quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Será que é isso?!...




No Brasil é a partir da chamada década perdida, cujo início coincide com o do lançamento do neoliberalismo no mundo, que surge e se desenvolve a prática dos sujeitos político-sociais atualmente no poder.


É curioso que o novo sindicalismo, que originou o PT e a CUT, seja formado e desenvolvido em partido político e central sindical durante a década perdida.


Também é curioso que os governos Lula tenham assumido combater as crises por meio do aumento sistemático dos meios de consumo. Mais curioso ainda que os governos Dilma tenham assumido a enorme redução da participação da indústria no PIB.


Será que ao se situar na luta salarial o "novo sindicalismo" também se situou apenas na aquisição de aumento da renda e/ou de meios de consumo e, desse modo, uma vez no poder, só imaginou real a política que distribuísse renda para os mais pobres e/ou aumentasse a distribuição de meios de consumo para os mais pobres?! Também só imaginou real a política de aumento dos meios de consumo para combater as crises. As reduções do IPI para aumento do consumo de automóveis, a aceitação do burlar a lei introduzindo os transgênicos para aumentar o consumo via as exportações de soja e de carnes de gados alimentados com rações baseadas na soja transgênica, facilidades com os créditos baseados em consignados, quer dizer, em descontos em folha, os quais lembram uma antiga prática dita "do barracão" por meio da qual os salários dos trabalhadores eram descontados de acordo com os gastos que faziam para se alimentar e vestir recorrendo aos produtos do dito "barracão". Uma visão de grande produção monocultural que abandona a diversificação e produção de alternativas energéticas quando "descobre" o pré-sal. Uma visão que, em nome do consumo futuro do pré-sal, não consegue conter a voracidade dos que corrompem a Petrobrás no presente. E agora nos governos Dilma, cada vez mais, se reafirma o retorno aprofundado da "década perdida".


Será que toda a novidade do partido independente e da central independente da classe dos trabalhadores num país como o Brasil se reduz a um "novo sindicalismo" no sentido de um novo participante do aumento dos meios de consumo (aumento dos salários), no sentido de um novo agente mercantilista, mas nunca no sentido de um novo participante do aumento dos meios de produção (reduções das jornadas de trabalho), no sentido de um novo agente capitalista?!


Será que é aí que se encontra o problema posto pelo "Que Fazer?" que diferencia entre os que se limitam à aquisição e propriedade dos meios de consumo e os que avançam para a aquisição e propriedade dos meios de produção?! Enfim, que diferencia entre os que socializam os meios de consumo ou socializam o mercado/o socialismo de mercado e os que socializam os meios de produção ou socializam a produção do capital/o comunismo da produção do capital?!



domingo, 21 de fevereiro de 2016

Fuga da vida e busca da vida / Diálogos...?!

                                                                                                                                                  20/03/2016 


É muito curioso que isso exista, mas, infelizmente, sob certo ponto de vista, e felizmente, de outra perspectiva, acontece mesmo que o indivíduo em lugar de viver a vida, viva escrevendo, substitua o viver pelo ato de escrever, mas não porque seja lido por muita gente e sim por ter optado por estudar em lugar de viver. E o estudar de quem, antes de viver, precisa estudar para poder vir a viver não é algo interessante por maior que seja o interesse de quem fica estudando em lugar de viver. Até porque a pessoa não consegue estudar de uma maneira geral e isso acontece precisamente porque ela não está efetivamente estudando e sim substituindo o viver a vida pelo estudar antes de viver.


Eu sou este indivíduo/esta pessoa que escreve ao invés de viver, que pretende estudar “a vida” antes de viver, mas que, na verdade, por estar fugindo do viver e mesmo do viver daqueles que escrevem e que estudam eu acabo por não ter vida nem tenho como dar vida naquilo que escrevo e que estudo precisamente porque o que escrevo e o que estudo são formas de fugir da vida, logo, por isso mesmo, são formas sem vida, já que o conteúdo vital não existe porque a forma escrita é a fuga da vida. Porém, por isso mesmo, a escrita e o estudo que fogem da vida são formas de minha preparação para a morte. E, nesse sentido, tanto o que escrevo quanto o que estudo são formas de vivenciar uma dramaturgia determinista, formas de parar de resistir à atração da morte como destino inexorável, formas para me convencer que tudo está escrito e que não há o que viver e, portanto, só resta morrer.


Porém, quando escrevo, estudo e descubro isso de mim mesmo eu também descubro que a escrita, o estudo e a descoberta que preparam para a vida são aquelas que, supostamente, se entregam ao viver antes de escrever, de estudar e descobrir, ou seja, são aquelas cheias de vida, logo, são aquelas com formas escritas que preparam para enfrentar o viver a vida, para vivenciar uma dramaturgia livre e atraída de modo irresistível pela vida como livre criação, são formas que convencem que nada está escrito, que há muito o que viver e, por isso mesmo, só é preciso viver. Esta possibilidade aparece no que escrevo como imaginária precisamente porque se existisse a minha forma escrita cheia de vida seria justamente uma escrita cheia de imaginação, o estudo seria cheio de criatividade e minhas descobertas seriam invenções, enfim, meus textos seriam lidos com gosto porque com sua imaginação, criatividade e inventividade atrairiam todos para o viver a vida.


Descobri que estas duas figuras, a que foge da vida e se prepara para a morte e a que se entrega à vida e é preparada pela vida, aparecem sempre na atividade de escrever e de forma conflitiva porque a primeira sem atrativos vitais pretende dar um retrato real e documental da vida e a segunda cheia de atrativos vitais pretende dar uma descrição imaginária e ficcional da vida. Uma pretende denotar a vida e a outra pretende conotar a vida. Eu escrevo constantemente sobre elas, mas sempre me sentindo menor e incapaz de conotar a vida, sempre me vendo a caminho dum poço sem fundo, do buraco negro da morte.


Escrevi aqui sobre isso do jeito que venho fazendo faz anos. Mas, quero deixar claro para o leitor – que aqui tem sido básica e essencialmente eu mesmo – aquilo que meu escrever tem sido até para que eu mesmo venha a saber o que fazer para sair dessa duma vez ou permanecer nessa até o fim. Bom, vou mostrar abaixo o que escrevi do jeito que escrevo faz anos e também como, de repente, deixei que viesse à tona algo e, posteriormente, supondo que isso pudesse perturbar o leitor, vim a reescrever uma parte.


Aí vai:


Na sua tese de doutorado, sobre a “Diferença entre as filosofias da Natureza em Demócrito e Epicuro”, Marx, ao discorrer sobre as “dificuldades relativas à identificação entre a filosofia da Natureza de Demócrito com a de Epicuro”, apresenta três pontos nos quais aparecem estas dificuldades gerais de identificação entre as filosofias de Demócrito e de Epicuro. No primeiro ponto, ele considera que se torna possível examinar a diferença dos juízos teóricos dos dois filósofos, quer dizer, o ponto de vista de cada um deles sobre a verdade e a certeza do saber; no segundo ponto, já é a a perspectiva de cada um deles a respeito da diferença da energia e da diferença da prática científica que desenvolvem, quer dizer, aparece a diferença dos juízos práticos das filosofias de cada um; e, finalmente, no terceiro ponto, Marx procura trazer à tona a diferença estabelecida por cada um entre o pensamento e o ser, melhor, como cada um deles estabelece/equaciona a relação entre o pensamento e o ser, quer dizer, como cada um deles diferencia a relação da consciência particular de cada um deles com o mundo ou desenvolve aquilo que ele, Marx, chamou de “forma de reflexão” e que nós, graças à luz do dramaturgo Carlos Henrique de Escobar, ousaremos chamar de diferença de “dramaturgia”.


“Ora, Demócrito emprega como forma de reflexão da realidade efetiva a necessidade, Aristóteles diz dele que ele enraíza tudo na necessidade. Diógenes Laércio informa que o turbilhão dos átomos, de onde tudo nasce, é a necessidade de Demócrito. Explicações mais satisfatórias são fornecidas a este respeito pelo autor do “De placitis philosophorum”: a necessidade seria para Demócrito o destino e o direito, a providência e a criadora do mundo. Mas a substância desta necessidade seria a antipatia, o movimento, a impulsão da matéria. Uma passagem semelhante se encontra nas “éclogues physiques de Stobée” e no livro VI da “Praeparation evngelica d’Eusèbe”. Nas “éclogues éthiques” de Stobée se encontra conservada a seguinte sentença de Demócrito, que é quase que integralmente reproduzida no livro XIV d’Eusébe : os homens imaginaram o fantasma do acaso – uma manifestação do seu próprio embaraço; porque um pensamento forte deve ser inimigo do acaso. De igual modo, Simplicius atribui a Demócrito uma passagem na qual Aristóteles fala da velha doutrina que suprime o acaso.”


