quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Interdito ou a consciência da liberdade




Qual a situação na qual me encontro e na qual adentro sempre mais e mais por não encontrar alternativa? É a situação de interdito e para a qual não encontro nenhuma outra resposta para a pergunta: Que fazer?


Ora, se é sempre e cada vez mais interdito a condição na qual me encontro, então a resposta para a pergunta "Que Fazer?" seria sempre e cada vez mais libertação para sair da condição na qual me encontro, certo?!


Não! Não existe nada certo no caso porque a interdição crescente só ocorre na medida que procuro preservar a liberdade, na medida que procuro me libertar da quase totalitária manipulação que é feita da minha liberdade, quer dizer, da quase total negação da minha liberdade que é feita em nome da minha liberdade. Quem está me interditando? Aqueles que me querem livre para fazer o que eles querem que eu faça ou eu que me impeço de ser livre para fazer aquilo que eles querem que eu faça?!


A minha interdição tem dois aspectos. Num deles eu posso me sentir livre para fazer tudo que o mundo e os afeitos ao poder querem que eu faça e aí este aspecto se apresenta para mim como sendo a liberdade da prática ou de tudo aquilo que é e pode ser aceito como livre prática, mas ainda nesse aspecto eu permaneço interdito e não disponho de liberdade nem de poder para fazer sequer o mais mínimo do que eu quero. No outro aspecto, eu posso perceber a minha mais mínima liberdade como a recusa a fazer o que o mundo e os afeitos ao poder querem que eu faça e aí eu posso também sentir que disponho da liberdade de recusar tudo aquilo que pode ser e é aceito como livre prática, como liberdade da prática para fazer o que o mundo e os afeitos ao poder querem que eu faça, logo, a única e mínima liberdade da qual realmente desfruto é liberdade de interditar o mundo e os afeitos ao poder e de respeitar a minha interdição de não dispor de liberdade nem de poder para fazer o que eu quero, ainda que disponha da liberdade de recusar-me a fazer o querem que eu faça.


A liberdade para a qual eu posso dizer sim é a liberdade de ser farsante, de ser mundano, de ser conforme com a prática mundana e de poder. E a recusa dessa liberdade de dizer sim é a pequena liberdade de dizer não e, assim, me manter autêntico, de me manter eu mesmo, conforme com a prática de ser eu mesmo e de poder recusar o que não está de acordo comigo mesmo, ainda que não seja a liberdade de fazer o que eu quero, quer dizer, ainda que não seja a saída da interdição ou da condição que me impede de fazer o que eu quero, melhor, de ser livre.


Ao optar pela liberdade da farsa eu opto por ser apenas aparência e pelo esquecimento da minha essência interdita. Ao optar pela liberdade da autenticidade eu opto por ser a aparência da interdição e por lembrar da vivência da interdição da minha essência.


No primeiro caso, com a aventura da farsa eu esqueço que permaneço prisioneiro e de que só sou sujeito no sentido de assujeitado ao que quer o mundo e os afeitos ao poder, quer dizer, só sou sujeito assujeitado ao outro. No segundo caso, com a desventura da autenticidade eu lembro que permaneço prisioneiro e que mesmo assim consigo ser sujeito no sentido de não me assujeitar ao que quer o mundo e os afeitos ao poder, quer dizer, consigo ser sujeito assujeitado a mim mesmo.


No primeiro caso, filosoficamente, está em ação a tendência da filosofia mundana ou positiva, quer dizer, aquela que adota o ponto de vista do momento de realidade, melhor, do mundo e dos afeitos ao poder. No segundo caso, filosoficamente, está em atividade a tendência da filosofia conceitual ou negativa, quer dizer, aquela que adota o ponto de vista do momento da crítica, melhor, da essência e do seu poder de recusar a aparência.


A resposta ao "Que Fazer?", no primeiro caso, é se lançar na aventura da prática de conformação ao mundo e aos afeitos ao poder. Já no segundo caso, a resposta ao "Que fazer?" é se manter na desventura da prática da crítica ao mundo e aos afeitos ao poder,melhor, é se manter na prática da resistência e da sinalização de vida da essência.


Se conformar com esquecer a interdição da essência e não se conformar e resistir com a lembrança, melhor, com a consciência da interdição da essência. Se apresentar como a consciência da liberdade da prática mundana versus se apresentar como a consciência da interdição da prática essencial.


Em torno de que gira todo este texto? Todo este problema deste texto? Toda a problematização deste texto? Gira em torno do seguinte: A prática e a crítica oriundas diretamente da essência estão interditadas, mas restam a prática e a crítica oriundas diretamente da consciência da interdição da essência. Noutras palavras, o texto trata das armas da crítica porque ao recusar a prática mundana cria o espaço da consciência, do conceito e não trata da crítica das armas porque esta é oriunda da essência que se liberta da interdição, logo, de algo a que a consciência da condição atual ainda não chegou e que considera que a essência também ainda não chegou dado o seu grau de interdição.


Assumir a consciência da interdição da essência é o "Que Fazer" que se apresenta na atualidade e que pode vir ou não vir a conquistar a libertação da interdição da essência, mas é só passando pela atualidade como consciência da interdição da essência que, talvez, se chegue ao vislumbre da libertação da essência. Portanto, o "Que Fazer" que eu assumo é o da consciência da interdição da essência, é o da consciência do problema, é o assumir conscientemente o problema da interdição da essência para que com ciência possa buscar a solução que, certamente, é a libertação da essência.


sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Sair: A opção pela denúncia, pelo levantamento do problema.


Eu acredito que para muitos parecerei ridículo e pretensioso, mas, infelizmente, para eles e mesmo para mim, eu acredito que esta é a melhor alternativa. Acredito que em todos os movimentos atuais, revoluções coloridas, dos acampados de Wall Street, dos indignados da Espanha, das primaveras árabes, da oposição na Venezuela, das jornadas de junho no Brasil as redes sociais aparecem em destaque como viabilizadoras de novas formas organizativas, mas também que aquilo que não aparece é precisamente estas coisas que não são feitas diretamente pelas pessoas que se encontram nas redes e sim pelos interesses do Facebook e dos grupos que se organizam na rede do Facebook, ou seja, existe sim uma direção vertical e não-horizontal no interior desse novo fenômeno de mídia que parece ser bem mais manipuladora do que as antigas direções de vanguarda porque, ao contrário daquelas que tinham seus próprios meios de expressão (jornais, revistas, livros) dos quais eram diretamente responsáveis pelos direitos autorais, as atuais se apoderam diretamente dos direitos autorais dos usuários ou enquadram os usuários em determinados perfis de modo que assim classificados eles participam da rede dentro dos limites a eles (pré) destinados. Ou seja, os usuários são classificados, segmentados e possuem um alcance e influência (pré) determinados de modo que a resultante de seus movimentos é controlada ou é expressa sempre como movimento civil da opinião pública ou social, melhor, é sempre na condição de coro (para usarmos um termo da tragédia e do teatro) para as ações decisivas dos protagonistas, ainda que em certas ocasiões os protagonistas estejam já ali junto com o coro (oposição na Ucrânia e na Venezuela, em geral, as oposições nas chamadas revoluções coloridas; a Irmandade Muçulmana esteve meio à margem do coro da primavera do Egito, aliás, nesta os militares nunca saíram do poder e apenas puderam reprimir a Irmandade Muçulmana numa escala maior do que anteriormente). Acredito que toda esta pretensa liberdade da internet é a instituição da mais extensa e intensa sociedade de vigilância e que é baseada não na mera repressão e sim no incentivo ao nosso exercício ativo, ao uso de nossa força de trabalho, baseada na promoção do nosso poder mas dentro dum ambiente que é efetivamente o do Big Brother, efetivamente o da vigilância que lucra com as atividades e os exercícios de poder dos próprios vigiados porque são tais atividades e exercícios de poder que produzem mais-valia para a vigilância do Big Brother.




Carlos Eduardo - Estou desativando o meu Facebook por sua causa e de outros. A explicação está na última postagem do meu blog. Eu nunca solicitei sua amizade e não me recordo de você.

Paula Máiran - Eu também não sei quem é vc e não me recordo de ter pedido que me adicionasse. Não entendi que mal causei, mas certamente não houve intenção. Não entendi nada.

