responder por uma representação de si mesmo falsa ou verdadeira.


Em todas esta três relações genéricas de poder (senhor e escravo), de conhecimento (mestre e discípulo) e de responsabilidade (maior e menor) o trabalho está presente. Na primeira, a relação de poder entre o senhor e o escravo, o trabalho é considerado como a atividade própria e específica do escravo visando satisfazer a atividade própria e específica de poder do senhor. Na segunda, a relação de conhecimento entre o mestre e o discípulo, o trabalho é considerado como disciplina à qual se submete o discípulo para desenvolver o conhecimento que o faça capaz de uma obra tão qualificada ou de um trabalho tão qualificado e perfeito quanto o do mestre. Na terceira, a relação de responsabilidade do maior e de irresponsabilidade do menor, o trabalho é considerado como a assunção pelo maior da autoria ou do uso sistemático da própria capacidade, enquanto que o menor faz um uso assistemático da própria capacidade e não assume a autoria de seus atos; noutras palavras, o trabalho é o uso da razão no maior e a diversão é o uso da desmedida/da desrazão no menor.


Na relação de poder, o trabalho fica inteiramente com o escravo. Na relação de conhecimento, o trabalho é a disciplina que o discípulo apreende do mestre do trabalho, logo o trabalho atravessa de um lado ao outro da relação de conhecimento ou impera em ambos os lados da relação de conhecimento. Na relação de responsabilidade e irresponsabilidade, o trabalho é o uso sistemático de uma capacidade própria, autoral, racional e a diversão é o uso aleatório da própria capacidade, sem medição de autoria, de forma desmedida, irracional.


Esta última relação, a de responsabilidade/irresponsabilidade, evidentemente é aquela que caracteriza uma sociedade voltada para a produção do valor ou na qual o trabalho é livre, melhor, é atividade desenvolvida sob responsabilidade estrita do indivíduo, ou seja, o indivíduo é considerado dono de sua atividade de trabalho e pode vender sua atividade de trabalho. Os conceitos mais explícitos e claros são o de venda da força humana de trabalho para ser empregada na produção capitalista de valor. Mas, se é esta a relação originária e principal dessa sociedade produtora de valor, também é verdade que o desenvolvimento da própria produção do valor vai tornando o trabalho cada vez mais escasso na medida em que a automação vai suprimindo de forma crescente a necessidade de recorrer a forças humanas de trabalho. O  que vem sendo chamado na atualidade de desemprego estrutural, mas o importante é o fenômeno tal qual ele se desenvolve na atualidade e não o nome ou como ele é chamado. Não são apenas os empregos que desapareceram e sim, com eles, as condições pelas quais se alcançava a maioridade digna, honesta, de boa fé e também aumentaram as condições nas quais se alcança a maioridade criminosa, desonesta, de má fé. Aumentaram muito os meios de entretenimento, de diversão, de cultura de massas (rádio, cinema, telefone, televisão, internet, celular etc.), de modo que esta produção cultural de massas (a explosão atual é da internet via computadores e celulares) é a produção que mais cresce e também aquela que a cada dia traz à tona a revelação do maior grau de controle exercido pelos sistemas automáticos sobre esses meios automáticos, ou seja, o quanto as máquinas automáticas na atualidade exercem o controle não mais meramente sobre as atividade de trabalho e sim sobre as atividades de diversão, logo, exercem o controle sobre aquelas atividades consideradas como próprias dos menores.


Atualmente a maioridade alcançada pelo trabalho está se tornando escassa e são as máquinas automatizadas que estão, cada vez mais, concentrando em si mesmas o trabalho, ou seja, são elas também que, cada vez mais, estão concentrando em si mesmas a maioridade. Certamente que todos aqueles que trabalham com as centrais de controle automático dessas máquinas automatizadas se consideram maiores que os demais por elas controlados, mas também não deixam de sentir menores do que elas e passíveis de controle por elas, de modo que o maior é o sistema, o qual, no caso, encarna perfeitamente o espírito absoluto da filosofia de Hegel.