Imediatamente e em oposição a Demócrito Marx apresenta a “forma de reflexão” de Epicuro assim:


“Epicuro ao contrário escreve: ‘A necessidade, que é mencionada por alguns como mestra absoluta, não é; bem ao contrário, algumas coisas são fortuitas, outras dependem do nosso arbítrio. A necessidade é impossível de convencer, o acaso ao contrário é instável. Seria melhor seguir o mito dos deuses do que ser o criado/a criatura do destino dos físicos. Porque o primeiro nos deixa a esperança da misericórdia se nós honrarmos os deuses, enquanto que o segundo só nos deixa a inflexível necessidade. Mas é o acaso que é preciso admitir, e não Deus, como a multidão acredita. É uma infelicidade viver na necessidade, mas viver na necessidade não é uma necessidade. Abertas estão por toda parte as vias que levam para a liberdade, numerosas curtas, fáceis. Agradeçamos, pois, à divindade que ninguém possa ser detido em vida. Domar a necessidade ela mesma é coisa permitida.


“O epicurista Velleius diz a mesma coisa em Cícero a propósito da filosofia estoica: ‘Que se deve pensar duma filosofia, para a qual, como para as comadres ignorantes, tudo parece se produzir pelo fatum?... Epicuro nos livrou disso e nos instalou na liberdade.’”


Aquilo que precisamos tornar cada vez mais claro é que a terceira diferença característica geral entre as filosofias de Demócrito e de Epicuro, que é chamada por Marx de “forma de reflexão” e que, graças ao dramaturgo Escobar, chamamos de “dramaturgia”, ocorre na relação da consciência particular do filósofo com o mundo, ou seja, ocorre quando o filósofo se encontra no movimento de repulsão e de atração, de choque e encontro com o mundo, quer dizer, ocorre durante o movimento de estabelecimento de relações da consciência particular do eu filosófico com os demais seres do mundo e, igualmente, com as demais consciências particulares dos eus do mundo.


Para um filósofo que só admite os movimentos de queda e de repulsão em linha reta as suas relações com o mundo e com os demais indivíduos do mundo são determinadas pela linha reta, fatal, imperativa, determinista, autoritária, quer dizer, a necessidade é a “forma de reflexão”, melhor, é a “dramaturgia” desse filósofo.


Já o filósofo que admite, entre os movimentos de queda e de repulsão em linha reta, um movimento próprio e com o qual se torna possível a passagem duma linha reta para a outra linha reta, quer dizer, a passagem da queda para a repulsão, só consegue estabelecer suas relações com o mundo e com os demais indivíduos do mundo a partir do seu próprio movimento de estabelecimento do seu próprio ser e de sua própria consciência particular no mundo. Noutras palavras, as suas relações com o mundo e com os demais indivíduos só são possíveis porque são determinadas pela linha curva, que escapa, desvia/declina, cria, convive, ou seja, para este filósofo o acaso é a “forma de reflexão”, melhor, é a “dramaturgia” do seu filosofar, da sua filosofia. E este momento da dramaturgia é o momento das relações do filósofo com o mundo e com os demais indivíduos, ou seja, é o momento propriamente dito das ações dos atores presentes no campo do drama, da dramaturgia.



Ora, como ele se coloca para Demócrito? Vimos que, para ele, “o destino e o direito, a providência e a criação do mundo” são determinadas pela necessidade, ou seja, tudo é pré-determinado e nada acontece por acaso, logo, é o mecanicismo que aparece na dramaturgia de Demócrito.


“A necessidade aparece, com efeito, na natureza finita como necessidade relativa, como determinismo.  A necessidade só pode ser deduzida da possibilidade real, o que quer dizer que é um encadeamento de condições, de causas, de razões etc. que mediatiza esta necessidade. A possibilidade real é a explicação da necessidade relativa. E nós a encontramos empregada por Demócrito. Nós citamos em apoio algumas passagens tomadas de Simplicius.


“Que um homem esteja sedento, que ele beba e recupere a saúde de seu corpo, não é o acaso que Demócrito dará como causa, mas a sede. Mesmo se, com efeito, ele parece, a propósito da criação do mundo, fazer intervir o acaso, ele afirma, entretanto, que, nos casos particulares, aquele não é causa de nada, mas, ao contrário, reenvia para outras causas. Assim, por exemplo, cavar a terra seria a origem da descoberta de um tesouro ou a vegetação seria a causa da oliveira.


“O entusiasmo e a seriedade com a qual Demócrito introduz na consideração da natureza esse modo de explicação, a importância que ele atribui para a tendência em estabelecer razões se exprimem ingenuamente nesta profissão de fé: ‘Eu prefiro descobrir uma nova etiologia do que obter a coroa do rei da Pérsia’.”


[Aqui é o ponto que, depois, mais abaixo, tem início uma forma alternativa à angústia que veio à tona, ainda que seja igualmente angústia vinda à tona.]


Como se coloca o momento da dramaturgia para Epicuro? Como Epicuro considera que, por um lado, existem umas coisas que são casuais e, por outro lado, outras que dependem da nossa vontade, ele faz com que a relação entre o mundo e o eu seja instável e sujeita à mudança do espaço-tempo, bem como contrária e oposta a uma relação inflexível e sujeita à imutabilidade do espaço-tempo. Não há nada pré-estabelecido, nem destino, nem direito, nem providência nem mesmo a criação do mundo. Se uma relação necessária, estável e inflexível se estabelece entre o homem sedento e a água que bebe e tira a sede, então ele busca domar essa necessidade de modo a suportá-la: seja pela casualidade de não haver água e, havendo, por esquecer de beber água; seja pelo controle da vontade por não haver água e, havendo, por lembrar do controle da vontade de beber água. O mesmo para a necessidade de tesouro e de oliveira. Ou seja, com sua vontade ele procura verificar se é possível viver sem água, sem tesouro e sem oliveira. E se verifica que não é possível viver sem água, ainda que seja possível viver sem tesouro e sem oliveira, então ele trata de controlar a necessidade de água de modo a não viver na necessidade e pode tratar de esquecer de viver com tesouro e com oliveira por não ter necessidade disso, mas também pode cuidar para viver com tamanha quantidade de água como se não sentisse a sua necessidade dela, bem como com tamanho tesouro e tanta oliveira que sem eles não pudesse viver, ainda que deles não tivesse necessidade. A relação de causa e efeito entre o homem sedento e a água que bebe que tem por efeito acabar com a sede, quer dizer, com a necessidade de água do homem sedento é consequência da junção da sede de água com a vontade de beber ("junção da fome com a vontade de comer" - dito popular). Isso serve para lutar e resistir a homens que se apoderam das fontes da vida, como a água, para obrigar os demais a servi-los, de modo que eles se dobrem à vontade dos lutadores e resistentes que não temem morrer precisamente porque eles, poderosos donos das fontes da vida, temem que não existam mais homens que possam convencer a servi-los em troca do fornecimento dos materiais das fontes da vida. Parece que aqui existe algo mais profundo. Vamos tentar ver.


Se bebo água, como melancia, melão, laranja, bebo água de coco etc., se beijo a boca amada, se durmo, se fico à sombra e no frescor do sereno, se tomo um banho, se me esqueço de sentir sede, enfim, se, em todos esses casos, eu considero que a sede é um imprevisto e que existem outros imprevistos como, por exemplo, a morte, então, por outro lado, também posso considerar que a sede e a morte dependem da vontade. Desse modo, considero que, estabelecendo uma necessidade relativa entre sede e satisfação da sede, eu desenvolvo um determinismo, quer dizer, um comportamento necessário, disciplinado, temente à morte, portanto, sob tudo isso, quer dizer, sob essa dramaturgia do determinismo se encontra o problema do não temer ou do temer a morte presente na dialética do senhor e do escravo. Por outro lado, considero que estabelecendo uma casualidade completa entre sede e satisfação da sede, eu desenvolvo um acaso, um comportamento voluntarioso, livre, sem medo da morte, logo, à tona de tudo isso, quer dizer, à tona dessa dramaturgia do acaso se encontra o problema do não temer ou do temer a morte presente na dialética do senhor e do escravo.


