quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Interdito ou a consciência da liberdade




Qual a situação na qual me encontro e na qual adentro sempre mais e mais por não encontrar alternativa? É a situação de interdito e para a qual não encontro nenhuma outra resposta para a pergunta: Que fazer?


Ora, se é sempre e cada vez mais interdito a condição na qual me encontro, então a resposta para a pergunta "Que Fazer?" seria sempre e cada vez mais libertação para sair da condição na qual me encontro, certo?!


Não! Não existe nada certo no caso porque a interdição crescente só ocorre na medida que procuro preservar a liberdade, na medida que procuro me libertar da quase totalitária manipulação que é feita da minha liberdade, quer dizer, da quase total negação da minha liberdade que é feita em nome da minha liberdade. Quem está me interditando? Aqueles que me querem livre para fazer o que eles querem que eu faça ou eu que me impeço de ser livre para fazer aquilo que eles querem que eu faça?!


A minha interdição tem dois aspectos. Num deles eu posso me sentir livre para fazer tudo que o mundo e os afeitos ao poder querem que eu faça e aí este aspecto se apresenta para mim como sendo a liberdade da prática ou de tudo aquilo que é e pode ser aceito como livre prática, mas ainda nesse aspecto eu permaneço interdito e não disponho de liberdade nem de poder para fazer sequer o mais mínimo do que eu quero. No outro aspecto, eu posso perceber a minha mais mínima liberdade como a recusa a fazer o que o mundo e os afeitos ao poder querem que eu faça e aí eu posso também sentir que disponho da liberdade de recusar tudo aquilo que pode ser e é aceito como livre prática, como liberdade da prática para fazer o que o mundo e os afeitos ao poder querem que eu faça, logo, a única e mínima liberdade da qual realmente desfruto é liberdade de interditar o mundo e os afeitos ao poder e de respeitar a minha interdição de não dispor de liberdade nem de poder para fazer o que eu quero, ainda que disponha da liberdade de recusar-me a fazer o querem que eu faça.


A liberdade para a qual eu posso dizer sim é a liberdade de ser farsante, de ser mundano, de ser conforme com a prática mundana e de poder. E a recusa dessa liberdade de dizer sim é a pequena liberdade de dizer não e, assim, me manter autêntico, de me manter eu mesmo, conforme com a prática de ser eu mesmo e de poder recusar o que não está de acordo comigo mesmo, ainda que não seja a liberdade de fazer o que eu quero, quer dizer, ainda que não seja a saída da interdição ou da condição que me impede de fazer o que eu quero, melhor, de ser livre.


Ao optar pela liberdade da farsa eu opto por ser apenas aparência e pelo esquecimento da minha essência interdita. Ao optar pela liberdade da autenticidade eu opto por ser a aparência da interdição e por lembrar da vivência da interdição da minha essência.


No primeiro caso, com a aventura da farsa eu esqueço que permaneço prisioneiro e de que só sou sujeito no sentido de assujeitado ao que quer o mundo e os afeitos ao poder, quer dizer, só sou sujeito assujeitado ao outro. No segundo caso, com a desventura da autenticidade eu lembro que permaneço prisioneiro e que mesmo assim consigo ser sujeito no sentido de não me assujeitar ao que quer o mundo e os afeitos ao poder, quer dizer, consigo ser sujeito assujeitado a mim mesmo.


No primeiro caso, filosoficamente, está em ação a tendência da filosofia mundana ou positiva, quer dizer, aquela que adota o ponto de vista do momento de realidade, melhor, do mundo e dos afeitos ao poder. No segundo caso, filosoficamente, está em atividade a tendência da filosofia conceitual ou negativa, quer dizer, aquela que adota o ponto de vista do momento da crítica, melhor, da essência e do seu poder de recusar a aparência.


A resposta ao "Que Fazer?", no primeiro caso, é se lançar na aventura da prática de conformação ao mundo e aos afeitos ao poder. Já no segundo caso, a resposta ao "Que fazer?" é se manter na desventura da prática da crítica ao mundo e aos afeitos ao poder,melhor, é se manter na prática da resistência e da sinalização de vida da essência.


Se conformar com esquecer a interdição da essência e não se conformar e resistir com a lembrança, melhor, com a consciência da interdição da essência. Se apresentar como a consciência da liberdade da prática mundana versus se apresentar como a consciência da interdição da prática essencial.


Em torno de que gira todo este texto? Todo este problema deste texto? Toda a problematização deste texto? Gira em torno do seguinte: A prática e a crítica oriundas diretamente da essência estão interditadas, mas restam a prática e a crítica oriundas diretamente da consciência da interdição da essência. Noutras palavras, o texto trata das armas da crítica porque ao recusar a prática mundana cria o espaço da consciência, do conceito e não trata da crítica das armas porque esta é oriunda da essência que se liberta da interdição, logo, de algo a que a consciência da condição atual ainda não chegou e que considera que a essência também ainda não chegou dado o seu grau de interdição.


Assumir a consciência da interdição da essência é o "Que Fazer" que se apresenta na atualidade e que pode vir ou não vir a conquistar a libertação da interdição da essência, mas é só passando pela atualidade como consciência da interdição da essência que, talvez, se chegue ao vislumbre da libertação da essência. Portanto, o "Que Fazer" que eu assumo é o da consciência da interdição da essência, é o da consciência do problema, é o assumir conscientemente o problema da interdição da essência para que com ciência possa buscar a solução que, certamente, é a libertação da essência.


sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Sair: A opção pela denúncia, pelo levantamento do problema.


Eu acredito que para muitos parecerei ridículo e pretensioso, mas, infelizmente, para eles e mesmo para mim, eu acredito que esta é a melhor alternativa. Acredito que em todos os movimentos atuais, revoluções coloridas, dos acampados de Wall Street, dos indignados da Espanha, das primaveras árabes, da oposição na Venezuela, das jornadas de junho no Brasil as redes sociais aparecem em destaque como viabilizadoras de novas formas organizativas, mas também que aquilo que não aparece é precisamente estas coisas que não são feitas diretamente pelas pessoas que se encontram nas redes e sim pelos interesses do Facebook e dos grupos que se organizam na rede do Facebook, ou seja, existe sim uma direção vertical e não-horizontal no interior desse novo fenômeno de mídia que parece ser bem mais manipuladora do que as antigas direções de vanguarda porque, ao contrário daquelas que tinham seus próprios meios de expressão (jornais, revistas, livros) dos quais eram diretamente responsáveis pelos direitos autorais, as atuais se apoderam diretamente dos direitos autorais dos usuários ou enquadram os usuários em determinados perfis de modo que assim classificados eles participam da rede dentro dos limites a eles (pré) destinados. Ou seja, os usuários são classificados, segmentados e possuem um alcance e influência (pré) determinados de modo que a resultante de seus movimentos é controlada ou é expressa sempre como movimento civil da opinião pública ou social, melhor, é sempre na condição de coro (para usarmos um termo da tragédia e do teatro) para as ações decisivas dos protagonistas, ainda que em certas ocasiões os protagonistas estejam já ali junto com o coro (oposição na Ucrânia e na Venezuela, em geral, as oposições nas chamadas revoluções coloridas; a Irmandade Muçulmana esteve meio à margem do coro da primavera do Egito, aliás, nesta os militares nunca saíram do poder e apenas puderam reprimir a Irmandade Muçulmana numa escala maior do que anteriormente). Acredito que toda esta pretensa liberdade da internet é a instituição da mais extensa e intensa sociedade de vigilância e que é baseada não na mera repressão e sim no incentivo ao nosso exercício ativo, ao uso de nossa força de trabalho, baseada na promoção do nosso poder mas dentro dum ambiente que é efetivamente o do Big Brother, efetivamente o da vigilância que lucra com as atividades e os exercícios de poder dos próprios vigiados porque são tais atividades e exercícios de poder que produzem mais-valia para a vigilância do Big Brother.




Carlos Eduardo - Estou desativando o meu Facebook por sua causa e de outros. A explicação está na última postagem do meu blog. Eu nunca solicitei sua amizade e não me recordo de você.

Paula Máiran - Eu também não sei quem é vc e não me recordo de ter pedido que me adicionasse. Não entendi que mal causei, mas certamente não houve intenção. Não entendi nada.

Carlos Eduardo - Tudo bem, mas o mal é o seguinte: Quem é o sujeito da sua história? Quem é o sujeito da minha história? Quem são os sujeitos nas nossas histórias? A Tânia que aparecia como sua amiga me disse que não a conhecia. Porque ter pessoas desconhecidas presentes no nosso Facebook? E como se fossem conhecidas? Isso é um Big Brother? Não me refiro apenas ao atual mas ao antigo e original Big Brother

Paula Máiran - Eu vi agora que conheço alguns dos seus amigos. Como o Fernando e a Fátima. Não me lembro do porquê de ter te adicionado, mas raramente posso adicionar pessoas mesmo sem conhecer se curto o conteúdo, se vejo afinidade nos ideais.

Paula Máiran - Se isso incomoda a você é só bloquear.

Carlos Eduardo - Isso não aconteceu só com você. No passado eu fiz o bloqueio de 3. Mas é algo pior, eu vi que o Facebook registrou eu solicitando sua amizade. Ora nunca poderia imaginar o seu nome e muito menos solicitar amizade sem conhecê-la. Então é o Facebook ou alguém nele que está querendo dirigir minha vida, meus contatos etc. Muito tempo atrás eu descobri que tinha um perfil público que eu não tinha criado, logo, estava sendo tachado e etiquetado por alguém com aquele perfil. Isso me incomoda e muito mesmo. Eu vou sim desativar minha conta no Facebook, mas foi bom ter falado contigo.

Paula Máiran - Tudo bem. Isso é grave se o face convida em nosso nome sem autorização. Enfim, tudo de bom pra você.

Razões para desativar exigidas obrigatoriamente pelo Facebook ou explicação sine quae non do Facebook para desativar:

Desativo porque o Facebook faz coisas que atribui a mim. Faz o meu perfil, introduz desconhecidos e registra como convidados por mim, faz uma postagem de fim de ano com minha foto e que quando quero saber o que é nada mostra, exceto um escurecimento da tela. Enfim, porque o Facebook quer ser minha subjetividade, quer agir no meu lugar, me enquadrar num lugar, quer fazer a minha história, quer me usar e não ser um serviço que eu use, quer inverter a relação e com isso me nega como sujeito. Essa é a explicação.





quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Sair ou não sair, eis a questão



Vou sair do Facebook porque ele faz coisas que eu não faço e as atribui a mim. Pessoas que eu não conheço diretamente entraram para minha lista de amigos sem meu convite e sem que eu as conheça. Outras pessoas que eu conheço parece que as conhecem mas eu não sei, já que perguntei a uma amiga se conhecia Paula Mairán e ela disse que não e, no entanto, o Facebook as coloca juntas como amigas que entraram juntas e, mais ainda, registra que eu solicitei a amizade de Paula Mairán. Ora, eu não a conheço e nunca poderia ter solicitado sua amizade e nem mesmo imaginado esse seu nome - Paula Mairán -. Outra pessoa, melhor, nome que aparece como conhecido de pessoas que eu conheci ou conheço é o de Helbson D'Ávila e este eu cheguei a fazer comentários de texto que ele postou duma tal de Cristiane Rubão e ainda a respeito do link que ele forneceu para o decreto da Dilma dos Conselhos Populares e, depois disso, como quê vencido pelo "costume" (?) - teria isso alguma relação com o direito consuetudinário? - eu o admiti numa lista de "melhores amigos".


Hoje, deve passar um pouco duns 30 minutos atrás, eu entrei no Facebook e vi uma foto minha no centro duma postagem a respeito do meu ano. Fiquei curioso para saber o que era aquilo, talvez uma novidade do Facebook, e cliquei em cima, nada aconteceu, exceto que após algum tempo a tela escureceu um pouco. Procurei saber como me livrava daquilo e achei um lugar que clicando a excluía, cliquei e apareceu uma telinha com perguntas do Facebook querendo entender porque eu queria excluir e escolhi uma das alternativas da telinha e apareceu outra na qual novamente escolhi uma das opções e aí apareceu outra e depois de "pesquisar" um pouco nesta última desisti e voltei e não mais encontrei a tal postagem.


De repente percebi algo que me chamou a atenção: Vi uma lista com 16 entrei nela e só tinham 4, vi outra que anunciava ser composta de 24 entrei e contei e recontei 22. Comecei a pensar que eu não sei como corrigir estas coisas e nem o Facebook facilita para que eu consiga corrigí-las, pelo contrário ele registra - pretensa solicitação de amizade com Paula Mairán - que eu fiz coisas que eu tenho absoluta certeza de não ter feito. Lá atrás eu lembro que certa vez eu vi que ele apresentava um perfil da minha conta - de como ela era vista pelos outros - que eu nunca e digo nunca no sentido de em momento algum desenvolvi como apresentação do perfil desta minha conta do Facebook. Aí eu alterei.


Mas, por tudo isso, hoje eu estou pensando diferente. Essa minha atitude de não ligar para a aparência para o exterior é um defeito que já carrego faz muito tempo e que não vem me proporcionando nenhum benefício, mas, ao contrário, me traz malefícios. A atitude de deixar que "os cães ladrem enquanto a caravana passa" pode ser muito bem intencionada mas sofre com a falta de atenção para com a aparência expressa como sabedoria por uma mulher da Roma antiga: "Não basta ser honesto, é preciso parecer honesto". Noutras palavras, é muito importante representar a si mesmo e defender a sua comunicação para o mundo e não aquelas comunicações do mundo que negam a sua comunicação, ou seja, a aparência não é apenas algo inessencial e com o qual não é preciso se ocupar porque a essência também precisa aparecer com uma aparência e esta precisa ser o mais possível a aparência da essência, caso contrário, pode ocorrer o descarte do essencial meramente por estar confundido com a aparência do inessencial. Ora, isto se constitui num sofrimento para quem sofre o descarte.