Atualmente a menoridade expandida pela diversão dos meios culturais de massa está se tornando tão abundante que vai ser preciso admitir novas formas de obter a maioridade ou renda própria sem ser pelo trabalho porque a menoridade culturalmente desenvolvida em massa já reclama por maioridade nesses movimentos (zapatistas, revoluções coloridas, primaveras, indignados/Podemos, Syriza, jornadas de junho no Brasil, oposição venezuelana etc.) que vemos por todo lado (Américas, Europa, Eurásia, Ásia, África, Oriente Médio etc.) dizer que usam as redes sociais da internet (Twitter, Facebook etc.).


É verdade que o sistema, o mestre ou o espírito absoluto foi desenvolvido e ainda é desenvolvido pela relação de conhecimento que coloca o trabalho tanto no início do aprendizado quanto no final, mas como o sistema, o mestre ou o espírito absoluto está interessado em conhecer a intimidade do ser humano, quer dizer, a sua natureza íntima livre e sem trabalho ou artifício, então o sistema, o mestre ou o espírito absoluto está voltado para o desenvolvimento de formas de acesso amigáveis, divertidas através das quais o acesso seja geral e em especial dos menores, porque é através deles ou é através da menoridade que o sistema, o mestre ou o espírito absoluto pode desenvolver ainda mais perfeitamente sua obra; noutras palavras, é através da menoridade que o sistema, o mestre ou o espírito absoluto pode afirmar ainda mais perfeitamente a sua maioridade.


A menoridade atual que recorre ao que vem sendo chamado de meios da sociedade da informação não parece ser uma menoridade que visa a maioridade do conhecimento como é o caso do sistema, do mestre ou do espírito absoluto que ela usa, mas sim uma menoridade que busca ainda a maioridade da responsabilidade como vinha buscando aquela do tempo que o trabalho era um sistema de emprego estrutural.


Querer a maioridade ou uma renda própria, mesmo na ausência de emprego estrutural para obtê-la/fornecê-la, é perceber que a produção atual já não aumenta mais nem se desenvolve mais medida pelo tempo de trabalho ou pelo emprego estrutural e sim aumenta e se desenvolve mais medida pelo tempo livre ou pela cultura de massas da menoridade. Ora, querer a maioridade ou uma renda própria por participar do desenvolvimento da cultura de massas da menoridade é o primeiro passo na assunção da responsabilidade pelo desenvolvimento dessa cultura de massas, logo, na assunção da autoria dessa cultura de massas, portanto, é o primeiro passo numa disputa com o sistema, o mestre ou o espírito absoluto pela maioridade.


No entanto, como a maioridade do sistema, do mestre ou do espírito absoluto é o conhecimento e a maioridade de quem quer renda própria, autonomia ou liberdade é a responsabilidade, então, não existe verdadeiramente uma disputa do mesmo objeto, porque o espírito absoluto quer o conhecimento e a menoridade atual que quer maioridade, quer responsabilidade, de modo que um acordo pode ser feito entre quem quer a ciência, a técnica e a teoria e quem quer a responsabilidade, a autoria e a prática, entre quem quer o conhecimento e quem quer a sabedoria, ente quem quer o saber fazer e quem quer o saber viver.







quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Vida é...?!




Tanta coisa confundida com vida e que faz parte do morto. Começando pela memória, história, consciência ou tempo de trabalho. E o sistema do tempo de trabalho, o sistema capitalista só acumula trabalho morto. Mais do que isso tende a sistematicamente reduzir o tempo de trabalho por meio da acumulação do trabalho morto num sistema automatizado de trabalho, tende a querer dar autonomia ao trabalho morto de modo que apenas ele trabalhe como uma criatura independente tal qual o sonho de um Prometeu que teria criado o ser humano ou de um Frankenstein que teria criado uma criatura a partir do morto, mas, mais claramente, como um robot (palavra de origem russa que significa trabalho), quer dizer, um autômato tal qual havia pensado Aristóteles como meio de acabar com a escravidão, melhor, com o trabalho, com o morto.