Carlos Eduardo - Tudo bem, mas o mal é o seguinte: Quem é o sujeito da sua história? Quem é o sujeito da minha história? Quem são os sujeitos nas nossas histórias? A Tânia que aparecia como sua amiga me disse que não a conhecia. Porque ter pessoas desconhecidas presentes no nosso Facebook? E como se fossem conhecidas? Isso é um Big Brother? Não me refiro apenas ao atual mas ao antigo e original Big Brother

Paula Máiran - Eu vi agora que conheço alguns dos seus amigos. Como o Fernando e a Fátima. Não me lembro do porquê de ter te adicionado, mas raramente posso adicionar pessoas mesmo sem conhecer se curto o conteúdo, se vejo afinidade nos ideais.

Paula Máiran - Se isso incomoda a você é só bloquear.

Carlos Eduardo - Isso não aconteceu só com você. No passado eu fiz o bloqueio de 3. Mas é algo pior, eu vi que o Facebook registrou eu solicitando sua amizade. Ora nunca poderia imaginar o seu nome e muito menos solicitar amizade sem conhecê-la. Então é o Facebook ou alguém nele que está querendo dirigir minha vida, meus contatos etc. Muito tempo atrás eu descobri que tinha um perfil público que eu não tinha criado, logo, estava sendo tachado e etiquetado por alguém com aquele perfil. Isso me incomoda e muito mesmo. Eu vou sim desativar minha conta no Facebook, mas foi bom ter falado contigo.

Paula Máiran - Tudo bem. Isso é grave se o face convida em nosso nome sem autorização. Enfim, tudo de bom pra você.

Razões para desativar exigidas obrigatoriamente pelo Facebook ou explicação sine quae non do Facebook para desativar:

Desativo porque o Facebook faz coisas que atribui a mim. Faz o meu perfil, introduz desconhecidos e registra como convidados por mim, faz uma postagem de fim de ano com minha foto e que quando quero saber o que é nada mostra, exceto um escurecimento da tela. Enfim, porque o Facebook quer ser minha subjetividade, quer agir no meu lugar, me enquadrar num lugar, quer fazer a minha história, quer me usar e não ser um serviço que eu use, quer inverter a relação e com isso me nega como sujeito. Essa é a explicação.





quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Sair ou não sair, eis a questão



Vou sair do Facebook porque ele faz coisas que eu não faço e as atribui a mim. Pessoas que eu não conheço diretamente entraram para minha lista de amigos sem meu convite e sem que eu as conheça. Outras pessoas que eu conheço parece que as conhecem mas eu não sei, já que perguntei a uma amiga se conhecia Paula Mairán e ela disse que não e, no entanto, o Facebook as coloca juntas como amigas que entraram juntas e, mais ainda, registra que eu solicitei a amizade de Paula Mairán. Ora, eu não a conheço e nunca poderia ter solicitado sua amizade e nem mesmo imaginado esse seu nome - Paula Mairán -. Outra pessoa, melhor, nome que aparece como conhecido de pessoas que eu conheci ou conheço é o de Helbson D'Ávila e este eu cheguei a fazer comentários de texto que ele postou duma tal de Cristiane Rubão e ainda a respeito do link que ele forneceu para o decreto da Dilma dos Conselhos Populares e, depois disso, como quê vencido pelo "costume" (?) - teria isso alguma relação com o direito consuetudinário? - eu o admiti numa lista de "melhores amigos".


Hoje, deve passar um pouco duns 30 minutos atrás, eu entrei no Facebook e vi uma foto minha no centro duma postagem a respeito do meu ano. Fiquei curioso para saber o que era aquilo, talvez uma novidade do Facebook, e cliquei em cima, nada aconteceu, exceto que após algum tempo a tela escureceu um pouco. Procurei saber como me livrava daquilo e achei um lugar que clicando a excluía, cliquei e apareceu uma telinha com perguntas do Facebook querendo entender porque eu queria excluir e escolhi uma das alternativas da telinha e apareceu outra na qual novamente escolhi uma das opções e aí apareceu outra e depois de "pesquisar" um pouco nesta última desisti e voltei e não mais encontrei a tal postagem.


De repente percebi algo que me chamou a atenção: Vi uma lista com 16 entrei nela e só tinham 4, vi outra que anunciava ser composta de 24 entrei e contei e recontei 22. Comecei a pensar que eu não sei como corrigir estas coisas e nem o Facebook facilita para que eu consiga corrigí-las, pelo contrário ele registra - pretensa solicitação de amizade com Paula Mairán - que eu fiz coisas que eu tenho absoluta certeza de não ter feito. Lá atrás eu lembro que certa vez eu vi que ele apresentava um perfil da minha conta - de como ela era vista pelos outros - que eu nunca e digo nunca no sentido de em momento algum desenvolvi como apresentação do perfil desta minha conta do Facebook. Aí eu alterei.


Mas, por tudo isso, hoje eu estou pensando diferente. Essa minha atitude de não ligar para a aparência para o exterior é um defeito que já carrego faz muito tempo e que não vem me proporcionando nenhum benefício, mas, ao contrário, me traz malefícios. A atitude de deixar que "os cães ladrem enquanto a caravana passa" pode ser muito bem intencionada mas sofre com a falta de atenção para com a aparência expressa como sabedoria por uma mulher da Roma antiga: "Não basta ser honesto, é preciso parecer honesto". Noutras palavras, é muito importante representar a si mesmo e defender a sua comunicação para o mundo e não aquelas comunicações do mundo que negam a sua comunicação, ou seja, a aparência não é apenas algo inessencial e com o qual não é preciso se ocupar porque a essência também precisa aparecer com uma aparência e esta precisa ser o mais possível a aparência da essência, caso contrário, pode ocorrer o descarte do essencial meramente por estar confundido com a aparência do inessencial. Ora, isto se constitui num sofrimento para quem sofre o descarte.


Essa minha atitude é muito similar a de quem se torna vítima ou fica na condição de vítima ou de objeto de bullying, quer dizer, precisamente da violência que só se ocupa com a aparência para o exterior. Ora, eu não sei mais qual é a minha aparência para o exterior, mas eu objeto ou vítima da aparência que atribuem a mim, aparecendo como amigo de quem não sou, mesmo que se conhecendo pudesse vir a ser, porque tudo isso caminha no sentido da interdição da minha essência, da minha subjetividade, já que ela se torna a "essência", a "subjetividade" que atribuem a mim e não aquela que efetivamente expressa a mim, ou seja, já que desse modo me alienam de mim mesmo ou me tornam um alienado e com o meu próprio consentimento se permaneço aceitando essas estranhezas como algo normal.


Vou postar um link para isso aqui no Facebook e aguardar um pouco se vem alguma ajuda de algum leitor e avaliar em seguida a questão: Sair ou não sair do Facebook?

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Quem viver, verá?!




O problema todo da atualidade pode ser resumido numa oposição antagônica entre o Estado de Direito ou a Democracia nascida da emancipação política do Ancien Régime versus o Estado Absolutista ou a Ditadura mantida pela repressão política do Ancien Régime.


A direita capitalista passou a adotar o Estado de Direito e a Democracia e a rejeitar o Estado Absolutista e a Ditadura, mesmo que no passado recente tivesse apoiado as Ditaduras em nome da Segurança Nacional, ou seja, como Regimes de Exceção frente à ameaça da sua Segurança Nacional. Agora, pelo contrário, passou a exaltar a Democracia e o Estado de Direito e a recusar apoio às Ditaduras e Regimes de Exceção impostos em nome da Segurança Nacional. De modo que a direita capitalista pode muito bem estar fazendo movimentos políticos civis pela Democracia e pelo Estado de Direito em diferentes partes do mundo e, assim, ser ou ficar confundida com a esquerda democrática e socialista que tradicionalmente faz esses movimentos políticos civis. A esquerda socialista que, chegando ao poder, legitima um Estado Revolucionário e Transitório como um Regime de Exceção Permanente formalmente similar ao Ancien Régime e que se autojustifica como a aplicação da doutrina da Ditadura Revolucionária do Proletariado está se retraindo e, crescentemente, adotando reformas que caminham para o reconhecimento do Estado de Direito e da Democracia como instituições desejáveis e permanentes.


Quem na atualidade verdadeiramente assume a defesa e aplicação do Estado Absolutista ou da Ditadura do Ancien Régime como Norma (e nunca como Exceção) é o Fundamentalismo Religioso que se baseia na exaltação da mais estrita repressão política justificada pelo Abolutismo Teocrático ou Religioso do seu Fundamentalismo.