Na dialética do senhor e do escravo, este último se torna escravo e/ou submisso à determinação da necessidade por temer a morte, enquanto que o primeiro se torna senhor e/ou livre pela determinação do acaso por não temer a morte, ou, pelo menos, esta é a argumentação usada para a compreensão da dialética estabelecida entre o senhor/mestre/patrão e o escravo/servo/discípulo/empregado. Então, nessas dramaturgias do determinismo versus o acaso dos dois filósofos atomistas gregos encontramos a problemática do temor e do destemor à morte atribuída à dialética do senhor e do escravo.


No entanto, esta dialética do senhor e do escravo só se torna completa quando ocorre a libertação do escravo do senhor, quer dizer, depois que o escravo vem a obter o domínio da necessidade e/ou da dramaturgia da necessidade, quer dizer, depois que ele se torna senhor do trabalho e dos meios de produção, mestre de todas artes e ofícios, sábio erudito. Ora, esta é a descrição que Marx faz de Demócrito na sua tese. Mais ainda, em várias passagens ele deixa claro que Demócrito é como Édipo uma criatura ou um criado da dramaturgia do destino/determinismo, ou seja, o ponto culminante de sua trajetória é a entrega à morte, supostamente sem mais nenhum medo, sem mais nenhuma ilusão relativa à vida ou com total ceticismo em relação à vida e com a crença de ter cumprido seu dever e de vir a satisfazer uma enorme curiosidade com a entrega à morte imortal, com a entrega à imortalidade da morte, quer dizer, com a realização da suposta superação da condição inicial que o fez escravo, o medo da morte, portanto, o vir a ser senhor é realizado efetivamente como entrega à morte.


Por outro lado, a libertação do escravo do senhor se faz por meio da escravização do senhor ao determinismo da necessidade, quer dizer, depois que o escravo, dominando o trabalho e os meios de produção, impõe ao senhor o imperativo da submissão de sua força humana à necessidade de trabalhar, ou seja, reduz o senhor a simples força humana de trabalho. Aquele senhor que por não temer a morte fez de quem a teme escravo e que, precisamente, por não temer a morte se lançou na luta e/ou no drama com a dramaturgia do acaso permanece contando apenas com sua simples força humana natural, mas, agora, em lugar de lutar com outras forças humanas naturais, ele se encontra em luta com a necessidade de trabalhar que é imposta a ele por um maquinismo mecânico, por um mecanicismo maquinal que, cada vez mais, o reduz à irrelevância. Porém, ele permanece uma força humana natural que luta sem temer a morte, mas que, agora, sente e vivencia algo que se acrescentou à sua força humana natural que é o trabalho, portanto, passou a se perceber naturalmente como algo social que foi o se perceber como força humana de trabalho. Ele se encontra ainda na dramaturgia do acaso de modo que pode encontrar nessa nova configuração, que acrescentou socialmente o trabalho à sua natureza, ora a casualidade da oferta de trabalho, ora a vontade da procura de trabalho. E esta nova configuração da dramaturgia do acaso vivida pelo senhor, que se tornou escravo, que luta destemidamente como força humana natural de trabalho, é uma dramaturgia do acaso dominada pela dramaturgia do determinismo, ou seja, o mercado, que, supostamente, criou o acaso da oferta e da procura de trabalho, na verdade, é regido pelo determinismo do mecanicismo da ação e reação de força igual e contrária, ou seja, supostamente, a troca de mercadorias é uma troca igual duma ação/atividade de força de trabalho por outra ação/atividade de força de trabalho igual e contrária, porém, ainda que seja efetivamente uma troca igual de forças iguais e contrárias, na realidade, ocorre uma desigualdade nas trocas das mercadorias porque uma parte considerável das forças iguais e contrárias se acumula nas mãos dos que se assenhorearam das fontes da vida por meio do senhorio do trabalho e dos meios de produção, ou seja, porque uma parte considerável e significativa das forças humanas naturais de trabalho dos senhores escravizados são extraídas de forma excessiva e jamais são devolvidas a eles. Desse modo, os destemidos senhores - que se entregam aos usos dos seus excessos de forças naturais humanas e, por isso mesmo, por seus excessos de energia, se tornam senhores -, agora, ao se entregarem aos usos dos seus excessos de forças naturais humanas de trabalho se tornam escravos.


Forma alternativa:


Demócrito para descobrir novas etiologias andou por todo o mundo de sua época e conheceu as mais diversas artes, ciências e ofícios porque aprendeu com os mestres mais diversos se tornando um homem culto, erudito, ou seja, Demócrito constituiu, com sua atividade como “necessidade relativa” de saber, “como determinismo, a necessidade relativa” do conhecimento que “só pode ser deduzida da possibilidade real” duma etiologia conhecida por mestres determinados, “o que quer dizer que é um encadeamento de condições, de causas, de razões etc.” [e também de viagens para aprender com os mestres] “que mediatiza esta necessidade. A possibilidade real” dum mecanicismo/maquinismo “é a explicação da necessidade relativa”. Demócrito é o homem culto e erudito que por meio do trabalho acumulou e trocou conhecimentos, experiências, observações e maneiras e meios de produzir, ou seja, ele desenvolveu um modo de ser senhor do trabalho e dos meios de produção que foi o mais genuíno produto do seu determinismo: o mecanicismo/o maquinismo. Na dialética do senhor e do escravo, o feito de Demócrito é atribuído àquele que se tornou escravo por medo da morte ou, na linguagem de Demócrito, por necessidade relativa de sobreviver e que, por meio do domínio do trabalho e dos meios de produção, se torna senhor que acaba por escravizar o senhor, já que este não tem mais como acessar as fontes naturais da vida a não ser por meio dos produtos que estão sob domínio do novo senhor do trabalho e dos meios de produção. Logo, o antigo senhor que, com seu excesso de força natural humana, não temia a morte e se lançava com coragem na luta com os demais e se tornava senhor, porque estes últimos com medo da morte desistiam da luta e se submetiam ao corajoso senhor sem medo da morte, vem a se tornar escravo do novo senhor do trabalho e dos meios de produção por querer acesso não só aos novos produtos mas, especialmente, às fontes da vida das quais o antigo escravo se assenhoreou por meio do trabalho e dos meios de produção.


Como se coloca o momento da dramaturgia para Epicuro? Como Epicuro considera que, por um lado, existem umas coisas que são casuais e, por outro lado, outras que dependem da nossa vontade, ele faz com que a relação entre o mundo e o eu seja instável e sujeita à mudança do espaço-tempo, bem como contrária e oposta a uma relação inflexível e sujeita à imutabilidade do espaço-tempo. Não há nada pré-estabelecido, nem destino, nem direito, nem providência nem mesmo a criação do mundo. Não havendo nada pré-determinado e tudo ocorrendo por acaso, então, é a liberdade que aparece na dramaturgia de Epicuro. E, significativamente, talvez, seja a mesma liberdade daquela força natural humana que não teme a morte e se lança com coragem no acaso da luta com as demais forças naturais humanas e, assim, vem a ser senhor dos demais por não se dobrar nem reconhecer o determinismo de nenhuma necessidade, nem mesmo a de viver, porque só conhece o acaso e a liberdade de viver.


“Uma vez mais Epicuro está em direta oposição a Demócrito. O acaso é uma realidade que só tem valor de possibilidade, mas a possibilidade abstrata é justamente o antípoda da possibilidade real. Esta última está encerrada dentro de limites rigorosos, como o entendimento; a primeira é ilimitada como a imaginação (Phantasie). A possibilidade real procura fundamentar a necessidade e a realidade efetiva de seu objeto (Objekt); a possibilidade abstrata não se ocupa do objeto que é explicado, mas do sujeito que explica. O objeto (Gegenstand) deve somente ser possível, pensável. O que é possível segundo a possibilidade abstrata, o que pode ser pensado, isto não se levanta no caminho do sujeito pensante, isto não é para ele um limite nem um tropeço. Pouco importa que esta possibilidade seja igualmente real, porque o interesse não se dirige aqui para o objeto do entendimento como objeto do entendimento (Gegenstand).


“É por isso que Epicuro procede com uma indolência sem limite na explicação dos diversos fenômenos físicos.


A carta a Pytoclès, que nós examinaremos mais adiante, esclarecerá este ponto. Que me seja suficiente aqui atrair a atenção para sua atitude a respeito das opiniões dos físicos anteriores. Nas passagens nas quais o autor do De placitis philosophorum e Stobée citam as diversas opiniões dos filósofos sobre a substância dos astros, a grandeza e a figura do sol, etc. é sempre dito de Epicuro: ele não rejeita nenhuma dessas opiniões, todas podem ser verdadeiras, porque, segundo eles, Epicuro se atém ao possível. Ainda mais, Epicuro polemiza contra o modo de explicação pela possibilidade real que determina segundo o entendimento e é então, justamente por isto, unilateral.