Vida, desde Aristóteles, é tempo livre, ou seja, o tempo de trabalho é a vida escravizada pelo morto, pela mortificação. A vida liberada pelo morto, pela mortificação, pelo escravo, pelo trabalho, quer dizer, o tempo liberado do trabalho é o tempo livre e, por isso mesmo, o tempo vivo. Vida então é ser livre da necessidade, porque é a necessidade que impõe a sua satisfação como uma escravidão, como um dever, como um trabalho, como um tempo morto. O sistema do tempo morto ganha autonomia e funciona automaticamente de modo que a necessidade é suprimida por esse sistema do tempo morto e começa a ter vez o tempo livre da necessidade, do tempo morto, do trabalho. Ora, esse tempo livre e vivo é atendido na sua liberdade pelo robô, pela necessidade que se tornou automática, pela natureza morta que satisfaz o tempo livre e vivo, ou seja, o tempo livre e vivo é tempo liberto do risco de morte e de insatisfação que pode ser proporcionado pela natureza viva e livre. Vida, ociosidade, tempo livre, liberdade é fazer o quê? É o contrário de fazer, é não fazer, é ociosidade ou mero consumo do morto sem se mortificar, sem trabalhar para consumir o morto, quer dizer, em lugar de atividade e/ou trabalho aparece a inatividade e/ou ociosidade, em lugar do ato aparece a potência, em lugar da necessidade, da falta e da luta aparece a liberdade, o excesso e o poder.


Vida é esse excesso de energia de quem não precisa trabalhar nem se desgastar para satisfazer qualquer necessidade?! É esse excesso de tempo livre da necessidade, de tempo livre da natureza, de tempo livre da objetividade, quer dizer, é esse excesso de si mesmo, esse excesso de natureza humana livre da objetividade, ou seja, é esse excesso super-humano de energia?!














terça-feira, 15 de setembro de 2015

Vida?! Onde?!




Mortos por todo lado. As eleições no segundo turno de 2014 para mim foram um tiro na cabeça. Eu estou morto, mas os candidatos também estavam e estão mortos. A vida está fora do alcance dos adversários em luta e eles não a tem por alvo. Eles só se ocupam com o morto, com o sistema dos mortos, com o capital e ponto final. Mais nada. Cada um deles se apresenta como quem sabe dar melhor continuidade do que o outro ao sistema dos mortos, ao sistema do capital.


Nenhum deles possui qualquer perspectiva própria de uma vida independente e além do sistema dos mortos, nenhum deles aposta na mais mínima possibilidade de libertação do sistema dos mortos, na mais mínima esperança de supressão do capital. Pelo contrário, é na condição de suprimidos, de mortos, de inteiramente dependentes do sistema do capital que eles se apresentam como capazes de desenvolver essa condição de suprimidos de maneira brilhante para a continuidade do sistema dos mortos, portanto, aquilo que disputam é a capacidade niilista de cada um, quer dizer, qual é mais capaz do que o outro de promover o auto-sacrifício, o suicídio, melhor, a perenidade da mortificação, a eternização do capital?! Qual?!


E ainda nos perguntamos qual porque ainda nos perguntamos qual morto é mais representativo do sistema dos mortos entre os mortos com os quais nos deparamos. Além disso, nos fazemos tais perguntas porque nos colocamos como participantes do eleitorado dos mortos, ou seja, nos assumimos como mortos também. É todo esse conjunto sistêmico dos mortos que está comprometido com a continuidade de sua mortificação. Porém, é preciso que se tenha claro nesse sistema dos mortos que os vivos não participam dele e que um sistema dos vivos nenhuma relação pode ter com este sistema dos suprimidos, dos mortos. Mais ainda: que o sistema dos mortos pura e simplesmente ignora o que seja um sistema dos vivos, dos afirmativos.


Todas as saídas são dos mortos porque eles são os que já saíram, os vencedores que sustentam o sistema. Os vivos não possuem nem mesmo uma mínima entrada e nunca entraram porque são os perdedores sem qualquer relação com o sistema, até porque nem mesmo se sabe onde possam estar os vivos. Afinal, eles existem?! Os experimentos filosóficos desde o mais sistemático que foi a "Fenomenologia do Espírito" nos mostram que os vivos não existem e que existem sim os mortos, os espíritos ou o espírito e, em especial, o espírito absoluto.

























segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Interpretação x Transformação, Escolástica x Trabalho, Necessidade x Liberdade




Sair do mundo das sombras do Amênti, sair do mundo dos mortos ou sair do mundo da morte da filosofia para entrar na prática da vida da sabedoria. Da teoria para a prática, da morte para a vida e da filosofia para a sabedoria.