Essa minha atitude é muito similar a de quem se torna vítima ou fica na condição de vítima ou de objeto de bullying, quer dizer, precisamente da violência que só se ocupa com a aparência para o exterior. Ora, eu não sei mais qual é a minha aparência para o exterior, mas eu objeto ou vítima da aparência que atribuem a mim, aparecendo como amigo de quem não sou, mesmo que se conhecendo pudesse vir a ser, porque tudo isso caminha no sentido da interdição da minha essência, da minha subjetividade, já que ela se torna a "essência", a "subjetividade" que atribuem a mim e não aquela que efetivamente expressa a mim, ou seja, já que desse modo me alienam de mim mesmo ou me tornam um alienado e com o meu próprio consentimento se permaneço aceitando essas estranhezas como algo normal.


Vou postar um link para isso aqui no Facebook e aguardar um pouco se vem alguma ajuda de algum leitor e avaliar em seguida a questão: Sair ou não sair do Facebook?

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Quem viver, verá?!




O problema todo da atualidade pode ser resumido numa oposição antagônica entre o Estado de Direito ou a Democracia nascida da emancipação política do Ancien Régime versus o Estado Absolutista ou a Ditadura mantida pela repressão política do Ancien Régime.


A direita capitalista passou a adotar o Estado de Direito e a Democracia e a rejeitar o Estado Absolutista e a Ditadura, mesmo que no passado recente tivesse apoiado as Ditaduras em nome da Segurança Nacional, ou seja, como Regimes de Exceção frente à ameaça da sua Segurança Nacional. Agora, pelo contrário, passou a exaltar a Democracia e o Estado de Direito e a recusar apoio às Ditaduras e Regimes de Exceção impostos em nome da Segurança Nacional. De modo que a direita capitalista pode muito bem estar fazendo movimentos políticos civis pela Democracia e pelo Estado de Direito em diferentes partes do mundo e, assim, ser ou ficar confundida com a esquerda democrática e socialista que tradicionalmente faz esses movimentos políticos civis. A esquerda socialista que, chegando ao poder, legitima um Estado Revolucionário e Transitório como um Regime de Exceção Permanente formalmente similar ao Ancien Régime e que se autojustifica como a aplicação da doutrina da Ditadura Revolucionária do Proletariado está se retraindo e, crescentemente, adotando reformas que caminham para o reconhecimento do Estado de Direito e da Democracia como instituições desejáveis e permanentes.


Quem na atualidade verdadeiramente assume a defesa e aplicação do Estado Absolutista ou da Ditadura do Ancien Régime como Norma (e nunca como Exceção) é o Fundamentalismo Religioso que se baseia na exaltação da mais estrita repressão política justificada pelo Abolutismo Teocrático ou Religioso do seu Fundamentalismo.


Quem efetivamente se encontra fora da atualidade é a emancipação social, melhor, na atualidade a emancipação social só se encontra ainda dentro da emancipação política, dentro das lutas pelos direitos humanos ou civis que são garantidos pelos direitos políticos ou cidadãos conquistados com a emancipação política. Ou seja, a emancipação social se vier a se desenvolver será a partir da emancipação política e terá um viés inteiramente revolucionário, no sentido de novo e sem mais nenhuma relação com aquelas emancipações do Socialismo e do Comunismo Realmente Existentes. Quem viver, verá?!




domingo, 21 de dezembro de 2014

O que é estritamente atual? Democracia e fundamentalismo religioso! Socialismo é apenas o eterno retorno edipiano?!!




Aquilo que se mostra estritamente atual são os movimentos inseparáveis da emancipação política, ou seja, todos aqueles afirmadores dos direitos políticos e dos direitos humanos e também os movimentos inseparáveis do aprisionamento no fundamentalismo religioso de modo que só parecem existir lutas de emancipação política por toda parte e lutas contra a emancipação política e por regimes religiosamente fundados e fundamentados sem quaisquer direitos (políticos e humanos) exceto os permitidos pelos deveres religiosos.



Nessa realidade atual os socialismos e os comunismos reais sofrem por não terem conseguido afirmar e desenvolver de forma plena os direitos políticos e humanos, mais ainda, por perceberem que, em lugar de desenvolverem uma emancipação social ou humana, desenvolveram um fundamentalismo ou dogmatismo "social" que se mostrou muito mais religioso do que social, muito mais sem direitos políticos e humanos do que uma emancipação social humana superior à emancipação política, muito mais um regime de vigilância política e social do que de liberdade política e social. E, como, boa parte dos comunismos reais sofre por ter consciência dessa sua limitação política e social tem ocorrido no seu interior processos reformistas que visam encontrar um caminho para superar essa limitação que sua consciência reconhece ser uma qualidade dos países que só fizeram sua emancipação política e aperfeiçoamentos da sua emancipação política, os quais, por sua vez, são todos eles capitalistas, sejam mais ou menos desenvolvidos.



A hegemonia da emancipação política, que está em perfeita harmonia com um mundo descolonizado em sua grande maioria de países, está conduzindo os movimentos socialistas e comunistas a se desfazerem do fundamentalismo ou dogmatismo "social" aplicados pelos comunismos reais e também está conduzindo boa parte dos próprios países do comunismo real a reformas que permitam uma saída do fundamentalismo ou dogmatismo "social". O resultado geral disso tudo se mostra por um lado precisamente como um processo de retorno aos fundamentos dos socialismos e dos comunismos, seja através de estudos das suas teorias (daí os diferentes retornos - das diferentes abordagens - a Marx), seja através dos estudos históricos dos movimentos socialistas e comunistas e dos países socialistas ou comunistas reais, seja através dos estudos do desenvolvimento econômico e social ou sistêmico da realidade capitalista dominante na qual se encontram inseridos tanto os movimentos socialistas quanto os países socialistas reais, seja, finalmente, através dos estudos dos aperfeiçoamentos teóricos tornados possibilidades efetivas com as realizações práticas do desenvolvimento sistêmico-econômico-social do capitalismo dominante. Por outro lado, se mostra como um processo de sucessivas posições aplicadas pelos movimentos socialistas e pelos países socialistas reais no curso de suas lutas sociais e políticas e de acordo com as conjunturas políticas e sociais, ou seja, se mostra como resultante da prática e do pragmatismo políticos, como posições inseridas e coerentes com o contexto social e político, portanto, podem se mostrar como contraditórias entre si e, mais ainda, a consciência pode justificar tais contradições. De fato, a história dos partidos comunistas reais é feita das sucessivas frações, tendências e linhas aplicadas em determinados períodos históricos e de acordo com as variações conjunturais. Desse modo, o zigue-zague é a história social natural dos partidos socialistas e dos partidos socialistas reais e se encontra em harmonia com o monolitismo destes partidos.



O monopólio do partido dum país socialista real não elimina apenas a liberdade política de outros partidos mas também a liberdade política de suas frações, tendências e linhas políticas divergentes de modo que o Estado e o partido se confundem. É bom lembrar aqui que Marx considerava que os comunistas não formavam um partido à parte dos partidos proletários e que se constituíam sim numa fração dos partidos proletários, mas isso deve ser interpretado como a existência de um partido monolítico dentro do qual os comunistas desempenham o papel da sua melhor fração devido à sua compreensão teórica do conjunto do movimento histórico e devido à sua maior capacidade de decisão e aplicação práticas, portanto, estão destinados a dirigir e exercer o poder dirigente do partido ou isso pode ser interpretado pela existência de um partido pluralista, logo, composto de diversas frações ou até mesmo diferentes partidos mas que não se constituem em partidos à parte do proletariado e sim em partidos que funcionam como frações daquilo que num sentido histórico e social amplo configura o partido proletário?! A primeira interpretação é o problema histórico e concreto dos partidos dos países socialistas reais. A segunda interpretação só pode ser compreendida como aquela que foi aplicada por Marx na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) e que desde o surgimento dos partidos sociais-democratas deixou de ser compreendida e aplicada precisamente por terem adotado a primeira interpretação e a teoria chamada de marxista, termo que foi cunhado por Bakunin, o principal adversário de Marx na AIT, termo em relação ao qual Marx se posicionou declarando que não era marxista (declaração que explicava também porque ele não defendia na AIT pontos programáticos, como a abolição do direito de herança, que havia defendido no Manifesto do Partido Comunista, de onde retiramos a consideração a respeito das relações dos comunistas com os proletários), ou seja, Marx foi concebido como uma seita chamada marxismo pelo seu adversário na AIT e como esta interpretação foi levada adiante pela social-democracia e pelo comunismo real que optaram pela doutrina de Marx, o dirigente da AIT, e não pela doutrina de Bakunin, o expoente da maior corrente de oposição dentro da AIT.



Esta possibilidade de interpretação do Manifesto do Partido Comunista como a interpretação que foi aplicada por Marx na AIT e defendida por ele como uma posição aberta, por ser capaz de mudar junto com a compreensão do conjunto do movimento histórico e junto com a capacidade de aplicar consequentemente tal mudança na prática, abre a perspectiva da compreensão do poder proletário como uma comunidade de discussão e ação da qual participam as diferentes frações, tendências, linhas e partidos proletários de modo que o monopólio é da comunidade de discussão e ação e não de suas frações, tendências, linhas e nem de seus partidos. Aliás, Marx não exaltou a Comuna de Paris de 1871 precisamente por sua criação desse novo tipo de poder?!



Se o Estado burguês permite a participação de diferentes partidos e se os partidos de trabalhadores lutaram para conquistar o reconhecimento de suas existências e a participação no Estado burguês, então o Poder Proletário ou a Comuna Proletária permite e reconhece a participação de diferentes partidos de trabalhadores incluindo aí os dos camponeses (fração pequeno burguesa) e os partidos dos inventores (de meios de produção, que tendem a ser ou se identificar com os burgueses) e dos administradores (dos meios de produção, que tendem a ser ou se identificar com os burgueses).



Mas, enquanto não existe uma associação geral dos trabalhadores ou uma comuna dos trabalhadores, quer dizer, o seu poder proletário, é perfeitamente possível que suas frações, tendências, linhas, correntes se organizem em partidos ou em organizações diferenciadas que admitem estar participando e disputando a influência política dentro de um mesmo campo de abrangência que é o proletariado. Mais ainda, de forma consequente, serão levados a admitir que são componentes deste campo abrangente denominado proletariado e também que a posição majoritária de um dos componentes frente às posições minoritárias de vários outros componentes não significa de modo algum que esta posição majoritária é o proletariado ou o partido do proletariado enquanto que as demais posições minoritárias não são o proletariado nem o partido do proletariado. Ao contrário, o proletariado ou o partido do proletariado é formado pelo conjunto de suas frações ou partidos, tanto das frações ou partidos majoritários quanto das frações ou partidos minoritários. Na verdade, tanto as frações majoritárias quanto as minoritárias estão construindo o partido proletário, já que ainda não existe a sua associação geral ou a sua comuna ou o seu poder proletário. E este último só poderá vir a se viabilizar quando todas as frações, majoritárias e minoritárias, compreenderem que são partes da construção desse poder e, portanto, quando estiverem dispostas a afirmar não apenas a sua diversidade mas também a sua unidade.



Isso é apenas uma apreciação que, levando em conta a espécie de beco sem saída do socialismo real, se apoiou num pouco de retorno à teoria, quer dizer, à Marx, mas lembrando que ele desenvolveu uma teoria que aplicou no seu tempo, logo, um pouco de retorno à sua prática histórica, mas, infelizmente, não é uma apreciação que se tenha baseado no desenvolvimento histórico-sistêmico-econômico-social e menos ainda nos avanços teóricos resultantes do desenvolvimento histórico. A única constatação é que são atuais os direitos políticos e humanos proporcionados pelo desenvolvimento da emancipação política e a posição contrária que só admite a atualidade dos deveres religiosos oriundos do desenvolvimento do fundamentalismo religioso. Esta constatação da atualidade da democracia política versus a teocracia fundamentalista se baseia numa outra constatação: O problema do socialismo e do comunismo real é estar vivenciando a fábula trágica de Édipo-Rei, ou seja, a auto-condenação à renúncia de seu poder e o retorno do mesmo a como era sob seu pai, ou seja, o retorno ao capitalismo. Ao vivenciar tal situação edipiana o socialismo e o comunismo reais se descobrem céticos em relação ao seu anterior fundamentalismo ou dogmatismo e também sem quaisquer perspectivas de saída do capitalismo, melhor, só lhes resta a esperança de que o capitalismo no seu desenvolvimento próprio chegue ao socialismo e ao comunismo porque eles, edipianos, não conseguiram chegar e sim apenas voltar ao capitalismo numa fase de desenvolvimento mais avançada.




sábado, 20 de dezembro de 2014

Farsas e autenticidades



Vim aqui (no Facebook) para achar uma enxurrada de postagens a respeito do novo cenário que se anuncia, o da quebra da Petrobrás e da angústia quanto ao destino do seu espólio (estatal ou privado? nacional ou multinacional? estatal nacional ou privado nacional? estatal multinacional ou privado multinacional? privado multinacional ou privado internacional?). Nada achei. Fico me perguntando se o silêncio é prenúncio da tragédia tal qual a calmaria é da tempestade?! O materialismo capitalista que reduz o trabalho a mero meio de vida, a mera abstração quantitativa (essa atividade de manipular, explorar e corromper) e separada de toda concretude qualitativa e vital foi praticado em seu grau máximo precisamente para destruir as forças produtivas da Petrobrás e do seu contexto de modo a manter e aprofundar as relações de produção capitalistas que condenam a Petrobrás e o seu contexto (o país e a região latino-americana) a permanecer eternamente mero meio de vida. Mas, esse é o serviço "revolucionário" dos governos do PT?!?!?!?! A "revolução" é concebida como resultante do "quanto pior, melhor"?! Mas, isso não é precisamente favorecer a "contrarrevolução"?!?!?!