“ É assim que Sêneca declara nas suas Quaestiones naturales: ‘Epicuro afirma que todas as causas podem ser e tenta além disso diversas outras explicações; ele censura aqueles que pretendem que entre todas estas causas é uma determinada que tem lugar, porque para ele é uma temeridade estabelecer um juízo apodítico sobre aquilo que só pode ser deduzido de conjecturas.


“A gente vê aqui que ele não tem nenhum interesse em pesquisar as causas reais dos objetos (Objekte). Só cuida de um apaziguamento do sujeito que explica. Pelo fato de que todo o possível é admitido como possível, o que responde ao caráter da possibilidade abstrata, fica evidente que o acaso de ser é pura e simplesmente traduzido pelo acaso do pensamento. A única regra prescrita por Epicuro, ‘que a explicação não deve ser contradita pela percepção sensível’, se compreende em si; com efeito, justamente o próprio do possível abstrato é ser livre de toda contradição, a qual deve, por isso, ser prevenida. Epicuro quer, no fim de contas, que seu modo de explicação só tenha por finalidade a ataraxia da consciência de si e não o reconhecimento da natureza em si e para si.”


Epicuro não se volta para a possibilidade real, quer dizer, não se comporta como Demócrito que está voltado para o conhecimento das coisas reais e particulares, quer dizer, que podem ser rigorosamente delimitadas e compreendidas, não se volta para o mundo das necessidades relativas como o faz Demócrito, quer dizer, não se ocupa com a necessidade disso e daquilo para poder sobreviver. Pelo contrário, ele se volta para a possibilidade abstrata, quer dizer, se comporta como quem se volta para o conhecimento das coisas imaginárias e universais, quer dizer, das coisas que não podem ser rigorosamente delimitadas nem compreendidas, se volta para o mundo absoluto do acaso e da liberdade, quer dizer, se ocupa com o acaso das conjecturas abstratamente possíveis a respeito dos astros e do universo astronômico. Mais ainda, com esta sua dedicação às coisas imaginárias e universais que não podem ser rigorosamente delimitadas nem compreendidas e, portanto, conhecidas, ele se comporta como quem desiste dum conhecimento natural e objetivo por só se ocupar verdadeiramente com o conhecimento humano e subjetivo da “ataraxia de si”, por só se ocupar com o conhecimento/a fruição humana e subjetiva do “apaziguamento do sujeito” humano. Noutras palavras, Epicuro parece levantar um muro e/ou uma interdição completa para o conhecimento natural e objetivo, real e particular para se dedicar à abertura dum horizonte e/ou duma liberdade completa para o conhecimento humano e subjetivo, imaginário e universal. E ele praticou isso desenvolvendo o seu jardim, pois era lá, no famoso Jardim da Amizade e do Prazer de Epicuro, que ele praticava a sua filosofia. Epicuro socorreu seus concidadãos com produtos do seu jardim, quando Atenas esteve sob cerco militar, portanto, seu jardim era produtivo. Na entrada do seu jardim estava anunciado que o viajante poderia encontrar ali abrigo, pão, água limpa e conversação saudável. Epicuro se gabava de viver bebendo água e comendo pedaços de pão e de só raramente beber vinho e comer iguarias refinadas ao festejar na companhia dos amigos. Segundo sua filosofia, com isso não estava passando necessidade e sim domando a necessidade, admitia e também praticava jejuns. De certo modo, ele preparava a sua força natural humana para resistir à necessidade e lutar contra a necessidade, ou seja, era como se ensinasse a fazer greve e a lutar contra a exploração mecanicista da força natural humana de trabalho. Ele libertou seus escravos e com eles praticou a sua filosofia de chegar à sabedoria prática ou à prática da sabedoria do conhecimento humano e subjetivo, imaginário e universal da amizade e do prazer. Epicuro exaltava o saber autodidata, quer dizer, o saber humano e subjetivo, mas este também era o do cultivo do seu jardim da amizade e do prazer, quer dizer, do cultivo das mais diversas plantas nativas de Atenas e da Grécia e das demais trazidas pelos viajantes que eram hóspedes no seu jardim, além disso, Epicuro e seus amigos epicuristas cultivavam a publicação de livros pelo seu jardim como desenvolvimento e expressão do saber autodidata dos epicuristas.


A força natural humana, do corajoso senhor que não teme a morte e se lança na luta ao acaso e livremente, parece ser retomada por Epicuro como força natural humana de trabalho que, aprendendo a se acorrentar às fontes da vida, constituindo um jardim, reafirma o acaso à maneira de “Prometeu”, ou seja, sem temer estar acorrentado e sofrendo os ataques da necessidade inflexível, imposta pelos deuses imortais, quer dizer, pela morte imortal ou pela imortalidade da morte, permanece ali firme e anunciando a vinda do seu libertador, “Herácles”, o semideus do trabalho, que tornará possível a realização efetiva da libertação e do desejo de “Prometeu” que é o acaso instável ou a liberdade da vida mortal dos humanos, quer dizer, o seu desejo da vida mortal ou pela mortalidade da vida. Noutras palavras, Epicuro parece o senhor que, depois de ser acorrentado, quer dizer, depois de ter sua força natural humana acorrentada e explorada, como força natural humana de trabalho, pelo escravo que se assenhoreou das fontes da vida, aprendeu a garantir e a manter as fontes da vida para si, portanto, aprendeu a se manter senhor comunitário das fontes da vida e a lutar ao acaso e livremente com a sua força natural humana de trabalho pela coragem da vida, pela coragem de viver, pela coragem da vida mortal humana e contra a morte imortal divina. 


Desse modo, as dramaturgias de Demócrito e de Epicuro, tais quais a dramaturgia da burguesia capitalista e a dramaturgia do proletariado comunista, lutam entre si. Uma, tal qual a figura mítica de Édipo, pelo estruturalismo determinista (linhas retas/reacionárias) da morte imortal, e a outra, tal qual a figura mítica de Prometeu, pelo conjunturalismo ao acaso (linhas curvas/revolucionárias) da vida mortal.


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Os diálogos impossíveis são aqueles que acabam se configurando como impasses, como polêmicas e, infelizmente, até mesmo, como guerras entre os “dialogantes”. E os diálogos são impossíveis porque os mal-entendidos são completos e, muitas vezes, os dialogantes parecem se entender porque usam as mesmas palavras, as mesmas ideias, as mesmas noções, os mesmos conceitos, então se torna algo incompreensível verificar que dois dialogantes usando os mesmos conceitos não se compreendam. 


Foi isso que Marx estudou na sua tese sobre Demócrito e Epicuro e é isso que vemos ocorrer na polêmica da física teórica recente entre os partidários da teoria dos quanta (Bohr, Heisenberg etc.) e o partidário da teoria do campo unificado (Einstein.). É também isso que Marx mostra ocorrer entre os partidários da emancipação política e da emancipação humana, entre a classe burguesa e a classe proletária. 



Mas isso acaba sendo uma outra história porque antes de tudo, quer dizer, antes de se mostrar como uso dos mesmos conceitos, estes exemplos mostram que a diferença no uso dos conceitos é a diferença entre os sujeitos que fazem uso deles: O sujeito Demócrito versus o sujeito Epicuro, os sujeitos Bohr, Heisenberg etc. versus o sujeito Einstein, a classe capitalista versus a classe trabalhadora.


Exceto no caso de Demócrito, que estava morto quando Epicuro vivia, nos demais exemplos os sujeitos conviveram, como ocorreu com os físicos teóricos, e ainda convivem, como ocorre com as classes capitalista e trabalhadora, apesar das muitas mudanças ocorridas nelas mesmas e nas relações entre elas. Os herdeiros de Demócrito e Epicuro e da teoria dos quanta e da teoria do campo unificado permanecem desenvolvendo o diálogo impossível, o impasse, a polêmica e o mesmo ocorre com a classe dos capitalistas e a classe dos trabalhadores que, apesar das mudanças pelas quais passaram, ainda não conseguiram sair por completo do diálogo impossível, do impasse, da polêmica.


A atualidade parece afirmar que o diálogo impossível, o impasse, a polêmica ocorre na religião e que existe um enorme crescimento da religião por toda parte, logo, Deus está mais vivo do que nunca, ao contrário do que disseram participantes do iluminismo, lembrados por Hegel e seguidos por Nietzsche, filósofo que ainda está em moda na atualidade, apesar de a atualidade negar que Deus está morto e afirmar ainda, dada as diferenças religiosas, que, talvez, não apenas um Deus único esteja vivo, mas também os Deuses únicos de cada um dos monoteísmos e o Deus múltiplo dos politeísmos, quer dizer, talvez, os Deuses estejam mais vivos do que “nunca antes na história da humanidade”.