O amor ao saber que define a filosofia não é suficiente porque é teoria e o que interessa não é a teoria do amor ao saber e sim a própria prática de viver o saber. O que importa não é teorizar e ser filósofo e sim praticar e ser sábio. Não é interpretar o mundo como resultante da subjetividade atomista o que importa e sim viver a transformação do mundo pela própria subjetividade humana.


No mundo resultante da subjetividade atomista vivemos na condição de criaturas ou de menores, mas num mundo resultante da transformação por nossa própria subjetividade humana vivemos na condição de criadores ou de maiores. No primeiro mundo desenvolvemos o amor ao saber dos intérpretes teóricos e no segundo mundo desenvolvemos o viver o saber dos trabalhadores práticos.


Sair da filosofia para a sabedoria, da morte para a vida, da teoria para a prática, da interpretação para a transformação, da escolástica para o trabalho, do aprendizado para a maestria, da formação para a obra, da menoridade para a maioridade, da necessidade para a liberdade, enfim, significa sair das sombras do mundo natural das criaturas para as luzes do mundo humano dos criadores.


Ser um produto das circunstâncias e da educação, ser uma criatura do destino ou ser uma criatura do meio ambiente mundano e ser um criador do mundo por seus próprios meios, ser um criador de liberdade, ser um produtor de circunstâncias e de educação.


















Se..., então...



Se o grito de Independência Humana é o grito de Morte do Atomismo e se o grito de Morte do Humano é o grito de Independência do Atomismo, então, o Anti-humanismo e o Estruturalismo estão comprometidos com a Independência do Atomismo, já a superação e supressão do Anti-humanismo e do Estruturalismo estão comprometidas com a Independência Humana.























Sete de setembro: Grito de Independência ou Morte do Brasil e de Epicuro ou Demócrito da Tese de Marx.




O atomista Epicuro gritou Independência enquanto ainda ouvia ecoar Morte no grito do atomista Demócrito.


Dissolução do atomismo ou ciência natural da consciência humana de si é Independência. Continuidade do atomismo ou ciência natural da consciência superior fora de si é Morte.


Mas o grito de Independência Humana é também o grito de Morte do Atomismo, enquanto que o grito de Morte do Humano é também o grito de Independência do Atomismo.


Epicuro ensinou a Marx que é preciso dissolver a doutrina e o sistema filosóficos e realizar a sabedoria e a vida práticas. Ou seja, em lugar de se ater a princípios e doutrinas de reformadores críticos-utópicos é preciso se ater ao movimento real e socialmente visível da crítica-prática, logo, em lugar de ser um crítico-utópico é preciso ser um crítico-prático, em lugar de doutrinas e sistemas de reformadores sociais é preciso o movimento real visível a olho nu de transformação social, em lugar do marxismo é preciso sua dissolução pelo movimento real e socialmente visível dos trabalhadores críticos-práticos.

















Continuidade ou dissolução do atomismo: grande solidão super-humana ou grande socialização humana?!




A abordagem atomista de Epicuro não difere muito da de Demócrito. Ambos recorrem à morte imortal para conceber os átomos e o vazio. A morte imortal vai decompondo tudo até aos seus elementos mais simples, os quais são supostos de serem invisíveis porque primeiro a morte parece não ter fim, parece ser imortal, então, a decomposição parece continuar rumo ao sem fim, ao infinito; e, segundo, porque certas partes dos compostos no processo de decomposição parecem desaparecer por completo e não deixar outro rastro senão o da passagem dessas partes da condição de visíveis para a condição de invisíveis e esta suposição confirma que a decomposição ruma para o infinito, quer dizer, para a morte imortal. E é aí no interior dessa morte imortal que deve residir essa essência imortal da morte, quer dizer, algo que parece não parar de se decompor ou de sofrer a morte porque esta morte não morre e prossegue sem fim, infinitamente, imortal; então, no mundo invisível, quer dizer, do que parece plenamente vazio existe uma essência imortal da morte, algo que é infinitamente pequeno e que perdura infinitamente tal qual a morte imortal e é este algo que, tal qual a morte imortal, é considerado infinito, indecomponível, indivisível ou átomo (á=não; tomo=parte). Mas, não se pode esquecer que o vazio também é algo sem parte, ainda que ele seja considerado uma enormidade sem fim e não uma pequenez infinita.