http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2014/12/wanderley-guilherme-o-governo-deve-satisfacao-a-quem-o-elegeu-1204.html


Será que Dilma está repetindo a história de João Goulart que caminhou para um governo inviável e ao qual só restou a dignidade de sofrer o golpe?! A história se repete, mas, acrescentava Marx, como farsa. E qual a resultante da farsa atual?! A vitória da reforma democrática feita na marra ou a vitória da democracia vigente mantida nas armas?! Ou será que a atual constante referência ao golpe civil militar de 64, digo, ao aspecto civil do golpe de 64, consciente ou inconscientemente, quer trazer à tona a luta ou guerra civil que não ocorreu em 64?! Re-volução e re-ação possuem em comum a repetição que impõem uma à evolução e a outra à ação, mas enquanto uma gira em torno de si ou de sua evolução já a outra contraria a ação do outro ou de sua evolução. E se ambas repetem, então são ambas farsas?! Onde estará e com quem andará a autenticidade atualmente?!


https://ninja.oximity.com/article/Queremos-respirar.-Protesto-contra-a-P-1


Mas, os novos movimentos de Obama e do Papa Francisco e de Raúl Castro são uma retomada dos movimentos civis da época de Luther King, do Papa João XXIII e da coexistência pacífica de Khrushchev? São repetições e, portanto, farsas?! Sim, podem ser repetições e, portanto, farsas, mas, há algo da autenticidade atual. Qual? Por toda parte existe um incentivo e apoio aos movimento sociais civis que derrubam ou abalam governos, mais recentemente isso ocorreu na Ucrânia e na Venezuela, respectivamente. Os líderes dos movimentos civis na Ucrânia e na Venezuela são considerados de direita, mesmo assim estão situados na posição de lutadores pela liberdade, lutadores pela democracia, ou seja, o que está em vigor na atualidade é o incentivo e o apoio aos movimentos sociais civis que conduzam à liberdade e à democracia, logo, movimentos que afastem a perspectiva do terrorismo, especialmente, o terrorismo atual, o dos que se dizem fundamentalistas religiosos. Ora, o tal do "terrorismo" cubano não é fundamentalista religioso e, até mesmo, é contrário ao terrorismo dos fundamentalistas religiosos. O Papa Francisco e a Igreja Católica são os maiores representantes na atualidade do ecumenismo, que é precisamente o oposto do fundamentalismo. Raúl Castro é o representante das reformas que visam adaptar Cuba às novas condições de hegemonia global do capitalismo, quer dizer, de ausência de uma autointitulada superpotência comunista real, mas, ainda assim, com a possibilidade de Cuba permanecer um Estado-Nação soberano, independente e autodeterminado. Com a perspectiva de fim do bloqueio todas as atuais reformas de Cuba (admissão da propriedade privada, do empreendedorismo e de maiores e livres iniciativas individuais) que vem sendo implantadas de forma soberana, independente e autodeterminada encontrarão sua razão de ser ou finalidade na criativa adaptação de Cuba às novas condições mundiais de predomínio do capitalismo globalizado e da democracia e liberdade globalizadas.


A Rússia, que está sob ataque econômico que compreende uma série de medidas até chegar ao bloqueio puro e simples como o de Cuba, no seu processo de luta de sobrevivência e de influência políticas vem fazendo alianças e vem até mesmo financiando os partidos da extrema direita européia. E estes partidos da extrema direita européia estão se consolidando dentro das regras democráticas dos países europeus de modo que o caráter autocrático destes partidos, por um lado, adquire aceitação, popularidade e, mais do que isso, adquire adaptação criativa nos países da União Européia, e, por outro lado, este caráter autocrático manifesta identidade com o caráter autocrático russo e defende a legitimidade das ações do governo de Putin como próprias da autodefesa da soberania, independência e autodeterminação da Rússia.


Tanto Putin quanto a extrema direita européia estão se movendo no mesmo ambiente e no mesmo leque de opções que Obama e os governos da União Europeia, ou seja, estão se movendo no âmbito da política e, nesse sentido, diferem dos movimentos terroristas dos fundamentalistas religiosos. Por sinal, é significativo que o fundamentalismo islâmico tenha sido antes inimigo da Rússia, melhor, da URSS do que dos Estados Unidos e que tenha se tornado, até certo ponto, o inimigo comum da Rússia e dos Estados Unidos, como fica bem visível no caso do grupo Estado Islâmico em ação na Síria que levou os Estados Unidos, apesar de muita resistência, a admitir que o Estado Islâmico é o inimigo principal e um inimigo maior do que o governo sírio de Assad e, assim ainda que não admita, acabou "dando o braço a torcer para a Rússia, que defende o governo de Assad na Síria.


Claro que a maioria das armas produzidas no mundo ainda são dos Estados Unidos e da Rússia, portanto, a suspeita entre eles é mútua e o mercado de armas que disputam abrange os diferentes grupos de fundamentalistas religiosos de modo que costumam ver por detrás desses grupos ações de fornecimento de armas ou de um ou de outro, respectivamente, ou dos Estados Unidos ou da Rússia. E é aí nessa atividade de tráfico de armas que ainda vêem um ao outro como participantes duma "Guerra Fria" entre si e numa "Guerra Quente" entre os fundamentalistas religiosos e seus inimigos ateus e religiosos não-fundamentalistas.


Apesar das diferenças políticas entre Estados Unidos e Rússia e das alianças políticas que fazem na Europa, ambos países incentivam e apoiam saídas, perspectivas e caminhos políticos e lutam contra os diferentes grupos terroristas dos fundamentalistas religiosos. Então, a direção geral para a qual procuram encaminhar o mundo é a do desenvolvimento político, logo, dos direitos políticos civis de modo que a autenticidade, nesse caso, estará nas lutas e com as lutas dos movimentos sociais civis. No outro extremo, estarão não só as resistências aos avanços sociais civis do status quo querendo manter seus privilégios e mesquinharias mas também as atividades terroristas dos fundamentalistas religiosos querendo a instauração dum mundo organizado e ordenado pelos deveres religiosos que são também os direitos religiosos, um mundo fundamentalista e não o mundo sem fé, sem fundamento e sem sentido dos chamados direitos políticos.


A autenticidade está com os movimentos civis de massas (sejam dirigidos pela direita ou pela esquerda) e com os movimentos terroristas de grupos fundamentalistas religiosos. A farsa está com no repetir a história do status quo.





segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O Enigma da Esfíngie



"(...) quando o trabalho não for apenas um meio de viver, mas se tornar ele próprio na primeira necessidade vital (...) a sociedade poderá escrever nas suas bandeiras: 'De cada um segundo as suas capacidades a cada um segundo as suas necessidades!'"

Karl Marx

na "Crítica do Programa de Gotha"




As necessidades vitais são aquelas necessidades que precisam ser satisfeitas para que se possa viver. Quais são elas? Respirar é uma necessidade vital que é satisfeita imediatamente e se, assim não fosse, aquele que a fosse satisfazer por meio de alguma outra coisa antes de respirar morreria por ter ficado sem respirar, por ter ficado fora da necessidade imediata de respirar. Comer e beber, excetuando-se o mamar, são necessidades vitais que precisam antes da coleta, da caça e da pesca ou ainda da agropecuária e do tratamento da água para que seja filtrada ou potável, logo, são necessidades que requerem antes de sua satisfação os trabalhos de coleta, caça, pesca, agropecuária etc. como meios para alcançá-las (aqui apenas mamar é um trabalho de comer e beber ou é uma atividade de trabalho que se confunde com a própria necessidade vital de modo que é possível dizer que o trabalho de mamar é ele próprio a necessidade vital de mamar).


Respirar e mamar são necessidades vitais que são satisfeitas imediatamente com as atividades de respirar e de mamar, ou seja, nelas as atividades ou os trabalhos de respirar e de mamar se confundem com as próprias necessidades de respirar e de mamar de modo que é possível dizer que às capacidades de respirar e mamar correspondem as necessidades de respirar e mamar. Mas e se o trabalho, que compreende as atividades que vão desde a coleta e da caça e da pesca até à reprodução científica dos vegetais e dos animais, chegar a um ponto no qual a sua atividade de trabalho ou capacidade de realização corresponde à atividade da sua necessidade ou da sua necessidade de realização?


Nas atividades de respirar e de mamar capacidades e necessidades se correspondem de forma natural. Nelas, as liberdades de respirar e de mamar são idênticas às necessidades de respirar e de mamar. O trabalho como meio de vida não possui uma correspondência natural com as necessidades que satisfaz por ser ele um artifício que visa alcançá-las e isto precisamente por estarem elas separadas do trabalho. O trabalho como primeira necessidade vital possui uma correspondência natural imediata com as necessidades que satisfaz por ser ele parte inseparável da natureza interna destas necessidades vitais.


Nesse contexto, em lugar do trabalho ser um aprisionante meio de vida ele se torna afirmação natural da liberdade vital ou afirmação livre da natureza vital. Porque nesse contexto ele não é mais uma prisão, uma separação, um artifício, um meio de viver, uma sobrevivência e é sim uma liberdade, uma conjunção/um pertencimento, uma naturalidade, uma necessidade vital, um viver pleno.


Tudo isso está indicado por Marx, mas onde se vê isso sendo decifrado e desenvolvido? Onde se vê isso sendo realizado? Em parte alguma, em lugar nenhum e, especialmente, por nenhum daqueles que se dizem seguidores ou discípulos de Marx, de modo que, até mesmo entre os que defendem Marx, permanece vigorando a concepção do trabalho como um meio de vida, uma prisão, uma separação, logo, aquilo que podem efetivamente realizar ao defenderem o trabalho e os trabalhadores como meios de vida nada mais pode ser do que uma prisão e uma separação ainda mais completas, ainda mais totais.


E nós, aqui, conseguimos alguma coisa? Ao que parece nada conseguimos, exceto questionar e, talvez, despertar, quem sabe, aqui e ali, a necessidade vital do trabalho de decifrar e pesquisar as indicações de Marx. Uma coisa fica muito estampada, o trabalho como meio de vida é similar àquele que na Bíblia foi imposto ao homem por Deus ao ser expulso do paraíso e o trabalho como necessidade vital é similar à criação do paraíso pelo próprio ser humano.





sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Vida humana mortal-e-morte natural imortal



Decifra-me ou te devoro


decifro-te e me devoro

decifro-te e me devoras

decifro-te e te devoro

decifro-te e te devoras


decifras-te e me devoro

decifras-te e me devoras

decifras-te e te devoro

decifras-te e te devoras



Decifra-te ou me devoro


decifro-me e te devoro

decifro-me e te devoras

decifro-me e me devoro

decifro-me e me devoras


decifras-me e te devoro

decifras-me e te devoras

decifras-me e me devoro

decifras-me e me devoras







quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Decifro-te e me devoras!!!??? [V]




Qual é a primeira necessidade vital humana? A resposta pode ser respirar, já que um bebê saudável ou com o corpo em funcionamento "normal" precisa ao nascer antes de tudo de respirar. A segunda necessidade vital é satisfeita pelo bebê com o leite materno que fornece tanto água quanto alimento/comida para o bebê. O bebê também costuma entrar no mundo dos nascidos chorando e esperneando, se agitando todo, costuma, em seguida, alternar do choro para o riso, do sono para a curiosidade com movimentos corporais e dos olhos e experimentações dos sabores pela boca, costuma agarrar e soltar as coisas e fazer contínuos movimentos de braços e pernas como se fosse andar ou estivesse andando, melhor, correndo estando, no entanto, apenas deitado no berço ou no carrinho. Fazer cocô e arrotar são resultantes de se alimentar e respirar.


Quando, como diz Marx, o trabalho seria a primeira necessidade vital humana? Respirar é a primeira atividade vital humana ao nascer, supondo naturalmente que o pulsar do coração já está ativo desde antes do nascimento. Mamar é a segunda atividade vital humana, se não consideramos o choro que acompanha o início do respirar como parte integrante da primeira atividade vital humana. Depois de mamar, e mesmo durante, aparece o riso/alegria e, em seguida, o sono/paz/tranquilidade. Fazer cocô, urinar, arrotar, espreguiçar, acordar cheio de curiosidade/movimentos dos olhos, dos braços e das pernas para todos os lados. É aí nesse conjunto que se encontra o trabalho como primeira necessidade vital humana? Ou a definição do que seja trabalho precisa ser muito bem explicitada para que se possa conceber o trabalho na situação de primeira necessidade vital humana?!


Respirar é se relacionar com todo o mundo natural da vida. Mamar é se relacionar com a particularidade do mundo humano da vida, isto é, com a mama da mamãe de quem saiu o bebê. É esta relação do bebê com a mãe, esta intimidade corporal que é comparada à relação da força de trabalho com os meios de produção de modo que o leite materno resultante do mamar é comparado ao salário necessário à reprodução da força humana de trabalho. A série de atividades do bebê, que começa com o choro e o respirar, passa para o mamar e sorrir, para o sono e o despertar curioso cheio de movimentos dos olhos, braços e pernas, de experimentações pela boca, de agarrar e soltar com as mãos, é nesta série de atividades que se singulariza o bebê como força humana de trabalho? É aí que se situa a atividade de trabalho como primeira necessidade vital humana? Ou seja, esta série é comparável à série de atividades de confecção de instrumentos para coleta, caça, cultivo de vegetais, de animais e de ambiente humano?! Ou é a atividade de ver, sonhar ou alucinar a relação sexual dos pais como forma primeira de aparição da sexualidade genital do próprio bebê, isto é, sua primeira concepção do pênis/sêmen/força de trabalho e da vagina/óvulo/útero/meios de produção?! Onde, afinal, se situa a transformação do trabalho na primeira necessidade vital?!