Os nossos antepassados mais primitivos chegaram a adorar a divindade na mulher grávida porque dela vinha a criação humana. Todos somos oriundos de mulheres grávidas, até mesmo os bebês de proveta ainda recorrem ao útero das mulheres para vir a nascer. Atualmente os bebês de provetas são provenientes de óvulos e espermatozoides retirados de mulheres e homens, respectivamente, que são fecundados em laboratório por meio das provetas e a seguir conservados de forma adequada em baixíssimas temperaturas e, quando necessário são retirados e transferidos para um útero com muitos cuidados para que consigam se fixar e não sejam rejeitados/abortados por ele. Talvez, com a nova tecnologia desenvolvida a partir das células-tronco sejam feitos não apenas os órgãos que se queira/precise, mas também óvulos, espermatozoides e úteros em laboratório. Talvez até venha a ser possível criar um ser humano completo a partir dos desenvolvimentos da nova tecnologia das células-tronco. De todo modo, essas técnicas e tecnologias da atualidade, como a da transgenia ou manipulação dos genes do código genético, deve ser lembrada como possível desde a descoberta do sequenciamento do código genético do DNA. Retomando, de todo modo, todo esse conjunto de conhecimentos biotecnológicos atuais lembram o mito e atividade de Prometeu de criar um ser a partir da fertilidade ou do húmus (óvulo) da Terra e da energia luminosa ou da centelha (espermatozoide) do Céu. Este poder de criar um ser “à sua imagem e semelhança”, como se diz, na Bíblia, da atividade criativa de Deus, parece ser cada vez mais realidade efetiva e, talvez, precisamente, por isso, Nietzsche, o filósofo que, além de lembrar que a maioria ainda não ouviu a novidade: “Deus está morto!”, também defende a criação pelo humano do super-humano, quer dizer, reivindica aberta e claramente a prática da atividade prometeica de criação de um novo ser humano que é o ser super-humano.


Quem, na atualidade, quer criar ou recriar a religiosidade das religiões, quer dizer, Deus vivo e/ou Deuses vivos, desde que não sejam o deus e/ou os deuses vivos da tecnologia do conhecimento humano/da ciência humana. Quem quer o retorno das religiões?! Quem incentivou por todo lado esse movimento religioso que, por exemplo, no Brasil, fechou inúmeras salas de cinema e no seu lugar abriu templos das novas religiosidades?! Quem fez isso?! Deus?! Em 1979 chegou ao poder no Irã o Islamismo xiita e a Margareth Thatcher anunciava que o neoliberalismo tinha chegado ao poder na Inglaterra. Em seguida, ao se tornar presidente, Ronald Reagan anunciava que o neoliberalismo também tinha chegado ao poder nos EUA.


Que movimentos novos existiam no mundo capitalista quando anunciaram o neoliberalismo? Existia a explosão da informática, dos negócios das bolsas com informações em tempo real. Também existia a explosão dos microcomputadores e seus usuários, das chamadas ONGs (Organizações Não-Governamentais), do trabalho voluntário do 3º setor, do mercado informal, do empreendedorismo, das igrejas evangélicas. -


[Existiam ainda outras explosões de movimentos etc., mas, é claro, que no momento, a mente seleciona aquilo que pode manter de imediato maior grau de relação com o assunto que desenvolve.] 



- A ideia da internet foi previamente discutida numa empresa fornecedora do Pentágono sob encomenda do mesmo. O argumento a favor era o de ter encontrado um sistema de defesa no qual o inimigo não poderia atacar o Estado-Maior porque a organização em rede permitia a organização do Estado-Maior em rede de diferentes comandos, diferentes cabeças tal qual a organização ficcional “Hidra” do filme “Capitão América, O Primeiro Vingador”.


Mas, deixemos o ficcional das histórias em quadrinhos e olhemos para a história dos Estados Unidos e já vemos o que o seu próprio nome diz. E ele diz que sua composição é de Estados ou ex-Colônias que estão Unidos e estas ex-Colônias se legitimam muito a si mesmas como lugares onde a liberdade religiosa permitiu aos protestantes, dos mais variados tipos ou, como se diz hoje, das mais variadas denominações, organizar sua vida privada e seu culto com total liberdade. Noutras palavras, a organização duma rede de denominações variadas foi também a organização duma rede de propriedades privadas, ou seja, a base organizacional maior ou o Estado-Maior das ex-Colônias Unidas ou dos Estados Unidos era, é e, com a organização em rede dos comandos via internet, ainda será a propriedade privada capitalista.


Concluíram que, com o novo modelo organizacional, promovido tecnologicamente pela informática via internet, poderiam derrubar o Estadão do “Comunismo” Russo. O neoliberalismo veio apenas oficializar a estratégia dos EUA-Inglaterra de glorificar a propriedade privada capitalista como a Fênix que retorna ainda mais viva com o fim do colonialismo e do Estadão Russo. Os chineses, ao admitirem o que chamaram de “Socialismo de Mercado”, já tinham se tornado aliados da nova estratégia, posto que o mercado só existe como troca de produtos entre proprietários diferentes, logo, sua existência é uma condição essencial para a continuidade da propriedade privada capitalista. Então, os movimentos religiosos e mesmo o renascimento religioso da Igreja Ortodoxa, depois da dissolução do Estadão Russo, encontram condições de prosperidade com o neoliberalismo, quer dizer, com a máxima do mercado máximo e do Estado mínimo, porque a religião encontra seu solo privado amplo no mercado, ainda que alguns fundamentalismos, em especial os islâmicos, a queiram no poder do Estado. Mas, mesmo aí no Islamismo, o poder do Estado Teocrático não suprime o mercado porque o mercado é uma instituição da sociedade islâmica que, tradicionalmente, admite os escravos como mercadoria, mas, é claro, não admite que eles sejam proprietários privados do que quer que seja nem de si mesmos, portanto, os escravos não podem comprar nem vender nada e menos ainda a sua própria força humana de trabalho, como fazem os trabalhadores livres na sociedade de mercado capitalista. -


[Será mesmo esta possibilidade que explica uma sociedade mercantil com um Estado teocrático?! Outra possibilidade não é precisamente a imposição do mercado a todos, incluindo, os escravos, ou seja, os membros da sociedade podem vir a ser escravos por dívidas não-pagas?! Esta escravidão, dos escravos por dívidas, sendo decorrente da escravidão de todos ao mercado, de modo que os fiéis são aqueles que pagam sua dívidas e os infiéis aqueles que são incapazes de pagar suas dívidas, portanto, o Estado Teocrático é o que reconhece os fiéis e condena os infiéis?! É interessante notar que a oração do Pai Nosso foi modificada pela Igreja Católica da fórmula "... perdoai as nossas dívidas como nós perdoamos aos nossos devedores..." para "... perdoai as nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos ofendeu..." indício de uma mudança do âmbito do mercado, a qual talvez lembrasse  a escravidão por dívidas, para o âmbito da injúria e difamação do direito civil nas relações sociais ou de civilidade?! Ou será que, por outro lado, houve pressão dos organismos internacionais, interessados nos pagamentos das dívidas externas e públicas, sobre a Igreja Católica?! Ou ainda, será que ao próprio Estado do Vaticano, cume do poder da Igreja Católica, passou a interessar o pagamento das dívidas para garantir a otimização do funcionamento de suas instituições financeiras?! Quem sabe as respostas?!]



- Então, o poder do Estado Teocrático Islâmico tem este caráter de Estado forte por se basear em proprietários privados de escravos, quer dizer, em proprietários privados que também são reconhecidamente privilegiados como senhores em relação aos escravos que são reconhecidamente os castigados por serem expropriados dos direitos iguais dos quais desfrutam os privilegiados por serem senhores.


Se o Deus que está vivo é o “Deus mercado”, quer dizer, aquele Deus que habita cada um como proprietário privado de propriedade privada, então, ele também é aquele “Deus centelha prometeica”, logo, ele é tanto o “Deus vivo das religiões” quanto o “Deus vivo da biotecnologia e da filosofia do super-humano”, portanto, é tanto o Deus das religiões que, segundo estes últimos, “está morto” quanto é o Deus biotecnológico e filosófico que vive e cria nesses últimos e é criado por esses últimos.


Depois disso, algum diálogo é possível?!