Quem efetivamente se encontra fora da atualidade é a emancipação social, melhor, na atualidade a emancipação social só se encontra ainda dentro da emancipação política, dentro das lutas pelos direitos humanos ou civis que são garantidos pelos direitos políticos ou cidadãos conquistados com a emancipação política. Ou seja, a emancipação social se vier a se desenvolver será a partir da emancipação política e terá um viés inteiramente revolucionário, no sentido de novo e sem mais nenhuma relação com aquelas emancipações do Socialismo e do Comunismo Realmente Existentes. Quem viver, verá?!




domingo, 21 de dezembro de 2014

O que é estritamente atual? Democracia e fundamentalismo religioso! Socialismo é apenas o eterno retorno edipiano?!!




Aquilo que se mostra estritamente atual são os movimentos inseparáveis da emancipação política, ou seja, todos aqueles afirmadores dos direitos políticos e dos direitos humanos e também os movimentos inseparáveis do aprisionamento no fundamentalismo religioso de modo que só parecem existir lutas de emancipação política por toda parte e lutas contra a emancipação política e por regimes religiosamente fundados e fundamentados sem quaisquer direitos (políticos e humanos) exceto os permitidos pelos deveres religiosos.



Nessa realidade atual os socialismos e os comunismos reais sofrem por não terem conseguido afirmar e desenvolver de forma plena os direitos políticos e humanos, mais ainda, por perceberem que, em lugar de desenvolverem uma emancipação social ou humana, desenvolveram um fundamentalismo ou dogmatismo "social" que se mostrou muito mais religioso do que social, muito mais sem direitos políticos e humanos do que uma emancipação social humana superior à emancipação política, muito mais um regime de vigilância política e social do que de liberdade política e social. E, como, boa parte dos comunismos reais sofre por ter consciência dessa sua limitação política e social tem ocorrido no seu interior processos reformistas que visam encontrar um caminho para superar essa limitação que sua consciência reconhece ser uma qualidade dos países que só fizeram sua emancipação política e aperfeiçoamentos da sua emancipação política, os quais, por sua vez, são todos eles capitalistas, sejam mais ou menos desenvolvidos.



A hegemonia da emancipação política, que está em perfeita harmonia com um mundo descolonizado em sua grande maioria de países, está conduzindo os movimentos socialistas e comunistas a se desfazerem do fundamentalismo ou dogmatismo "social" aplicados pelos comunismos reais e também está conduzindo boa parte dos próprios países do comunismo real a reformas que permitam uma saída do fundamentalismo ou dogmatismo "social". O resultado geral disso tudo se mostra por um lado precisamente como um processo de retorno aos fundamentos dos socialismos e dos comunismos, seja através de estudos das suas teorias (daí os diferentes retornos - das diferentes abordagens - a Marx), seja através dos estudos históricos dos movimentos socialistas e comunistas e dos países socialistas ou comunistas reais, seja através dos estudos do desenvolvimento econômico e social ou sistêmico da realidade capitalista dominante na qual se encontram inseridos tanto os movimentos socialistas quanto os países socialistas reais, seja, finalmente, através dos estudos dos aperfeiçoamentos teóricos tornados possibilidades efetivas com as realizações práticas do desenvolvimento sistêmico-econômico-social do capitalismo dominante. Por outro lado, se mostra como um processo de sucessivas posições aplicadas pelos movimentos socialistas e pelos países socialistas reais no curso de suas lutas sociais e políticas e de acordo com as conjunturas políticas e sociais, ou seja, se mostra como resultante da prática e do pragmatismo políticos, como posições inseridas e coerentes com o contexto social e político, portanto, podem se mostrar como contraditórias entre si e, mais ainda, a consciência pode justificar tais contradições. De fato, a história dos partidos comunistas reais é feita das sucessivas frações, tendências e linhas aplicadas em determinados períodos históricos e de acordo com as variações conjunturais. Desse modo, o zigue-zague é a história social natural dos partidos socialistas e dos partidos socialistas reais e se encontra em harmonia com o monolitismo destes partidos.



O monopólio do partido dum país socialista real não elimina apenas a liberdade política de outros partidos mas também a liberdade política de suas frações, tendências e linhas políticas divergentes de modo que o Estado e o partido se confundem. É bom lembrar aqui que Marx considerava que os comunistas não formavam um partido à parte dos partidos proletários e que se constituíam sim numa fração dos partidos proletários, mas isso deve ser interpretado como a existência de um partido monolítico dentro do qual os comunistas desempenham o papel da sua melhor fração devido à sua compreensão teórica do conjunto do movimento histórico e devido à sua maior capacidade de decisão e aplicação práticas, portanto, estão destinados a dirigir e exercer o poder dirigente do partido ou isso pode ser interpretado pela existência de um partido pluralista, logo, composto de diversas frações ou até mesmo diferentes partidos mas que não se constituem em partidos à parte do proletariado e sim em partidos que funcionam como frações daquilo que num sentido histórico e social amplo configura o partido proletário?! A primeira interpretação é o problema histórico e concreto dos partidos dos países socialistas reais. A segunda interpretação só pode ser compreendida como aquela que foi aplicada por Marx na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) e que desde o surgimento dos partidos sociais-democratas deixou de ser compreendida e aplicada precisamente por terem adotado a primeira interpretação e a teoria chamada de marxista, termo que foi cunhado por Bakunin, o principal adversário de Marx na AIT, termo em relação ao qual Marx se posicionou declarando que não era marxista (declaração que explicava também porque ele não defendia na AIT pontos programáticos, como a abolição do direito de herança, que havia defendido no Manifesto do Partido Comunista, de onde retiramos a consideração a respeito das relações dos comunistas com os proletários), ou seja, Marx foi concebido como uma seita chamada marxismo pelo seu adversário na AIT e como esta interpretação foi levada adiante pela social-democracia e pelo comunismo real que optaram pela doutrina de Marx, o dirigente da AIT, e não pela doutrina de Bakunin, o expoente da maior corrente de oposição dentro da AIT.



Esta possibilidade de interpretação do Manifesto do Partido Comunista como a interpretação que foi aplicada por Marx na AIT e defendida por ele como uma posição aberta, por ser capaz de mudar junto com a compreensão do conjunto do movimento histórico e junto com a capacidade de aplicar consequentemente tal mudança na prática, abre a perspectiva da compreensão do poder proletário como uma comunidade de discussão e ação da qual participam as diferentes frações, tendências, linhas e partidos proletários de modo que o monopólio é da comunidade de discussão e ação e não de suas frações, tendências, linhas e nem de seus partidos. Aliás, Marx não exaltou a Comuna de Paris de 1871 precisamente por sua criação desse novo tipo de poder?!



Se o Estado burguês permite a participação de diferentes partidos e se os partidos de trabalhadores lutaram para conquistar o reconhecimento de suas existências e a participação no Estado burguês, então o Poder Proletário ou a Comuna Proletária permite e reconhece a participação de diferentes partidos de trabalhadores incluindo aí os dos camponeses (fração pequeno burguesa) e os partidos dos inventores (de meios de produção, que tendem a ser ou se identificar com os burgueses) e dos administradores (dos meios de produção, que tendem a ser ou se identificar com os burgueses).



Mas, enquanto não existe uma associação geral dos trabalhadores ou uma comuna dos trabalhadores, quer dizer, o seu poder proletário, é perfeitamente possível que suas frações, tendências, linhas, correntes se organizem em partidos ou em organizações diferenciadas que admitem estar participando e disputando a influência política dentro de um mesmo campo de abrangência que é o proletariado. Mais ainda, de forma consequente, serão levados a admitir que são componentes deste campo abrangente denominado proletariado e também que a posição majoritária de um dos componentes frente às posições minoritárias de vários outros componentes não significa de modo algum que esta posição majoritária é o proletariado ou o partido do proletariado enquanto que as demais posições minoritárias não são o proletariado nem o partido do proletariado. Ao contrário, o proletariado ou o partido do proletariado é formado pelo conjunto de suas frações ou partidos, tanto das frações ou partidos majoritários quanto das frações ou partidos minoritários. Na verdade, tanto as frações majoritárias quanto as minoritárias estão construindo o partido proletário, já que ainda não existe a sua associação geral ou a sua comuna ou o seu poder proletário. E este último só poderá vir a se viabilizar quando todas as frações, majoritárias e minoritárias, compreenderem que são partes da construção desse poder e, portanto, quando estiverem dispostas a afirmar não apenas a sua diversidade mas também a sua unidade.