Aliás, cabe perguntar o que é viver quando o trabalho se tornou a primeira necessidade vital?! Ele afirma nesse texto da "Crítica ao Programa de Gotha" que a força humana de trabalho é também uma simples força natural, ou seja, uma força natural ao lado de outras forças naturais. E qual é a primeira necessidade vital da força natural humana?!


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Utopia ou o quê?! [IV]




Desde a coleta e a caça que os humanos se diferenciam dos demais por produzirem instrumentos e usarem o fogo, mas, depois que eles descobrem como cultivar/domesticar a reprodução vegetal, animal e do habitat humano, eles entram num processo de exploração dos humanos pelos humanos que vai se desenvolvendo de diferentes formas até chegar ao modo de produção da reprodução vegetal, animal e da reprodução humana, ou seja, uma sociedade na qual o pênis e o sêmen são representados pela força humana de trabalho ou pela classe do proletariado e a vagina e o óvulo são representados pelos meios de produção ou pela classe burguesa/capitalista, consequentemente, como se fosse algo natural, o "ovo" e/ou a produção resultante da relação de produção destas duas forças de produção (a força humana de trabalho e as forças industriais dos meios de produção) passa a pertencer à classe mãe ou gest(ad)ora que é a dona dos meios de produção. Em geral, cabe a uma terceira classe ser dona das terras e esta originalmente impunha obrigações de pagamentos à burguesia (classe mãe) e de trabalhos ou serviços à prole camponesa ou ao proletariado (classe tutelada dos filhos). Esta terceira classe dá origem ao grande tutor que se sustenta e desenvolve a partir dos impostos e tributos que as duas outras classes, a classe mãe burguesa e a classe do filho proletariado, são obrigadas a pagar, ou seja, se constitui não só na classe dos latifundiários ou donos das terras da Nação, mas também na máquina de poder tutor do Estado(-Nação) e é representada como sendo a Lei do pai. A classe que efetivamente produz é a do proletariado, a classe que efetivamente se apropria da produção é a da burguesia e a classe, melhor, a máquina de tutela que efetivamente garante que, apesar das diversas mudanças nas relações das classes, permanecerá havendo continuidade e eterno retorno da relação de produção essencial das classes entre si é o pai Estado. É o pai Estado-Nação (dono das terras nacionais) quem interfere garantindo que a mãe burguesia permaneça dona dos meios de produção da reprodução geral e da produção resultante, mas também é quem interfere garantindo que o filho proletariado permaneça dono de sua força humana de trabalho e recebendo o salário justo ou efetivamente equivalente ao valor da reprodução de sua força humana de trabalho.


Aí podemos ver as três grandes classes apontadas por Marx na sua obra de crítica da economia política capitalista, a saber, a classe dos proprietários fundiários, a classe dos proprietários dos meios de produção e a classe dos proprietários das suas próprias forças humanas de trabalho. E elas correspondem perfeitamente aos três grandes tipos de consciências humanas de si nascidos na Grécia Antiga e que atravessam os diversos momentos históricos e que são os estóicos (proprietários fundiários), os céticos (proprietários dos meios de produção) e os epicuristas (proprietários de si mesmos ou das suas próprias forças humanas de trabalho). Aí podemos ver também como o grande tutor, a máquina do Estado, inverte a relação com a prole humana, já que esta inicial e naturalmente nada produz e é mantida pela mãe natural e pelo pai-marido da mãe natural, de modo que é a força humana de trabalho ou a chama devoradora do proletariado que tudo produz e mantém a contínua produtividade dos meios de produção da mãe artificial burguesa e do grande pai artificial de todos e marido artificial da burguesia ou mãe artificial. O complexo de Édipo presente nas relações familiares burguesas tem por pano de fundo estas relações invertidas entre a prole tutelada e o pai tutor e de ambos com a mãe tutora.


Quando é que a prole humana pode nascer sendo imediatamente produtora e responsável por si mesma? Aparentemente é a partir do surgimento do proletariado como classe social produtora, mas é preciso que a prole humana natural seja também imediatamente produtora e responsável por si mesma para que possa vir à tona e à existência efetivamente uma sociedade da humanidade comum, uma sociedade comunista ou dos proprietários comuns dos meios de produção e das terras, ou seja, uma sociedade sem classes sociais e sem (máquina de) Estado. Marx dizia isso na sua "Crítica ao Programa de Gotha" ao estabelecer que é só quando o trabalho se torna a primeira necessidade vital que surge a sociedade baseada no princípio de cada um segundo sua necessidade a cada um segundo sua capacidade.


Mas, isto é um sonho ou quimera que serve apenas para que os humanos continuem fazendo o eterno retorno das lutas e sociedades de classes, melhor, das diferentes versões da sociedade capitalista?!


O que é viver sem explorar?! Oikos?! Domesticação?! Economia?! [III]





O que é viver sem explorar? Como viver sem explorar? Como viver sem consumir o mundo como uma chama devoradora? Como mudar a estrutura do modo de vida explorador? Como mudar o poder explorador? Como se libertar do modo de vida explorador e do poder explorador?


Democracia, Socialismo, Comunismo, Ecologia dizem defender um viver livre, comum, sem exploração e com decidida cooperação. Mas, efetivamente vivem sem explorar?! Todos (Democracia, Socialismo, Comunismo, Ecologia) se dispõem a consumir o mundo como chama devoradora voltada contra ele. Todos estruturam um modo de vida explorador e um poder explorador.


Para viver é preciso respirar, é preciso beber água e é preciso comer. De um modo geral, os vivos respiram e bebem água em perfeita comunhão e sem matarem-se uns aos outros. Mas, na hora de comer tem início a matança de vegetais e animais. Os grupos humanos para comer começam fazendo a coleta de vegetais e a caça e a pesca de animais. E com essas atividades iniciam a confecção de instrumentos, feitos a partir das madeiras, das fibras e dos cipós dos vegetais e das pedras dos minerais. Os animais também coletam e caçam e, até mesmo, fazem instrumentos, mas apenas os humanos se diferenciam dos demais na produção de instrumentos e, especialmente, pelo uso do fogo, a chama devoradora, tanto na produção de instrumentos quanto para proteção do frio e de ataques noturnos, cozinhar e assar alimentos, mas, especialmente, para ver à noite uns aos outros e também para "anotar os sonhos, as imaginações", quer dizer, desenhar nas paredes de cavernas e dançar uns com os outros e, finalmente, para vivenciarem a si mesmos como fogos ou chamas devoradoras na atividade de copular. Das cópulas resulta a reprodução humana e é nela e por meio dela que se descobre que viver não é só consumir ar, água e alimento nem só produzir instrumentos mas também é reproduzir a própria espécie fornecendo alimento próprio e interno no caso da amamentação e alheio e externo no caso da coleta e da caça e pesca. Mas, a descoberta da reprodução não se limita à reprodução humana e a percepção da reprodução vegetal e da reprodução animal dá início à domesticação dos vegetais e animais, ou seja, à cultura dos vegetais ou à agricultura e à cultura dos rebanhos ou à pecuária. E, estas atividades agropecuárias, não só domesticam os vegetais e os animais como também viabilizam a construção das cavernas artificiais que são as habitações e os ambientes artificiais construídos pelos humanos. Este novo habitat artificial humano é resultante da descoberta e uso do processo de reprodução vegetal, animal e humana. O processo de domesticação é um processo de descoberta, uso, desenvolvimento e exploração centrada na reprodução vegetal, animal e humana.


Os produtos da reprodução humana são os filhos, melhor, é a prole humana. E esta se inicia no viver sendo alimentada pela amamentação e, em seguida, com os produtos da domesticação vegetal e animal, portanto, se inicia dentro do processo de domesticação. Esta prole inicialmente só consome os produtos da domesticação e, em seguida, ela passa a ser iniciada no processo de produção da domesticação (agropecuária e indústria do habitat humano) e é a partir daí que surge a base para a exploração da domesticação humana, isto é, surgem os tutores dessa prole humana que, além de a iniciar no processo de produção doméstico, passam a usá-la no processo de produção doméstica como fonte de produtos domésticos que possibilitam aos tutores "reproduzir" para eles mesmos a situação inicial da prole humana, isto é, a de ser alimentado pelo produtos domésticos e de usufruir dos produtos domésticos sem precisar participar diretamente da produção dos produtos domésticos, ou seja, estes tutores se descobrem e desenvolvem como pastores da prole humana desde o seu nascimento e desenvolvimento consumista improdutivo até chegar ao seu desenvolvimento consumista produtivo. E, é nesse momento que os tutores se beneficiam dos produtos do processo de reprodução de modo que consomem ou digerem os vegetais e os animais reproduzidos pela atividade agropecuária da prole humana de forma indireta, porque consomem os produtos resultantes do consumo da força de trabalho da prole humana. Eles não comem diretamente a prole humana, mas, indiretamente, eles comem ou consomem o excesso ou excedente da produção da força de trabalho ou da chama devoradora da prole humana.


O desenvolvimento desse processo de exploração da produção doméstica se faz por meio do desenvolvimento da luta de classes das sociedades de classes até chegar na sociedade de classes atual onde a força de trabalho ou a chama devoradora da prole humana se constitui na classe do proletariado ou de todos aqueles que só possuem sua chama devoradora ou força humana de trabalho, enquanto que os tutores ou os exploradores indiretos do processo de produção domesticado se constitui na classe da burguesia ou daqueles que possuem todos os meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano, existindo ainda, sem ter tido sucesso total, aqueles que visam possuir os meios de produção da reprodução humana de modo a explorar as possibilidades de criação de super-homens e de "imortais", ou seja, de humanos "naturalmente" dominantes (de posse de todas as vantagens ou perfeições genéticas) e de humanos "artificialmente" imortais (de posse de todos os meios de conservação e renovação do corpo humano de modo a perdurar no tempo e mesmo superar a morte).


Mas, existe realmente um fim desse processo de exploração da produção doméstica? Existe um fim do desenvolvimento da luta de classes? Um fim da sociedade de classes? Estas duas classes atuais, o proletariado (de um modo geral é a classe de todos aqueles que vivem do salário) e a burguesia (de um modo geral é a classe de todos aqueles que possuem os meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano) podem efetivamente desaparecer se e quando todos aqueles que vendem sua chama devoradora ou força de trabalho se tornarem proprietários dos meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano e, por sua vez, todos aqueles que atualmente são proprietários dos meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano se tornarem produtores diretos? Sendo proprietário dos meios de produção da reprodução geral o proletariado deixa de vender sua força de trabalho. Mas, e a burguesia se tornando produtor direto passa a vender sua força de trabalho? Se trata duma simples inversão de posição na estrutura atual e, portanto, da continuação da mesma em situação de eterno retorno? Para que a luta destas duas classes e para que a sociedade de classes delas desapareça é preciso que desapareça não só o trabalho assalariado mas também a propriedade burguesa ou tutelar dos meios de produção da reprodução geral, logo, não basta para o proletariado se tornar proprietário comum dos meios de produção (ou, como isto tem sido traduzido na linguagem do realismo político, se tornar proprietário público ou estatal dos meios de produção da reprodução geral), mas é preciso ainda destruir qualquer possibilidade de continuidade e reconstituição do trabalho assalariado (ou, como isto é inteligível na linguagem do realismo político, é preciso destruir o Estado ou qualquer tutela ou tutor que por meio do assalariamento retorne e reinicie a constituição e exploração do proletariado).



Viver é o eterno retorno do poder e do comportamento explorador do humano pelo humano ou é a mudança libertadora do eterno retorno do poder e do comportamento explorador do humano pelo humano, quer dizer, mudança liberta da exploração e do retorno da exploração?!


terça-feira, 2 de dezembro de 2014




O que é viver sem explorar? Como viver sem explorar? Como viver sem consumir o mundo como uma chama devoradora? Como mudar a estrutura do modo de vida explorador? Como mudar o poder explorador? Como se libertar do modo de vida explorador e do poder explorador?


Democracia, Socialismo, Comunismo, Ecologia dizem defender um viver livre, comum, sem exploração e com decidida cooperação. Mas, efetivamente vivem sem explorar?! Todos (Democracia, Socialismo, Comunismo, Ecologia)se dispõem a consumir o mundo como chama devoradora voltada contra ele. Todos estruturam um modo de vida explorador e um poder explorador.