O que é considerado divino em primeiro lugar é a criação do mundo, dos seres vivos e, em especial, do ser humano, por isso que a mulher grávida foi considerada uma divindade. Mais tarde, os humanos descobriram que as mulheres ficavam grávidas depois de semeadas pelos homens durante as relações sexuais. Mas, as relações sexuais são decorrentes antes de tudo do desejo que se apossa dos humanos como um transe, como a vontade de um outro muito poderoso ou como o poder de um desejo irresistível que leva às relações sexuais dos humanos. De onde vem este poder que subjuga o sujeito a seu desejo ou de onde vem este desejo que subjuga o sujeito a seu poder? De onde vem este desejo ou poder que faz do sujeito seu objeto e, assim, se afirma como verdadeiro sujeito ou, pelo menos, imediatamente como sujeito superior ao próprio sujeito?! Quando desse desejo resultam relações heterossexuais que originam nova(s) vida(s) humana(s), então os humanos atribuem este poder à natureza animal que compartilham com os demais animais da natureza, mas, como também atribuem o poder criador da natureza ao poder criador de Deus, então os humanos também atribuem este poder à natureza divina, a Deus. Porém, os humanos começam a se perguntar se o poder escravizante do desejo vem de Deus ou vem do demônio. Assim, por exemplo, na Bíblia, tudo parece indicar que o fruto, da árvore do conhecimento bem e do mal, que Deus havia proibido Adão e Eva de comer, foi provado por Eva devido à tentação do demônio e foi ela quem, “depois de possuída pelo demônio”, fez Adão provar tentando-o. Depois disso Deus expulsa Adão e Eva do paraíso e os condena a viver do suor de seu rosto. O suor do corpo ocorre durante a relação sexual e não apenas quando o humano trabalha, se exercita e se expõe a altas temperaturas. O corpo do homem perde espermatozoide para o óvulo do corpo da mulher, então o corpo do homem parece perder mais energia que o corpo da mulher que parece ganhar energia. De modo similar se diz que a energia da força humana de trabalho é expropriada pelos meios de produção que dela se apropriam, mas também se desgastam um pouco quando a transferem para os produtos. O conhecimento do bem e do mal também é o conhecimento da transferência do bem da energia da vida por meio da aquisição do mal da mortificação da energia da vida. A Bíblia confirma isso ao usar o termo conhecimento como sinônimo de relação sexual fecundante entre homem e mulher.


O suor do corpo, seja pelas atividades sexuais, seja pelos exercícios físicos, seja pelas atividades de trabalho, também promove a vitalidade, a saúde, a autoestima, aliás, dizem que “o trabalho dignifica”. Existe aquele suor do corpo ao fim duma relação sexual que faz o sujeito cair no sono, mas também existe o suor do corpo ao fim de uma relação sexual que faz o sujeito despertar e levantar-se esbanjando energia e contentamento. E este último, infelizmente mais raro, é aquele que mostra claramente que a sexualidade é vital e orgânica, é um prazer denominado orgasmo por meio do qual a vida do sujeito se renova, como um corpo que abandona sua velha forma por adquirir nova forma. O mesmo se passa com os exercícios físicos. O suor oriundo dos exercícios físicos não se limita a eliminar ou consumir a energia do corpo desgastando-o e sim faz mais ainda porque desenvolve o corpo com este desgaste aperfeiçoando tanto sua forma quanto seu conteúdo de modo que ele funciona de modo muito mais completo suando com os exercícios. Algo similar se passa com o trabalho que não promove apenas um suor que desgasta o corpo, mas também um suor que liberta e energiza o corpo, de modo que o suor do corpo que trabalha não é apenas um suor do corpo escravizado pelo tempo de trabalho, mas também é um suor do corpo libertado pelo tempo livre, ou seja, a atividade de trabalho não se limita a satisfazer uma necessidade corporal mas também está focada em satisfazer uma capacidade corporal, portanto, a atividade de trabalho não está voltada apenas para satisfazer a falta se aprisionando no tempo de trabalho e também está voltada para usufruir o pleno se concretizando no tempo de liberdade.


A condenação de sair do paraíso para ganhar a vida com o suor do rosto é também a condenação de sair da menoridade sob tutela de Deus para ganhar a maioridade fazendo uso próprio/autônomo de si mesmo. O iluminismo está presente na Bíblia e, talvez, por isso, aqueles que dizem se relacionar diretamente com a palavra de Deus, quer dizer, que dizem se relacionar com Deus lendo diretamente a Bíblia, façam tanto sucesso na atualidade com o “boom” das igrejas evangélicas, ou seja, eles se situam no mesmo terreno da atualidade que promove o empreendedorismo, o trabalho e o mercado informais, mesmo o trabalho voluntário, quer dizer, se situam no mesmo terreno que argumenta ser liberal ou neoliberal por defender o livre uso de si mesmo ou o uso próprio/o uso autônomo de si mesmo, enfim, por também defender que se ganhe a vida com o suor do próprio rosto.  


Mas, a partir daí considerar que Deus está mais vivo do que nunca antes na história da humanidade não é confundir a vivência maior da religiosidade e da religião com o viver de Deus?! Afinal, tudo indica que Deus não só expulsou a humanidade do paraíso como também parou de falar com os humanos como fazia na época do Antigo Testamento. Então, parece que Deus como tutor ou pai fez de tudo para que seus filhos humanos andassem e vivessem fazendo uso de seus próprios pés, pernas e corpo; fez de tudo para não ser mais um Deus vivo e em convivência com a humanidade e fez sim de tudo para ser um Deus morto cultivado pela religiosidade da humanidade como origem e fundamento da liberdade humana.


Os que assumem o ato de Deus não só de expulsar do paraíso, mas de ir de ruptura em ruptura, até o corte total do cordão umbilical, não são, por isso mesmo, mais coerentes e fiéis a Deus?! Quando dizem que Deus está morto, não estão assumindo de maneira precisa o ato de Deus de não mais tutelar?! Não é o mesmo que ocorre no atomismo epicurista quando promove a dissolução ou destruição do atomismo para que o princípio verdadeiro venha a ser o livre uso de si próprio da consciência humana de si ou a liberdade da consciência humana de si de usar a si próprio, logo, de fazer uso do suor do próprio rosto?!


Preferimos ser sujeitados ou ser sujeitos?! Édipo e Prometeu foram mais sujeitados ou foram mais sujeitos?! A diferença entre Édipo e Prometeu não é entre quem é sujeitado mesmo quando é sujeito e quem é sujeito mesmo quando é sujeitado, ou seja, entre quem é guiado, produzido e mudado pelas circunstâncias, mesmo quando supõe que sua consciência guia, produz e muda as circunstâncias, e quem guia, produz e muda conscientemente as circunstâncias, mesmo quando se supõe que é guiado, produzido e mudado pelas circunstâncias. Noutras palavras, a diferença entre Édipo e Prometeu não é a diferença entre circunstâncias e um sujeito inconsciente conspirando contra uma consciência sujeitada versus um sujeito consciente conspirando a favor com circunstâncias e um inconsciente assujeitado. Mais claramente: Num caso tudo conspira contra o sujeito até mesmo o que é favorável. No outro tudo conspira a favor do sujeito até mesmo as adversidades.


Diálogo?!?!?!


Faz algum tempo, ao que parece, desde a Segunda Guerra Mundial, que, por meio da crença em seres extraterrestres, teve início a reabilitação de uma relação com um Deus vivo, já que ele poderia ser um astronauta extraterrestre. Se isso parece uma reabilitação ou recuperação da antiga relação direta com um Deus vivo, ao mesmo tempo parece um golpe de morte no antigo Deus vivo, posto que sua divindade nada mais seria do que resultado de um maior desenvolvimento tecnológico, logo, resultado da mesma capacidade humana de usar a centelha do trabalho e com ela se desenvolver. 


Hoje, ao que parece, muitos acreditam que o Deus vivo é um ser extraterrestre capaz de usar uma tecnologia Big Brother muito mais poderosa e completa do que a usada num Reality Show ou do que a usada pela NSA para controlar a internet, celulares, telefones etc. Muito acreditam, enfim, que o Deus vivo é um ser vivo que toma conta de toda a humanidade. Essa crença convive com uma outra crença que faz do Deus vivo aquilo que existe de comum e essencial entre Deus como ser vivo e os humanos como seres vivos que são filhos e obra de Deus e que é precisamente a presença da mesma centelha do divino trabalho no cerne da capacidade humana. -


[Não é aí nesse eterno viver sob tutela/vigilância/cuidados de Deus que se encontra a justificação para a eternização do Estado, do tutor e vigilante que cuida e tudo supervisiona, ainda que interfira minimamente?!] 