Isso é apenas uma apreciação que, levando em conta a espécie de beco sem saída do socialismo real, se apoiou num pouco de retorno à teoria, quer dizer, à Marx, mas lembrando que ele desenvolveu uma teoria que aplicou no seu tempo, logo, um pouco de retorno à sua prática histórica, mas, infelizmente, não é uma apreciação que se tenha baseado no desenvolvimento histórico-sistêmico-econômico-social e menos ainda nos avanços teóricos resultantes do desenvolvimento histórico. A única constatação é que são atuais os direitos políticos e humanos proporcionados pelo desenvolvimento da emancipação política e a posição contrária que só admite a atualidade dos deveres religiosos oriundos do desenvolvimento do fundamentalismo religioso. Esta constatação da atualidade da democracia política versus a teocracia fundamentalista se baseia numa outra constatação: O problema do socialismo e do comunismo real é estar vivenciando a fábula trágica de Édipo-Rei, ou seja, a auto-condenação à renúncia de seu poder e o retorno do mesmo a como era sob seu pai, ou seja, o retorno ao capitalismo. Ao vivenciar tal situação edipiana o socialismo e o comunismo reais se descobrem céticos em relação ao seu anterior fundamentalismo ou dogmatismo e também sem quaisquer perspectivas de saída do capitalismo, melhor, só lhes resta a esperança de que o capitalismo no seu desenvolvimento próprio chegue ao socialismo e ao comunismo porque eles, edipianos, não conseguiram chegar e sim apenas voltar ao capitalismo numa fase de desenvolvimento mais avançada.




sábado, 20 de dezembro de 2014

Farsas e autenticidades



Vim aqui (no Facebook) para achar uma enxurrada de postagens a respeito do novo cenário que se anuncia, o da quebra da Petrobrás e da angústia quanto ao destino do seu espólio (estatal ou privado? nacional ou multinacional? estatal nacional ou privado nacional? estatal multinacional ou privado multinacional? privado multinacional ou privado internacional?). Nada achei. Fico me perguntando se o silêncio é prenúncio da tragédia tal qual a calmaria é da tempestade?! O materialismo capitalista que reduz o trabalho a mero meio de vida, a mera abstração quantitativa (essa atividade de manipular, explorar e corromper) e separada de toda concretude qualitativa e vital foi praticado em seu grau máximo precisamente para destruir as forças produtivas da Petrobrás e do seu contexto de modo a manter e aprofundar as relações de produção capitalistas que condenam a Petrobrás e o seu contexto (o país e a região latino-americana) a permanecer eternamente mero meio de vida. Mas, esse é o serviço "revolucionário" dos governos do PT?!?!?!?! A "revolução" é concebida como resultante do "quanto pior, melhor"?! Mas, isso não é precisamente favorecer a "contrarrevolução"?!?!?!


http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2014/12/wanderley-guilherme-o-governo-deve-satisfacao-a-quem-o-elegeu-1204.html


Será que Dilma está repetindo a história de João Goulart que caminhou para um governo inviável e ao qual só restou a dignidade de sofrer o golpe?! A história se repete, mas, acrescentava Marx, como farsa. E qual a resultante da farsa atual?! A vitória da reforma democrática feita na marra ou a vitória da democracia vigente mantida nas armas?! Ou será que a atual constante referência ao golpe civil militar de 64, digo, ao aspecto civil do golpe de 64, consciente ou inconscientemente, quer trazer à tona a luta ou guerra civil que não ocorreu em 64?! Re-volução e re-ação possuem em comum a repetição que impõem uma à evolução e a outra à ação, mas enquanto uma gira em torno de si ou de sua evolução já a outra contraria a ação do outro ou de sua evolução. E se ambas repetem, então são ambas farsas?! Onde estará e com quem andará a autenticidade atualmente?!


https://ninja.oximity.com/article/Queremos-respirar.-Protesto-contra-a-P-1


Mas, os novos movimentos de Obama e do Papa Francisco e de Raúl Castro são uma retomada dos movimentos civis da época de Luther King, do Papa João XXIII e da coexistência pacífica de Khrushchev? São repetições e, portanto, farsas?! Sim, podem ser repetições e, portanto, farsas, mas, há algo da autenticidade atual. Qual? Por toda parte existe um incentivo e apoio aos movimento sociais civis que derrubam ou abalam governos, mais recentemente isso ocorreu na Ucrânia e na Venezuela, respectivamente. Os líderes dos movimentos civis na Ucrânia e na Venezuela são considerados de direita, mesmo assim estão situados na posição de lutadores pela liberdade, lutadores pela democracia, ou seja, o que está em vigor na atualidade é o incentivo e o apoio aos movimentos sociais civis que conduzam à liberdade e à democracia, logo, movimentos que afastem a perspectiva do terrorismo, especialmente, o terrorismo atual, o dos que se dizem fundamentalistas religiosos. Ora, o tal do "terrorismo" cubano não é fundamentalista religioso e, até mesmo, é contrário ao terrorismo dos fundamentalistas religiosos. O Papa Francisco e a Igreja Católica são os maiores representantes na atualidade do ecumenismo, que é precisamente o oposto do fundamentalismo. Raúl Castro é o representante das reformas que visam adaptar Cuba às novas condições de hegemonia global do capitalismo, quer dizer, de ausência de uma autointitulada superpotência comunista real, mas, ainda assim, com a possibilidade de Cuba permanecer um Estado-Nação soberano, independente e autodeterminado. Com a perspectiva de fim do bloqueio todas as atuais reformas de Cuba (admissão da propriedade privada, do empreendedorismo e de maiores e livres iniciativas individuais) que vem sendo implantadas de forma soberana, independente e autodeterminada encontrarão sua razão de ser ou finalidade na criativa adaptação de Cuba às novas condições mundiais de predomínio do capitalismo globalizado e da democracia e liberdade globalizadas.


A Rússia, que está sob ataque econômico que compreende uma série de medidas até chegar ao bloqueio puro e simples como o de Cuba, no seu processo de luta de sobrevivência e de influência políticas vem fazendo alianças e vem até mesmo financiando os partidos da extrema direita européia. E estes partidos da extrema direita européia estão se consolidando dentro das regras democráticas dos países europeus de modo que o caráter autocrático destes partidos, por um lado, adquire aceitação, popularidade e, mais do que isso, adquire adaptação criativa nos países da União Européia, e, por outro lado, este caráter autocrático manifesta identidade com o caráter autocrático russo e defende a legitimidade das ações do governo de Putin como próprias da autodefesa da soberania, independência e autodeterminação da Rússia.


Tanto Putin quanto a extrema direita européia estão se movendo no mesmo ambiente e no mesmo leque de opções que Obama e os governos da União Europeia, ou seja, estão se movendo no âmbito da política e, nesse sentido, diferem dos movimentos terroristas dos fundamentalistas religiosos. Por sinal, é significativo que o fundamentalismo islâmico tenha sido antes inimigo da Rússia, melhor, da URSS do que dos Estados Unidos e que tenha se tornado, até certo ponto, o inimigo comum da Rússia e dos Estados Unidos, como fica bem visível no caso do grupo Estado Islâmico em ação na Síria que levou os Estados Unidos, apesar de muita resistência, a admitir que o Estado Islâmico é o inimigo principal e um inimigo maior do que o governo sírio de Assad e, assim ainda que não admita, acabou "dando o braço a torcer para a Rússia, que defende o governo de Assad na Síria.


Claro que a maioria das armas produzidas no mundo ainda são dos Estados Unidos e da Rússia, portanto, a suspeita entre eles é mútua e o mercado de armas que disputam abrange os diferentes grupos de fundamentalistas religiosos de modo que costumam ver por detrás desses grupos ações de fornecimento de armas ou de um ou de outro, respectivamente, ou dos Estados Unidos ou da Rússia. E é aí nessa atividade de tráfico de armas que ainda vêem um ao outro como participantes duma "Guerra Fria" entre si e numa "Guerra Quente" entre os fundamentalistas religiosos e seus inimigos ateus e religiosos não-fundamentalistas.


Apesar das diferenças políticas entre Estados Unidos e Rússia e das alianças políticas que fazem na Europa, ambos países incentivam e apoiam saídas, perspectivas e caminhos políticos e lutam contra os diferentes grupos terroristas dos fundamentalistas religiosos. Então, a direção geral para a qual procuram encaminhar o mundo é a do desenvolvimento político, logo, dos direitos políticos civis de modo que a autenticidade, nesse caso, estará nas lutas e com as lutas dos movimentos sociais civis. No outro extremo, estarão não só as resistências aos avanços sociais civis do status quo querendo manter seus privilégios e mesquinharias mas também as atividades terroristas dos fundamentalistas religiosos querendo a instauração dum mundo organizado e ordenado pelos deveres religiosos que são também os direitos religiosos, um mundo fundamentalista e não o mundo sem fé, sem fundamento e sem sentido dos chamados direitos políticos.