Uma pequena diferença entre Epicuro e Demócrito é que irá resultar numa grande diferença entre eles. Ambos conceberam os átomos e o vazio a partir da morte imortal, mas a vida mortal foi concebida por um como realidade objetiva e por outro como aparência subjetiva.


Demócrito, que foi o primeiro deles a conceber os átomos e o vazio a partir da morte imortal, concluiu que a vida mortal é mera aparência subjetiva e que a realidade objetiva são os átomos e o vazio da morte imortal. Já Epicuro, o segundo deles a conceber os átomos e o vazio a partir da morte imortal, concluiu que a vida mortal é realidade objetiva do sujeito real humano ou da consciência de si humana e que a morte imortal tudo dissolve inclusive os átomos que não passam de aparência subjetiva e, desse modo, nada existe de imortal, exceto, talvez, o próprio nada ou o vazio, quer dizer, o inteiramente sem parte e indivisível.


Kant falava de antinomia. Dizia que ou se concebe que a divisão do composto é infinita ou que ela chega ao indivisível. Demócrito manteria a antinomia de que fala Kant por ter átomos ou indivisíveis e vazio ou divisíveis ao infinito, enquanto Epicuro suprimiria a antinomia dissolvendo os átomos no vazio ou dividindo os indivisíveis no divisível ao infinito, quer dizer, no nada. O atomismo de Demócrito é tanto a antinomia quanto a coisa em si incognoscível de Kant. A dissolução do atomismo de Epicuro é tanto a dissolução da antinomia atomista quanto da coisa em si incognoscível e que só deixa de pé a ataraxia do sujeito humano e/ou o conhecimento humano de si, ou seja, só resta como realidade objetiva a vida mortal do sujeito humano ou a vida mortal da consciência humana de si.


Deus está morto no atomismo destruído e só resta a grande solidão da vida mortal humana, melhor, resta a realidade objetiva da vida mortal da comunidade dos sujeitos humanos ou a realidade objetiva da vida mortal das consciências humanas de si. Mesmo assim, outra antinomia?! Egoísmo e grande solidão do super-homem ou altruísmo e grande socialização do sujeito humano?! O egoísmo e grande solidão do super-homem não é considerar ou reduzir a humanidade à aparência subjetiva?! E o altruísmo e grande socialização do sujeito humano não é considerar ou elevar a humanidade à realidade objetiva?!









domingo, 6 de setembro de 2015

Ética de Epicuro e de Kant




A ausência de dor é a ataraxia para Epicuro. E não é a presença do prazer porque sua consequência pode ser a dor e sim a ausência de dor que é o supremo prazer, melhor, que é a ataraxia. A sensibilidade é sensibilidade de prazer e de dor, mas a sensibilidade ataráxica é a não sensibilidade de dor nem de prazer, por isso, é comparada à ausência de sensibilidade e, até mesmo, à morte. Então, na ética de Epicuro existe algo similar à ética de Kant, quer dizer, Epicuro guia sua ética pela prática da ataraxia e Kant guia sua ética pela prática do que é suposto como sendo a coisa em si. A prática da ataraxia ou do supremo prazer/da suprema liberdade de Epicuro é similar à morte insensível e a prática do que é suposto como a coisa em si ou do supremo dever/da suprema liberdade de Kant é similar à coisa em si insensível.


A ataraxia como ausência de dor, de prazer, de sensibilidade, como morte é a prática epicurista da ética, mas não é a prática da divindade nem da alma imortal ainda que a ética epicurista admita que é a prática da liberdade. Já Kant faz da prática do dever, insensível tanto ao sofrimento quanto ao prazer, não só a prática do que é admitido como prática da liberdade mas também como prática da alma imortal e como prática da própria divindade, porque a coisa em si insensível não é suposta, como em Epicuro, exclusivamente como morte imortal e sim como ser imortal ou divino, como alma imortal e como essência da insensível liberdade.