- Porém, o problema é que tanto num caso, onde Deus é um ser vivo objetivo e habitando na realidade fora de nós, quanto no outro, onde Deus é um ser vivo subjetivo e habitante da realidade dentro de nós, a essência de Deus é a mesma: A divina criatividade do trabalho, a divina criatividade física, a divina criatividade sexual. Noutras palavras, Deus não é diferente do ser humano, exceto por sua maior potência, maior capacidade, por sua superioridade, quer dizer, por ser super, super-humano. Então, Deus é o objetivo do ser humano que teria por finalidade vir a ser e se realizar e satisfazer como super-humano?!


No entanto, a realidade é que o ser humano vive efetivamente entre o animal e o super-homem, entre ser simples objeto natural como todos os seres da Natureza, quer dizer, como todos os seres criados pelo criador/Deus, e ser um pouco mais, do que um simples objeto natural, na forma de um ser que participa como simples sujeito da divindade do Criador/Deus. O ser humano se situa entre o animal, a coisa em si/o isso/o isto/Id, o inconsciente e o super-homem, a coisa em si na coisa para si/a super-consciência, o superego, ou seja, o ser humano não vive no passado imemorial que guarda todos os tesouros de todos os tempos nem no futuro que usufrui dos tesouros para além de todos os tempos, mas vive sim no presente da percepção/atividade sensivelmente humana, da coisa para si/da consciência de si, do ego que só dispõe de seu tempo, de sua época, de sua presença.


No creo en diálogos impossibles, pero que los hay, los hay!!! 


O no los hay?!?!?!




Quando se diz que “o ser precede a consciência” e que “assim como não se deve julgar um indivíduo pela consciência que ele faz de si tampouco se deve julgar uma época por sua consciência de si” também se diz que o indivíduo e a época devem ser julgados por seus seres e, portanto, que a consciência julgadora é uma consciência do ser do indivíduo ou da época. Mas, como é possível uma consciência do ser do indivíduo ou da época que não seja igualmente precedida pelo ser do indivíduo ou da época?! Quer dizer, como é possível uma consciência do ser que a precede que não seja consciência de si ou do ser que a precede?!





Sendo sempre a consciência que conhece e julga, então como é possível conhecer e julgar sem ser pela consciência de si, posto que a consciência, seja do que for, é sempre fundamentalmente consciência de si e a consciência de si é sempre posterior ao ser que a precede e origina?!




A interpretação disso então costuma ser e tem sido a seguinte. O conhecimento e o julgamento permanecem sendo feitos pela consciência de si, a qual, por sua vez, por suspeitar de si mesma ou por suspeitar da consciência de si, recorre para conhecer e julgar aos materiais do ser e às materializações ou aos atos do ser e não às suas ideias nem às idealizações ou às abstrações da consciência. 




Porém, quem conhece e julga desse modo “materialista” também afirma que o resultado desse conhecimento e julgamento diretamente material são “um certo número de relações gerais abstratas” ou de “noções simples – trabalho, divisão do trabalho, necessidade, valor de troca -”, ou seja, o resultado desse conhecimento e julgamento são ideias ou abstrações da consciência de si que são consideradas como tendo sido extraídas do ser material como princípios da materialidade do ser. É a partir destas abstrações do ser material que a consciência de si vai desenvolver sua própria atividade consciente de si como sendo atividade consciente do ser materializado nas abstrações ou princípios extraídos da materialidade do ser, ou seja, é a partir daí que a consciência de si deixa de ser suspeita e se torna aceita como fonte do conhecimento e do julgamento por se desenvolver a partir das ideias, abstrações ou princípios expropriados do ser material, portanto, a consciência de si não é considerada aí como consciência que o indivíduo ou a época faz de si e sim como conhecimento/julgamento que o indivíduo ou a época faz do seu ser.




Através do conhecimento direto e sistemático do ser material se chega às ideias ou abstrações do ser material e, em seguida, por meio do desenvolvimento sistemático e direto das ideias ou abstrações do ser material se chega às materializações ou concretizações do ser material no pensamento, quer dizer, se chega à consciência de si do ser material ou ao conhecimento fiel e digno do ser material, logo, à superação da ideia ou conceito que a consciência do indivíduo ou da época faz de si.




Então, quem faz a distinção entre o ser que precede a consciência e a consciência que sucede o ser permanece sendo a consciência que, ao se colocar sob suspeita, suspende o conhecimento de si mesma e se lança no conhecimento do ser material. Dessa atividade resulta a dissolução da concretude do ser material e a permanência do abstraído do ser material, quer dizer, resulta não o conhecimento do ser material e sim a consciência do ser imaterial, melhor, resulta a consciência das ideias ou das abstrações do ser, logo, resulta a consciência do ser abstrato, portanto, resta, da atividade de conhecimento do ser material, a consciência de si ou do ser abstrato. Agora que a consciência de si através do conhecimento do ser material chegou ao ser abstrato ou ao ser consciente de si, quer dizer, chegou a si mesma como ser e não meramente como consciência, agora é que começa o trabalho de conhecimento científico da consciência de si, posto que a partir de agora ela começa a sistematizar e desenvolver o ser abstrato até que ele se concretize no pensamento ou se materialize na consciência de si como ser ou até que o ser se materialize ou concretize na consciência de si.


O conhecimento científico então só ocorre quando supostamente é o ser material quem desenvolve na consciência o conhecimento de si, logo, o conhecimento ainda não é científico quando é a consciência quem desenvolve o conhecimento do ser material fora de si como consciência abstrata do ser fora de si, portanto, o conhecimento ainda não é científico quando é conhecimento do outro fora de si (para si) e é considerado científico quando é conhecimento do outro dentro de si (em si). Donde se conclui que só é científico o autoconhecimento, portanto, como o “ser precede a consciência de si” só é científica “a consciência de si que sucede o ser”. Em todo caso, se trata sempre, em ambos momentos, da consciência de si e o conhecimento do ser só pode ser autoconhecimento da consciência de si do seu ser em si.


Possible!!! No???









sábado, 20 de fevereiro de 2016

Mercantilismo-conquista-método na economia-Édipo versus capitalismo-colônia-método na economia-Prometeu




O mercantilismo se diferencia do capitalismo propriamente dito por se ater ao consumo de mercadorias ou ao acúmulo de meios de consumo para a compra e venda de mercadorias, quer dizer, ao acúmulo de meios para o aumento do consumo de mercadorias via compra e venda de mercadorias. Já o capitalismo propriamente dito está focado na produção de mercadorias ou no acúmulo de meios de produção para a compra e venda de mercadorias, logo, por se ater ao aumento da produção de mercadorias para a compra e venda.


Os mercantilistas como “os economistas do século XVII, por exemplo, partem sempre do todo vivo: a população, a nação, o Estado, vários Estados, etc.; no entanto, acabam sempre por descobrir, mediante a análise, um certo número de relações gerais abstratas determinantes, tais como a divisão do trabalho, o dinheiro, o valor, etc.”

[ver https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm, http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAnW8AD/metodo-economia-politica]

Para eles, a população, a nação e o Estado constituem as bases para suas conquistas de várias populações, nações e Estados, mas, no processo de conquista eles percebem que uma divisão do trabalho entre conquistados e conquistadores permite que estes últimos acumulem dinheiro, valor, quer dizer, ouro e prata que permite um maior poder mercantil na compra e na venda de mercadorias.


Os capitalistas propriamente ditos são como os economistas do século XVIII em diante “que, partindo de noções simples – trabalho, divisão do trabalho, necessidade, valor de troca – se elevam até o Estado, à troca entre nações, ao mercado universal.” Para eles, as “noções simples – trabalho, divisão do trabalho, necessidade, valor de troca –” são as bases das suas “colônias/indústrias” que os “elevam até o Estado, à troca entre nações, ao mercado universal”, porque eles percebem que no processo de produção (indústria/colônia) de mercadorias existe um domínio/um poder que subjuga e transfere ouro e prata, dinheiro e valor das mãos dos mercantilistas para as suas mãos capitalistas.


Podemos ver algo semelhante na atividade de Édipo. Ele ouviu numa festa um conviva dizer que era bastardo e consultou o oráculo que disse que estava destinado a matar o pai, casar com a mãe e originar uma prole abominável. Fugindo desta predição saiu de Corinto para fazer seu destino. Na conquista do seu destino ele mata um velho arrogante que encontra no caminho (que depois vem a saber que é seu pai), decifra o enigma da Esfinge e, com isso, ganha o trono e casa com a rainha de Tebas, que estava viúva (depois vem a saber que é sua mãe), tendo filhos com ela e, finalmente, ouvindo do oráculo que o problema, da Peste de Tebas, era a impunidade do assassino do antigo rei, depois de condenar o culpado ao exílio, parte para a investigação até descobrir que o culpado era ele próprio e que, além de assassino, também era culpado de incesto com sua mãe. Sai em exílio até encontrar seu túmulo em lugar sagrado e secreto em Colona, nos arredores de Atenas.