Para viver é preciso respirar, é preciso beber água e é preciso comer. De um modo geral, os vivos respiram e bebem água em perfeita comunhão e sem matarem-se uns aos outros. Mas, na hora de comer tem início a matança de vegetais e animais. Os grupos humanos para comer começam fazendo a coleta de vegetais e a caça e a pesca de animais. E com essas atividades iniciam a confecção de instrumentos, feitos a partir das madeiras, das fibras e dos cipós dos vegetais e das pedras dos minerais. Os animais também coletam e caçam e, até mesmo, fazem instrumentos, mas apenas os humanos se diferenciam dos demais na produção de instrumentos e, especialmente, pelo uso do fogo, a chama devoradora, tanto na produção de instrumentos quanto para proteção do frio e de ataques noturnos, cozinhar e assar alimentos, mas, especialmente, para ver à noite uns aos outros e também para "anotar os sonhos, as imaginações", quer dizer, desenhar nas paredes de cavernas e dançar uns com os outros e, finalmente, para vivenciarem a si mesmos como fogos ou chamas devoradoras na atividade de copular. Das cópulas resulta a reprodução humana e é nela e por meio dela que se descobre que viver não é só consumir ar, água e alimento nem só produzir instrumentos mas também é reproduzir a própria espécie fornecendo alimento próprio e interno no caso da amamentação e alheio e externo no caso da coleta e da caça e pesca. Mas, a descoberta da reprodução não se limita à reprodução humana e a percepção da reprodução vegetal e da reprodução animal dá início à domesticação dos vegetais e animais, ou seja, à cultura dos vegetais ou à agricultura e à cultura dos rebanhos ou à pecuária. E, estas atividades agropecuárias, não só domesticam os vegetais e os animais como também viabilizam a construção das cavernas artificiais que são as habitações e os ambientes artificiais construídos pelos humanos. Este novo habitat artificial humano é resultante da descoberta e uso do processo de reprodução vegetal, animal e humana. O processo de domesticação é um processo de descoberta, uso, desenvolvimento e exploração centrada na reprodução vegetal, animal e humana.


Os produtos da reprodução humana são os filhos, melhor, é a prole humana. E esta se inicia no viver sendo alimentada pela amamentação e, em seguida, com os produtos da domesticação vegetal e animal, portanto, se inicia dentro do processo de domesticação. Esta prole inicialmente só consome os produtos da domesticação e, em seguida, ela passa a ser iniciada no processo de produção da domesticação (agropecuária e indústria do habitat humano) e é a partir daí que surge a base para a exploração da domesticação humana, isto é, surgem os tutores dessa prole humana que, além de a iniciar no processo de produção doméstico, passam a usá-la no processo de produção doméstica como fonte de produtos domésticos que possibilitam aos tutores "reproduzir" para eles mesmos a situação inicial da prole humana, isto é, a de ser alimentado pelo produtos domésticos e de usufruir dos produtos domésticos sem precisar participar diretamente da produção dos produtos domésticos, ou seja, estes tutores se descobrem e desenvolvem como pastores da prole humana desde o seu nascimento e desenvolvimento consumista improdutivo até chegar ao seu desenvolvimento consumista produtivo. E, é nesse momento que os tutores se beneficiam dos produtos do processo de reprodução de modo que consomem ou digerem os vegetais e os animais reproduzidos pela atividade agropecuária da prole humana de forma indireta, porque consomem os produtos resultantes do consumo da força de trabalho da prole humana. Eles não comem diretamente a prole humana, mas, indiretamente, eles comem ou consomem o excesso ou excedente da produção da força de trabalho ou da chama devoradora da prole humana.


O desenvolvimento desse processo de exploração da produção doméstica se faz por meio do desenvolvimento da luta de classes das sociedades de classes até chegar na sociedade de classes atual onde a força de trabalho ou a chama devoradora da prole humana se constitui na classe do proletariado ou de todos aqueles que só possuem sua chama devoradora ou força humana de trabalho, enquanto que os tutores ou os exploradores indiretos do processo de produção domesticado se constitui na classe da burguesia ou daqueles que possuem todos os meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano, existindo ainda, sem ter tido sucesso total, aqueles que visam possuir os meios de produção da reprodução humana de modo a explorar as possibilidades de criação de super-homens e de "imortais", ou seja, de humanos "naturalmente" dominantes (de posse de todas as vantagens ou perfeições genéticas)e de humanos "artificialmente" imortais (de posse de todos os meios de conservação e renovação do corpo humano de modo a perdurar no tempo e mesmo superar a morte).


Mas, existe realmente um fim desse processo de exploração da produção doméstica? Existe um fim do desenvolvimento da luta de classes? Um fim da sociedade de classes? Estas duas classes atuais, o proletariado (de um modo geral é a classe de todos aqueles que vivem do salário)e a burguesia (de um modo geral é a classe de todos aqueles que possuem os meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano) podem efetivamente desaparecer se e quando todos aqueles que vendem sua chama devoradora ou força de trabalho se tornarem proprietários dos meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano e, por sua vez, todos aqueles que atualmente são proprietários dos meios de produção da reprodução vegetal, animal e do habitat humano se tornarem produtores diretos? Sendo proprietário dos meios de produção da reprodução geral o proletariado deixa de vender sua força de trabalho. Mas, e a burguesia se tornando produtor direto passa a vender sua força de trabalho? Se trata duma simples inversão de posição na estrutura atual e, portanto, da continuação da mesma em situação de eterno retorno? Para que a luta destas duas classes e para que a sociedade de classes delas desapareça é preciso que desapareça não só o trabalho assalariado mas também a propriedade burguesa ou tutelar dos meios de produção da reprodução geral, logo, não basta para o proletariado se tornar proprietário comum dos meios de produção (ou, como isto tem sido traduzido na linguagem do realismo político, se tornar proprietário público ou estatal dos meios de produção da reprodução geral), mas é preciso ainda destruir qualquer possibilidade de continuidade e reconstituição do trabalho assalariado (ou, como isto é inteligível na linguagem do realismo político, é preciso destruir o Estado ou qualquer
tutela ou tutor que por meio do assalariamento retorne e reinicie a constituição e exploração do proletariado).


Os vegetarianos exploram as fontes vegetais e os carnívoros exploram as fontes animais. Desse modo, se estabelece uma cadeia alimentar . A morte dos vegetais é vida para uns e a morte dos animais é vida para outros. Não é simplesmente a morte e sim a digestão dos mortos que aproveita os digeridos como fontes de energia vital. Então é a chama devoradora de vegetais e/ou de animais que garante a manutenção da energia vital da chama devoradora, ou seja, é a morte da energia vital alheia que garante a conservação da energia vital própria. Mas, a cadeia alimentar também é formada e estabelecida por um outro aspecto que é a reprodução dos seres vivos. É aí que a semente sai do fruto, cai na terra e "morrendo" dá origem ao processo de reprodução da espécie vegetal que originou os frutos e as sementes. É aí que de forma sexual o sêmen "morre" no óvulo dando origem ao "ovo" e nele ao processo de reprodução dos portadores de sêmens e óvulos oriundos de cada espécie animal. Se a primeira chama devoradora ou digestão é feita a partir da destruição das espécies em prol da conservação corporal da própria espécie, já a segunda digestão é feita a partir da "destruição" dos princípios vitais da própria espécie em prol da sua mutação em corpos da própria espécie.


É nesse processo de reprodução que o "comer" adquire um sentido novo, um sentido que não é o da exploração e sim o da criação ou produção da vida a partir da digestão dos próprios princípios vitais (sementes, sêmens, óvulos), adquire o sentido de cooperação criadora ou de autodigestão criadora, melhor, como encontro da chama devoradora duma espécie com a chama devoradora da própria espécie tendo por resultado a aparição duma nova chama devoradora da própria espécie, quer dizer, um aumento da própria espécie. Só aí cada espécie se relaciona com sua própria espécie como a fonte de sua própria vida (não me refiro, claro, ao canibalismo), só aí o alimento interno que reproduz a espécie não é uma exploração devoradora das espécies e do meio ambiente, mas, ao contrário, se mostra um devorar criador do desenvolvimento das espécies e do meio ambiente.


Quando o "comer" da chama devoradora é digestão dos demais para conservar a si mesma, aí a relação
é de supressão dos demais. E, quando o "comer" da chama devoradora é digestão de outra chama devoradora semelhante a si mesma, quer dizer, é digestão mútua das chamas devoradoras da mesma espécie no encontro duma com a outra, aí então a relação é de criação de mais chama devoradora da mesma espécie. Num caso, se faz a falta dos outros; no outro, se faz o excesso dos mesmos.


Este aspecto de ser o devorar criador do alimento interno desenvolvedor das espécies e do meio ambiente deu origem entre os humanos à agricultura e à criação ou cultura dos rebanhos. As fontes vegetais e animais de energia vital foram desenvolvidas nos seus processos próprios de reprodução para atender à chama devoradora dos humanos das espécies digeridas para conservarem a energia vital de seus corpos humanos. Mas também os próprios humanos ao se reproduzirem ou se cultivarem nos seus processos próprios de reprodução passaram a ser usados e explorados como fontes de energia no desenvolvimento da agricultura e da pecuária e na indústria artesanal a partir de matérias-primas da agricultura e da pecuária e da exploração e manipulação criativa dos minerais. Exceto nos casos de canibalismo que iguala o cultivo de rebanhos humanos com os dos rebanhos animais para digestão alimentar, a regra foi o uso e exploração dos rebanhos humanos nas atividades agrícolas, pecuárias, artesanais, industriais, extrativistas etc., de modo que enquanto essa prole humana gastava sua energia nas atividades de exploração produtiva, já os seus tutores humanos usufruíam do excesso produzido por essa prole humana.


A própria reprodução humana passou a ser explorada como forma de aumentar os cultivadores humanos da agricultura, da pecuária, do artesanato, da indústria. E, desse modo, o aumento populacional passou a significar o aumento da produção agrícola, pecuária, artesanal, industrial, extrativista, mas, ao invés desta produção aumentada ficar com a própria prole cultivadora da mesma ela vai para as mãos dos tutores da prole.


Viver é o eterno retorno do poder e do comportamento explorador do humano pelo humano ou é a mudança libertadora do eterno retorno do poder e do comportamento explorador do humano pelo humano, quer dizer, mudança liberta da exploração e do retorno da exploração?!


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Quando e como?! [II]




Nunca pensei que chegaria nesse ponto: Morrer talvez seja a atitude mais saudável!


O que é viver atualmente? É ser esperto, manipulador, dominador, enfim, ser explorador. Isso é ser vivo, saudável. Mas, para quem? Para quem explora. E para quem é explorado? Isso é morrer, é adoecer, melhor, é ser morto, é ser adoecido. Que quem é explorado se levante contra o viver atual e dele queira se libertar parece algo muito aceitável e verdadeiramente saudável, afinal, quem quer viver adoecido e sendo morto dia a dia? Mas quando se levantar e se libertar do modo de vida atual se torna precisamente a atividade de praticar o modo de vida atual, quer dizer, a atividade de ser esperto, manipulador, dominador, enfim, de ser explorador?! Quer dizer, mas quando se levantar e se libertar de ser explorado significa apenas se tornar explorador?!


E não se trata aqui de meramente virar a casaca ou de trair o lado dos explorados passando para o lado dos exploradores. Se trata de verificar que o levante e a libertação dos explorados se afirmam unicamente como queda e prisão dos exploradores sob o domínio e exploração dos novos exploradores, que são precisamente os antigos explorados. E, nesse caso, o que passa a ser o novo viver, o novo modo de vida?! Não é uma mudança do anterior, uma transformação do anterior?! Não é uma revolução do modo de vida anterior que eleva quem estava abaixo e bota abaixo quem estava em cima?! Uma revolução que muda a classe que está no poder?! É tudo isso, com certeza, mas é, ao mesmo tempo, a conservação de um mesmo modo de vida estrutural. a conservação de um mesmo poder, ou seja, permanece sendo intacta e integramente o mesmo modo de vida estrutural que é a exploração, o mesmo poder que é o poder da exploração.



Desse modo, aquilo que se afirma no Manifesto do Partido Comunista: "(...) a história até aqui tem sido sempre a história das lutas de classes (...)" em lugar de apenas ter sido passa a ser, foi, é e será sempre, logo, o conceito mais apropriado não é mais o da emancipação da exploração do homem pelo homem e sim o do eterno retorno da exploração do homem pelo homem, melhor, o do eterno retorno do super-homem. E, para o super-homem, o homem é apenas uma ponte entre o animal e o super-homem de modo que o homem pode sempre ser subjugado e explorado, mais ainda, precisa sempre cair e ser explorado para que se erga e o explore sempre o super-homem.


Numa situação dessas é evidente que não há nenhuma saída do modo de vida dominante, o da exploração do homem pelo homem em prol do super-homem. Portanto, é nesse caso, que fica evidente não haver saída da doença para a saúde, mas, ao contrário, fica evidente que só há agravamento da doença ou passagem e continuidade duma doença para outra ainda mais profunda, portanto, repito, é nesse caso, que se coloca a possibilidade de ser, talvez, mais saudável morrer. Ora, na história do pensamento filosófico quem defende que o mais saudável é não ter nascido e, em segundo lugar, que ao ter nascido que o melhor é morrer logo, cedinho, é precisamente quem defende o eterno retorno da exploração. Ou seja, este critério de saúde, a opção pela própria morte, pelo aniquilamento, pelo niilismo é apresentado como solução pelos que defendem o critério da grande saúde como sendo o inerente à natureza exploradora que se desenvolve explorando desde sua natureza de simples animal até chegar à do complexo super-homem. Morrer é visto como mais saudável para deixar o caminho livre para os exploradores perseverarem no caminho da grande saúde da exploração que é viabilizar o advento do super-homem ou do eterno retorno da exploração.