A autenticidade está com os movimentos civis de massas (sejam dirigidos pela direita ou pela esquerda) e com os movimentos terroristas de grupos fundamentalistas religiosos. A farsa está com no repetir a história do status quo.





segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O Enigma da Esfíngie



"(...) quando o trabalho não for apenas um meio de viver, mas se tornar ele próprio na primeira necessidade vital (...) a sociedade poderá escrever nas suas bandeiras: 'De cada um segundo as suas capacidades a cada um segundo as suas necessidades!'"

Karl Marx

na "Crítica do Programa de Gotha"




As necessidades vitais são aquelas necessidades que precisam ser satisfeitas para que se possa viver. Quais são elas? Respirar é uma necessidade vital que é satisfeita imediatamente e se, assim não fosse, aquele que a fosse satisfazer por meio de alguma outra coisa antes de respirar morreria por ter ficado sem respirar, por ter ficado fora da necessidade imediata de respirar. Comer e beber, excetuando-se o mamar, são necessidades vitais que precisam antes da coleta, da caça e da pesca ou ainda da agropecuária e do tratamento da água para que seja filtrada ou potável, logo, são necessidades que requerem antes de sua satisfação os trabalhos de coleta, caça, pesca, agropecuária etc. como meios para alcançá-las (aqui apenas mamar é um trabalho de comer e beber ou é uma atividade de trabalho que se confunde com a própria necessidade vital de modo que é possível dizer que o trabalho de mamar é ele próprio a necessidade vital de mamar).


Respirar e mamar são necessidades vitais que são satisfeitas imediatamente com as atividades de respirar e de mamar, ou seja, nelas as atividades ou os trabalhos de respirar e de mamar se confundem com as próprias necessidades de respirar e de mamar de modo que é possível dizer que às capacidades de respirar e mamar correspondem as necessidades de respirar e mamar. Mas e se o trabalho, que compreende as atividades que vão desde a coleta e da caça e da pesca até à reprodução científica dos vegetais e dos animais, chegar a um ponto no qual a sua atividade de trabalho ou capacidade de realização corresponde à atividade da sua necessidade ou da sua necessidade de realização?


Nas atividades de respirar e de mamar capacidades e necessidades se correspondem de forma natural. Nelas, as liberdades de respirar e de mamar são idênticas às necessidades de respirar e de mamar. O trabalho como meio de vida não possui uma correspondência natural com as necessidades que satisfaz por ser ele um artifício que visa alcançá-las e isto precisamente por estarem elas separadas do trabalho. O trabalho como primeira necessidade vital possui uma correspondência natural imediata com as necessidades que satisfaz por ser ele parte inseparável da natureza interna destas necessidades vitais.


Nesse contexto, em lugar do trabalho ser um aprisionante meio de vida ele se torna afirmação natural da liberdade vital ou afirmação livre da natureza vital. Porque nesse contexto ele não é mais uma prisão, uma separação, um artifício, um meio de viver, uma sobrevivência e é sim uma liberdade, uma conjunção/um pertencimento, uma naturalidade, uma necessidade vital, um viver pleno.


Tudo isso está indicado por Marx, mas onde se vê isso sendo decifrado e desenvolvido? Onde se vê isso sendo realizado? Em parte alguma, em lugar nenhum e, especialmente, por nenhum daqueles que se dizem seguidores ou discípulos de Marx, de modo que, até mesmo entre os que defendem Marx, permanece vigorando a concepção do trabalho como um meio de vida, uma prisão, uma separação, logo, aquilo que podem efetivamente realizar ao defenderem o trabalho e os trabalhadores como meios de vida nada mais pode ser do que uma prisão e uma separação ainda mais completas, ainda mais totais.


E nós, aqui, conseguimos alguma coisa? Ao que parece nada conseguimos, exceto questionar e, talvez, despertar, quem sabe, aqui e ali, a necessidade vital do trabalho de decifrar e pesquisar as indicações de Marx. Uma coisa fica muito estampada, o trabalho como meio de vida é similar àquele que na Bíblia foi imposto ao homem por Deus ao ser expulso do paraíso e o trabalho como necessidade vital é similar à criação do paraíso pelo próprio ser humano.





sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Vida humana mortal-e-morte natural imortal



Decifra-me ou te devoro


decifro-te e me devoro

decifro-te e me devoras

decifro-te e te devoro

decifro-te e te devoras


decifras-te e me devoro

decifras-te e me devoras

decifras-te e te devoro

decifras-te e te devoras



Decifra-te ou me devoro


decifro-me e te devoro

decifro-me e te devoras

decifro-me e me devoro

decifro-me e me devoras


decifras-me e te devoro

decifras-me e te devoras

decifras-me e me devoro

decifras-me e me devoras







quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Decifro-te e me devoras!!!??? [V]




Qual é a primeira necessidade vital humana? A resposta pode ser respirar, já que um bebê saudável ou com o corpo em funcionamento "normal" precisa ao nascer antes de tudo de respirar. A segunda necessidade vital é satisfeita pelo bebê com o leite materno que fornece tanto água quanto alimento/comida para o bebê. O bebê também costuma entrar no mundo dos nascidos chorando e esperneando, se agitando todo, costuma, em seguida, alternar do choro para o riso, do sono para a curiosidade com movimentos corporais e dos olhos e experimentações dos sabores pela boca, costuma agarrar e soltar as coisas e fazer contínuos movimentos de braços e pernas como se fosse andar ou estivesse andando, melhor, correndo estando, no entanto, apenas deitado no berço ou no carrinho. Fazer cocô e arrotar são resultantes de se alimentar e respirar.


Quando, como diz Marx, o trabalho seria a primeira necessidade vital humana? Respirar é a primeira atividade vital humana ao nascer, supondo naturalmente que o pulsar do coração já está ativo desde antes do nascimento. Mamar é a segunda atividade vital humana, se não consideramos o choro que acompanha o início do respirar como parte integrante da primeira atividade vital humana. Depois de mamar, e mesmo durante, aparece o riso/alegria e, em seguida, o sono/paz/tranquilidade. Fazer cocô, urinar, arrotar, espreguiçar, acordar cheio de curiosidade/movimentos dos olhos, dos braços e das pernas para todos os lados. É aí nesse conjunto que se encontra o trabalho como primeira necessidade vital humana? Ou a definição do que seja trabalho precisa ser muito bem explicitada para que se possa conceber o trabalho na situação de primeira necessidade vital humana?!


Respirar é se relacionar com todo o mundo natural da vida. Mamar é se relacionar com a particularidade do mundo humano da vida, isto é, com a mama da mamãe de quem saiu o bebê. É esta relação do bebê com a mãe, esta intimidade corporal que é comparada à relação da força de trabalho com os meios de produção de modo que o leite materno resultante do mamar é comparado ao salário necessário à reprodução da força humana de trabalho. A série de atividades do bebê, que começa com o choro e o respirar, passa para o mamar e sorrir, para o sono e o despertar curioso cheio de movimentos dos olhos, braços e pernas, de experimentações pela boca, de agarrar e soltar com as mãos, é nesta série de atividades que se singulariza o bebê como força humana de trabalho? É aí que se situa a atividade de trabalho como primeira necessidade vital humana? Ou seja, esta série é comparável à série de atividades de confecção de instrumentos para coleta, caça, cultivo de vegetais, de animais e de ambiente humano?! Ou é a atividade de ver, sonhar ou alucinar a relação sexual dos pais como forma primeira de aparição da sexualidade genital do próprio bebê, isto é, sua primeira concepção do pênis/sêmen/força de trabalho e da vagina/óvulo/útero/meios de produção?! Onde, afinal, se situa a transformação do trabalho na primeira necessidade vital?!


Aliás, cabe perguntar o que é viver quando o trabalho se tornou a primeira necessidade vital?! Ele afirma nesse texto da "Crítica ao Programa de Gotha" que a força humana de trabalho é também uma simples força natural, ou seja, uma força natural ao lado de outras forças naturais. E qual é a primeira necessidade vital da força natural humana?!