O que há nisso de semelhante com o mercantilismo?!



O que parece semelhante é o começar por um todo vivo. É o começar indagando sobre a população, a nação, o Estado, vários Estados, quer dizer, é Édipo começar consultando o oráculo sobre a acusação de ser bastardo, quer dizer, começar indagando sobre si mesmo como população ou nascido, nação ou a mãe do nascido, Estado ou o pai do nascido, vários Estados ou várias possibilidades de fuga para fazer seu próprio destino. E o que também parece semelhante é o terminar com “um certo número de relações gerais abstratas determinantes”, quer dizer, com um túmulo secreto e sagrado tal qual um tesouro no qual se guarda dinheiro e valor ou ouro e prata, melhor, no qual se guarda Édipo morto, o mercantilista morto, o economista morto.


De igual modo podemos ver algo semelhante na atividade de Prometeu. Ele quis criar um novo ser e se lançou na atividade de dar forma ao húmus da Terra, quer dizer, se lançou na atividade de dar forma à fertilidade (húmus) da Terra e, em seguida, extraiu uma centelha do Céu e a deu, como conteúdo, para a forma fértil ou humana da Terra e foi desse modo que completou sua obra criativa, porque a partir daí a sua criatura deixou de depender do seu criador e passou a criar a si mesma de forma livre e independente do criador. Mas, é por isso que, por ordem de Zeus, Prometeu é acorrentado a uma rocha, tem seu fígado devorado todos os dias por uma águia e é lançado de um abismo nas profundezas do inferno. Finalmente, graças a Herácles, filho de Zeus com uma humana, logo, com uma criação de Prometeu, consegue dobrar Zeus ao seu desejo de libertar Prometeu e Prometeu é liberto.


O que parece comum aos capitalistas, aos economistas do século XVIII em diante e a Prometeu é o começar por “noções simples – trabalho, divisão do trabalho, necessidade, troca -”, ou seja, eles começam elaborando a colônia, a indústria, o ser ou a produção que os elevará até “ao Estado, à troca entre nações, ao mercado universal”. Mas, para que isso se torne possível é preciso que a energia da força humana de trabalho (Prometeu) seja extraída diariamente por um meio de tempo de trabalho excedente (extensivo ou intensivo) que a aprisiona nas profundezas infernais (útero) da maquinaria industrial, da colônia, da produção ou do ser explorador. Graças à luta do proletariado (de Herácles, o herói do trabalho e filho de Zeus) o capital (Zeus) se submete ao processo de redução sistemática do tempo de trabalho de modo que vem a ser a energia da força humana liberta (Prometeu) que se renova e desenvolve diariamente por meio do tempo livre fora (do útero) da maquinaria automatizada, da colônia, da produção ou do ser explorador. O nascimento do capitalismo se faz com Prometeu Acorrentado e a energia da força humana de trabalho explorada pelo tempo de trabalho da produção dentro da maquinaria industrial, já o fim do capitalismo se faz com Prometeu Desacorrentado ou liberto e a energia da força humana liberta fruindo o tempo livre da produção fora da maquinaria automatizada, quer dizer, fruindo o tempo livre na comunidade livre.


Um método ou perspectiva começa e tem por ponto de partida o conhecimento do todo vivo concreto por meio da dúvida, da suspeita, da investigação, da especulação que, sistematizando a análise, dissolve tudo em suas partes componentes até chegar e se satisfazer com um certo número de relações gerais abstratas determinantes ou aos princípios para onde tudo volta e se prende.


Já o outro método ou perspectiva tem por ponto de partida o conhecimento dum certo número de relações gerais abstratas determinantes ou dos princípios abstratos da morte de tudo por meio da certeza, da confiança, do trabalho, da elaboração que, sistematizando a síntese, condensa as partes componentes num todo até chegar à constituição e à satisfação com um todo único de múltiplas determinações ou com princípios de onde tudo sai e se liberta.


E daí?! Para que serve isso?! Para saber que o processo de conhecimento que parte do todo vivo e chega aos princípios no não-ser é aquele que parte da ignorância e desconhecimento ou inconsciência de si mesmo. E que o processo de conhecimento que parte dos princípios no não-ser para o vir a ser do todo vivo é aquele que parte da sabedoria e conhecimento ou consciência de si mesmo. O primeiro busca a conquista do ser fora de si e o segundo busca a criação do ser dentro de si. A prática do primeiro é de consumo, análise e destruição do ser fora de si para encontrar o que habita dentro do ser em si e a prática do segundo é de produção, síntese e criação do ser dentro si para que venha a ser o habitat e o encontro do ser fora de si.


A teoria e prática do primeiro processo de conhecimento é destruidora e a teoria e prática do segundo processo de conhecimento é criadora, por isso que se diz que a primeira se situa na esfera do consumo e que a segunda se situa na esfera da produção. Pode-se dizer ainda que o lumpenproletariado é resultante do primeiro processo de conhecimento que, visando a conquista do ser fora de si, abandona o que sai de dentro de si. E que o proletariado é resultante do segundo processo de conhecimento que, visando a criação do ser dentro de si, cultiva o que sai de dentro de si. Um caminho parece levar do ser para o não-ser e o outro caminho parece vir do não-ser para o ser, logo, um parece ir ao não-ser e o outro parece vir a ser. A atividade de destruição parece ser a atividade de apenas interpretar o mundo de forma diferente e a atividade de criação parece ser a atividade de só mudar o mundo.

Assim podemos dizer que a atividade filosófica, edipiana, de conquista, mercantilista e dos primeiros economistas é a de apenas interpretar o mundo de forma diferente. E que a atividade prática, prometeica, de criação, capitalista e dos segundos economistas é a de apenas mudar o mundo. Sair da filosofia para a prática é sair da coleta para o trabalho, é sair do consumo para a produção.


Existe ainda algo que confirma a posição de Marx de escolher o método dos economistas do século XVII como os portadores do verdadeiro método científico E é isso que Marx descreve muito bem no "Prefácio à Uma Contribuição à Crítica da Economia Política" onde mostra que

[ver https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/01/prefacio.htm]

"A minha investigação desembocou no resultado de que relações jurídicas, tal como formas de Estado, não podem ser compreendidas a partir de si mesmas nem a partir do chamado desenvolvimento geral do espírito humano, mas enraízam-se, isso sim, nas relações materiais da vida, cuja totalidade Hegel, na esteira dos ingleses e franceses do século XVIII, resume sob o nome de"sociedade civil", e de que a anatomia da sociedade civil se teria de procurar, porém, na economia política."


A "sociedade civil" é a tal da "colônia" para cuja formação e desenvolvimento partem aqueles que estão de posse de "um certo número de relações gerais abstratas determinantes", melhor, a "sociedade civil" é o organismo que formam e desenvolvem aqueles que partem das "noções simples - trabalho, divisão do trabalho, necessidade, valor de troca -" da economia política para chegar com seu organismo da "sociedade civil" a se elevar "até o Estado, à troca entre nações, ao mercado universal". Para os mercantilistas o Estado é organismo da conquista por meio do qual chegam até a conquista do entesouramento de "um certo número de relações gerais abstratas". Para os capitalistas a "sociedade civil" é o organismo fornecedor ou a "colônia" fornecedora das "noções simples - trabalho, divisão do trabalho, necessidade, valor de troca -" por meio das quais chegam a elevar a "colônia", a "sociedade civil" ou a "social civilização"/a "socialização civil" "até o Estado, à troca entre nações, ao mercado universal". O problema é que esta "sociedade civil' que se elevou "até o Estado, à troca entre nações, ao mercado universal" se recusa a completar o desenvolvimento do seu organismo de modo a sair da sua imperfeição que é a "socialização civil" em classes diferenciadas mantidas por um Estado civilizado perfeito para entrar na perfeição duma "socialização comum/comunitária" sem diferenças de classes e sem nenhum Estado civilizado ou comum perfeito e sim com uma sociedade comum ou uma comuna que se autoaperfeiçoa desenvolvendo a liberdade, a multiplicação da liberdade, a capacidade, o valor de uso que suprime o Estado, as nações, o mercado, de modo que seu feito ou aperfeiçoamento é a sociedade humana ou a comunidade humana. 



Isso serve para mudar, para vir a ser tempo de trabalho vivo e passar a ser tempo livre vivo.