Então, existe uma outra saída?! É possível deixar de ser explorado sem se tornar um explorador?! É possível o fim das lutas de classes e das sociedades de classes?! Quando e como?!





domingo, 30 de novembro de 2014

As novas tecnologias e as redes de pequenos grandes irmãos [I]



Estou pensando em sair do Facebook porque desde o início aparecem pessoas na minha lista de amigos que eu não convidei nem solicitei amizade. Ontem, dando uma busca a respeito de como sair do Facebook acabei entrando num caminho que mostrava meus feitos e eis que o Facebook me atribui o convite para uma dessas pessoas que eu não solicitei amizade e nem sei quem é. É o Facebook quem tem feito isso? Pode até ser, mas o mais provável é que sejam até mesmo pessoas que eu solicitei amizade que estejam fazendo esse tipo de coisa desde o início. Talvez considerem que isso seja fazer política, que isso seja fazer o bem e que, portanto, cercar-me na sua área de influência, no seu domínio, no seu curral seja promover minha educação, o desenvolvimento da minha consciência. E isto porque no mundo "real" a educação e a conscientização se fazem exercendo o poder-saber, a disciplina, o controle, a manipulação, enfim, impondo a vontade por todos os meios desde os mais sutis até os mais cruéis, desde os mais legítimos e legais até os mais criminosos e clandestinos. Mas, tais "amigos da liberdade e da libertação" parecem pensar que a prática da liberdade se desenvolve entrando em contradição consigo mesma e que não existe nenhum outro caminho para o exercício da liberdade, pelo menos para a liberdade prática, para a liberdade do mundo "real".


Tais "amigos da liberdade e da libertação" estão "transformando o mundo" ao aprenderem o uso das novas tecnologias e das novas capacidades e habilidades que elas permitem que tenham para expressar, organizar e dominar o mundo impondo sua vontade por todos os meios. Eles parecem não perceber muito bem que estão sendo ensinados pelas novas tecnologias a ser agentes da vontade delas, melhor, dos donos delas, quer dizer, daqueles que as produzem, introduzem e expandem por toda parte precisamente recorrendo à formação duma rede mundial de "amigos da liberdade e da libertação", de "revolucionários", de "transformadores do mundo" que aprendem a ser experimentados usuários das novas tecnologias e, assim, as expandem. E com essa expansão das novas tecnologias expandem igualmente tudo que aprendem com elas e, em especial, a serem agentes experimentados de tudo que elas requerem e impõem aos usuários. E, aquilo que tais novas tecnologias basicamente ensinam e expandem como formação por toda parte é a atividade de espiar. Ser "amigo da liberdade e da libertação", "ser revolucionário experimentado", então, é ser "espião", ser "agente da vontade dos donos das novas tecnologias", ser "agente dos novos desenvolvimentos do sistema capitalista".


- Ah, mas isto é ser a "nova força de trabalho do sistema capitalista", uai!!!?? A inexistência de privacidade não é um sintoma da dissolução da propriedade privada?! Um mundo sem qualquer privacidade não é, afinal, um mundo inteiramente socializado?!?! Portanto, com as novas tecnologias não se está a apenas um passo da sociedade inteiramente socializada, da sociedade comunista?!?!


"Grande Irmão", denunciado como o tirano dum mundo sem privacidade no livro "1984", que retratava essa prática da luta de "gato e rato" entre o "Grande Irmão" Stálin e Trotsky, se tornou um bem-sucedido "reality show" (novamente aí está a preponderância da fascinação pelo "real"), ou seja, a cultura da espionagem, do espiar se tornou cultura de massas, se popularizou para se mostrar como marca duma época, como ideologia dominante da qual além de os "amigos da liberdade e da libertação" não escaparem, eles se tornam seus experimentados agentes, como "revolucionários e transformadores do mundo". Afinal, "mudar o mundo!" é o slogan duma das propagandas mundiais da coca-cola.

sábado, 29 de novembro de 2014

"Esta presidenta quer o diálogo!"- do discurso da vitória de Dilma - e "Teoria Marxista", de Cristiane Rubão {9/c}


Quando ouvi o discurso da Dilma estranhei que não citasse o Aécio que minutos antes dissera, no seu discurso de reconhecimento da vitória de Dilma, ter ligado para cumprimentá-la. Achei que ambos estavam reconhecendo os méritos da campanha de Marina e até escrevi que parecia que ela era quem tinha ganhado as eleições de 2014.


Depois de um ou mais dias fiquei surpreso com o ataque da Câmara dos Deputados Federais ao decreto da Dilma, com a atitude indignada e colérica do Aloysio Nunes com a campanha da Dilma e, em seguida, mais surpreso, quando soube que o PSDB, melhor, alguém do PSDB estava questionando o resultado das eleições no TSE e soube que manifestantes em São Paulo chegaram a pedir um golpe militar.


Não entendi mais nada e a culpa é minha porque simplesmente não suportava acompanhar as baixarias da campanha eleitoral e, assim, me mantive distante da "dialética" desenvolvida pelas baixarias. Apenas raciocinei que tudo aquilo decorria do "desenvolvimento dialético das baixarias da campanha eleitoral".


Algum tempo depois, li duas postagens de Helbson de Ávila no Facebook, uma foi a "Teoria Marxista", de Cristiane Rubão, e a outra foi uma campanha por um abaixo-assinado em apoio ao Decreto número 8.243 que tinha sido rejeitado pela Câmara dos Deputados Federais. Ao iniciar a leitura do texto do decreto entendi a que se referia Dilma no seu discurso de vitória quando dizia: "Esta presidenta quer o diálogo!". Veja você mesmo(a):


"Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

"DECRETO Nº 8.243, DE 23 DE MAIO DE 2014


"Institui a Política Nacional de Participação Social - PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social - SNPS, e dá outras providências.
"A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, caput, incisos IV e VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 3º, caput, inciso I, e no art. 17 da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003,
"DECRETA:
"Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Participação Social - PNPS, com o objetivo de fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil." (Consulte/leia em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Decreto/D8243.htm - o destaque é meu).


Eu tinha lido a "Teoria Marxista", de Cristiane Rubão e tinha feito comentários que remetiam para as críticas de Marx àquilo que ele chamou de "socialismo de Estado" e que aparecia em diferentes textos e contextos como parte duma problemática social e política. Não fiz os comentários recorrendo às críticas textualmente e sim à memória delas. São, portanto, passíveis de erros, mas, num ponto geral, elas são um acerto: Marx defendia que se destruísse a máquina do Estado e não que se edificasse um Estado. E a defesa da máquina do Estado para a edificação de um Estadão é o ponto principal, da intérprete Cristiane Rubão, da dita "Teoria Marxista".


Depois que li o Decreto de Dilma entendi porque a Câmara Federal foi contra o mesmo e contra a proposta de "diálogo da presidenta". Primeiro, achei que o Decreto ressuscitava o movimento de Brizola e da esquerda que levou Jango até ao famoso discurso da Central do Brasil e que significava fazer as Reformas "na marra" e sem o Congresso e sem os "conciliadores" do PSD. Segundo, vi mais: O Decreto alimentava a idéia de governar com um Estado forte que, prescindindo do Congresso Nacional, quer dizer, da Câmara dos Deputados Federais e do Senado Federal, se basearia na unidade indissolúvel da presidenta e do povo, digo, da "administração pública federal e (d)a sociedade civil". Ora, isso remetia para a coincidência com a postura golpista da esquerda que sofreu o golpe militar de 64 (que atualmente vem sendo chamado de golpe civil-militar de 64) e remetia ainda para a coincidência da visão dessa esquerda com o "socialismo de Estado" que Marx tanto criticou e que se tornou o "socialismo realmente existente" no século XX, especialmente, a partir de sua instituição modelar por Josef Stálin.


Se a ditadura instituiu, por meio da Lei de Segurança Nacional, o Sistema Nacional de Informações, então, a democracia petista quer instituir, por meio da Constituição Federal, o Sistema de Conselhos Populares visando a "I - promoção da participação de forma direta da sociedade civil nos debates e decisões do governo". É mesmo o tal do "socialismo de Estado", o tal do "socialismo por decreto". O erro que Marx tanto criticou e que levou "o socialismo real" precisamente àquilo que ele previra: O retorno do capitalismo! E porquê isso?! Porque este "socialismo por decreto de Estado" é inerente à Revolução Burguesa e tem por resultado o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, isto é, o retorno desenvolvido das relações sociais capitalistas.


A Revolução Proletária institui os Conselhos como órgãos do seu poder direto e não como "promoção da participação de forma direta da sociedade civil nos debates e decisões do governo", ou seja, são órgãos do poder do proletariado e não organismos subalternos "da participação de forma direta da sociedade civil nos debates e decisões do governo". Pelo contrário, os conselhos proletários fazem a "promoção da participação de forma direta da sociedade civil nos debates e decisões" dos próprios conselhos proletários, não são organismos subalternos da máquina do Estado e sim órgãos do próprio poder direto do Proletariado, órgãos da própria sociedade civil liberta do Estado e das diferenças de classes sociais.


O Marx maduro quando escreveu sobre esse assunto percebeu a enorme gravidade do problema e no final da "Crítica ao Programa de Gotha" citou uma frase clássica cuja tradução é: "Disse e salvei minha alma!". E essa também é a minha defesa, já que vou deixar muitos da esquerda descontentes com esse texto.




Teoria Marxista




Foi no estado alemão [sugestão: Foi na Alemanha. Porque? O país ainda não estava unificado e se compunha por diferentes estados. Além disso, fica uma mensagem subliminar: A teoria de Marx, que é a do crítico por excelência da filosofia do direito de Hegel, quer dizer, o crítico de quem tem por primado e princípio a superestrutura do Estado (e por aí da Ideia ou Espírito) e que de maneira antagônica assume como primado e princípio a infraestrutura da Sociedade Civil (e por aí da Matéria ou Corpo – aliás, esta tendência infra estrutural de Marx começa na sua tese de doutorado sobre o atomismo grego, “Diferenças entre as Filosofias da Natureza de Demócrito e de Epicuro” -), aparece como tendo nascido no estado (no idealismo) e não na sociedade civil (no materialismo)], agitado e cheio de problemas, que nasceu o marxismo [Outro problema: Marx dizia que não era marxista e rejeitava a nomeação de sua teoria de marxismo. Esta posição de Marx data da época em que entrou em luta com Bakunin no interior da Associação Internacional dos Trabalhadores. A coisa começa quando Bakunin solicita a entrada da sua Aliança Internacional da Democracia Socialista (AIDS) na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) porque Marx argumenta que ou a Aliança Internacional se descaracteriza para entrar na Associação Internacional ou a Associação Internacional é que deve se descaracterizar, mas como a solicitação é de entrada na Associação Internacional dos Trabalhadores então basta que os membros da Aliança Internacional da Democracia Socialista concordem com os estatutos da AIT e nela ingressem como indivíduos trabalhadores, além disso, é do interesse da AIT conhecer o programa da AIDS e, nesse sentido, Marx adianta que a AIT não defende “a igualização das classes por meio da liquidação social das classes” e sim “a dissolução das diferenças sociais de classes por meio da socialização dos meios de produção”, ou seja, não se trata de promover um processo de autodestruição (niilismo, diria Nietzsche alguns anos depois) humana e social das classes para que se tornem iguais no fim dessa autodestruição (desse niilismo) e sim de promover o fim das diferenças sociais de classes por meio da socialização dos meios de produção, da transformação da propriedade dos meios de produção e, portanto, da autocriação humana e social de novas relações de propriedade das coisas, a qual, por sua vez, também é socialização da autocriação humana e social das coisas (socialização das forças produtivas, quer dizer, das forças humanas de trabalho e dos meios de produção). Em seguida, já participando da AIT, Bakunin defende a “abolição do direito de herança” e Marx se opõe a esta defendendo a “socialização dos meios de produção” e, portanto, se a propriedade é social a herança ou não existe ou também é social e a propriedade é herdada por todos. Bakunin que leu e traduziu o Manifesto do Partido Comunista lembra que a abolição do direito de herança é defendida nele, lembra também que aí a pequena burguesia acaba formando com as demais classes um mesma massa reacionária e que só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária (Marx volta a falar explicitamente contra essa concepção da pequena burguesia como uma massa reacionária na “Crítica ao Programa de Gotha”), finalmente, que o marxismo é autoritário por defender a tomada do poder político se assenhoreando do mesmo para que sirva a seus interesses, ou seja, é autoritário por tomar o Estado capitalista e substituí-lo pelo Estado proletário. Marx diz que não é marxista, que não defende o direito de herança, que a pequena burguesia não é uma massa reacionária e, finalmente que, após a Comuna de Paris de 1871, ficou claro o que é a ditadura revolucionária do proletariado: A destruição da máquina do Estado feita por meio da instituição da Comuna que se desenvolve dissolvendo progressivamente as sobrevivências restantes da máquina do Estado, logo, não se trata de substituir a máquina do Estado por outra e sim de conduzir a sua destruição até o fim, quer dizer, até que a Comuna se dissolva na Comunidade ou se socialize cada vez mais até se tornar o Comunismo. Marx rejeita os pontos programáticos que defendeu no Manifesto e, mais ainda, a concepção geral defendida no Manifesto de tomada e assenhoreamento do Estado para que seja o seu Estado e sirva aos seus interesses e rejeita porque não quer esta propriedade privada do Estado ou o seu Estado e sim o fim da propriedade privada e do Estado. Rejeita que sua teoria seja o marxismo e defende que ela é a ciência histórica das ações sensíveis, das atividades materiais, ou seja, uma ciência feita pelos trabalhadores no curso da própria atividade sensível, material, histórica. Marx rejeita o marxismo, mas assume ser um participante das associações ativas dos trabalhadores.] Essa teoria não foi concebida apenas por Karl Marx ( 1818 - 1883 ), ele teve uma colaboração ideológica e financeira de Friedrich Engels ( 1820 - 1895 ). Eles escreveram em parceria o Manifesto Comunista ( 1848 ) e A ideologia alemã [1846]. Algumas das obras de Marx foram: O 18 Brumário de Luís Bonaparte [1852], Contribuição à crítica da economia política [1859], e a mais importante que foi O Capital [1867]. Já Engels escreveu Anti-Dühring, A dialética da natureza, A origem da família, da propriedade privada e do Estado e outras. [A teoria de Marx foi escrita na sua maior parte fora da Alemanha. A “Questão Judaica” [1843] e a “Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” [1843] foram escritas e publicadas fora da Alemanha, idem para a “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” [1843] (só publicada no século XX, em 1927). Os “Manuscritos Econômicos-Filosóficos” [1844] também foram escritos fora da Alemanha. “A Sagrada Família” [1845] foi escrita em Bruxelas em colaboração com Engels, com certeza, “A Ideologia Alemã” foi escrita em colaboração com Engels fora da Alemanha até porque “a mudança de terreno” da Alemanha para a Inglaterra é um dos temas, melhor, uma espécie de fio condutor da argumentação da obra. Esta “mudança de terreno” é usada para deixar claro que a consciência de si do terreno alemão é a ideologia (o idealismo), o pensar, a consciência de si dos pensamentos, enquanto que a consciência de si do terreno inglês é o materialismo (a economia), o agir, a consciência de si das ações sensíveis. É exatamente aí que ele assinala a passagem da superestrutura do Estado para a infraestrutura da Sociedade Civil, a passagem da ideologia para a economia. “A Miséria da Filosofia” [1847] foi escrita na França. O “Manifesto do Partido Comunista” [1848] foi escrito na Inglaterra, idem para “As Lutas de Classes na França” [1850] e “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte” [1852] após as revoluções de 1848 e durante elas Marx foi chefe da Nova Gazeta Renana na Alemanha e seus escritos alemães foram novamente jornalísticos. Também escreveu a “Contribuição à Crítica da Economia Política” [1859] na Inglaterra, mas aí já estava muito mais imbuído da nova consciência de si das ações sensíveis porque tinha desistido das ilusões da consciência de si revolucionária ideológica dos exilados para tratar de descobrir as verdades da consciência de si revolucionária econômica dos agentes sensíveis e, desse modo, ressaltou ainda mais a ideia das crises cíclicas como momentos propícios às revoluções dos trabalhadores e em oposição às normalidades cíclicas dos momentos propícios às revoluções dos meios de produção dos capitalistas, de modo que o processo como um todo era equivalente ao de um paciente de esquizofrenia maníaco-depressiva. Observação importante: Tudo indica que, afora a tese de doutorado, todo o conjunto de elaborações teóricas de Marx foram escritos fora da Alemanha. Outra observação importante: Ele mesmo coloca o nascimento do seu posicionamento político e econômico quando se vê às voltas com questões materiais relativas aos debates no parlamento sobre o roubo de lenha dos camponeses do Mosela, quer dizer, a respeito da mudança da propriedade comunal tradicional dos camponeses acostumados a nela se abastecer de lenha para a propriedade privada dessas terras comunais tradicionais que passa a caracterizar como roubo o costume dos camponeses.]