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Utopia ou o quê?! [IV]




Desde a coleta e a caça que os humanos se diferenciam dos demais por produzirem instrumentos e usarem o fogo, mas, depois que eles descobrem como cultivar/domesticar a reprodução vegetal, animal e do habitat humano, eles entram num processo de exploração dos humanos pelos humanos que vai se desenvolvendo de diferentes formas até chegar ao modo de produção da reprodução vegetal, animal e da reprodução humana, ou seja, uma sociedade na qual o pênis e o sêmen são representados pela força humana de trabalho ou pela classe do proletariado e a vagina e o óvulo são representados pelos meios de produção ou pela classe burguesa/capitalista, consequentemente, como se fosse algo natural, o "ovo" e/ou a produção resultante da relação de produção destas duas forças de produção (a força humana de trabalho e as forças industriais dos meios de produção) passa a pertencer à classe mãe ou gest(ad)ora que é a dona dos meios de produção. Em geral, cabe a uma terceira classe ser dona das terras e esta originalmente impunha obrigações de pagamentos à burguesia (classe mãe) e de trabalhos ou serviços à prole camponesa ou ao proletariado (classe tutelada dos filhos). Esta terceira classe dá origem ao grande tutor que se sustenta e desenvolve a partir dos impostos e tributos que as duas outras classes, a classe mãe burguesa e a classe do filho proletariado, são obrigadas a pagar, ou seja, se constitui não só na classe dos latifundiários ou donos das terras da Nação, mas também na máquina de poder tutor do Estado(-Nação) e é representada como sendo a Lei do pai. A classe que efetivamente produz é a do proletariado, a classe que efetivamente se apropria da produção é a da burguesia e a classe, melhor, a máquina de tutela que efetivamente garante que, apesar das diversas mudanças nas relações das classes, permanecerá havendo continuidade e eterno retorno da relação de produção essencial das classes entre si é o pai Estado. É o pai Estado-Nação (dono das terras nacionais) quem interfere garantindo que a mãe burguesia permaneça dona dos meios de produção da reprodução geral e da produção resultante, mas também é quem interfere garantindo que o filho proletariado permaneça dono de sua força humana de trabalho e recebendo o salário justo ou efetivamente equivalente ao valor da reprodução de sua força humana de trabalho.


Aí podemos ver as três grandes classes apontadas por Marx na sua obra de crítica da economia política capitalista, a saber, a classe dos proprietários fundiários, a classe dos proprietários dos meios de produção e a classe dos proprietários das suas próprias forças humanas de trabalho. E elas correspondem perfeitamente aos três grandes tipos de consciências humanas de si nascidos na Grécia Antiga e que atravessam os diversos momentos históricos e que são os estóicos (proprietários fundiários), os céticos (proprietários dos meios de produção) e os epicuristas (proprietários de si mesmos ou das suas próprias forças humanas de trabalho). Aí podemos ver também como o grande tutor, a máquina do Estado, inverte a relação com a prole humana, já que esta inicial e naturalmente nada produz e é mantida pela mãe natural e pelo pai-marido da mãe natural, de modo que é a força humana de trabalho ou a chama devoradora do proletariado que tudo produz e mantém a contínua produtividade dos meios de produção da mãe artificial burguesa e do grande pai artificial de todos e marido artificial da burguesia ou mãe artificial. O complexo de Édipo presente nas relações familiares burguesas tem por pano de fundo estas relações invertidas entre a prole tutelada e o pai tutor e de ambos com a mãe tutora.


Quando é que a prole humana pode nascer sendo imediatamente produtora e responsável por si mesma? Aparentemente é a partir do surgimento do proletariado como classe social produtora, mas é preciso que a prole humana natural seja também imediatamente produtora e responsável por si mesma para que possa vir à tona e à existência efetivamente uma sociedade da humanidade comum, uma sociedade comunista ou dos proprietários comuns dos meios de produção e das terras, ou seja, uma sociedade sem classes sociais e sem (máquina de) Estado. Marx dizia isso na sua "Crítica ao Programa de Gotha" ao estabelecer que é só quando o trabalho se torna a primeira necessidade vital que surge a sociedade baseada no princípio de cada um segundo sua necessidade a cada um segundo sua capacidade.


Mas, isto é um sonho ou quimera que serve apenas para que os humanos continuem fazendo o eterno retorno das lutas e sociedades de classes, melhor, das diferentes versões da sociedade capitalista?!


O que é viver sem explorar?! Oikos?! Domesticação?! Economia?! [III]





O que é viver sem explorar? Como viver sem explorar? Como viver sem consumir o mundo como uma chama devoradora? Como mudar a estrutura do modo de vida explorador? Como mudar o poder explorador? Como se libertar do modo de vida explorador e do poder explorador?


Democracia, Socialismo, Comunismo, Ecologia dizem defender um viver livre, comum, sem exploração e com decidida cooperação. Mas, efetivamente vivem sem explorar?! Todos (Democracia, Socialismo, Comunismo, Ecologia) se dispõem a consumir o mundo como chama devoradora voltada contra ele. Todos estruturam um modo de vida explorador e um poder explorador.


Para viver é preciso respirar, é preciso beber água e é preciso comer. De um modo geral, os vivos respiram e bebem água em perfeita comunhão e sem matarem-se uns aos outros. Mas, na hora de comer tem início a matança de vegetais e animais. Os grupos humanos para comer começam fazendo a coleta de vegetais e a caça e a pesca de animais. E com essas atividades iniciam a confecção de instrumentos, feitos a partir das madeiras, das fibras e dos cipós dos vegetais e das pedras dos minerais. Os animais também coletam e caçam e, até mesmo, fazem instrumentos, mas apenas os humanos se diferenciam dos demais na produção de instrumentos e, especialmente, pelo uso do fogo, a chama devoradora, tanto na produção de instrumentos quanto para proteção do frio e de ataques noturnos, cozinhar e assar alimentos, mas, especialmente, para ver à noite uns aos outros e também para "anotar os sonhos, as imaginações", quer dizer, desenhar nas paredes de cavernas e dançar uns com os outros e, finalmente, para vivenciarem a si mesmos como fogos ou chamas devoradoras na atividade de copular. Das cópulas resulta a reprodução humana e é nela e por meio dela que se descobre que viver não é só consumir ar, água e alimento nem só produzir instrumentos mas também é reproduzir a própria espécie fornecendo alimento próprio e interno no caso da amamentação e alheio e externo no caso da coleta e da caça e pesca. Mas, a descoberta da reprodução não se limita à reprodução humana e a percepção da reprodução vegetal e da reprodução animal dá início à domesticação dos vegetais e animais, ou seja, à cultura dos vegetais ou à agricultura e à cultura dos rebanhos ou à pecuária. E, estas atividades agropecuárias, não só domesticam os vegetais e os animais como também viabilizam a construção das cavernas artificiais que são as habitações e os ambientes artificiais construídos pelos humanos. Este novo habitat artificial humano é resultante da descoberta e uso do processo de reprodução vegetal, animal e humana. O processo de domesticação é um processo de descoberta, uso, desenvolvimento e exploração centrada na reprodução vegetal, animal e humana.


Os produtos da reprodução humana são os filhos, melhor, é a prole humana. E esta se inicia no viver sendo alimentada pela amamentação e, em seguida, com os produtos da domesticação vegetal e animal, portanto, se inicia dentro do processo de domesticação. Esta prole inicialmente só consome os produtos da domesticação e, em seguida, ela passa a ser iniciada no processo de produção da domesticação (agropecuária e indústria do habitat humano) e é a partir daí que surge a base para a exploração da domesticação humana, isto é, surgem os tutores dessa prole humana que, além de a iniciar no processo de produção doméstico, passam a usá-la no processo de produção doméstica como fonte de produtos domésticos que possibilitam aos tutores "reproduzir" para eles mesmos a situação inicial da prole humana, isto é, a de ser alimentado pelo produtos domésticos e de usufruir dos produtos domésticos sem precisar participar diretamente da produção dos produtos domésticos, ou seja, estes tutores se descobrem e desenvolvem como pastores da prole humana desde o seu nascimento e desenvolvimento consumista improdutivo até chegar ao seu desenvolvimento consumista produtivo. E, é nesse momento que os tutores se beneficiam dos produtos do processo de reprodução de modo que consomem ou digerem os vegetais e os animais reproduzidos pela atividade agropecuária da prole humana de forma indireta, porque consomem os produtos resultantes do consumo da força de trabalho da prole humana. Eles não comem diretamente a prole humana, mas, indiretamente, eles comem ou consomem o excesso ou excedente da produção da força de trabalho ou da chama devoradora da prole humana.