A diferença de Epicuro em relação à morte imortal está em não atribuir a esta um ser divino nem uma alma imortal e se limitar a atribuir à morte imortal da sensibilidade uma liberdade em relação à dor e ao prazer, então, a ausência ou abstração da sensibilidade é a prática suprema da ética epicurista da liberdade e do prazer. E é aí nesse ponto que ela se assemelha à prática suprema da ética kantiana da liberdade e do bem que é a insensibilidade à dor e ao prazer ou a indiferença ao sofrimento e ao mal desde que se realize efetivamente o desenvolvimento do cumprimento do dever.


A ausência ou abstração da sensibilidade da morte imortal, até onde se sabe, é algo real, mas, quando ela se torna um princípio da prática da ética epicurista, ela é algo fictício, já que a dor e a sensibilidade poderão estar sendo negadas do mesmo modo pelo qual a vida é negada, ou seja, pela simples mortalidade, melhor, mortificação, sacrifício e não pela simples imortalidade, melhor, insensibilidade e indiferença reais da morte. Então, um epicurista, ainda que esteja urrando de dor e se mortificando, poderá considerar que está praticando a ausência ou abstração da sensibilidade equivalente à da morte imortal, quer dizer, poderá considerar que está praticando a ataraxia ao não deixar que a dor e a sensibilidade o reduzam a um simples prisioneiro do real. A liberdade está inteira no escapar à sensibilidade do real, seja por conseguir não ser atingido pela sensibilidade do real ao transformá-la em real insensibilidade, seja ao transformá-la em fictícia insensibilidade. Ora, o mesmo se pode observar na prática do dever da ética de Kant, ela tanto pode usufruir da sorte e do prazer duma insensibilidade do real, quanto sofrer com o azar e a dor duma insensibilidade fictícia.


A grande diferença aparente entre a ética de Epicuro e a ética de Kant se encontra precisamente na diferença entre a ataraxia que termina negando até mesmo uma essência insensível da liberdade, quer dizer, negando que a liberdade seja do insensível ou da morte imortal ou do indivisível, do átomo e, desse modo, negando a essência livre do insensível átomo, do indivisível ou da morte imortal, resta apenas a sensibilidade para a essência da liberdade e só a sensibilidade ou vida mortal humana efetivamente se ausenta ou abstrai da própria sensibilidade ou vida mortal por meio da construção e constituição da consciência humana de si ou da consciência humana da própria sensibilidade ou vida mortal, ou seja, se existe uma coisa em si ela é a consciência de si humana ou a consciência da própria sensibilidade humana, a consciência da própria vida mortal humana. A ataraxia é a sensibilidade humana e a vida mortal humana afastando e suprimindo a sensibilidade da dor e da mortificação para fruir a sensibilidade do prazer e da vitalização humanas. É nesse ponto que Epicuro deixa de ser estoico e também é nesse ponto que Kant permanece estoico. Epicuro deixa de ser estoico porque deixa de admitir a existência duma coisa em si na própria natureza das coisas e Kant permanece estoico porque admite a realização da coisa em si existente na própria natureza das coisas.






Epicuro e Kant, sensibilidade e morte ou coisa em si




"Quando ela está, eu não estou. Quando eu estou, ela não está." Era assim que Epicuro dizia que a morte não era nada. E isso pode ter alguma relação com os princípios a priori da cognoscibilidade sensível do espaço e do tempo e a coisa em si incognoscível de Kant? Talvez. Quando os princípios a priori da cognoscibilidade sensível estão a coisa em si insensível é incognoscível. Quando os princípios a priori não estão a coisa em si insensível permanece incognoscível. A coisa em si permanece em si e são os princípios a priori da cognoscibilidade sensível do eu que estão onde e quando ela não está e não estão quando e onde ela está.


Identidade entre o eu vital ou a vida consciente de Epicuro e os princípios a priori da sensibilidade e cognoscibilidade de Kant, por um lado, e identidade entre a morte, segundo Epicuro, e a coisa em si, de acordo com Kant, por outro lado.


Vida e consciência sensíveis versus morte e inconsciência insensíveis. Ou vida e consciência sensíveis versus coisa em si inconsciente e insensível.