Eles formularam seu pensamento baseado na realidade social da sua época, que era de um grande avanço técnico e aumento do controle da natureza pelo homem mas, por outro lado, a classe trabalhadora sofria mais opressão e ficava cada vez mais pobre. Sua doutrina partiu do estudo dos economistas ingleses Adam Smith e David Ricardo e da filosofia de Hegel. Essa doutrina se compõe de uma teoria científica, o materialismo histórico, e de uma teoria filosófica, o materialismo dialético. [É muito mais uma invenção dos que se intitulam marxistas do que uma realidade ou uma doutrina que seja encontrada no próprio Marx. Eu, pelo menos, nunca encontrei essa divisão do materialismo de Marx em materialismo histórico e materialismo dialético, afinal, como é sabido, o filósofo Hegel desenvolveu sua filosofia como uma ciência e o idealismo objetivo de Hegel se caracterizava por ser dialético e histórico, mas também por chegar ao saber absoluto e neste ponto culminante de seu sistema afirmar o fim da dialética e o fim da história. Marx afirma a continuidade da dialética e a continuidade da história ao assumir sua posição filosófica materialista e desenvolvê-la como ciência dialética e histórica. Agora, aquilo que é muito fácil de encontrar em Marx é a distinção entre a análise que pode ser feita de maneira empírica e que se baseia na abundância de materiais empíricos para a construção da sua história e aquela que requer o uso da abstração e que tem por base a escassez de materiais empíricos, ainda que possa existir uma abundância de especulações abstratas, para poder construir a sua história. Ele diz que, de modo geral, a análise científica é aquela construída sobre materiais empíricos, por exemplo, a análise econômica, e se distingue da análise científica construída a partir de materiais especulativos, ou seja, no fundo, ainda é a distinção entre o materialismo, que caracteriza a consciência de si como ser e atividade sensível, e o idealismo, que caracteriza a consciência de si como pensar e atividade abstrata. Esta distinção entre materialismo histórico e materialismo dialético não existe em Marx e o maior responsável pela sua invenção e difusão foi Stálin e nunca Marx.] Segundo o materialismo, o mundo material é anterior ao espírito e este deriva daquele. Marx chama de infra-estrutura a estrutura material da sociedade, sua base econômica, que consiste nas formas pelas quais os homens produzem os bens necessários à sua vida.



A superestrutura corresponde à estrutura jurídico-política e a estrutura ideológica. A posição do marxismo, é que a infra-estrutura determina a superestrutura, mas ao tomar conhecimento das contradições, o homem pode agir ativamente sobre aquilo que o determina. As manifestações da superestrutura passam a ser determinadas pelas alterações da infra-estrutura decorrentes da passagem econômica do sistema feudal para o capitalista [Não só pelas alterações decorrentes da passagem do sistema feudal ou, por exemplo, do sistema escravista colonial para o capitalista mas também pelas próprias alterações na economia capitalista, seja devido às incessantes revoluções dos instrumentos de produção, seja devido às incessantes revoluções das forças humanas de produção, quer dizer, seja devido às lutas dos trabalhadores por aumentos salariais, reduções de jornada de trabalho, direitos civis, direitos políticos. As manifestações da superestrutura em ambos os casos são determinadas pelas alterações da infraestrutura.] O movimento dialético da história se faz por um motor, que é a luta de classes. [Dizer “o movimento dialético da história” é dizer “o movimento do materialismo dialético da história” e, portanto, também supor um “movimento do materialismo histórico da dialética” de modo que o primeiro é “filosófico” e o segundo é “científico”?! , um é a teoria filosófica e o outro é a teoria científica?! É isso que cabe perguntar com a tal divisão entre os materialismos. Mas, aqui, o principal é saber que “a história das sociedades até aqui tem sido a história das lutas de classes” (ver o Manifesto) e isto significa que este não é o único possível motor da história das sociedades, logo, significa, inclusive, a possibilidade da história das sociedades sem classes e com outro motor da história.] Essa luta acontece porque as classes tem interesses antagônicos. No modo de produção capitalista essa relação de antagonismo se dá porque o capitalista detém o capital e o operário não possui nada [além de si mesmo ou da sua própria força humana de trabalho], tendo que vender a sua força de trabalho.



A partir desse ponto, Marx formula um de seus conceitos mais conhecidos [sugiro que use “mais famosos” porque existe enorme controvérsia em relação ao conhecimento que se tem ou não deste conceito] que é a mais-valia. Esse mais-valia é [produzida] concebida quando o trabalhador vende ao capitalista a sua força de trabalho [para que seja empregada, usada, consumida nos meios de produção do capitalista] por um valor estipulado num contrato. Acontece que ele produz mais do que esperado, e como ele fica com tempo disponível dentro da empresa ele produz um excedente que é a mais-valia. [Não é um acontecimento casual ou uma capacidade de produção excepcional do trabalhador que faz ele produzir mais do que o esperado e depois ficar à toa com tempo disponível e aproveitar para produzir um excedente que é a tal da mais-valia. Primeiro, se ele já produz mais do que é esperado, então já produziu a tal mais-valia e não precisaria mais ficar na empresa. Segundo, se, além disso, quer dizer, da produção que excede o esperado, “resolve” usar o “tempo disponível” para produzir mais excedente e, apenas esse excedente, é considerado mais-valia, então, ele, na verdade, é um sócio do capitalista, já que a primeira produção excedente não é considerada como sendo do capitalista, logo, é exclusivamente do trabalhador, mas como excede o esperado, então é um excedente que é apropriado pelo próprio trabalhador ou uma mais-valia que ele produziu para ele mesmo e, desse modo, ele age e se considera um sócio do capitalista. Não é assim que Marx concebe a produção de mais-valia. Ele diz que o trabalhador vende o uso, emprego ou consumo de sua força humana de trabalho para o capitalista pelo valor equivalente à reprodução de sua força humana de trabalho, mas o trabalhador não pode se limitar a produzir o equivalente à sua própria força humana de trabalho porque terá produzido apenas para si mesmo e nada terá produzido para o capitalista, então, a outra parte do seu horário ou jornada de trabalho é a produção de um trabalho não pago que é apropriado exclusivamente pelo capitalista como “retribuição” (“pagamento” feito pelo trabalhador) por este (capitalista) permitir ou, numa linguagem mais real, pagar o uso dos seus meios de produção para a reprodução da força humana de trabalho. Se o trabalhador apenas produzisse o equivalente à reprodução de sua própria força humana de trabalho, então não haveria produção de mais-valia e o capitalista de nada se apropriaria e não haveria a reprodução do capital e logo, logo o capitalista deixaria de existir. Para que o capital se reproduza e exista o capitalista é preciso que haja a produção de mais-valia pelo trabalhador numa parte de sua jornada ou horário normal de trabalho. Na verdade, o trabalhador tem sua jornada dividida em, pelo menos, três partes, a que reproduz a sua força humana de trabalho, a que reproduz os meios de produção capitalista e a que produz ou reproduz a mais-valia, quer dizer, um valor a mais que excede a soma do valor da força humana de trabalho e do valor dos meios de produção. É este valor a mais, esta mais-valia que torna o capitalista um acumulador de capital, quer dizer, um capitalista.] Essa mais-valia não é dividida com o trabalhador e fica nas mãos do capitalista que vai acumulando o capital. A mais-valia é portanto o valor que o trabalhador cria além de sua força de trabalho e é apropriado pelo capitalista.



Outro conceito que Marx constrói é o da alienação. [Alienação é desapropriação, é perda do que é próprio ou propriedade para o outro (alien), alienação é ação de tornar do outro. E, no caso da força humana de trabalho da manufatura e especialmente da grande indústria é a total alienação do trabalho, da atividade de trabalho, da arte da atividade de trabalho, é a perda das qualidades ou dos dons que o trabalhador possui para realizar seu trabalho, quer dizer, da maestria, da arte e mesmo da genialidade criativa que possui para realizar o trabalho. E isto porque o trabalho passou primeiro para os mecanismos da manufatura e depois para os maquinismos da grande indústria de modo que a maestria, a arte, a genialidade e dom da atividade de trabalho pertence ao mecanismo da manufatura e ao maquinismo da grande indústria e para a força humana de trabalho resta sua condição de se reduzir a mero apêndice mecânico da manufatura ou apêndice maquinal da grande indústria, ou seja, o trabalho não é mais qualitativo, concreto e dependente das habilidades criativas humanas da força de trabalho e sim uma mera atividade quantitativa, abstrata e dependente inteiramente do meio de produção manufatureiro e/ou grande industrial, ou seja, o trabalhador está alienado do trabalho e reduzido à condição de mera força humana de trabalho, a mero desgaste de energia, a mero suor do rosto que nada faz de criativo na sua atividade e nem sente nada de criativo na sua atividade, exceto o gasto de energia e, por aí, a capacidade de consumição de sua energia e, nesse sentido, a capacidade de alienar-se de sua energia vital ou força de trabalho. Se no artesanato o produto depende da habilidade criativa do trabalhador no manejos dos instrumentos de trabalho e, mais ainda, nas artes, posto que as obras de arte dependem quase que inteiramente dos dons dos artistas, então na manufatura e na grande indústria o produto fica inteiramente independente ou alienado de toda e qualquer habilidade do trabalhador e a única qualidade da atividade do trabalhador é fornecer força ou energia de trabalho para a atividade inteiramente independente do mecanismo da manufatura ou da maquinaria da grande indústria. O trabalhador fica alienado de todas as qualidades humanas criativas que ficam inteiramente com os meios de produção e o trabalhador fica inteiramente empobrecido, melhor, alienado ao ficar reduzido a mera atividade mecânica ou maquinal, quer dizer, inteiramente alienado ou abstraído das atividades e qualidades criativas humanas. A única qualidade concreta que ele possui é sua energia ou força humana de trabalho que ele vende para que seja usada, empregada e consumida numa atividade de trabalho inteiramente alienada ou abstrata e isto porque a produção de valor e/ou de mercadoria é precisamente a de trabalho humano abstrato.] O trabalhador quando vende a sua força de trabalho se torna estranho ao produto que concebeu [na verdade o trabalhador não concebe o produto, mas apenas participa da sua produção como energia ou força de trabalho]. Essa perda do produto causa outras perdas para o trabalhador, como a separação da concepção e execução do trabalho, e ainda com o avanço tecnológico, ele fica sujeito ao ritmo da linha de montagem, não tendo controle sobre o seu ritmo normal de trabalho [Isso: A concepção e a execução ou realização do trabalho são dos meios maquinais de produção e o trabalhador reduzido a mera força de trabalho apenas se submete ao desgaste ou consumo de sua energia, quer dizer, ao ritmo, à voltagem ou à intensidade imposta como consumo de sua energia pelos meios de produção]. Para que o trabalhador não se revolte, o capitalismo usa de mecanismos de introdução de ideologia na cabeça das pessoas, para que estas se conformem com a situação de desigualdade. [O trabalhador reduzido ao desgaste ou consumo de sua força humana de trabalho só está preocupado em garantir a reprodução ou a continuidade de sua força humana de trabalho e esta reprodução ou continuidade ou recuperação do desgaste ou do consumo da força humana de trabalho se faz por meio da compra das mercadorias produzidas pelos meios de produção maquinais que são totalmente artificiais mas, mesmo assim, os produtos maquinais e artificiais possibilitam a recuperação, reprodução e continuidade de sua força humana de trabalho, as propriedades naturais dos produtos ou das mercadorias que o trabalhador consome para repor sua força humana de trabalho certamente existem mas elas são cada vez mais qualidades gerais abstratas físicas e químicas, qualidades naturais artificiais de modo que a recuperação de sua força de trabalho é feita consumindo a generalidade duma natureza artificial que é chamada mercado e, nesse sentido, a reprodução da força humana de trabalho é também realização efetiva pelo consumo da produção do valor, ou seja, a força humana de trabalho recupera sua energia num ambiente artificial no qual ela, ao mesmo tempo, cultiva o descanso e o lazer ou a renovação da força humana de trabalho igualmente como alienação porque agora ela não gasta energia e recupera energia porque são as mercadorias, os produtos maquinais artificiais que fornecem energia maquinal para a força de trabalho. A mercadoria ou o valor, quer dizer, a redução de tudo a mercadoria e a valor é a ideologia dominante por ser a ideologia da classe dominante. Em outras palavras, os pensamentos que dominam na produção separando o trabalhador da atividade de trabalho e do produto voltam a dominar no consumo dos produtos separados do trabalhador que agora são consumidos como concentração de atividade de trabalho cheias de energia que repõem as energias gastas porque facilitam a força humana de trabalho reduzindo ao mínimo todo e qualquer esforço humano. De um lado, o trabalhador só gasta energia humana no processo de produção e, de outro lado, o trabalhador só recupera sua energia consumindo produtos que não o deixam gastar a mais mínima energia humana, então, ele deixa consumir sua energia na produção para poder adquirir produtos que o fazem acumular energia. Aí está o processo geral e também a ideologia do mesmo. Mas, não como uma conspiração nem como “introdução de ideologia na cabeça das pessoas” para que não se revoltem e sim como mercado, como realização das mercadorias produzidas ou do valor produzido. E como o fetichismo da mercadoria. Sísifo gasta sua energia levando a rocha até o cume e recupera sua energia contemplando a pedra rolar até o sopé.]