O desenvolvimento desse processo de exploração da produção doméstica se faz por meio do desenvolvimento da luta de classes das sociedades de classes até chegar na sociedade de classes atual onde a força de trabalho ou a chama devoradora da prole humana se constitui na classe do proletariado ou de todos aqueles que só possuem sua chama devoradora ou força humana de trabalho, enquanto que os tutores ou os exploradores indiretos do processo de produção domesticado se constitui na classe da burguesia ou daqueles que possuem todos os meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano, existindo ainda, sem ter tido sucesso total, aqueles que visam possuir os meios de produção da reprodução humana de modo a explorar as possibilidades de criação de super-homens e de "imortais", ou seja, de humanos "naturalmente" dominantes (de posse de todas as vantagens ou perfeições genéticas) e de humanos "artificialmente" imortais (de posse de todos os meios de conservação e renovação do corpo humano de modo a perdurar no tempo e mesmo superar a morte).


Mas, existe realmente um fim desse processo de exploração da produção doméstica? Existe um fim do desenvolvimento da luta de classes? Um fim da sociedade de classes? Estas duas classes atuais, o proletariado (de um modo geral é a classe de todos aqueles que vivem do salário) e a burguesia (de um modo geral é a classe de todos aqueles que possuem os meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano) podem efetivamente desaparecer se e quando todos aqueles que vendem sua chama devoradora ou força de trabalho se tornarem proprietários dos meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano e, por sua vez, todos aqueles que atualmente são proprietários dos meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano se tornarem produtores diretos? Sendo proprietário dos meios de produção da reprodução geral o proletariado deixa de vender sua força de trabalho. Mas, e a burguesia se tornando produtor direto passa a vender sua força de trabalho? Se trata duma simples inversão de posição na estrutura atual e, portanto, da continuação da mesma em situação de eterno retorno? Para que a luta destas duas classes e para que a sociedade de classes delas desapareça é preciso que desapareça não só o trabalho assalariado mas também a propriedade burguesa ou tutelar dos meios de produção da reprodução geral, logo, não basta para o proletariado se tornar proprietário comum dos meios de produção (ou, como isto tem sido traduzido na linguagem do realismo político, se tornar proprietário público ou estatal dos meios de produção da reprodução geral), mas é preciso ainda destruir qualquer possibilidade de continuidade e reconstituição do trabalho assalariado (ou, como isto é inteligível na linguagem do realismo político, é preciso destruir o Estado ou qualquer tutela ou tutor que por meio do assalariamento retorne e reinicie a constituição e exploração do proletariado).



Viver é o eterno retorno do poder e do comportamento explorador do humano pelo humano ou é a mudança libertadora do eterno retorno do poder e do comportamento explorador do humano pelo humano, quer dizer, mudança liberta da exploração e do retorno da exploração?!


terça-feira, 2 de dezembro de 2014




O que é viver sem explorar? Como viver sem explorar? Como viver sem consumir o mundo como uma chama devoradora? Como mudar a estrutura do modo de vida explorador? Como mudar o poder explorador? Como se libertar do modo de vida explorador e do poder explorador?


Democracia, Socialismo, Comunismo, Ecologia dizem defender um viver livre, comum, sem exploração e com decidida cooperação. Mas, efetivamente vivem sem explorar?! Todos (Democracia, Socialismo, Comunismo, Ecologia)se dispõem a consumir o mundo como chama devoradora voltada contra ele. Todos estruturam um modo de vida explorador e um poder explorador.


Para viver é preciso respirar, é preciso beber água e é preciso comer. De um modo geral, os vivos respiram e bebem água em perfeita comunhão e sem matarem-se uns aos outros. Mas, na hora de comer tem início a matança de vegetais e animais. Os grupos humanos para comer começam fazendo a coleta de vegetais e a caça e a pesca de animais. E com essas atividades iniciam a confecção de instrumentos, feitos a partir das madeiras, das fibras e dos cipós dos vegetais e das pedras dos minerais. Os animais também coletam e caçam e, até mesmo, fazem instrumentos, mas apenas os humanos se diferenciam dos demais na produção de instrumentos e, especialmente, pelo uso do fogo, a chama devoradora, tanto na produção de instrumentos quanto para proteção do frio e de ataques noturnos, cozinhar e assar alimentos, mas, especialmente, para ver à noite uns aos outros e também para "anotar os sonhos, as imaginações", quer dizer, desenhar nas paredes de cavernas e dançar uns com os outros e, finalmente, para vivenciarem a si mesmos como fogos ou chamas devoradoras na atividade de copular. Das cópulas resulta a reprodução humana e é nela e por meio dela que se descobre que viver não é só consumir ar, água e alimento nem só produzir instrumentos mas também é reproduzir a própria espécie fornecendo alimento próprio e interno no caso da amamentação e alheio e externo no caso da coleta e da caça e pesca. Mas, a descoberta da reprodução não se limita à reprodução humana e a percepção da reprodução vegetal e da reprodução animal dá início à domesticação dos vegetais e animais, ou seja, à cultura dos vegetais ou à agricultura e à cultura dos rebanhos ou à pecuária. E, estas atividades agropecuárias, não só domesticam os vegetais e os animais como também viabilizam a construção das cavernas artificiais que são as habitações e os ambientes artificiais construídos pelos humanos. Este novo habitat artificial humano é resultante da descoberta e uso do processo de reprodução vegetal, animal e humana. O processo de domesticação é um processo de descoberta, uso, desenvolvimento e exploração centrada na reprodução vegetal, animal e humana.


Os produtos da reprodução humana são os filhos, melhor, é a prole humana. E esta se inicia no viver sendo alimentada pela amamentação e, em seguida, com os produtos da domesticação vegetal e animal, portanto, se inicia dentro do processo de domesticação. Esta prole inicialmente só consome os produtos da domesticação e, em seguida, ela passa a ser iniciada no processo de produção da domesticação (agropecuária e indústria do habitat humano) e é a partir daí que surge a base para a exploração da domesticação humana, isto é, surgem os tutores dessa prole humana que, além de a iniciar no processo de produção doméstico, passam a usá-la no processo de produção doméstica como fonte de produtos domésticos que possibilitam aos tutores "reproduzir" para eles mesmos a situação inicial da prole humana, isto é, a de ser alimentado pelo produtos domésticos e de usufruir dos produtos domésticos sem precisar participar diretamente da produção dos produtos domésticos, ou seja, estes tutores se descobrem e desenvolvem como pastores da prole humana desde o seu nascimento e desenvolvimento consumista improdutivo até chegar ao seu desenvolvimento consumista produtivo. E, é nesse momento que os tutores se beneficiam dos produtos do processo de reprodução de modo que consomem ou digerem os vegetais e os animais reproduzidos pela atividade agropecuária da prole humana de forma indireta, porque consomem os produtos resultantes do consumo da força de trabalho da prole humana. Eles não comem diretamente a prole humana, mas, indiretamente, eles comem ou consomem o excesso ou excedente da produção da força de trabalho ou da chama devoradora da prole humana.


O desenvolvimento desse processo de exploração da produção doméstica se faz por meio do desenvolvimento da luta de classes das sociedades de classes até chegar na sociedade de classes atual onde a força de trabalho ou a chama devoradora da prole humana se constitui na classe do proletariado ou de todos aqueles que só possuem sua chama devoradora ou força humana de trabalho, enquanto que os tutores ou os exploradores indiretos do processo de produção domesticado se constitui na classe da burguesia ou daqueles que possuem todos os meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano, existindo ainda, sem ter tido sucesso total, aqueles que visam possuir os meios de produção da reprodução humana de modo a explorar as possibilidades de criação de super-homens e de "imortais", ou seja, de humanos "naturalmente" dominantes (de posse de todas as vantagens ou perfeições genéticas)e de humanos "artificialmente" imortais (de posse de todos os meios de conservação e renovação do corpo humano de modo a perdurar no tempo e mesmo superar a morte).


Mas, existe realmente um fim desse processo de exploração da produção doméstica? Existe um fim do desenvolvimento da luta de classes? Um fim da sociedade de classes? Estas duas classes atuais, o proletariado (de um modo geral é a classe de todos aqueles que vivem do salário)e a burguesia (de um modo geral é a classe de todos aqueles que possuem os meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano) podem efetivamente desaparecer se e quando todos aqueles que vendem sua chama devoradora ou força de trabalho se tornarem proprietários dos meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano e, por sua vez, todos aqueles que atualmente são proprietários dos meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano se tornarem produtores diretos? Sendo proprietário dos meios de produção da reprodução geral o proletariado deixa de vender sua força de trabalho. Mas, e a burguesia se tornando produtor direto passa a vender sua força de trabalho? Se trata duma simples inversão de posição na estrutura atual e, portanto, da continuação da mesma em situação de eterno retorno? Para que a luta destas duas classes e para que a sociedade de classes delas desapareça é preciso que desapareça não só o trabalho assalariado mas também a propriedade burguesa ou tutelar dos meios de produção da reprodução geral, logo, não basta para o proletariado se tornar proprietário comum dos meios de produção (ou, como isto tem sido traduzido na linguagem do realismo político, se tornar proprietário público ou estatal dos meios de produção da reprodução geral), mas é preciso ainda destruir qualquer possibilidade de continuidade e reconstituição do trabalho assalariado (ou, como isto é inteligível na linguagem do realismo político, é preciso destruir o Estado ou qualquer
tutela ou tutor que por meio do assalariamento retorne e reinicie a constituição e exploração do proletariado).