O Socialismo



Para Karl Marx, a classe operária, organizada em um partido revolucionário, deverá destruir o Estado burguês e organizar um novo Estado capaz de acabar com a propriedade privada nos meios de produção [Este Karl Marx é o tal do marxista ou o tal que foi alienado do próprio Karl Marx e este último, por isso mesmo, declarou que ele não era marxista. O Karl Marx propriamente dito é aquele que assume a destruição da máquina do Estado como sendo a ditadura revolucionária do proletariado] Esse novo Estado, que ele chama de ditadura do proletariado, deverá liquidar a classe burguesa no mundo inteiro [Esse é o Karl Marx marxista ou aquele que foi alienado do próprio Karl Marx. O próprio Karl Marx na “Questão Judaica” diferenciava a atividade de emancipação política que, a seu ver, foi muito bem concebida por Rousseau e muito bem assumida pela Revolução Francesa quando ela eleva a conceito supremo o direito à segurança ou o exercício político do poder de polícia, já ele, Karl Marx, frente a este momento supremo defende a emancipação humana ou social que é aquela feita elevando a conceito supremo as próprias forças humanas ou sociais, logo, o exercício do poder humano ou social comum; mas, na “Ideologia Alemã”, ele também já observava que “o comunismo implantado por decreto” só serve para desenvolver o (eterno) retorno desenvolvido do capitalismo; no “O 18 de Brumário” ele se refere à enorme concentração de poder policial da máquina do Estado e é na “Guerra Civil na França” que ele mostra que os trabalhadores finalmente encontraram a forma da ditadura revolucionária do proletariado, a comuna, na atividade de destruição da máquina do Estado.] Essa primeira fase é chamada de socialismo, precisa de um aparelho estatal burocrático, um aparelho repressivo e um aparelho jurídico [Aqui fica claro que não é feita nenhuma destruição da máquina do Estado porque para o marxista, aquele que é alienado de Karl Marx, o socialismo “precisa de um aparelho estatal burocrático, um aparelho repressivo e um aparelho jurídico”, enfim, duma intacta e indestrutível máquina do Estado]. É nessa fase que se dará a luta contra a antiga classe dominante, para se evitar a contra-revolução. O princípio do socialismo é: “De cada um, segundo sua capacidade, a cada um segundo seu trabalho”. [Na “Crítica ao Programa de Gotha”, o autor não marxista, aquele que é próprio de Karl Marx, afirma que a destruição da máquina do Estado é feita pelos trabalhadores que instituem seu poder comum, que é o poder dos trabalhadores, a comuna, e, por isso, medem tudo segundo o trabalho, logo, para trabalho igual ganho igual, ou seja, o não marxista diz que nessa fase inicial da sociedade que sai do capitalismo é aplicado o Direito Igual que, diz o não marxista, é a realização efetiva do Direito Burguês, uma realização que não ocorre no próprio capitalismo, ainda que o Direito Igual ou Burguês tenha nascido no capitalismo. Isto ocorre porque os trabalhadores agora podem tornar real a medição pelo trabalho igual que durante o capitalismo era reduzido a uma tendência não realizada. A troca de mercadorias se faz por meio da igualdade das mercadorias com uma mesma quantidade de trabalho humano abstrato, com uma mesma quantidade de trabalho igual incorporado nas mercadorias, mas quanto ao valor igual da força humana de trabalho ocorrem enormes disparidades, uma delas, velha conhecida dos trabalhadores, é a situação daqueles que recebem salários abaixo do valor da força humana de trabalho e para a qual a reivindicação conhecida é “para trabalho igual, salário igual”. O não marxista, aquele que é próprio de Karl Marx, observa que o Direito Igual, Burguês, Mercantil não é justo porque reduz tudo e todos a apenas um aspecto, o do trabalho, e, para que se realize a justiça, é preciso que o Direito seja Desigual para que possam ter vez os indivíduos que são naturalmente diferentes, desiguais de modo que, em lugar da redução de todos pelo trabalho, passe a vigorar a ampliação de todos pela associação de modo que indivíduos diferentes, logo, com capacidades e necessidades diferentes possam interagir com justiça ou segundo o princípio “de cada um, segundo suas capacidades, a cada um, segundo suas necessidades”. O não marxista lamenta que de início a destruição da máquina do Estado deixe de pé o Direito Igual que torna todos iguais perante a lei, quer dizer, perante o Estado que restou e que é a Comuna, mas, logo se anima com esta forma, a Comuna, por perceber que nela prevalece a ampliação das diferenças de todos pela associação das diferenças de cada um, por perceber que nela prevalece a Sociedade e não mais o Estado, logo, por perceber que a Comuna não é mais nem precisa mais ser “um aparelho estatal burocrático, um aparelho repressivo e um aparelho jurídico”]



A segunda fase, é chamada de comunismo, e se define pelo fim da luta de classes e consequentemente o fim do Estado. Haveria um desenvolvimento prodigioso das forças produtivas, que levaria a uma era de abundância, ao fim da divisão do trabalho em trabalho material e intelectual, e a ausência de contraste entre cidade e campo e entre indústria e agricultura.[O marxista, aquele que é alienado de Karl Marx, precisa explicar o que aconteceu com aquele Estado modelo do Socialismo, a URSS, que chegou ao seu fim numa época de “desenvolvimento prodigioso das forças produtivas”, “uma era de abundância”, de “fim da divisão do trabalho em trabalho material e intelectual”, de “ausência de contraste entre cidade e campo e entre indústria e agricultura” que foi a época do neoliberalismo e da globalização via internet e com o trabalho material sendo feito pelo trabalho intelectual informático e com uma agricultura de transgênicos e outras culturas industriais, com uma população rural que já não se diferencia muito da urbana porque a área rural está cada vez mais igual a área urbana, mas toda a era de abundância e das prodigiosas forças produtivas que levou ao fim do Estado modelo do Socialismo, a URSS, não chegou ao Comunismo e sim ao Capitalismo. Ora, esta não foi a previsão do não marxista, aquele que é próprio de Karl Marx?! Não foi ele quem disse que “a implantação do comunismo por decreto tem por resultado o retorno desenvolvido do capitalismo”?! E também não foi o fim da luta de classes?! Não foi o fim dos partidos comunistas, do socialismo dos partidos socialdemocratas, do vigor e predominância dos sindicatos e das lutas sindicais, das revoluções socialistas?! Portanto, foi o advento do comunismo do marxista, aquele que é alienado de Karl Marx?!?!] O princípio do comunismo é: “De cada um, segundo sua capacidade, a cada um, segundo suas necessidades”. Com a passagem para o comunismo, a luta de classes não mais seria entre dominantes e dominados, e sim entre as forças progressistas e as forças conservadoras [O marxista agora já não diz que ”o comunismo se define pelo fim das lutas de classes”, mas sim que no comunismo “a luta de classes não mais seria entre dominantes e dominados, e sim entre as forças progressistas e as forças conservadoras” e já não está bastante longo esse período no qual se descobriu que já não mais existe a divisão tradicional entre direita e esquerda?! Já é longo o tempo no qual os movimentos sociais se organizam através dos meios informacionais virtuais da internet?! Já é longo o tempo no qual os movimentos sociais se mostram associados às novas tecnologias e, nesse sentido, não mais meramente como forças (classes) dominadas e sim como forças progressistas situadas, como superação, bem à frente das conservadoras forças (classes) dominadas?! O não marxista não havia apontado uma coincidência revolucionária entre a grande indústria e os trabalhadores, ou seja, a redução do tempo de trabalho necessário para a produção da mercadoria da grande indústria e a luta dos trabalhadores pela redução da jornada de trabalho da grande indústria?! Se a relação dos trabalhadores com a grande indústria se reduz a uma relação corporal manual com a maquinaria industrial, já a relação das forças progressistas das novas tecnologias se reduz a uma relação intelectual digital com a maquinaria internética; antes era apenas a energia humana de trabalho que interessava à grande indústria, agora é a energia humana de lazer que interessa à maquinaria internética ou antes era apenas a força material, real ou a energia do ser que interessava e agora é a força imaterial, imaginária ou a energia do pensar que interessa à maquinaria internética.]



Correntes marxistas contemporâneas e as aplicações do método marxista



Lênin ( 1870 - 1924 ), teórico do marxismo, cujo verdadeiro nome era Vladimir Ilitch Ulianov, foi também um revolucionário. Quando os socialistas revolucionários, liderados pelos mencheviques, derrubaram os o czarismo em março de 1917, Lênin se encontrava exilado na Suíça. Retornando à Rússia, liderou a facção dos bolcheviques, que tomou o poder em outubro do mesmo ano. O seu propósito era restabelecer a verdadeira concepção de Marx e Engels, deformada pela Segunda Internacional ( 1889 - 1914 ), a partir da qual alemães e franceses apoiaram a guerra imperialista de 1914.



Ele também rompeu com o teórico alemão Kautsky, acusando-o de oportunismo e de adotar posições não revolucionárias, além de imprimir interpretações positivistas e não dialéticas ao pensamento marxista. Propunha a quebra do Estado burguês pela violência e instaurar a ditadura do proletariado, e foi contra os anarquistas que achavam necessário abolir o Estado imediatamente. Sob o seu comando, a Rússia se tornou União Soviética, onde acabou com a propriedade privada, planificou a economia, fez reformas agrárias, nacionalizou bancos e fábricas.



Leon Trótski ( 1879 - 1940 ) foi companheiro de Lênin nas lutas de 1917, e defendia revolução permanente, que significa o prolongamento da luta de classes em nível nacional e internacional, que gerará a guerra civil interna e a guerra revolucionária externa. Trótski foi muito perseguido pelo seu maior inimigo, Stálin, e refugiou-se no México, onde foi assassinado por um stalinista.
Joseph Stálin ( 1879 - 1953 ), foi o sucessor de Lênin no poder da URSS e fortaleceu o Estado ao ponto de transformá-lo num regime totalitário. Imprimiu ao socialismo um caráter fortemente nacionalista, fortaleceu a polícia e o exército e desenvolveu o culto à personalidade. Esteve menos preocupado com a teoria e mais com a formulação de máximas de ação. Após sua morte, Kruchev assumiu o poder e promoveu o processo de desestalinização.



Rosa Luxemburg ( 1871 - 1919 ), natural da Polônia, ajudou na formação da Liga Espartaquinista e fundou o Partido Comunista Alemão. Defendia a tese da espontaneidade das massas e criticava o partido único, cuja consequência é o governo ditadorial de uma minoria. Alertou severamente sobre os perigos da burocracia, que poderia levar à supressão da democracia.



Antônio Gramsci ( 1891 - 1937 ) foi um dos mais importantes teóricos italianos, preso durante catorze anos pela ditadura fascista. Mesmo no cárcere, onde ficou até a morte, escreveu muito, enfatizando a crítica ao dogmatismo do marxismo oficial, que ao petrificar a teoria, impedia a prática revolucionária. [Todos estes são expoentes do marxista, aquele que é alienado de Karl Marx?!]



Autoria: Cristiane Rubão [Autor dos comentários: Carlos Eduardo de Alencastro]