Os vegetarianos exploram as fontes vegetais e os carnívoros exploram as fontes animais. Desse modo, se estabelece uma cadeia alimentar . A morte dos vegetais é vida para uns e a morte dos animais é vida para outros. Não é simplesmente a morte e sim a digestão dos mortos que aproveita os digeridos como fontes de energia vital. Então é a chama devoradora de vegetais e/ou de animais que garante a manutenção da energia vital da chama devoradora, ou seja, é a morte da energia vital alheia que garante a conservação da energia vital própria. Mas, a cadeia alimentar também é formada e estabelecida por um outro aspecto que é a reprodução dos seres vivos. É aí que a semente sai do fruto, cai na terra e "morrendo" dá origem ao processo de reprodução da espécie vegetal que originou os frutos e as sementes. É aí que de forma sexual o sêmen "morre" no óvulo dando origem ao "ovo" e nele ao processo de reprodução dos portadores de sêmens e óvulos oriundos de cada espécie animal. Se a primeira chama devoradora ou digestão é feita a partir da destruição das espécies em prol da conservação corporal da própria espécie, já a segunda digestão é feita a partir da "destruição" dos princípios vitais da própria espécie em prol da sua mutação em corpos da própria espécie.


É nesse processo de reprodução que o "comer" adquire um sentido novo, um sentido que não é o da exploração e sim o da criação ou produção da vida a partir da digestão dos próprios princípios vitais (sementes, sêmens, óvulos), adquire o sentido de cooperação criadora ou de autodigestão criadora, melhor, como encontro da chama devoradora duma espécie com a chama devoradora da própria espécie tendo por resultado a aparição duma nova chama devoradora da própria espécie, quer dizer, um aumento da própria espécie. Só aí cada espécie se relaciona com sua própria espécie como a fonte de sua própria vida (não me refiro, claro, ao canibalismo), só aí o alimento interno que reproduz a espécie não é uma exploração devoradora das espécies e do meio ambiente, mas, ao contrário, se mostra um devorar criador do desenvolvimento das espécies e do meio ambiente.


Quando o "comer" da chama devoradora é digestão dos demais para conservar a si mesma, aí a relação
é de supressão dos demais. E, quando o "comer" da chama devoradora é digestão de outra chama devoradora semelhante a si mesma, quer dizer, é digestão mútua das chamas devoradoras da mesma espécie no encontro duma com a outra, aí então a relação é de criação de mais chama devoradora da mesma espécie. Num caso, se faz a falta dos outros; no outro, se faz o excesso dos mesmos.


Este aspecto de ser o devorar criador do alimento interno desenvolvedor das espécies e do meio ambiente deu origem entre os humanos à agricultura e à criação ou cultura dos rebanhos. As fontes vegetais e animais de energia vital foram desenvolvidas nos seus processos próprios de reprodução para atender à chama devoradora dos humanos das espécies digeridas para conservarem a energia vital de seus corpos humanos. Mas também os próprios humanos ao se reproduzirem ou se cultivarem nos seus processos próprios de reprodução passaram a ser usados e explorados como fontes de energia no desenvolvimento da agricultura e da pecuária e na indústria artesanal a partir de matérias-primas da agricultura e da pecuária e da exploração e manipulação criativa dos minerais. Exceto nos casos de canibalismo que iguala o cultivo de rebanhos humanos com os dos rebanhos animais para digestão alimentar, a regra foi o uso e exploração dos rebanhos humanos nas atividades agrícolas, pecuárias, artesanais, industriais, extrativistas etc., de modo que enquanto essa prole humana gastava sua energia nas atividades de exploração produtiva, já os seus tutores humanos usufruíam do excesso produzido por essa prole humana.


A própria reprodução humana passou a ser explorada como forma de aumentar os cultivadores humanos da agricultura, da pecuária, do artesanato, da indústria. E, desse modo, o aumento populacional passou a significar o aumento da produção agrícola, pecuária, artesanal, industrial, extrativista, mas, ao invés desta produção aumentada ficar com a própria prole cultivadora da mesma ela vai para as mãos dos tutores da prole.


Viver é o eterno retorno do poder e do comportamento explorador do humano pelo humano ou é a mudança libertadora do eterno retorno do poder e do comportamento explorador do humano pelo humano, quer dizer, mudança liberta da exploração e do retorno da exploração?!


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Quando e como?! [II]




Nunca pensei que chegaria nesse ponto: Morrer talvez seja a atitude mais saudável!


O que é viver atualmente? É ser esperto, manipulador, dominador, enfim, ser explorador. Isso é ser vivo, saudável. Mas, para quem? Para quem explora. E para quem é explorado? Isso é morrer, é adoecer, melhor, é ser morto, é ser adoecido. Que quem é explorado se levante contra o viver atual e dele queira se libertar parece algo muito aceitável e verdadeiramente saudável, afinal, quem quer viver adoecido e sendo morto dia a dia? Mas quando se levantar e se libertar do modo de vida atual se torna precisamente a atividade de praticar o modo de vida atual, quer dizer, a atividade de ser esperto, manipulador, dominador, enfim, de ser explorador?! Quer dizer, mas quando se levantar e se libertar de ser explorado significa apenas se tornar explorador?!


E não se trata aqui de meramente virar a casaca ou de trair o lado dos explorados passando para o lado dos exploradores. Se trata de verificar que o levante e a libertação dos explorados se afirmam unicamente como queda e prisão dos exploradores sob o domínio e exploração dos novos exploradores, que são precisamente os antigos explorados. E, nesse caso, o que passa a ser o novo viver, o novo modo de vida?! Não é uma mudança do anterior, uma transformação do anterior?! Não é uma revolução do modo de vida anterior que eleva quem estava abaixo e bota abaixo quem estava em cima?! Uma revolução que muda a classe que está no poder?! É tudo isso, com certeza, mas é, ao mesmo tempo, a conservação de um mesmo modo de vida estrutural. a conservação de um mesmo poder, ou seja, permanece sendo intacta e integramente o mesmo modo de vida estrutural que é a exploração, o mesmo poder que é o poder da exploração.



Desse modo, aquilo que se afirma no Manifesto do Partido Comunista: "(...) a história até aqui tem sido sempre a história das lutas de classes (...)" em lugar de apenas ter sido passa a ser, foi, é e será sempre, logo, o conceito mais apropriado não é mais o da emancipação da exploração do homem pelo homem e sim o do eterno retorno da exploração do homem pelo homem, melhor, o do eterno retorno do super-homem. E, para o super-homem, o homem é apenas uma ponte entre o animal e o super-homem de modo que o homem pode sempre ser subjugado e explorado, mais ainda, precisa sempre cair e ser explorado para que se erga e o explore sempre o super-homem.


Numa situação dessas é evidente que não há nenhuma saída do modo de vida dominante, o da exploração do homem pelo homem em prol do super-homem. Portanto, é nesse caso, que fica evidente não haver saída da doença para a saúde, mas, ao contrário, fica evidente que só há agravamento da doença ou passagem e continuidade duma doença para outra ainda mais profunda, portanto, repito, é nesse caso, que se coloca a possibilidade de ser, talvez, mais saudável morrer. Ora, na história do pensamento filosófico quem defende que o mais saudável é não ter nascido e, em segundo lugar, que ao ter nascido que o melhor é morrer logo, cedinho, é precisamente quem defende o eterno retorno da exploração. Ou seja, este critério de saúde, a opção pela própria morte, pelo aniquilamento, pelo niilismo é apresentado como solução pelos que defendem o critério da grande saúde como sendo o inerente à natureza exploradora que se desenvolve explorando desde sua natureza de simples animal até chegar à do complexo super-homem. Morrer é visto como mais saudável para deixar o caminho livre para os exploradores perseverarem no caminho da grande saúde da exploração que é viabilizar o advento do super-homem ou do eterno retorno da exploração.


Então, existe uma outra saída?! É possível deixar de ser explorado sem se tornar um explorador?! É possível o fim das lutas de classes e das sociedades de classes?! Quando e como?!